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CAPÍTULO IV OBJETO DA LEI DA AÇÃO CIVIL PÚBLICA – LEI Nº 7.347/

2. Causa de pedir e pedido

A causa de pedir (ou causa petendi) significa, resumidamente, o conjunto de fundamentos levados pelo autor a juízo, constituído pelos fatos e pelo fundamento jurídico a eles aplicável.

O Código de Processo Civil adotou a teoria da substanciação, pela qual são necessárias, além da fundamentação jurídica, a alegação e a descrição dos fatos sobre os quais incide o direito alegado como fundamento do pedido. A fundamentação jurídica é, via de regra, a causa de pedir próxima, enquanto o fato gerador do

como difusos. É o patrimônio de uma coletividade que está sendo agredido de maneira ilegal, e o efeito do ato nocivo sobre cada interessado é módico em demasia a proporcionar demandas individuais” (“Ação civil por dano urbanístico: questões controvertidas” in Temas de Direito Urbanístico, volume 2, São Paulo, Ministério-Público-Imprensa Oficial, 2000, p. 62).

223“Administrativo e Processual Civil – Ação Civil Pública – Patrimônio público – Interesse

coletivo – Loteamento – Regularização – Interesses individuais homogêneos – Legitimidade do Ministério Público – Lei n. 6.766/1979, arts. 38 e 40 – Lei n. 7.347/1985, art. 21 – CF, art. 129, III e IX – Precedentes STF e STJ. É dever constitucional do Ministério Público a defesa do patrimônio público e social, dos interesses difusos e coletivos e de outras funções compatíveis com a sua natureza (art. 129, III e IX, CF). O Ministério Público é parte legítima para a defesa dos interesses dos compradores de imóveis loteados, em razão de projetos de parcelamento de solo urbano, face a inadimplência do parcelador na execução de obras de infra estrutura ou na formalização e regularização dos loteamentos. A iterativa jurisprudência do Pretório Excelso acompanhada por incontáveis julgados desta Egrégia Corte, vem reconhecendo a legitimidade do

alegado direito se constitui, também na generalidade dos casos, na causa de pedir remota.

Nas ações coletivas, a causa de pedir também está relacionada aos fatos e fundamentos jurídicos a elas aplicáveis. Todavia, dizem respeitos a um outro contexto, sendo que alguns doutrinadores defendem que a teoria embasadora da causa de pedir seria a da individualização224.

Pela análise da causa de pedir e do pedido, é que se pode saber qual a espécie de direito coletivo, que se pretende tutelar (difuso, coletivo propriamente dito ou individual homogêneo).

O fato da ação coletiva conter determinadas peculiaridades, em relação ao processo civil individual, não autoriza a que se deixe de descrever, na inicial, os fatos relativos à lesão ou à ameaça dos direitos transindividuais pleiteados225.

O autor, ao exercer o direito de ação e dar início ao processo, quer que, ao seu final, o pedido seja atendido, de forma que o Poder Judiciário decida pela sua procedência e emita, para

Ministério Público para a defesa dos interesses difusos, coletivos e individuais homogêneos. Recurso conhecido e provido” (RSTJ 134/175).

224 Para Rodolfo de Camargo MANCUSO, “no caso da lei da ação civil pública, a interpretação

conjunta dos arts. 3°, 11, 13 e 16 sugere, em princípio, que o legislador, sem descurar da teoria adotada pelo Código de Processo Civil, aproximou-se um tanto da teoria da individualização. Com efeito, o art. 3° permite a formulação de pedido condenatório-pecuniário, mas, como nem sempre o interesse difuso lesado pode ser reparado dessa forma, permite a formulação alternativa de pedido de natureza cominatória (fazer ou não fazer)” (Ação civil pública, cit., pp. 85-86).

225 Sandra Lengruber da SILVA, Elementos das ações coletivas, São Paulo, Editora Método,

esse fim, um provimento que resolva a lide, pondo fim à discussão a respeito daquela situação jurídica e, enfim, faça valer aquele direito de que o autor se diz titular.

Alguns autores preferem tratar esse elemento identificador da ação como objeto da ação, ou seja, o bem jurídico a respeito do qual se reclama uma providência jurisdicional. E esse objeto classificar-se-ia em: a) imediato, que é o tipo de providência jurisdicional solicitada (de natureza processual) e b) mediato, que é o próprio bem jurídico reclamado (de natureza material).

Cumpre lembrar que alguns doutrinadores admitem que o pedido, na ação civil pública, é tipicamente condenatório, quer visando uma prestação em dinheiro, quer pretendendo uma obrigação de fazer ou de não fazer226-227.

Contudo, em matéria de ação coletiva, admitem-se não somente ações condenatórias, mas de qualquer natureza, diante da regra contida no art. 83 do Código de Defesa do Consumidor228.

Em uma só ação civil pública, é possível pedir a tutela de mais de um tipo de interesse transindividual, bem como a cumulação de pedidos, desde que compatíveis.

226 Rogério Lauria TUCCI, “Ação Civil Pública: Abusiva utilização pelo Ministério Público e

distorção pelo Poder Judiciário” in Revista dos Tribunais vol. 802, São Paulo, Editora Revista dos Tribunais, agosto de 2002, p. 41

227 J. M. Othon SIDOU, Habeas corpus, mandado de segurança, mandado de injunção, hábeas

O art. 3º da Lei nº 7.347/85 estabelece que “a ação civil pública poderá ter objeto a condenação em dinheiro ou o cumprimento de obrigação de fazer ou não fazer”. Embora pareça que não é possível a condenação do réu ao cumprimento de obrigação de fazer ou não fazer e, cumulativamente, ao pagamento em dinheiro, é importante lembrar apenas que não se pode condenar o réu à integral reparação do dano e também à indenização pecuniária. Contudo, nada impede, por exemplo, que se condene o demandado a pagar a indenização pelos danos causados e, ao mesmo tempo, a cumprir uma obrigação de fazer, como colocar um filtro na chaminé da fábrica, de modo a evitar danos futuros. Ainda, é possível condenar o réu a cumprir uma obrigação de fazer e/ou não fazer e a pagar multa fixada na forma do art. 11 da Lei da Ação Civil Pública.

No regime da lei processual civil, o pedido deve ser certo e determinado. Nas ações coletivas, por exceção, a lei admite o pedido genérico, nos termos do art. 95 do Código de Defesa do Consumidor229.

A ação coletiva também está sujeita à observância do princípio da congruência, segundo o qual o juiz deve decidir a lide dentro dos limites do pedido230. Dessa forma, se o autor da ação civil pública quer que a sentença também forme título

228Confira: Hugo Nigro MAZZILLI, cit., p. 129, Sandra Lengruber da SILVA, cit., 87. 229Neste sentido: Sandra Lengruber da SILVA, cit., p. 88.

executivo, em favor de lesados individuais homogêneos, deverá formular pedido correspondente.

CAPÍTULO V DA COMPETÊNCIA

SUMÁRIO: 1. Jurisdição e competência: 1.1. Distribuição da competência – 1.2. Critérios determinantes da competência – 1.3. Competência da Justiça Federal; 1.4. Competência absoluta e relativa – 2. Foro competente para a propositura da ação civil pública e as regras do Código de Defesa do Consumidor: 2.1. Competência objetiva em razão da matéria – 2.2. A determinação do foro competente: dano de âmbito local – 2.3. A determinação do foro competente: dano de âmbito

regional ou nacional – 2.4. Interesses difusos e coletivos propriamente ditos – 2.5. Interesses individuais homogêneos – 3. Competência das ações civis públicas envolvendo questões de meio ambiente do trabalho