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4 A FLEXIBILIZAÇÃO DAS NORMAS TRABALHISTAS NO BRASIL

4.2 CAUSAS DA FLEXIBILIZAÇÃO

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Art. 468 - Nos contratos individuais de trabalho só é lícita a alteração das respectivas condições por mútuo consentimento, e ainda assim desde que não resultem, direta ou indiretamente, prejuízos ao empregado, sob pena de nulidade da cláusula infringente desta garantia. Parágrafo único - Não se considera alteração unilateral a determinação do empregador para que o respectivo empregado reverta ao cargo efetivo, anteriormente ocupado, deixando o exercício de função de confiança.

A flexibilização das leis trabalhistas surge em decorrência de fatores como inovações tecnológicas (automação, comunicações, informática, globalização...), políticos (neoliberalismo) e econômicos (crise mundial). (MEDEIROS, 1999, p. 243).

No mundo de hoje, vivemos a revolução da automação (robotização e computadorização); e da cibernética, que afeta todos os meios de comunicação social, tornando as notícias e as informações mais acessíveis, sendo que, são mais de quinhentos satélites ativos cobrindo toda a superfície do planeta. Por causa desses fatores há um aumento das indústrias de propaganda, seduzindo toda sociedade e conduzindo a uma padronização do mundo. (MORAES, 2007, p.103).

No tocante as inovações tecnológicas, o direito do trabalho surgiu quando tentou solucionar a crise social posterior a Revolução Industrial. Então, nasceu sob o império das máquinas, a qual reduziu o esforço físico dos trabalhadores, mas também ocasionou a exploração do trabalho. (CUNHA, 2007, p. 84).

As máquinas, assim, começaram a substituir os trabalhadores, já que uma máquina faz o serviço de vários trabalhadores ao mesmo tempo. Além disso, ela não reclama, não fica doente nem falta, trabalha no frio ou no calor. (MARTINS, 2000, p. 42).

Süssekind (2004b, p.41) demonstra que “a informática, a telemática e a robotização tem profunda e ampla repercussão intra e extra empresa, configurando a época pós-industrial”.

Sobre as conseqüências dos avanços tecnológicos no mundo do trabalho trazemos os ensinamentos de Cunha (2007, p. 39): “[...], o avanço tecnológico vai ser responsável pelo decréscimo do aumento de emprego, conquanto, de outra parte, liberte o homem das tarefas repetitivas, perigosas, penosas, e insalubres que prejudicam sua saúde física e mental”.

Em razão da evolução cientifica e tecnológica surge à globalização econômica. Apesar de ter um cunho predominantemente econômico a globalização produz intensas repercussões nos campos político, social e jurídico (MARTINS; MAUAD, 2006, p.174).

Em razão do crescimento da globalização, relatam Martins e Mauad (2006, p. 175) que: “os grandes capitais internacionais, na constatação de que os países desenvolvidos apresentam mercado saturado e mão-de-obra cara, buscam investir em países emergentes, que ostentam [...] mão-de-obra muito mais barata”.

Nessa mesma esteira de acontecimentos conjugados, a mão-de-obra também tornou-se globalizada, de modo que não há qualquer restrição em se utilizar o trabalho além da fronteira. A prioridade é a diminuição de custos sociais. Logo, quanto mais barata a mão-de-obra, melhor. Eis a terceirização globalizada, que nivela por baixo o valor da mão-de-obra.

Além da mão-de-obra barata os detentores dos grandes capitais internacionais, optam, dentre os países emergentes, aqueles em que a legislação estadual de proteção ao trabalho não traga problemas aos seus interesses, buscando regiões onde possam montar suas empresas com o custo menor e com total possibilidade de desligamento de trabalhadores sem pesados ônus para o empregador. (MARTINS; MAUAD, 2006, p. 175-176).

Somando a tudo o que foi exposto sobre globalização trazemos a baila os ensinamentos de Martins (2000, p. 41) que afirma:

A globalização determina a competição econômica internacional. Houve a expansão do comércio internacional. A partir da década de 1960, a tendência do sistema internacional foi a competição entre as empresas. Para onde são levados os capitais, são criados empregos. Os capitais fogem de economias excessivamente regulamentadas, do ponto de vista do custo do trabalho. O mundo tem sido extremamente competitivo, para efeito da colocação dos produtos das empresas, como a concorrência entre Japão, Europa e Estados Unidos, em que se pretende colocar um produto pelo preço mais baixo possível, mas com a melhor qualidade desejada pelo consumidor.

Percebe-se nas palavras de Süssekind (2004b, p.45) que a globalização “ao invés de transformar o planeta num mundo só, o dividiu entre paises

globalizantes e países globalizados, com uma insuportável diferença dos padrões de

vida: dois mundos que não se completam porque se antagonizam”.

Um das áreas mais afetadas pela globalização é o direito do trabalho, uma vez que, visa através da flexibilização adaptar as relações de trabalho a essa nova situação. (MORAES, 2007)

Do ponto de vista de Nascimento (2009, p. 45) os efeitos da globalização sobre os empregos foram:

a) o da sua redução geral; b) o da sua ampliação setorial, decorrência das transformações da sociedade industrial para a pós industrial, com a criação de novos setores produtivos, que advieram das tecnologias modernas e do crescimento do setor de serviços, hoje maior do que o industrial, com a transferência dos setores industriais de países desenvolvidos para os emergentes; c) a descentralização das atividades da empresa para

empreendedores periféricos, por meio das subcontratações; d) a informalização do trabalho da pessoa física, com o crescimento do trabalho autônomo e o uso de formas parassubordinadas de contratação do trabalho; e) a requalificação profissional do trabalhador, com a valorização do ensino geral e profissional.

O desenvolvimento econômico é considerado como um dos fatores para a flexibilização, uma vez que cada País pode mudar as leis trabalhistas com o intuito de influenciar no seu crescimento econômico. Martins (2000, p. 41) assevera que:

O desenvolvimento econômico de cada país pode influenciar a contratação ou dispensa de trabalhadores. Se o país está em desenvolvimento, pode ocorrer a necessidade de flexibilização das regras trabalhistas para a manutenção ou criação de postos de trabalho. Nos países desenvolvidos, a tendência tem sido a flexibilização, como forma de diminuir o desemprego.

Na visão de Süssekind e outros (2000, v. 1, p. 207) “a liberação e a mundialização da economia incrementou a concorrência entre os países, impondo- lhes a necessidade de produzir mais e melhor”.

Süssekind e outros (2000, v. 1, p 208) esclarecem suas afirmações assim: “Alguns países implantaram, ou procuram implantar, os sistemas e instrumentos da modernidade tecnológica; outros, porém, para concorrer no mercado internacional, agravam as condições de trabalho, num retorno ao inicio do século XIX”.

Registra-se que na busca pelo desenvolvimento econômico, muitos países optaram pelo neoliberalismo, o qual tem como ideário um Estado mínimo, lei de mercado sobrepondo à lei do Estado; submissão do social ao econômico e ataque ao sindicalismo de combate. (MORAES, 2007).

Tendo em vista os pensamentos divergentes a respeito das relações de trabalho, houve muitas polêmicas entre os adeptos do Estado Liberal e os defensores do Estado social. Sobre os ideários de cada um destacamos as afirmações de Süssekind (2004b, p. 47-48):

Os neoliberais pregam a omissão do Estado, desregulamentando, tanto quanto possível, o Direito do trabalho, a fim de que as condições do emprego sejam ditadas, basicamente, pelas leis do mercado. Já os defensores do Estado social, esteados na doutrina social da Igreja ou na filosofia trabalhista, advogam a intervenção estatal nas relações de trabalho, na medida necessária à efetivação dos princípios formadores da justiça social e à preservação da dignidade humana; e, porque a social- democrática contemporânea pressupõe a pluralidade das fontes do Direito, consideram que o patamar de direitos indisponíveis, adequado a cada país, deve e pode ser ampliado pelos instrumentos da negociação coletiva entre sindicatos de trabalhadores e empresários, ou as associações destes.

Na opinião dos neoliberais a sistema legal do Brasil não permite a flexibilização, entretanto, aceita a desregulamentação, sendo que os tributos e encargos incidentes sobre os salários elevam excessivamente o custo para os empregadores, prejudicando a economia nacional. (SÜSSEKIND, 2004b, p. 49).

Frise-se que o Brasil, juntamente com os demais países da América Latina aderiram ao neoliberalismo em 1989, quando por estarem endividados foram buscar empréstimos do FMI (Fundo Monetário Internacional). (MORAES, 2007).

O neoliberalismo desses países se assentou em cinco linhas: privatização; queda das barreiras alfandegárias; livre circulação de bens, de serviços e de trabalhadores; facilitação ao capital especulativo internacional e desregulamentação de direitos sociais e trabalhistas. (MORAES, 2007, p. 98-99).

Nesse cenário, houve um crescimento nas taxas de desemprego do nosso país. Recomendam-se as afirmações de Silva (2007, p. 136) descritas abaixo:

A década de 90, no Brasil, foi marcada pelo crescimento acelerado das taxas de desemprego. Estes, além de terem diminuído em quantidade, também sofreram com a queda na qualidade. Assim, ao mesmo tempo, agravaram-se as condições de trabalho, com expansão de contratos fora dos marcos legais, extensas jornadas de trabalho, modificação na legislação trabalhista, entre outras medidas.

No Brasil no período entre 1990/1992, segundo Pinto (1999, p. 69). “mais de 2 milhões de postos de trabalhos foram eliminados pela política recessiva do Governo Collor, no início da inserção de nossa economia na globalização e na abertura dos mercado, sem maiores preocupações com os impactos sociais”.

Cunha (2007, p. 86) descreve a política neoliberal no Brasil assim:

A década de 90 reflete uma política neoliberal, com o abandono do conceito Estado do Bem-Estar social. Enquanto se privilegiam os grandes grupos econômicos, as pequenas e médias empresas quebram em decorrência do dano causado pelas políticas econômicas. A saúde, a educação, a segurança e a previdência são relegadas a um plano secundário.

No tocante às crises econômicas como fator de flexibilização das normas trabalhistas, estas levaram a um processo inflacionário nos países de um modo geral, não apenas no Brasil, mas em todo o mundo. (MARTINS, 2000, p. 42).

A crise econômica ocorrida nos anos 70, denominada para muitos de crise do petróleo, trouxe mudanças significativas na legislação trabalhista e transformou a economia mundial e os sistemas produtivos. (MORAES, 2007, p. 99).

A respeito das conseqüências da crise econômica ocorrida nos anos 70 esclarece Martins (2006, p. 176):

Por outro lado, é consabido que toda a economia mundial, a partir da crise do petróleo de 1973, vem passando momentos de extrema dificuldade, o que, aliado a outros fatores, especialmente a competitividade gerada pela própria globalização da economia, determinante da dispensa de legiões de trabalhadores com o objetivo de redução dos custos de produção, vem provocando um crescente desemprego em todo mundo.

Nesse diapasão, demonstra Nascimento (2007, p. 68-69):

Na Europa, com reflexos no Brasil, diante da crise do petróleo de 1973, a necessidade do desenvolvimento das comunidades econômicas internacionais, o avanço da tecnologia e o desemprego levaram à revisão de algumas leis trabalhistas que influíram na formação de propostas destinadas a reduzir a rigidez de algumas delas, para que não dificultassem a criação de novos tipos de contratos individuais de trabalho que permitissem o aproveitamento de trabalhadores desempregados, como o contrato a tempo parcial, o contrato de reciclagem profissional por prazo determinado e a ruptura dos contratos de trabalho motivada por causas econômicas, técnicas ou de reorganização das empresas.

No Brasil, os efeitos da crise econômica de 1973 somente foram sentidos na década de 1990, período marcado por recessão econômica e, conforme exposto anteriormente pelo desemprego. (SILVA, 2007)

Na visão de Cunha (2007, p.38), “a crise econômica colocou em risco a eficácia das regras existentes que, em razão das condições objetivas, não podiam ser cumpridas. Com a saúde das empresas atacada, grandes contingentes de trabalhadores tiverem de ser despedidos [...]”.

Silva (2007, p. 135) descreve que as crises econômicas “são responsáveis pelas mutações no mundo do trabalho, fazendo surgir novas espécies de contratos nas relações laborais”.

Ademais, pelo fato do nosso Direito do Trabalho ser extremamente rígido, estabelecendo uma proteção à parte mais fraca da relação trabalhista, o empregado, as crises econômicas, a globalização e a automação são fatores que não combinam com o nosso direito do trabalho. Assim, descreve Martins (2000, p.43) que:

As crises econômicas, a globalização das economias, a automação são situações que não se identificam com a rigidez da legislação trabalhista. Ao contrário, esta acaba atrapalhando ou até impedindo a maleabilização das relações trabalhistas para enfrentar aquelas situações. Daí a necessidade de flexibilização, de forma a poder adaptar a situação, de fato, mediante norma estabelecida pelas próprias partes, assegurando um mínimo obrigatório e que deve estar previsto em lei.

Continua Martins (2000, p. 43) relatando que “diante da realidade atual, não se pode admitir legislação rígida e outros procedimentos que estabeleçam emprego vitalício, trabalho a tempo integral, jornada inflexível etc.”.

Evidenciadas as causas da flexibilização passemos para o tópico da flexibilização das normas trabalhistas frente a Organização Internacional do Trabalho (OIT).

4.3 A FLEXIBILIZAÇÃO DAS NORMAS TRABALHISTAS FRENTE À

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