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Capítulo 3 Uma análise transversal das categorias e modelos: parcerias público privadas em educação formal de jovens

2. Projeto Lep, que consiste em levar às escolas da rede pública a linguagem LOGO O projeto acontece nas escolas públicas municipais e estaduais de Santa

3.2 Categorização dos programas/projetos de acordo com a tipologia

Um outro campo analítico centrou-se, quando possível, nas estratégias de estabelecimento das parcerias, visando verificar se as diferentes formas de associação implicam em diferentes resultados. Com base nas estratégias identificadas, foi possível, mesmo com a reduzida quantidade de programas/projetos analisados, identificar e compreender diferentes modalidades de associação e parcerias, bem como seus níveis de integração, de acordo com a tipologia de projetos/programas apresentados no capítulo anterior. Buscou-se realizar uma análise transversal, que parte do agrupamento das iniciativas de acordo com as categorias estabelecidas pela tipologia.

Como apresentado no capítulo anterior, a matriz analítica elaborada com base nas categorias de Noam(2006) permite analisar os programas e projetos de desenvolvidos pelas parcerias público-privadas levando em consideração o âmbito da integração e sua intensidade.

A partir da análise e compreensão de como as relações são estabelecidas nas dinâmicas associativas entre órgãos públicos e privados, é possível identificar qual é o ponto de intersecção entre o âmbito e a intensidade, no desenvolvimento de um

Sistêmica Curricular Interpessoal  m bi to d a In te gr ão – Intensidade da Integração + A ut oc on ti do A ss oc ia do U ni fi ca do C oo rd en ad o In te gr ad o

Diagrama 2 – Matriz Analítica para a categorização dos programas/projetos desenvolvidos por meio de parcerias público-privadas de educação formal de jovens

programa/projeto. Como visto anteriormente, Noam estabelece 3 (três) âmbitos de integração: Interpessoal, Circular e Sistêmico; e 5 (cinco) níveis de intensidade: Autocontidos, Associados, Coordenados, Integrados e Unificados.

Cabe destacar que cada ponto de intersecção da matriz analítica é uma categoria de classificação, tornando possível classificar os programas e projetos em até 15 combinações, e associar os dois tipos de informação. São elas:

1. Interpessoal e Autocontido 2. Interpessoal e Associado 3. Interpessoal e Coordenado 4. Interpessoal e Integrado 5. Interpessoal e Unificado 6. Curricular e Autocontido 7. Curricular e Associado 8. Curricular e Coordenado 9. Curricular e Integrado 10.Curricular e Unificado 11.Sistêmica e Autocontido 12.Sistêmica e Associado 13.Sistêmica e Coordenado 14.Sistêmica e Integrado 15.Sistêmica e Unificado

Entre todas as combinações possíveis, foram identificados programas apenas 6 categorias: Interpessoal e Autocontido; Interpessoal e Associado; Curricular e Autocontido; Curricular e Associado; Curricular e Coordenado; Sistêmica e Integrado. A seguir, os 15 programas/projetos foram categorizados de acordo com essa tipologia.

Interpessoal e Autocontido

Projetos identificados: Projeto Alicerce, Programa Parceiros na Aprendizagem e Projeto

JADE – Jovens Agentes pelo Direito à Educação.

Neste caso, as relações com o poder público são estabelecidas somente quando possível, e o âmbito da integração interpessoal, ou seja, a comunicação acontece por meio de contatos pessoais entre os profissionais envolvidos dos órgãos públicos e privados, sem sistematização ou estabelecimento claro de papéis e responsabilidades.

No caso do Projeto Alicerce, por exemplo, os alunos de escolas públicas aprovados no processo seletivo frequentam durante dois anos um curso preparatório para o Ensino Médio no contra-turno da escola regular de ensino. O aluno considerado apto ao final do curso preparatório e que for aprovado no exame de seleção realizado pela escola parceira receberá uma bolsa de estudo para os três anos do Ensino Médio, em uma escola particular de ponta. A bolsa de estudo para o Ensino Superior é oferecida ao bolsista que ao final do terceiro ano do Ensino Médio for aprovado nos vestibulares das instituições de excelência do país, para cursos avaliados com quatro ou cinco estrelas. Neste projeto a parceria com as Secretarias de Educação Estaduais ou Municipais visa apenas facilitar a

identificação dos alunos com altas habilidades. Se não for possível existir essa integração, o processo de seleção pode acontecer de maneira independente.

No Projeto Jade, o objetivo era elaborar diretrizes para as políticas públicas de educação em escolas de Ensino Médios, a partir de processos de diálogos entre estudantes e seus familiares, professores de escolas públicas, diretores, funcionários, integrantes da comunidade, agentes governamentais e da sociedade civil. Tais diretrizes foram apresentadas ao final do projeto, concluído em 2008, e foram desenvolvidas mediante a análise dos resultados da pesquisa por um grupo técnico composto por 38 pessoas – múltiplos atores, entre eles 2 representantes da Secretaria de Educação. Portanto, a parceria estabelecida foi pontual com a Secretaria Estadual de Educação, por meio do Cenp - Coordenadoria de Estudos e Normas Pedagógicas, com representantes que fizeram parte do grupo técnico que analisou o resultado da pesquisa junto aos múltiplos atores e definiu as diretrizes gerais para essa etapa de ensino.

Já no caso do Programa Parceiros na Aprendizagem, normalmente a Secretaria de Educação entra em contato com a Microsoft, visando adquirir licenças dos softwares da empresa. A partir do contato com a Secretaria e da formalização da parceria, a Microsoft pode atuar no nível das escolas.

Percebe-se que os três projetos podem acontecer sem um envolvimento sistemático e profundo da administração pública. A intensidade, portanto, é autocontida, pois não há um esforço em colaborar nem em termos de currículo, e nem de maneira sistêmica, com o poder público.

Interpessoal e Associado

Projetos identificados: Projeto Academia Educar na Escola

O projeto não ocorre no âmbito curricular, nem atua de maneira sistêmica com a escola. Ele acontece por meio das relações estabelecidas com os alunos voluntários, por essa razão ocorre no âmbito interpessoal. A parceria foi estabelecida com a Diretoria de Ensino de Campinas e posteriormente as escolas foram contatadas.

Dentro das escolas são formados núcleos de cidadania juvenil, com apoio de professores, diretores e coordenadores, composto de jovens alunos. O objetivo é que cada núcleo transforme a realidade de sua escola e sua comunidade através do voluntariado e do protagonismo.

Quem executa o projeto é a Fundação Educar, com o apoio dos gestores. Durante o desenvolvimento do projeto, a parceria tem uma intensidade de associação, pois de

certa maneira as ações do projeto possuem espaço na escola, mas não há necessariamente, uma conexão mais profunda com a proposta finalística da mesma.

Curricular e Autocontido

Projetos identificados: EducaRede

Os objetivos do projeto podem ser encarados como compatíveis aos do órgão público. Trata-se, evidentemente, de um projeto de âmbito curricular. Porém, não há divisão de responsabilidades entre os envolvidos, nem uma relação institucional consolidada entre os órgãos públicos e privados parceiros.

O Portal EducaRede é gratuito e aberto, dirigido a alunos e professores do Ensino Fundamental e do Ensino Médio da rede pública. Oferece conteúdos exclusivos sobre temas atuais e conta ainda com canais de cultura, tecnologia e apoio a pesquisas.

Apesar de não terem sido encontradas informações que permitissem o aprofundamento quanto as estratégias de estabelecimento da parceria, é evidente que o projeto pode ocorrer de maneira independente a realidade da administração pública, sem que haja envolvimento direto dessa instância, de forma associada ou dinâmica no desenvolvimento do projeto.

Curricular e Associado

Projetos identificados: Projeto Círculos de Leitura, Movimento Todos pela Educação,

Programa de Valorização do Jovem.

No caso destes 3 programas/projetos, o âmbito de integração é o Curricular, uma vez que ao que motiva a parceria público-privada é a existência de objetivos comuns: a finalidade da iniciativa está em perfeita consonância com as diretrizes públicas. Entretanto, não se pode atestar para estes projetos/programas um nível de intensidade maior do que o Associado: as ações acontecem sem forçar, necessariamente, uma parceria mais sistêmica entre os envolvidos. Porém, o estabelecimento de associações com o poder público é absolutamente necessário para que consiga atingir o objetivo.

Entre as iniciativas categorizadas aqui merece destaque o Movimento Todos pela Educação, composto por representantes da sociedade civil, da iniciativa privada, organizações sociais, educadores e gestores públicos, que se uniram por uma aliança que tem como objetivo garantir Educação Básica de qualidade para todos os brasileiros até 2022, bicentenário da Independência do País. A proposta do Todos pela Educação tem perfeita consonância com as diretrizes da administração pública e não pode

acontecer de maneira independente. Porém como se trata de um movimento de mobilização, não necessariamente força uma parceria mais sistemática e pragmática, que seja transformada em ação propositiva, com todos os órgãos públicos envolvidos, apesar dessa ser uma diretriz desejável.

Da mesma forma, para a realização dos Círculos de Leitura, basta uma simples Associação entre o Instituto Fernand Braudel e as instâncias públicas envolvidas, sem a exigência de uma atuação direta e formalizada dessas instâncias. O mesmo acontece com o Programa Valorização Jovem, do Instituto Coca Cola, cuja execução fica a cargo do CIMA (Centro de Cultura, Informação e Meio Ambiente), que responde pela coordenação nacional do Programa desde 2001. Para que o projeto aconteça, torna-se necessário somente o apoio dos órgãos públicos envolvidos.

Curricular e Coordenado

Projetos identificados: Projeto Lep, Projeto Entre Jovens, Programa Acelera Brasil,

NAVE – Núcleo Avançado em Educação, Excelência em Gestão Educacional, Programa Escola Ideal.

Esta é a categoria com maior numero de projetos/programas identificados. Os objetivos do projeto são os mesmos objetivos do currículo escolar – é isto o que integra a parceria dos órgãos públicos com as organizações privadas envolvidas, por isso o âmbito de integração é Curricular. Apesar de não existir nessas iniciativas a divisão integral de responsabilidades entre os envolvidos, os objetivos são comuns e seu alcance depende, necessariamente, da mínima coordenação das ações nas duas instâncias – a pública e a privada. Ou seja, é preciso que exista uma comunicação oficial e sistemática entre as organizações envolvidas – e o poder público tem que de alguma maneira participar da realização do projeto.

No caso do Programa Escola Ideal, por exemplo, todos os municípios onde o programa é implantado passam por um processo similar de estruturação. O primeiro passo é organizar o Comitê de Desenvolvimento Comunitário, que atua como ponto de encontro entre representantes do poder público, da iniciativa privada e do Terceiro Setor. O comitê é responsável pela identificação dos ativos e desafios da localidade e define áreas prioritárias de atuação.

A linha mestra para a definição dessas áreas prioritárias é o desenvolvimento e o apoio à gestão democrática e participativa de escolas envolvidas. A ferramenta de avaliação e planejamento mapeia seis dimensões da escola: Profissionais da educação –

analisa a suficiência, estabilidade e assiduidade dos profissionais que atuam na escola; Condições de ensino – registra as instalações da escola e os materiais didático- pedagógicos; Políticas e práticas pedagógicas – estudam o projeto pedagógico da escola e de professores; Desempenho escolar – medem política da escola para questões como rendimento, freqüência e fluxo escolar; Ambiente educativo – mapeia se a escola promove a cultura para a paz; Gestão escolar – identifica a postura da instituição frente a atores governamentais, não-governamentais e comunitários.

A partir desse diagnóstico identificam-se quais são as prioridades para melhorar a qualidade de educação naquelas escolas. São elencados projetos, com base em boas práticas, que possam melhorar a educação naquelas escolas, para serem desenvolvidos juntos com a comunidade escolar.

Da mesma maneira acontece com o Projeto Entre Jovens, tecnologia social formulada para desenvolver nos jovens competências e habilidades, não adquiridas no Ensino Fundamental, e que sejam pré-requisitos para o Ensino Médio, através de universitários licenciandos, capacitados e assessorados para a implantação e avaliação de um programa de tutoria na escola. Neste caso, a formalização da parceria e se inicia com a apresentação da proposta executiva ao Governo do Estado selecionado. Uma vez aprovado pelo governo, se estabelece contatos com a Secretaria Estadual de Educação para apresentar o projeto e realizar a reunião para oferecer informações sobre ele. Nessa reunião, participam representantes dos departamentos da Secretaria da Educação e é formalizado o Termo de Parceria entre o Instituto Unibanco, o Governo do Estado e a Secretaria de Educação.

A execução é mista: o Instituto Unibanco oferece os tutores e os estagiários de pedagogia, mas exige que a escola nomeie um coordenador do projeto na escola, que seja funcionário da unidade escolar, para acompanhar e executar parte das ações do projeto, relacionadas à mobilização de alunos e ao fornecimento de dados e informações sobre o desempenho e a freqüência dos mesmos. As aulas acontecem no contra-turno ou aos sábados. O projeto nem sempre é adotado pela escola como uma parte dela, porém para ter o projeto a escola precisa querer e assinar um termo de adesão. A coordenação do Projeto é de responsabilidade do Instituto Unibanco em parceria com um representante da Secretaria Estadual de Educação, tratando-se claramente de uma parceria com nível de intensidade coordenado.

Já o Programa Acelera Brasil está em seis estados brasileiros - Goiás, Pernambuco, Tocantins, Paraíba, Sergipe e Mato Grosso. A parceria é estabelecida

diretamente com a Secretaria de Educação Municipal ou Estadual, ou com o governo do Estado e a execução fica a cargo das escolas, que recebem apoio para a implantação do Programa. Todo o material foi idealizado pelo Instituto Ayrton Senna: ou seja, os sistemas escolares recebem o material, e não participam de sua concepção. Trata-se também uma execução mista, que caracteriza um nível de intensidade Coordenado. O material do Acelera é utilizado como maneira complementar ao currículo básico do Estado, mão estando completamente unificado e incorporado de forma sistêmica as redes de ensino educacionais em que se encontra.

No caso do Programa de Excelência em Gestão Educacional as propostas de atuação foram desenvolvidas de maneira conjunta entre as organizações envolvidas. Ou seja, em todas as etapas, desde a concepção até a implantação, há participação dos órgãos envolvidos, em maior ou menor grau, em torno dos objetivos comuns da proposta da educação pública e do programa. Porém sua coordenação, durante o desenvolvimento, fica a cargo do órgão privado, o Instituto Fernad Braudel, sempre em consonância com representantes do poder público, caracterizando um nível Coordenado de integração.

O NAVE – Núcleo Avançado em Educação é um projeto da OI Futuro, que visa a transformação de um espaço escolar público, com subsídio privado, para o desenvolvimento de soluções educativas que utilizem de forma diferenciada as tecnologias da informação e da comunicação no Ensino Médio. A OI Futuro praticamente adota uma escola pública, por meio da parceria com a Secretaria de Educação do Estado, investindo recursos para transformá-la no NAVE. Obviamente, apesar da participação ativa dos órgãos públicos envolvidos no desenvolvimento dessa iniciativa, a Oi Futuro coordena e executa as ações existentes neste espaço, caracterizando uma integração também Coordenada.

Sistêmica e Integrado

Projetos identificados: Projeto Jovem de Futuro

A integração âmbito do Projeto Jovem de Futuro é Sistêmica, pois há clara divisão de responsabilidades e papéis no projeto entre os órgãos públicos e privados envolvidos. A formalização da parceria se inicia com a apresentação da proposta executiva ao Governo do Estado e para a Secretaria Estadual de Educação. Uma vez aprovado, é formalizado um Termo de Parceria entre o Instituto Unibanco, o Governo do Estado e a Secretaria de Educação.

A execução também é mista, pois o Instituto Unibanco oferece suporte técnico e financeiro para o desenvolvimento do projeto, mas quem executa as ações do projeto é a própria escola, representada por um grupo gestor. A escola deve fazer um plano de melhoria da qualidade de acordo com as suas necessidades, e implementa-lo durante os três anos do projeto, respeitando as limitações estabelecidas pelo Instituto Unibanco. A coordenação do Projeto é de responsabilidade do Instituto Unibanco em parceria com um representante da Secretaria Estadual de Educação. O nível de intensidade é Integrado já que o projeto é desenvolvido por meio de uma relação sistêmica com a escola e está integrado à realidade da escola, mas continua sendo um projeto.

Análise Geral das Categorias

Pela categorização realizada fica evidente que as parcerias público-privadas no âmbito da educação formal de jovens ainda caminham para uma integração efetiva e sistêmica dos órgãos envolvidos em sua realização. Como foi possível perceber, a maioria dos projetos encontrados na pesquisa está no âmbito de integração Curricular e atuam com nível de intensidade Coordenado. Isto significa dizer que o que integra a parceria dos órgãos públicos com as organizações privadas envolvidas são os objetivos comuns no desenvolvimento da iniciativa, porém não existe divisão integral de responsabilidades e papéis. Sistêmica Curricular Interpessoal  m bi to d a In te gr ão – Intensidade da Integração + A ut oc on ti do A ss oc ia do U ni fi ca do C oo rd en ad o In te gr ad o 6 3 1 1 1 3

Diagrama 3 – Matriz Analítica para a categorização dos programas/projetos desenvolvidos por meio de parcerias público-privadas de educação formal de jovens – com número de projetos por

categoria

É certo que a análise dos motivos e das causas para esta situação recorrente entre os programas/projetos pesquisados demandaria uma investigação mais profunda e detalhada, que enfocasse mais atentamente para as estratégias e as nuances das propostas estabelecidas no âmbito dessas parcerias. A presente pesquisa, infelizmente não permite esse aprofundamento.

Entretanto, esse quadro classificatório geral permite compreender que os investimentos das empresas e das organizações da sociedade civil, em parcerias com os órgãos públicos municipais, estaduais e federais, tem se caracterizado, de maneira mais generalizada, por: a) traçar objetivos similares e curriculares, em consonância com a administração pública; b) estabelecer, minimamente, pontos sistemáticos e oficiais de comunicação; c) não dividir de maneira integral e clara de responsabilidades e papéis.

3.3 Natureza das parcerias público-privadas em educação formal de jovens: