• Nenhum resultado encontrado

MÊS/ ANO

3.4 Estudo de casos

3.4.3 Categorização do ativismo online

Do ponto de vista do percurso teórico-conceitual, encontramos algumas limitações que exigiram um esforço complementar no sentido de construir uma categorização mais adequada ao ciberativismo, ou ativismo online, presente na rede LGBT. A literatura corrente sobre a temática parte do pressuposto de que as ações ciberativistas são focadas tanto no indivíduo como em grupos que se organizam especificamente para uma determinada causa, ou se arregimentam em torno de outros grupos, motivados por um sentimento de indignação,

comoção, solidariedade ou questionamento da ordem estabelecida (VEGH, 2003; JORDAN, 2002; HANDS, 2011; UGARTE, 2008; SAMUEL, 2004).

Tais abordagens não dão conta das ações ativistas online que ocorrem no contexto dos movimentos sociais, com seus programas políticos e agendas construídas coletivamente nos embates com as instituições democráticas. Esses movimentos, catalisadores das tensões sociais e das demandas não contempladas pelo Estado, vêm exponencialmente incorporando as novas tecnologias de informação e comunicação em suas estratégias de planejamento, articulação, mobilização e ação, como é o caso da rede LGBT estudada. Nesse sentido, fizemos um esforço complementar na tentativa de caracterizar o ciberativismo exercido no grupo de discussão eletrônico.

Em função das peculiaridades do objeto, propomos algumas adaptações à classificação desenvolvida por Vegh (2003), mencionada no capítulo anterior, que divide o ativismo online em três tipos gerais: conscientização/sensibilização/apoio (awareness/advocacy), que envia ou recebe uma informação; organização/mobilização (organization/mobilization), que chama ou é chamado para ação; ação/reação (action/reaction), que inicia ou reage a uma ação. Essa última categoria está diretamente ligada ao ativismo hacker ou hactivismo, que não foi identificado no grupo estudado e por isso dispensa aprofundamentos.

As ações de conscientização/sensibilização/apoio versam sobre iniciativas nas quais a Internet pode funcionar como uma fonte alternativa para a causa (ver Capítulo 2, p. 88). Nas incursões feitas na rede LGBT, observou-se que é fartamente usada a estratégia de produzir contrainformação e informação relevante e buscar canais alternativos para veicular conteúdos na intenção de conscientizar e sensibilizar a sociedade, recrutar apoios, visibilizar questões e fortalecer os mecanismos de pressão. A ação coletiva tende a ganhar maior visibilidade, adesão e eficiência quando combina o ativismo político mais orgânico (nas ruas, no parlamento e nos espaços cívicos tradicionais), com o ativismo ocasional de apoiares que se identificam com causas específicas e se manifestam, principalmente, pelas mídias sociais.

A rede utiliza como fontes informativas o site da ABGLT e de entidades parceiras, listas de discussão, blogs e plataformas como Facebook, YouTube e Twitter. Conteúdos publicados na grande mídia, desde que favoráveis a questões caras ao movimento, também circulam na lista, em blogs e nas mídias sociais como informação relevante, e por isso, neste estudo, se enquadram nas iniciativas de conscientização/sensibilização/apoio. As notícias, artigos, informes, vídeos e denúncias são disseminados pelos integrantes do grupo, ou seja, a

própria rede retroalimenta os conteúdos relevantes e cria um canal de distribuição que pode posteriormente ser utilizado para fins de organização e mobilização.

Tópicos abertos com esse fim geralmente têm pouca interação e produzem um número reduzido de mensagens. A principal demanda dessas conversações é tirar dúvidas, fornecer ou obter dados complementares, além de subsidiar decisões e ações. Podemos citar inúmeros exemplos relacionados ao caso “Fora Feliciano”, como a produção e/ou divulgação de vídeos cômicos, debochados ou em tom de denúncia, com compilações de declarações polêmicas do deputado sobre a população negra, LGBT e as mulheres; e de informações associadas a ele ou à comissão, como o processo por estelionato em tramitação no Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul e a notificação de suspensão da CDHM pelo Comitê Brasileiro de Direitos Humanos e Política Externa (CBDHPE).

O vídeo “Por que Feliciano seria um desastre para a Comissão Parlamentar de Direitos Humanos?”, disseminado na rede logo após ter sido postado no YouTube, em março de 2013, dias antes da eleição para a presidência da Comissão de Direitos Humanos da Câmara (Figura 15), contabilizou 6.634 acessos (até 28/02/2014). Produzido a partir de pronunciamentos em templos, programas de TV evangélicos e no Congresso, esse recurso audiovisual se juntou a vários outros que contribuíram para construir a imagem de deputado “racista, homofóbico e sexista” incompatível com os direitos humanos e a inclusão das minorias sociais.

Figura 15 - Vídeo-denúncia veiculado antes da posse de Feliciano na comissão

Fonte: <http://www.youtube.com/watch?v=CRcpMVg9Ngk>

Outro exemplo emblemático dessa tática de conscientização/sensibilização/apoio foi o uso da rede associado à mobilização intermídia para divulgar que a Exodus International - uma das mais tradicionais organizações religiosas a pregarem a “cura” da homossexualidade - anunciou, em julho de 2012, a suspensão da “terapia reparativa” para quem possui orientação homossexual. O anúncio foi divulgado pelo site A Capa (Figura 16) logo depois da primeira

audiência da Câmara para discutir o projeto da “Cura Gay”, o que ampliou ainda mais a repercussão da notícia no grupo de discussão.

Figura 16 - Notícia sobre a desistência de “tratamento” para gays

Fonte: <http://migre.me/iirKu>

Sobre o papel da rede e das novas tecnologias na disseminação de conteúdos relevantes para a luta contra o projeto da “Cura Gay”, um ativista observou:

A rede foi um braço de apoio ao Conselho Federal de Psicologia todo o tempo. Além disso, articulou para trazer informações sobre os riscos dessas práticas e sobre decisões de proibição das mesmas em outros países em função dos danos que causam aos indivíduos submetidos a ela. O fechamento da Exodus Internacional também foi muito oportuno [...]. A mobilização das redes sociais por essas lideranças e aliados também foi fundamental para colocar o tema na ordem do dia (Sergio Viula, escritor e blogueiro, em entrevista à autora, em 4/10/2013).

Ainda que os casos “Fora Feliciano”, “Cura Gay”, “Folha de Pernambuco” e “Revista Veja” tenham produzido informação e contrainformação por meio do ativismo online, há certas especificidades que precisam ser analisadas. A reação contra a eleição do deputado e a aprovação do projeto encontrou eco na grande mídia, que em geral adotou uma postura crítica. O editorial publicado pela Folha de S. Paulo, em 16/03/2013 - posteriormente divulgado na lista -, é um exemplo emblemático: [...] As declarações de Marco Feliciano não se pautam pela civilidade, nem mesmo por um mínimo cabedal de instrução. Não são

apenas os direitos das minorias que perdem. O próprio diálogo e a política se inviabilizam (grifo adicionado).

O artigo “Bancada evangélica agora investe na cura dos gays”, publicado em um dos blogs do Estadão (o portal de notícias do jornal O Estado de São Paulo), é igualmente representativo da postura adotada pela mídia generalista em relação às pautas defendidas pela

ala mais conservadora do Congresso. O texto circulou na rede logo após a realização de uma audiência pública, em novembro de 2012, para discutir o PDC da “Cura Gay”:

[...] O projeto ignora o debate científico em torno da questão. Os integrantes do Conselho Federal de Psicologia proibiram os tratamentos de cura da homossexualidade porque há muito tempo ela não é considerada doença. A Organização Mundial da Saúde (OMS) a retirou da lista de doenças mentais há 22 anos. Por esse viés, o que os conselheiros disseram com a resolução foi o seguinte: tratar uma doença inexistente, prometer cura ao paciente e cobrar por isso é charlatanice. Só. [...] No esforço para requalificar os homossexuais como doentes, o deputado João Campos acaba, indiretamente, questionando a competência dos conselhos para regular atividades profissionais. Hoje ele diz que os psicólogos estão errados. E amanhã? Serão os engenheiros? Os advogados? Os antropólogos? Vai desqualificar a teoria evolucionista e proibi-la nas escolas? [...] (Jornalista Roldão Arruda no blog do Estadão, em 27/11/2012 – grifos adicionados).

Portanto, os conteúdos alternativos veiculados na Internet foram mais no sentido de reforçar o discurso do noticiário nacional, estimular um sentimento de indignação coletivo e fomentar as pressões populares contra a bancada evangélica, que articulou tanto a ocupação da vaga da presidência da Comissão de Direitos Humanos quanto a obtenção de apoio para o PDC 234/2011. No caso do artigo e do anúncio publicados, respectivamente, pela revista Veja e pela Folha de Pernambuco, aconteceu exatamente o contrário. A intenção das ações ciberativistas foi deslegitimar e denunciar o discurso homofóbico reproduzido por veículos que representam a mídia hegemônica, além de forçar uma retratação pública.

Observou-se que repercutiram na lista vários artigos e posicionamentos condenatórios aos dois veículos de comunicação, a maioria veiculados em blogs e produzidos por ativistas, jornalistas, intelectuais e autoridades, como se pode observar nas declarações do deputado federal Jean Wyllys (PSOL-RJ) e da ministra dos Direitos Humanos, Maria do Rosário, divulgadas no grupo:

A Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República (SDH/PR) vem a público manifestar sua indignação com a campanha intitulada “Pernambuco não te quer”, divulgada na mídia local daquele Estado, pelos motivos que seguem: 1 – Tal campanha seria de grande relevância se estivesse de fato voltada a enfrentar crimes abomináveis, como a exploração sexual de crianças e adolescentes, o turismo sexual e a pedofilia; 2 – No entanto, ao incluir no seu repúdio os homossexuais, a campanha fere os Direitos Humanos e promove o ódio contra a comunidade de Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis e Transexuais (LGBT); 3 – A exploração sexual de crianças e adolescentes em nada se relaciona à diversidade e à livre orientação sexual [...] (nota de repúdio da ministra Maria do Rosário sobre o anúncio homofóbico da Folha de Pernambuco, em 4/09/2012).

[...] Bom, os gays somos como o espinafre ou como as cabras. Esse é o nível do debate que a Veja propõe aos seus leitores. Não, senhor Guzzo, a lei não pode obrigar ninguém a “gostar” de gays, negros, judeus, nordestinos, travestis, imigrantes ou cristãos. E ninguém propõe que essa obrigação exista. Pode-se gostar ou não gostar de quem quiser na sua intimidade (De cabra, inclusive, caro Guzzo, por mais estranho que seu gosto me pareça!). Mas não se pode injuriar, ofender,

agredir, exercer violência, privar de direitos. É disso que se trata (reposta do deputado Jean Wyllys ao artigo da revista Veja, em 12/11/2012).

Esse aspecto pode ser demonstrado ainda na opinião indignada de um ativista sobre o artigo da revista Veja, originalmente veiculada no blog Mix Brasil, hospedado no portal UOL, e posteriormente divulgada na lista de discussão:

Opiniões acerca do comportamento humano ainda presos a conceitos de padrão e falso moralismo são inócuas para a conscientização de uma sociedade mais justa e democrática. [...] Qualquer tipo de imprensa que critique de forma ofensiva, que denigre, que difama, que, enfim, comete despautérios, é obrigada a assumir suas responsabilidades por conta de suas reportagens insidiosas. [...] E a reparação para isso acontece nas searas jurídicas nas quais direitos garantidos são levados em conta, por uma sociedade dinâmica que acompanha suas demandas e necessidades. [...] (Artigo de Roberto Muniz Dias, publicado no blog Mix Brasil, em 13/11/12).

Outra situação que demonstra o uso do ambiente online como meio alternativo para chamar a atenção da sociedade sobre a reprodução da homofobia pela mídia foi a campanha lançada no Facebook em contraposição ao anúncio da Folha de Pernambuco (Figura 17), também disseminada na rede, em blogs e no noticiário jornalístico:

Figura 17 - Campanha criada pela boate GLS San Sebastian, de Salvador (BA)

Fonte: <http://migre.me/iip5t>

Nas ações de organização/mobilização, a Internet é usada para mobilizar e promover o engajamento de três maneiras distintas. A primeira diz respeito ao chamado feito no ambiente

online para uma ação no plano off-line, em lugar e tempo determinado (VEGH, 2003), como

as táticas intermídia e convocações feitas pelos ativistas para os protestos e atos do “Fora Feliciano” e do “Cura Gay” realizados em várias cidades brasileiras (Figuras 18 e 19). Além da própria lista de discussão e dos blogs, uma das principais ferramentas para arregimentar adesões foi o Facebook. Em todos os protestos que circularam na rede havia links para as páginas criadas nesta mídia social com o objetivo de aglutinar apoio às manifestações.

Figura 18 - Convocação para os protestos contra Feliciano em São Paulo

Fonte: <https://www.facebook.com/groups/454950307908980/>

Figura 19 - Convocação para os protestos contra a “Cura Gay” em Brasília

Fonte: <https://www.facebook.com/events/499009960184762/>

A segunda maneira de organização/mobilização está relacionada ao chamado para uma ação que normalmente acontece no “mundo off-line”, mas pode ser mais eficiente quando feita via Internet. Esse tipo de recurso foi usado como tática secundária de pressão nos casos “Fora Feliciano”, “Cura Gay” e “Folha de Pernambuco”, e como ação complementar no caso “Revista Veja”. Alguns ativistas sobrecarregaram o correio eletrônico dos deputados com críticas ao projeto, que foram socializadas para que os demais pudessem fazer o mesmo, e encaminharam para a lista abaixo-assinados e campanhas online contra a indicação e, posteriormente, pela destituição do deputado da presidência da comissão.

Na maioria das vezes, as petições e campanhas online foram de iniciativa de organizações internacionais que atuam na Internet. Além dos abaixo-assinados para tentar impedir a eleição de Feliciano na CDHM, a Avaaz pressionou – por meio do envio massivo de mensagens – o então presidente nacional do PSC, deputado André Moura, a demover seu correligionário de permanecer na comissão90 (Figura 20). A All Out, que também participou ativamente desse caso, lançou uma campanha no Facebook pedindo a retratação da Folha de Pernambuco - já mencionada anteriormente (Figura 21).

Figura 20 - Campanha do Avaaz para tentar destituir o deputado da CDHM

Fonte: <http://www.avaaz.org/po/feliciano_top_ten_b/>

Figura 21 - Campanha lançada pela All Out no Facebook

Fonte: <http://migre.me/ibDDP>

No entanto, houve situações em que esse tipo de ação foi desencadeada a partir da própria rede, como a petição pública criada por um ativista do grupo para que os assinantes pressionassem a revista Veja a se retratar pela veiculação do artigo (Figura 22), que totalizou

2.537 assinaturas (até 04/03/2014); e a remessa coordenada de e-mails aos deputados para que votassem contra o projeto da “Cura Gay”, a ser votado no plenário da Câmara em julho de 2013, durante os protestos na Copa das Confederações. A mensagem enviada à lista conclamava os ativistas de todo o país e dava instruções de como participar:

[...] pessoas ou grupos de CADA ESTADO do Brasil fazem uma relação dos endereços de emails dos deputados, que se obtém no site http://www2.camara.leg.br/deputados/pesquisa, divulgam essa lista de emails e pedem para que o povo envie emails para TODOS DEPUTADOS DA LISTA solicitando que eles REJEITEM O PDC 234/2011. Agora foi iniciada a campanha em Pernambuco. Vamos espalhá-la pelo Brasil? Divulguem, por favor, a notícia [...] para todas as pessoas (homossexuais, ou não, parentes e amigos de homossexuais, ou não) e que essas pessoas enviem um email com um texto mais ou menos assim: SENHOR (A) DEPUTADO (A) FEDERAL: POR FAVOR VOTE CONTRA O PDC 234/2011, vote contra a famigerada e inventada "cura gay". Um eleitor do seu Estado [...] (Toni Reis, em 01/07/2013).

Figura 22 - Petição pública para mobilização de assinantes da revista Veja

Fonte: <http://www.peticaopublica.com.br/?pi=veja1112>

A estratégia de envio massivo de mensagens também foi usada para tentar deslegitimar e ofuscar os comentários favoráveis ao PDC 234 enviados por leitores à coluna Radar online, veiculada na versão eletrônica da revista Veja, em razão da nota “Projeto avança”. Integrantes da rede articularam a produção de textos consubstanciados em argumentos com respaldo da psicologia, na tentativa de contribuir para a formação de opiniões amparadas na compreensão sobre diversidade sexual, que vai de encontro a qualquer terapia de “reversão” ou “tratamento” da homossexualidade. Segue abaixo o comentário escrito para a coluna por um ativista do grupo:

[...] O psicólogo tem que ter o pensamento analítico (matrizes lógicas). Tem que ter comprometimento ético, mas não uma ética da moral que impediria a livre associação do paciente, mas uma ética do desejo, respaldada na filosofia, que respeita o sujeito do desejo, da linguagem e da diferença (ninguém é igual a ninguém). [...] A demanda desse projeto é de psicólogos cristãos [...]. É um projeto proselitista que só ressaltaria (se aprovado) o quanto o Congresso Nacional está repleto de parlamentares que estão dispostos a ferir a Lei máxima do país – a Constituição. Ou seja, se passar será um tiro no pé [...]. O mundo é diversificado e

deve ser respeitado por sua capacidade de acolhimento das diferenças. Sejam elas étnicas, de orientação sexual, de identidade de gênero, de pensamentos e etc. [...] se um umbandista ou Kardecista aparecer no consultório de um psicólogo que se auto- intitula cristão, qual seria a sua conduta se não a de modificar (ou tentar modificar) o comportamento religioso desse sujeito. Isso é respeitar o livre arbítrio? Se esse projeto absurdo passar no Congresso, com certeza, o Conselho Federal de Psicologia, autarquia federal de autoridade cognitivo/científica vai solicitar ao Executivo (presidenta Dilma) o veto por sua inconstitucionalidade (Dan Jung, em 12/12/2012).

As ações de organização/mobilização acarretam maior participação fora da rede do que dentro, como demonstram os acessos a vídeos, assinaturas de petições e compartilhamento de campanhas online. Contudo, essas formas de pressão com o suporte das tecnologias digitais funcionaram apenas como reforço aos protestos e atos nas ruas, ao trabalho de advocacy, à formulação de denúncias e às articulações no âmbito político- institucional-midiático, normalmente mais ligadas ao ativismo tradicional. Convergem com essas constatações, as mensagens direcionadas à lista com o objetivo de mobilizar os ativistas para a audiência pública realizada em junho de 2012 e socializar as estratégias planejadas para fortalecer a atuação do movimento, no sentido de inviabilizar o projeto da “Cura Gay”:

Para a nova audiência do dia 27/11, eu queria fazer uma apresentação com umas 10 fotos de assassinatos de LGBT e com as descrições dos requintes de crueldade para provar que é homofobia, sim. [...] Gostaria de pedir às pessoas que podem ir a Brasília e as pessoas que moram em Brasília para nos ajudar a mobilizar neste dia com faixas e cartazes (temos que ter uma grande mobilização). Gostaria de receber sugestões de argumentos para a não modificação da Resolução 001/99 que proíbe a “Cura Gay”. [...] Pediria ao pessoal do PSDB que entre em contato com o deputado evangélico João Campos (PSDB-GO) e peça e argumente para retirar o projeto. Pediria ao pessoal do PV que entre em contato com o deputado Roberto de Lucena PV/SP [para] que refaça seu relatório, pedindo o arquivamento do Projeto. Pediria ao pessoal do PSB que entre em contato com o deputado pastor Eurico PSB/PR que é um grande defensor da “Cura Gay” – para dar elementos para o mesmo mudar de ideia. Os três estatutos partidários defendem os direitos humanos e os princípios constitucionais. [...] (Toni Reis, em10/11/2012).

[...] Precisamos mobilizar o maior número de pessoas de Brasília e do Brasil para comparecerem [à] AUDIÊNCIA PÚBLICA da “Cura gay” dia 27/11/2012 às 14:00 (sugiro estar lá bem antes do horário para conseguir um bom lugar) no Anexo II, Plenário 07 na Câmara dos Deputados. [...] Precisamos levar todos os argumentos possíveis contra esta iniciativa que vai contra todo o bom senso e a ciência atualizada. [...] No dia levem a Constituição Federal, faixas, material para fazerem cartazes, cartas abertas, manifestos, folders. Venha você e toda sua indignação. Pedimos que mobilizem os parlamentares favoráveis à cidadania LGBT e que defendam o Conselho Federal de Psicologia. [...] Todos e todas unidas contra este acinte à cidadania. Por um Brasil laico, diverso e contemporâneo. (Toni Reis, em 19/11/2012).

Nos embates com o jornal Folha de Pernambuco e com os deputados da bancada evangélica o ativismo político online aparece como uma estratégia de reforço; enquanto que nos embates com a revista Veja tanto o ativismo online quanto o off-line tiveram o mesmo peso, um complementou o outro. A principal tática adotada para pressionar a revista foi o

recrutamento de militantes, ativistas e apoiadores para o envio maciço de cartas à redação em repúdio ao artigo homofóbico. Concomitantemente, ativistas indignados organizaram espontaneamente mobilizações contra os dois veículos no Facebook, no Twitter e no YouTube, como visto anteriormente.

Além dessas ações que se enquadram na categoria organização/mobilização, a ABGLT solicitou formalmente o direito de resposta à Veja, ameaçando uma interpelação judicial se o pedido não fosse atendido; e acionou os Ministérios Públicos Federal e Estadual para tomar providências quanto ao anúncio homofóbico da Folha de Pernambuco - o que denota um tipo de ativismo político, porém articulado em rede. Nessa mesma linha de atuação, são igualmente recorrentes as articulações para viabilizar o pronunciamento de