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Legitimidade passiva nas ações coletivas

CAPÍTULO VI LEGITIMAÇÃO PARA AGIR

6. Legitimidade passiva nas ações coletivas

Os legitimados passivos nas ações coletivas são todos aqueles que causarem um dano a um grupo de pessoas, lesando interesses difusos, coletivos ou individuais homogêneos.

Em resumo, poderão ser sujeitos passivos das ações coletivas, pessoas físicas ou jurídicas, de direito público ou privado, ou entes despersonalizados, mas dotados de capacidade processual, que tenham ocasionado ou concorrido para a lesão de algum interesse transindividual e, em razão disso, deva ser responsabilizado.

Devemos ressaltar que o Ministério Público não pode ser sujeito passivo nas ações coletivas, porque é “órgão estatal desprovido de personalidade jurídica”325-326-327.

Quanto aos entes políticos, é mais corriqueiro que estejam no pólo passivo das ações coletivas, “seja porque eles podem dar causa à lesão, por ação ou omissão (esta última hipótese seria a mais ocorrente), seja porque, em sede de

325José Marcelo Menezes VIGLIAR, Tutela jurisdicional coletiva, cit., p. 159. 326Rodolfo de Camargo MANCUSO, Ação civil pública, cit., p. 175.

responsabilidade por danos aos interesses metaindividuais, preconiza-se a aplicação da responsabilidade objetiva, ou do risco integral”328.

Cumpre lembrar que o Estado, na qualidade de legitimado passivo, não pode se valer do instituto da denunciação da lide, a fim de exercer o direito de regresso contra os agentes responsáveis pelo dano, na medida em que a responsabilidade, na ação coletiva, é objetiva e a responsabilidade pessoal de seus agentes é subjetiva329-330.

Entretanto, esse entendimento merece ser analisado, de maneira mais elástica, diante de ação coletiva voltada à tutela de interesses concernentes a um número indeterminado de sujeitos, como, por exemplo, em caso de degradação da cobertura vegetal em área de mananciais, por ação ilegal de loteadores clandestinos. Nessa hipótese, a denunciação da lide ao responsável direto pelo dano ecológico haverá de ser admitida, levando em conta à efetiva tutela à defesa de meio ambiente ecologicamente equilibrado331.

É importante destacar, outrossim, quando os agentes públicos tiverem autorizado, aprovado, ratificado ou

328Rodolfo de Camargo MANCUSO, Ação civil pública, cit., p. 176.

329“Não cabe propor ação civil pública ou coletiva contra órgãos do Estado desprovidos de

personalidade jurídica, como, p. ex., o governador do Estado, o presidente do Tribunal de Justiça, o procurador-geral de Justiça etc. Sem dúvida, enquanto pessoa física que tenha causado danos a interesses transindividuais, em tese, qualquer um pode ser réu em ação civil pública ou coletiva. Entretanto, na qualidade de órgãos impessoais do Estado, esses agentes não podem ser réus em ação civil pública ou coletiva” (Hugo Nigro MAZZILLI, A defesa dos interesses difusos em juízo, 20ª edição, cit., pp. 345-346).

praticado o ato impugnado ou, ainda que por omissão, houverem dado oportunidade ao surgimento da lesão, no caso concreto, pode ocorrer que devam ser responsabilizados pessoalmente por meio da ação civil pública, enquanto pessoas físicas, como poderá ocorrer nas hipóteses previstas na Lei de Improbidade Administrativa332.

Sendo a responsabilidade pela prática do ato ilícito, de natureza solidária, a reparação do dano pode ser exigida indistintamente de um, de alguns ou de todos os co-legitimados a figurar no pólo passivo da relação jurídica processual. Nesse caso, nada impede a utilização pelo demandado do chamamento ao processo, de modo a trazer para a ação de conhecimento, os demais responsáveis, em caráter solidário.

Em se tratando de relação de consumo, são legitimados passivos, os fornecedores, consoante a definição do art. 3º do Código de Defesa do Consumidor e, supletivamente, o comerciante.

O Código de Defesa do Consumidor, no seu art. 3º, caput conceitua: “fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que desenvolvem atividades de produção, montagem, criação, construção, transformação, importação, exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou prestação de serviços”.

331Rodolfo de Camargo MANCUSO, Ação civil pública, cit., p. 182.

332Neste sentido: Hugo Nigro MAZZILLI, A defesa dos interesses difusos em juízo, 20ª edição,

De modo resumido, JAMES MARINS DE SOUZA333 define: “fornecedor é todo aquele que provisione o mercado de consumo, de produtos ou serviços”.

Já, JOSÉ GERALDO BRITO FILOMENO334 aduz que “são fornecedores todos quantos propiciem a oferta de produtos e serviços no mercado de consumo, de maneira a atender às necessidades dos consumidores, sendo despiciendo indagar- se a que título, sendo relevante, isto sim a distinção que se deve fazer entre as várias espécies de fornecedor nos casos de responsabilização por danos causados aos consumidores, ou então para que os próprios fornecedores atuem na via regressiva e em cadeia da mesma responsabilização, visto que vital a solidariedade para a obtenção efetiva de proteção que se visa oferecer aos mesmos consumidores. Tem-se, por conseguinte que fornecedor é qualquer pessoa física, ou seja, qualquer um que, a título singular, mediante desempenho de atividade mercantil ou civil e de forma habitual ofereça no mercado produtos ou serviços, e a jurídica, da mesma forma, mas em associação mercantil ou civil e de forma habitual”.

333“Legitimidade “Ad Causam” Ativa e Passiva nas Ações Individuais do Código do Consumidor”

in Revista de Processo volume 69, São Paulo, Editora Revista dos Tribunais, 1993, p. 70.

334Código brasileiro de defesa do consumidor comentado pelos autores do anteprojeto, 2ª edição,

Exsurge do caput do art. 12 do Código de Defesa do Consumidor335, as espécies do gênero “fornecedor” (o fabricante, o produtor, o construtor, nacional ou estrangeiro e o importador), os quais respondem extracontratualmente independentemente de culpa, pela indenização devida em função do fato do produto.

No art. 13 do Código de Defesa do Consumidor336 temos a previsão da responsabilidade subsidiária do comerciante pelo fato do produto, em duas situações: a) dificuldade ou impossibilidade de identificação do fabricante, construtor, produtor ou importador; b) erro do comerciante no acondicionamento de produtos perecíveis.

Por fim, no caput do art. 14 do Código de Defesa do Consumidor337 temos a responsabilidade civil do fornecedor pelo fato do serviço, que também é objetiva, ressalvada a hipótese do

335Artigo 12, caput do Código de Defesa do Consumidor: “o fabricante, o produtor, o construtor,

nacional ou estrangeiro e o importador respondem, independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos decorrentes de projeto, fabricação, construção, montagem, fórmulas, manipulação, apresentação ou acondicionamento de seus produtos, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua utilização e riscos”.

336Artigo 13 do Código de Defesa do Consumidor: “o comerciante é igualmente responsável, nos

termos do artigo anterior, quando: I - o fabricante, o construtor, o produtor ou o importador não puderem ser identificados; II - o produto for fornecido sem identificação clara do seu fabricante, produtor, construtor ou importador; III - não conservar adequadamente os produtos perecíveis. Parágrafo único - Aquele que efetivar o pagamento ao prejudicado poderá exercer o direito de regresso contra os demais responsáveis, segundo sua participação na causação do evento danoso”.

337Artigo 14, caput do Código de Defesa do Consumidor: “o fornecedor de serviços responde,

independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e riscos”.

parágrafo 4º do mesmo artigo 14338, que trata da responsabilidade dos profissionais liberais, a qual é apurada através da verificação de culpa.

Na esteira do entendimento de JAMES MARINS e NELSON NERY JÚNIOR339 podemos dizer que os bancos e instituições similares podem ser enquadrados no conceito geral de fornecedores de serviços, “porque são pessoas jurídicas que desenvolvem atividade consistente na prestação de serviços fornecida mediante remuneração, no mercado de consumo”.

Ainda, JAMES MARINS citando NELSON

NERY JÚNIOR340 afirma que “segundo o autor encontram-se

igualmente sob o regime do Código de Proteção e Defesa do Consumidor o contrato de cartão de crédito e os contratos de abertura

338Artigo 14, parágrafo quarto do Código de Defesa do Consumidor: “a responsabilidade pessoal

dos profissionais liberais será apurada mediante a verificação de culpa”.

339James MARINS, Responsabilidade da Empresa pelo Fato do Produto: os acidentes de

consumo no Código de Proteção e Defesa do Consumidor, São Paulo, Editora Revista dos Tribunais, 1993, p. 84.

340“Nelson NERY JÚNIOR, explica com precisão a extensão que se pode dar ao fato de o Código

do Consumidor ter incluído expressamente as atividades bancárias como passíveis de ensejar relações de consumo. Esclarece o citado autor que para que se possa classificar um contrato de natureza bancária como relação de consumo é preciso que se analise a finalidade do mesmo, exemplificando da seguinte forma: “Havendo outorga do dinheiro ou do crédito para que o devedor o utilize como destinatário final, há a relação de consumo que enseja a aplicação dos dispositivos do CDC. Caso o devedor tome dinheiro ou crédito emprestado do banco para repassá-lo, não será destinatário final e portanto, não há que se falar em relação de consumo (et alli, Código Brasileiro de Defesa do Consumidor, Forense Universitária, Rio, 1991, p. 305). No mesmo sentido José CRETELLA JÚNIOR, que sintetiza: “Fornecedor é o estabelecimento bancário; consumidor é o que se beneficia com esse fornecimento, como destinatário final”. FERREIRA DE ALMEIDA entende que nos contratos de mútuo que destinam dinheiro à pessoa física que não desenvolva atividade comercial reside ínsita a presunção de que o dinheiro emprestado será destinado ao consumo final, estando evidenciada a existência de relação de consumo (Os Direitos dos Consumidores, p. 142, Almedina, Coimbra, 1982)” (Op. cit., p. 85 e notas 186 e 187).

de crédito - “cheque especial”, como as relacionadas, notadamente os bancos e as seguradoras, sejam públicos ou privados”.

CAPÍTULO VII