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Flexibilização das leis trabalhistas no Brasil à luz da Constituição Federal

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UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA MARCELO VARGAS DA ROSA

A FLEXIBILIZAÇÃO DAS LEIS TRABALHISTAS NO BRASIL À LUZ DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL

Florianópolis 2009

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A FLEXIBILIZAÇÃO DAS LEIS TRABALHISTAS NO BRASIL À LUZ DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL

Monografia apresentada ao Curso de Graduação em Direito da Universidade do Sul de Santa Catarina, como requisito parcial à obtenção do título de Bacharel em Direito.

Orientador: Professor João Batista da Silva, MSc.

Florianópolis 2009

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MARCELO VARGAS DA ROSA

A FLEXIBILIZAÇÃO DAS LEIS TRABALHISTAS NO BRASIL À LUZ DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL

Esta Monografia foi julgada adequada à obtenção do título de Bacharel em Direito e aprovada em sua forma final pelo Curso de Graduação em Direito da Universidade do Sul de Santa Catarina.

Florianópolis, 26 de novembro de 2009.

_________________________________________________ Professor e orientador João Batista da Silva, MSc..

Universidade do Sul de Santa Catarina

_________________________________________________ Prof. Juliano Meneghel

Universidade do Sul de Santa Catarina

_________________________________________________ Prof(a). Martha Lúcia de Abreu Brasil

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Dedico a presente pesquisa aos meus pais, Orlando e Regina, pelos seus grandes incentivos e, sobretudo pelo exemplo.

Ao amigo Marlon que me ajudou durante toda essa caminhada.

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AGRADECIMENTOS

A Deus, que inspira minha vida.

Às minhas irmãs, Bianca e Débora, pela companhia.

Ao meu orientador, João Batista, que confiou em meu potencial e por sua dedicação a minha orientação.

Aos meus chefes de trabalho, André e Ronei, pelos seus grandes ensinamentos.

A todos os colegas e professores da Unisul e aos seus funcionários, em especial, os da biblioteca dessa instituição.

A todos que me incentivaram, direta ou indiretamente, durante a realização da pesquisa em tela.

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TERMO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE

A FLEXIBILIZAÇÃO DAS LEIS TRABALHISTAS NO BRASIL À LUZ DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL

Declaro, para todos os fins de direito e que se fizerem necessários, que assumo total responsabilidade pelo aporte ideológico e referencial conferido ao presente trabalho, isentando a Universidade do Sul de Santa Catarina, a Coordenação do Curso de Direito, a Banca examinadora e o Orientador de todo e qualquer reflexo acerca desta monografia.

Estou ciente de que poderei responder administrativa, civil e criminalmente, em caso de plágio comprovado do trabalho monográfico.

Florianópolis (SC), 26 de novembro de 2009.

_______________________ Marcelo Vargas da Rosa

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RESUMO

A presente pesquisa aborda “A Flexibilização das Normas Trabalhistas no Brasil à Luz da Constituição Federal”. Essa pesquisa tem como objetivo geral verificar a plausibilidade ou não da Flexibilização das Leis Trabalhistas no Brasil, amparada pela nossa Constituição Federal, como uma das alternativas para amenizar ou solucionar os efeitos da globalização e da nova economia global. Para maior entendimento sobre o tema a pesquisa é dividida em três capítulos ligados e estruturados entre si. A primeira parte resulta na demonstração do direito do trabalho mundial, partindo de seu histórico, para sua base jurídica, filosófica, econômica e política, terminando com as primeiras leis trabalhistas. O segundo versa sobre o direito do trabalho brasileiro, relatando o seu histórico, fazendo uma abordagem jurídica, política e econômica desse direito, demonstrando os aspectos constitucionais e os principiais princípios constitucionais que guarnecem o direito do trabalho brasileiro. O último capítulo elucida a flexibilização das normas trabalhistas, trazendo o seu conceito e finalidade, distinguindo da desregulamentação, tratando dos países que adotaram a flexibilização e os efeitos ocasionados nestes, as normas brasileiras que foram flexibilizadas, os fatores que ocasionam a flexibilização, a opinião da Organização Internacional do Trabalho sobre esse instituto e a concepção de alguns doutrinadores e da jurisprudência sobre a flexibilização no Brasil. A pesquisa adota o método de abordagem dedutivo, partindo de uma situação geral para uma idéia particular, método de procedimento monográfico e a técnica de pesquisa bibliográfica. O resultado final da pesquisa leva a conclusão de que ainda não é o momento para a aplicação da flexibilização no Brasil. São necessárias primeiramente novas políticas sociais e econômicas. Também são necessárias uma nova legislação trabalhista, sem afrontar os direitos fundamentais dos trabalhadores e medidas que fortaleçam os sindicatos, dando mais liberdade a estes na busca de um maior equilíbrio na relação entre patrão e empregado.

Palavras-chave: Direito do Trabalho. Constituição Federal. Flexibilização das Leis Trabalhistas.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ...8

2 O DIREITO DO TRABALHO...11

2.1 HISTÓRICO DO TRABALHO...11

2.2 A BASE JURÍDICA E FILOSÓFICA ...15

2.3 A BASE ECONÔMICA E POLÍTICA...19

2.4 AS PRIMEIRAS LEIS TRABALHISTAS ...24

3 DIREITO DO TRABALHO BRASILEIRO ...27

3.1 ABORDAGEM JURIDICA, POLÍTICA E ECONÔMICA ...28

3.2 ASPECTOS JURÍDICOS CONSTITUCIONAIS...33

3.3 PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS QUE GUARNECEM O DIREITO DO TRABALHO BRASILEIRO...38

3.3.1 Princípio da proteção...39

3.3.2 Princípio da irrenunciabilidade de direitos ...41

3.3.3 Princípio da continuidade da relação de emprego...41

3.3.4 Princípio da dignidade da pessoa humana...42

3.3.5 Princípio da irredutibilidade do salário ...43

4 A FLEXIBILIZAÇÃO DAS NORMAS TRABALHISTAS NO BRASIL ...44

4.1 A FLEXIBILIZAÇÃO E O SEU SIGNIFICADO...44

4.2 CAUSAS DA FLEXIBILIZAÇÃO ...49

4.3 A FLEXIBILIZAÇÃO DAS NORMAS TRABALHISTAS FRENTE À ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO (OIT) ...55

4.4 A POSIÇÃO DOUTRINÁRIA E JURISPRUDENCIAL DA FLEXIBILIZAÇÃO DAS NORMAS TRABALHISTAS NO BRASIL...57

5 CONCLUSÃO ...65

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1 INTRODUÇÃO

O Direito do Trabalho brasileiro foi criado com o intuito de proteger os trabalhadores contra a força econômica do empregador e que os contratos de trabalho garantissem condições necessárias para proporcionar uma vida digna aos trabalhadores.

Em decorrência dos avanços tecnológicos, da globalização econômica e da nova ideologia neoliberal o direito de trabalho brasileiro encontra-se em crise.

As normas de proteção aos trabalhadores estão sendo consideradas economicamente pesadas aos empregadores, aumentando consideravelmente o custo da produção e dificultando a concorrência das empresas no mercado internacional.

Nesse contexto, a flexibilização das Leis Trabalhistas no Brasil novamente está sendo discutida como uma das alternativas para conter ou amenizar os efeitos dos avanços tecnológicos, da globalização econômica e da política neoliberal nas relações de trabalho.

Dessa forma surge a seguinte questão: a flexibilização das leis trabalhistas pode ser implementada no Brasil para amenizar ou solucionar os efeitos da nova economia global? Ela está amparada pela Constituição Federal?

Essa discussão gera inúmeras dúvidas sobre quais são os efeitos da Flexibilização, como ela deve ser implantada e se realmente ela poderá ajudar o nosso país no combate dos efeitos causados pela nova economia global. Importante salientar que as relações trabalhistas historicamente se manifestaram bastante conflituosas, sendo o empregado a parte mais fraca e menos favorecida nessa relação.

Percebe-se ainda, que em nosso País devido ao sistema econômico capitalista o trabalhador continua no regime de escravidão branda, pois o trabalhador é obrigado a se submeter à aflição de poder ser demitido a qualquer momento e não ter condições de se recolocar no mercado de trabalho.

Portanto, a presente pesquisa tem como finalidade verificar a plausibilidade ou não da Flexibilização das Leis Trabalhistas no Brasil, amparada pela nossa Constituição Federal, como uma das alternativas para amenizar ou solucionar os efeitos da globalização e da nova economia global.

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Com esse propósito a pesquisa tem como objetivos específicos discorrer sobre o histórico do direito do trabalho; demonstrar a base jurídica e filosófica, bem como a base econômica e política do direito do trabalho; expor as primeiras Leis Trabalhistas; analisar o direito do trabalho brasileiro; identificar a estrutura jurídica político e econômica das relações de trabalho no Brasil; exemplificar os aspectos jurídicos constitucionais; enumerar os principais princípios constitucionais que guarnecem o direito brasileiro; discorrer sobre a flexibilização das leis trabalhistas; descrever os fatores que levam à flexibilização; contextualizar a abordagem jurídica internacional pertinente à flexibilização verificando a posição adotada pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) e descrever sobre a flexibilização das normas trabalhistas no Brasil sobre a concepção de algumas doutrinas e jurisprudências.

Para melhor compreensão do tema essa pesquisa foi dividida em três capítulos.

No primeiro capitulo será relatado o direito do trabalho de uma forma geral, trazendo elementos históricos para o surgimento do direto do trabalho, sua base jurídica, filosófica, política e econômica, bem como quais foram às primeiras leis trabalhistas.

Com relação ao segundo capítulo será abordado o direito do trabalho brasileiro fazendo um breve relato histórico desse direito, uma abordagem jurídica, política e econômica, bem como quais foram as Constituições existentes no Brasil e os principais princípios constitucionais que guarnecem o direito do trabalho brasileiro.

Por fim, o terceiro capitulo, por sua vez discorrerá sobre a flexibilização das normas trabalhistas, demonstrando o seu significado, os fatores que influenciam a flexibilização, à opinião da Organização Internacional do Trabalho sobre a flexibilização e como alguns doutrinadores e a jurisprudência abordam sobre o tema.

Será utilizado nessa pesquisa o método de abordagem dedutivo, partindo de uma situação geral para uma idéia particular e o método de procedimento monográfico.

Com relação à técnica de pesquisa, utilizaremos à da bibliográfica, utilizando obras no campo do Direito, além da legislação pátria e artigos especializados.

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Salientamos que, por ser tratar de um tema que se reinsere na dinâmica atual das questões trabalhistas no mundo e no Brasil, as referências bibliográficas são ainda bastante escassas. Trata-se, pois, de tema pouco versado pela literatura especializada.

Assim, à exceção do específico tema da flexibilização das leis trabalhistas, no demais, encontra-se acolhimento doutrinário suficiente para a elaboração da presente pesquisa,

Nas referências bibliográficas serão mencionadas as obras utilizadas neste trabalho, bem como a legislação aplicável, sobretudo a Constituição Federal de 1988, adotando-se para indicação das fontes o sistema autor/data, cujas citações serão feitas de forma direta e indireta.

Havendo expressões em língua estrangeira, terão as mesmas traduções deste autor.

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2 O DIREITO DO TRABALHO

Neste capitulo serão abordados os antecedentes históricos do direito do trabalho, a sua base Jurídica, Filosófica, Econômica e Política, bem como as primeiras leis trabalhistas.

2.1 HISTÓRICO DO TRABALHO

Segundo Martins (2003, p. 34) “a primeira forma de trabalho foi à escravidão, em que o escravo era considerado apenas uma coisa, não tendo qualquer direito, muito menos trabalhista. O escravo, portanto, não era considerado sujeito de direito, pois era propriedade do dominus”.

Cunha (2007, p. 56) esclarece que na época da escravidão era inviável falar em direito do trabalho, vejamos:

Nessas circunstâncias, o escravo enquadrava-se como objeto do direito de propriedade, não como sujeito de direito, razão pela qual torna-se inviável falar-se de um Direito do Trabalho enquanto predominava o trabalho escravo. É que o contrato de trabalho, núcleo de nossa disciplina pressupõe a existência de dois sujeitos de direito: empregado e empregador. Ausente um deles, a relação jurídica está fora de sua tutela.

Na Grécia havia fábricas de flautas, de facas, de ferramentas agrícolas e de móveis onde todos os trabalhadores eram escravos. Em Roma os escravos pertenciam aos grandes senhores e eram de várias classes, desde pastores até gladiadores, músicos, filósofos e poetas. (SÜSSEKIND et al, 2000, v. 1).

Nessa época muitos escravos poderiam se tornar livres. A esse respeito Süssekind e outros (2000, v. 1, p. 28) assim se referem:

Muitos escravos vieram, mais tarde, a se tornar livres, não só porque senhores os libertavam como gratidão, a serviços relevantes ou em sinal de regozijo em dias festivos, como também ao morrer declaravam livres os escravos prediletos. Ganhando a liberdade, esses homens não tinham outro direito senão o de trabalhar nos seus ofícios habituais ou alugando-se a terceiros, mas com a vantagem de ganhar salários para si próprios. Foram esses os primeiros trabalhadores assalariados.

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Para Süssekind e outros (2000, v. 1, p. 28), “àquele tempo, a escravidão era considerada coisa justa e necessária, tendo Aristóteles afirmado, que, para conseguir cultura, era necessário ser rico e ocioso e isso não seria possível sem a escravidão”.

Após o período da escravidão, o trabalhador passou para o regime da servidão, época do feudalismo. Ela não difere muito da escravidão, já que, muito embora os trabalhadores recebessem certa proteção militar e política proporcionada pelo senhor feudal, donos das terras, eles não tinham condições de livres. Eram obrigados a trabalhar nas terras pertencentes aos seus donos, senhores. Os servos eram presos em glebas que cultivavam, tinham a obrigação de entregar parte da produção rural em troca do uso das terras e pela defesa que recebiam (NASCIMENTO, 2007).

Rocha (2007, p. 15) exemplifica o período da servidão assim:

A servidão era o modelo adotado pela Idade Média. Os feudos eram terras onde viviam o Senhor do feudo, e os demais camponeses eram seus servos. Estes pagavam ao Senhor feudal a permissão de viver no feudo de várias formas. Alguns eram de fato arrendatários de parte das terras do Senhor; outros lhe pagavam com dinheiro pelo uso da terra, outros, ainda, com trabalho em alguns dias da semana, nas terras do Senhor, outros, com parte de produção; outros apenas com o trabalho nas terras do Senhor, por não terem sua própria gleba.

De acordo com Süssekind e outros (2000, v. 1, p. 34) “a servidão começou a desaparecer no final da Idade Média. As grandes perturbações, ora decorrentes das epidemias, ora das Cruzadas, davam ensejo não só à fuga de servos como à alforria”.

A partir do século X, os habitantes dos feudos, impulsionados por novas necessidades que não poderiam ser satisfeitas nos feudos passaram a adquirir mercadorias fora dos limites de suas áreas, gerando o aumento do comércio fora dos feudos. Para regular o referido crescimento surge o terceiro período do Direito do Trabalho denominado de corporações de oficio. (CUNHA, 2007, p.59).

Nesse período existiam três personagens: os mestres, os companheiros e os aprendizes. (MARTINS, 2003, p. 34).

Nascimento (2007, p. 43)caracteriza os três personagens dessa forma:

Os mestres eram os proprietários de oficinas, que chegavam a essa condição depois de aprovado, segundo os regulamentos da corporação, na confecção de uma “obra mestra”. Equivalem aos empregados de hoje. Os

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companheiros eram trabalhadores livres que ganhavam salários dos mestres. Os aprendizes eram menores que recebiam dos mestres os ensinamentos metódicos de uma oficina ou profissão. A clientela das oficinas era os poucos habitantes de uma cidade e de seus arredores. As corporações mantinham com os trabalhadores uma relação de tipo bastante autoritário e que se destinava mais à realização dos seus interesses do que à proteção dos trabalhadores.

É de se ressaltar que, nas palavras de Martins (2003, p. 35):

Se o aprendiz superasse as dificuldades dos ensinamentos passava ao grau de companheiro. O companheiro só passava a mestre se fosse aprovado em exame de obra-mestra, prova que era muito difícil, além dos companheiros terem de pagar taxas para fazer o exame. Entretanto, quem contraísse matrimônio com a filha do mestre, desde que fosse companheiro, ou casasse com a viúva do mestre, passava a essa condição. Dos filhos dos mestres não se exigia qualquer exame ou avaliação de obra.

As corporações de ofícios formavam suas próprias leis profissionais e recebiam regalias dos reis, desejosos a terminar com o poderio dos nobres senhores da terra. Contudo, mais tarde, os reis e imperadores com a finalidade de evitar a influência das corporações e diminuir a sorte dos aprendizes e trabalhadores resolveram restringir os seus direitos. (SÜSSEKIND et al, 2000, v. 1).

Süssekind e outros (2000, v. 1, p. 31) trazem um interessante comentário sobre o que aconteceu na Espanha, onde o rei e as cortes tiveram forte intervenção no direito regulamentar das corporações. Relatam os autores que:

As Cortes de Valladolid (1351) fixaram a jornada de trabalho de sol a sol com períodos de descanso para alimentação e asseguraram a liberdade de qualquer pessoa ensinar ofício "a quem soubesse e quisesse aprendê-lo"; nas Cortes de Toro se declarava que ‘todos os ofícios são legítimos’, proibia-se o penhor dos instrumentos de trabalho e extinguia-se a prisão do trabalhador por motivo de dívida.

Diante disso, percebe-se que as corporações não passavam de uma forma mais branda de escravidão do trabalhador (SÜSSEKIND et al, 2000, v. 1).

Por serem incompatíveis com o ideal de liberdade do homem da Revolução Francesa, as corporações vieram a perder suas forças. Também, a liberdade de comércios e o aumento dos preços dos produtos das corporações são causas para a extinção desse regime. (MARTINS, 2003, p. 35).

Assim, por causa da Revolução Francesa e também em razão Revolução Industrial, o trabalhador passou para uma nova relação de trabalho, o trabalho assalariado. Nesse regime, houve a expansão da indústria e do comércio e a

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substituição do trabalho escravo, servil e corporativo pelo trabalho assalariado. (NASCIMENTO, 2007, p. 44).

Portanto, houve a substituição do trabalho artesanal pela produção de inúmeras indústrias nascentes, ocorrendo o crescimento acelerado do capitalismo industrial e a prestação de serviços em massa. (MARINS, 2008, p. 65.).

Martins (2003, p. 35) elucida que “a Revolução Industrial acabou transformando o trabalho em emprego. Os trabalhadores, de maneira geral, passaram a trabalhar por salários. Com a mudança houve uma nova cultura a ser apreendida e uma antiga a ser desconsiderada”.

A revolução industrial provocou a invenção de máquinas que seriam utilizadas nas indústrias, ocasionando mudanças de métodos de trabalho e das relações entre patrões e trabalhadores. As novas máquinas iriam importar na redução da mão-de-obra, pois, para obter determinado resultado na produção não era necessário grande número de operários. (SÜSSEKIND et al, 2000, v.1).

Além da redução da mão de obra, os trabalhadores começaram a sofrer com os abusos cometidos por seus empregadores, tendo um salário baixo para prestar seus serviços em condições insalubres, sujeito a incêndios, explosões, intoxicação por gases, inundações, desmoronamentos, com uma jornada excessiva por dia, tanto para os homens quanto para mulheres e menores. Ademais, eram feitos contratos vitalícios ou então enquanto o trabalhador pudesse prestar os seus serviços. (MARTINS, 2003, p. 36).

De acordo com Süssekind (2004a, p. 11) “a partir daí [Revolução Industrial] se desenvolveu o regime do contrato de trabalho formalmente livre. Mas as condições de trabalho, inclusive o salário, eram ditadas pelo empregador”.

Outro período importante para o Direito do Trabalho foi a Primeira Guerra Mundial, a qual trouxe grandes benefícios aos trabalhadores. Os trabalhadores lutaram com o objetivo dos operários terem os mesmos direitos de todos os cidadãos e que o trabalho fosse colocado no mesmo plano do capital. Sobre a Primeira Guerra Mundial, trazemos os ensinamentos de Süssekind e outros. (2000, v. 1, p. 42):

A primeira grande guerra mundial (1914-1918) levou às trincheiras milhões de trabalhadores e, pondo-os lado a lado com soldados vindos das outras camadas sociais, fê-los compreender que, para lutar e morrer, os homens eram todos iguais e que deveriam, portanto, ser iguais para o direito de viver. Os governos, tangidos pela necessidade de manter a tranqüilidade

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nas retaguardas, faziam concessões à medida que as reivindicações eram apresentadas e reconheciam a importância do trabalho operário para o êxito da luta que se tratava nas trincheiras.

Nesse contexto, o fim da Primeira Guerra Mundial remeteu a humanidade a uma nova era – qual seja – a do nascimento do Direito do Trabalho. Isso somente foi possível por causa da luta dos trabalhadores na mencionada guerra. (SÜSSEKIND et al, 2000, v. 1, p. 42)

Passemos, pois, à apreciação da base jurídica e filosófica do direito do trabalho.

2.2 A BASE JURÍDICA E FILOSÓFICA

As primeiras manifestações em favor do trabalhador ocorrem na segunda metade do século XVIII, onde os filósofos junto com a burguesia começaram a reclamar do reconhecimento de liberdade do trabalho. Em decorrência disso, o ministério Francês com o fim das corporações em nome da liberdade do Trabalho decretou a Lei de 17 de março de 1791, disciplinado que todo homem será livre para realizar negócio ou exercer profissão, arte, ou ofício que deseje, mas será obrigado a pagar os impostos correspondentes e a conformar-se com os regulamentos de polícia em vigor ou que venham a vigorar (SÜSSEKIND et al, 2000, v. 1).

Nessa época ainda não era possível falar na existência de fundamentos do Direito do Trabalho. Esclarecem Süssekind e outros (2000, v. 1, p. 88) que:

Não se podia falar em direito do Trabalho, pela inexistência de condições que justificassem o aparecimento de um novo ramo do Direito, ao tempo do individualismo e da predominância do liberalismo, surgia uma concepção de direito na verdade contrária aos interesses do proletariado. Quando se apontava a situação miserável dos trabalhadores, o argumento para defender a ordem de idéias reinante é que isso acontecia porque a liberdade ainda não era perfeita. A luta pela vida seria o meio de estabelecer um dia o equilíbrio entre os fatores da produção com a predominância da lei da oferta e procura.

Destacamos que a origem histórica do Direito do Trabalho está ligada principalmente à Revolução Industrial (GOMES; GOTTSCHALK, 2005).

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Na visão de Süssekind (2004a, p. 13), “o Direito do Trabalho é um produto da reação verificada no século XIX contra a exploração dos assalariados por empresários”. Explica o autor:

Estes se tornaram mais poderosos com o aumento da produção fabril, resultante da utilização dos teares mecânicos e da máquina a vapor, e com a conquista de novos mercados, facilitada pela melhoria dos meios de transporte (Revolução Industrial); aqueles se enfraqueceram na razão inversa da expansão das empresas, sobretudo porque o Estado não impunha aos empregadores a observância de condições mínimas de trabalho e ainda proibia a associação dos operários para defesa dos interesses comuns.

Barros (2008, p. 63) nos ensina que com a Revolução Industrial, “surgiu daí uma liberdade econômica sem limites, com opressão dos mais fracos, gerando, segundo alguns atores, uma nova forma de escravidão”.

Reitere-se que durante a Revolução Industrial, ocorria a imposição de condições de trabalho pelo empregador, como por exemplo, a exigência excessiva de jornadas de trabalho, a exploração das mulheres e menores, que constituíam mão-de-obra mais barata, a insegurança quanto ao futuro nos momentos pelos quais fisicamente não tivessem condições de trabalhar, pois, não receberiam seus salários e os baixos salários. (NASCIMENTO, 2009, p. 15).

A utilização cada vez maior da máquina ao invés de acarretar na diminuição das jornadas de trabalho e elevação dos salários deve efeitos contrários. Esclarece Süssekind (2004a, p.15):

A utilização cada vez maior da máquina, que poderia ter acarretado a diminuição das jornadas de trabalho e a elevação dos salários, como conseqüências do maior rendimento do trabalho produtivo, teve paradoxalmente, efeitos diametralmente opostos. Num retrocesso que afronta a dignidade humana, a duração normal do trabalho totalizava, comumente, 16 horas diárias; o desemprego atingiu níveis alarmantes e o valor dos salários decresceu. Para complementar o orçamento da família operária, a mulher e a criança ingressavam no mercado de trabalho, acentuando o desequilíbrio entre a oferta e a procura de emprego.

Os trabalhadores também sofriam com a falta de condições de trabalho na França, onde as jornadas de trabalho eram de 12 horas diárias nas províncias e 11 horas diárias em Paris. (NASCIMENTO, 2009, p.20).

A lei em vigor naquela época, denominada Lei de Bronze, analisava o trabalho como uma mercadoria, no qual, o preço era determinado por meio da

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concorrência que tendia a fixá-lo de acordo com o custo da produção e a um nível próximo do mínimo de sustento. (CUNHA, 2007).

O Estado diante dessa situação nas palavras de Cunha (2007, p. 65) “se portava a ser um simples observador dos acontecimentos e, por isso, transformou-se em um instrumento de opressão aos menos favorecidos”.

Diante desse cenário surge o movimento operário, o qual foi o grande responsável pelo surgimento do Direito do Trabalho. Gomes e Gottschalk (2005, p. 02-03) afirmam que:

A força de resistência da classe operária concentrou-se, pois, de início, no associacionismo secreto, grupado à margem da lei, que o perseguia, mas, ainda assim, atuante na autotutela dos interesses de classe e movido pelo instinto de defesa coletiva contra a miséria e o aniquilamento. Os movimentos grevistas, ação direta pela sabotagem, ou pelo boicote; o movimento ludista na Inglaterra e em França; alguns convênios coletivos de existência precária, manifestados desde o inicio da história do movimento operário, são a prova evidente de que o impulso inicial dado para o aparecimento do Direito do trabalho foi obra do próprio operário, e não benevolência de filantropos, da classe patronal, ou pelo Estado.

Dessa forma, os trabalhadores começaram a reivindicar através de sindicatos que os representavam, o direito de contratação tanto no âmbito coletivo, com as convenções coletivas de trabalho, quanto no âmbito individual com a idéia do contrato de trabalho e uma legislação em condições de coibir os abusos do empregador e preservar a dignidade do homem no trabalho. (NASCIMENTO, 2007, p. 44).

Apesar da luta operária, o uso das máquinas pelo empregador aumentou, o desemprego atingiu números alarmantes e o valor dos salários pagos decresceu. (SÜSSEKIND, 2004a).

Para tentar evitar a pressão de grupos organizados em detrimento da liberdade individual o governo Francês criou a Lei de Chapelier (1791), proibindo a coalizão de cidadãos, inclusive de operários e oficiais de qualquer arte. Essa proibição foi adotada em diversos países, conceituando-se como delitos penais os movimentos grevistas e até as tentativas de sindicalização. (SÜSSEKIND, 2004a).

Tendo em vista que o conflito entre o coletivo e o individual estava ameaçando a estrutura da sociedade e sua estabilidade surge à necessidade de um ordenamento jurídico com a finalidade de dar mais equilíbrio à sociedade. (CUNHA, 2007).

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Sensibilizados com essa situação, os parlamentares começaram a tentar resolver o problema através da elaboração de leis. Nesse sentido SÜSSEKIND (2004a, p. 16) demonstra que:

Coube ao moleiro ROBER PEEL obter, em 1802, na Inglaterra, a primeira lei de proteção ao trabalhador, na fase contemporânea da história. Ela visou à criança. Limitando a jornada de trabalho em 12 horas, dispondo sobre sua aprendizagem e estabelecendo regras de higiene nas fábricas. Essa lei, entretanto, não teve eficácia na prática. Foi o empresário ROBERT OWEN que, realmente, lançou as sementes que frutificaram, sendo por isso, considerado, mui justamente, o pai da Legislação do Trabalho: ele implantou diversas medidas de proteção ao trabalho na sua fábrica de tecidos em New Lamark, na Escócia. Difundiu ideais inovadores no seu livro A New View of Society (1813); propôs no Congresso de Aix-la- Chapelle a celebração de um tratado internacional limitando a jornada de trabalho (1818); colaborou com PEEL na aprovação de nova lei sobre o trabalho do menor (1819); incentivou enfim, a agremiação dos operários em sindicatos (trade unions), os quais se tornaram, a partir de então, o mais poderoso instrumento de conquista dos direitos social-trabalhistas.

Outros fatores que contribuíam para o desenvolvimento do Direito do Trabalho foram: a ação humanitária de homens progressistas como Villermé, Roberto Owen, Harmel, Godi, Von Brentano e outros que fizeram propaganda da necessidade de o Estado fazer visitas para a classe obreira desprotegida; as doutrinas sociais da Igreja, consubstanciadas em Encíclicas Papais, relatando a excelência do Cristianismo social e o primado do problema moral; a influência exercida pelas legislações dos Estados totalitários como a Itália, a Alemanha e União Soviética; o impacto das duas grandes guerras com o tratado de Versalhes; a criação da Organização Internacional do Trabalho e a Organização das Nações Unidas pelo seu Econômico e Social. (GOMES; GOTTSCHALK, 2005).

A luta da classe operária contra a máquina, foi substituída, a pouco e pouco, por campanhas, às vezes violentas, para a conquista de leis imperativas de proteção. Segundo o Süssekind (2004a, p. 17-18) principais leis conquistadas pelos trabalhadores foram:

a) na França, onde desde 1806 já funcionavam os Conseils de prud’hommm, constituídos de empregadores e empregados, com atribuições para conciliar e decidir questões oriundas do trabalho; foi proibido o trabalho de crianças em minas de subsolo (1813) e o trabalho em domingos e feriados (1814); b) na Inglaterra, em 1833, foi proibido o trabalho do menor de 9 anos, limitada a 9 horas a jornada de trabalho do menor de 13 anos e a 12 horas a do menor de 18 anos, com a instituição de inspetores de fábricas; c) na Alemanha, em 1939, foi vetado o trabalho do menor de 9 anos e fixada em 10 horas a jornada de trabalho do menor de

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16 anos; d) Ainda na França, em 1814, foi proibido o trabalho do menor de 8 anos, limitada a 8 horas a jornada de trabalho dos menores de 8 a 12 anos e fixada em 12 horas a dos menores de 12 a 16 anos; e) a Inglaterra volta a legislar, em 1844, para limitar a prestação do trabalho feminino a 10 horas diárias.

Saliente-se que a principal Lei que marcou a formação histórica e ideológica do Direito do Trabalho e coroou a intensa campanha sindical, foi na Inglaterra, em 1847, a qual limitou a jornada normal de trabalho a 10 horas, em disposição de caráter geral. (SÜSSEKIND, 2004a, p. 18).

Não podemos esquecer nesse tópico a Revolução de 1848, ocorrida na França. Delgado (2007, p. 95), caracteriza essa Revolução dessa forma:

É que, de fato, ela traduz primeira grande ação coletiva sistemática dos segmentos dominados na estrutura socioeconômica da época perante a ordem institucional vigorante - agindo os trabalhadores na qualidade de sujeito coletivo típico. Combinadamente a isso, desponta a circunstância de incorporar essa revolução um estuário de reivindicações nitidamente oriundas dos trabalhadores urbanos. Estes conseguem, no processo revolucionário, generalizar para o mundo do Direito uma série de reivindicações que lhe são próprias, transformando-as em preceitos da ordem jurídica ou instrumentos da sociedade política institucionalizada. São dessa época, na França, o reconhecimento do direito de associação e greve e a fixação da jornada de 10 horas; no plano político, tem-se a extensão do sufrágio universal.

Realizado o exame da base jurídica e filosófica das leis trabalhistas, iremos analisar a base política e econômica do Direito do Trabalho.

2.3 A BASE ECONÔMICA E POLÍTICA

A substituição do feudalismo para o regime capitalista foi uma dos fatores econômicos que influenciaram o Direito do Trabalho. O feudalismo com o seu modelo servil no campo ou prestado nas cidades pelas corporações do oficio foi substituído pelo capitalismo onde o trabalhador poderia utilizar-se de todas as suas potencialidades oferecendo seu trabalho em um mercado e sendo remunerado pelo seu exercício. (HINZ, 2006, p. 3).

A concepção capitalista do trabalho estabeleceu-se no século XVIII, a partir da economia clássica. Relata Andrade (2005, p. 35-36) que:

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Esta, contrariando as teses dos fisiocratas, sustentava que o novo valor da riqueza da sociedade não provinha dos produtos da terra, da agricultura. O salário seria o preço do trabalho, a ser definido pelo mercado, através da relação entre oferta e procura. É bem verdade que foram os fisiocratas os primeiros a estabelecer a distinção entre o trabalho produtivo e o trabalho improdutivo. Mas o fator mais importante foi, sem dúvida, o significado que o trabalho passou a ter dentro daquela economia política: uma produtividade própria, que não se confundia com os produtos do labor, mas com a própria força humana, cuja intensidade não se esgotava depois que ela produzia os meios de sua subsistência e sobrevivência.

Além do capitalismo, com interesses opostos a este surge a classe proletária. Süssekind e outros (2000, v. 1, p. 35) conceituam as duas classes da seguinte forma:

A primeira [classe proletária], mais numerosa, não dispunha do poder, mesmo porque no regime em que o Estado apenas assegurava, no plano teórico, a Igualdade e a Liberdade, a classe capitalista, pela força do dinheiro, pela submissão pela fome, impunha ao proletariado a orientação que tinha de ser seguida. Explorando e escravizando a massa trabalhadora, a minoria patronal não se preocupava com a condição de vida dos seus empregados: as relações entre patrões e trabalhadores se constituíram dentro dos muros de cada fábrica. Fora desta precinta estreita, deste pequeno território comum, as duas classes - a rica e a trabalhadora - viviam tão separadas, tão distantes, tão diferentes, como se habitassem países distintos ou se achassem divididas por barreiras instransponíveis. Criara-se o contrates flagrante e violento entre o supermundo dos ricos e o inframundo dos pobres.

Outro elemento importante para a formação do Direito do Trabalho foi o realizado pelo socialista Karl Max através do Manifesto Comunista em 1848. (GOMES; GOTTSCHALK, 2005).

Andrade (2005, p.39-40) demonstra algumas idéias de Karl Max, desse modo:

Na análise do sistema contratual que se impõe ao longo de toda a trajetória da sociedade capitalista, o salário assume um papel preponderante na teoria marxista, em termos de interpretação das estruturas sociais mantidas no seio da sociedade de trabalho e no interior das organizações produtivas. Para Marx, o trabalho é uma maneira especifica de manifestar a própria vida. A força do trabalho, que é vendida e que o operário põe à disposição do empresário, deixa de pertencer-lhe e passa a ser uma mercadoria. E o trabalho perde sua característica ontológica de satisfação para converter-se num sacrifício.

Marx em “O Capital” aponta a tendência do capitalista para destruir a força do trabalho devido a sua exploração e a abundante oferta. Para ele o capital, deixado a si próprio, negaria ao trabalhador as condições essenciais à sua

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sobrevivência, de modo que, esse não seria reposto, ou sua reposição seria insuficiente. (CUNHA, 2007).

Percebe-se que Marx era contra os ideais do capitalismo e por meio da teoria da mais valia fez criticas sobre a redistribuição do trabalho e a exploração do trabalhador. (NASCIMENTO, 2009).

Huberman (1986 apud ROCHA, 2007, p. 19) esclarece que a teoria da mias valia, assim: “deduzindo-se o custo das matérias-primas, das máquinas e do salário, o restante do valor constitui a mais valia, na qual, estão contidos todos os lucros”.

Ademais, Nascimento (2009, p. 50-51) recrimina as teorias de Marx, vejamos:

A tese da mais valia do caráter permanente da luta de classes, a teoria da evanescência do Estado, pontos centrais da teoria marxista e que visavam a instauração de uma sociedade sem classes, são teses que os fatos não comprovaram com as quais a teoria começou a ruir, não dando resposta a diversas indagações centrais: como é possível uma sociedade igualitária sem a supressão da liberdade? Se o homem é livre, como será igual? Qual é o sentido da ação de um sindicalismo de reivindicação perante o Estado no qual o operariado é o detentor do poder político? Se o sindicato é um órgão de representação de classe, quem será por ele representado numa sociedade sem classe? De que modo o Estado poderá impor uma legislação trabalhista numa sociedade sem Estado? Vê-se, logo, que Marx deslocou a questão trabalhista para o âmbito político, não oferecendo uma alternativa jurídica para fundamentar o direito do trabalho. De outro lado, ao conceber o direito como superestrutura condicionada pela infra-estrutura econômica, deu razão àqueles que sustentam que o direito do trabalho é mero apêndice do direito econômico, como se fosse um dos setores deste, e não um corpo de normas independentes e destinadas exatamente a evitar a absorção do trabalho pelo processo produtivo.

Na opinião de Cunha (2007, p. 64), as idéias de Marx “[...] contribuíram para que despertasse no trabalhador a consciência coletiva e sua extraordinária força”.

Em razão dos manifestos socialistas, ocorre o terceiro elemento para o surgimento do Direito do Trabalho, qual seja a mudança do Estado Liberal para o Estado Neoliberal. Ao contrário do liberalismo o neoliberalismo consiste na intervenção do Estado na organização e direção do processo econômico e social. (RUSSOMANO, 2003).

O liberalismo gerou valores para a sociedade, como por exemplo: a auto-suficiência dos direitos inatos do homem, autonomia da vontade como fonte geradora da ordem social e política e o livre consentimento como fundamentação da

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convivência social e limite do poder, mas, gerou um desequilíbrio nas relações de trabalho, já que não havia interferência do Estado, não contribuindo, assim, para a formação de uma estrutura coletiva de relações do trabalho. (NASCIMENTO, 2009).

Já no Neoliberalismo havia a participação do Estado no direito do Trabalho. Dessa forma, aduz Russomano (2003, p. 27-28) que:

O neoliberalismo, desse modo, quando bem entendido e bem conceituado, partindo da tese da economia de mercado e da liberdade política do cidadão, não só admite como pressupõe a participação do Estado no encaminhamento dos problemas da comunidade, inclusive através, da elaboração das normas fundamentais do Direito do Trabalho, isto é, daquelas normas que constituem o casco da embarcação em que navegam as aspirações do operariado moderno.

Portanto, segundo Süssekind e outros (2000, v. 1, p. 39) “passava o Estado a exercer sua verdadeira missão, como órgão de equilíbrio, como orientador da ação individual, em benefício do interesse coletivo, que era, em suma, o próprio interesse social”.

A Igreja católica também é um fator importante para o surgimento do Direito do Trabalho. A doutrina cristã tinha como conceito de direito do trabalho duas variáveis: o trabalho no sentido objetivo e no sentido subjetivo. Esclarece Andrade (2005, p. 37):

[no trabalho objetivo] O homem o “submeter a terra” com o seu trabalho, em todas as etapas históricas, realiza um ato de criação, de seu domínio sobre a natureza e o sujeito próprio do trabalho continua sendo o homem. Mas [no trabalho subjetivo], quando o homem exerce o domínio sobre a terra, o faz como um ser dotado de subjetividade. Ao ser capaz de atuar de maneira programada e racional, deve encarar o trabalho como a realização de si mesmo.

O precursor do novo ideal da Igreja foi o Papa Leão XIII. Com a divulgação da Encíclica Rerum Novarum em 15 de maio de 1891 foi proclamada a mudança da diretriz então predominante no trato das questões pertinentes ao trabalho, a fim de preservar a dignidade humana do trabalhador e implantar uma justiça social. O mencionado documento pontifício ainda criticou o liberal-individualismo. Sobre os efeitos do referido documento Süssekind e outros (2000, v. 1, p. 40) enfatizam:

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A palavra do Sumo Sacerdote ecoou e impressionou o mundo cristão, incentivando o interesse dos governantes pelas classes trabalhadores, dando força para sua intervenção, cada vez mais marcante nos direitos individuais em benefício dos interesses coletivos.

A doutrina social da Igreja condenava os excessos capitalistas, socialistas e comunistas. Na visão de Cunha (2007, p. 64-65) as principais idéias dessa doutrina eram:

O Estado deve intervir nas relações de trabalho para assegurar o bem comum, a propriedade não é um direito absoluto, e ao dono corresponde, na realidade uma função de administrador, devendo submeter-se às limitações necessárias dada a função social; o trabalho é título de honra, que toca a dignidade da pessoa humana; o salário deve ser justo e suficiente para manter o trabalhador e sua família de forma decorosa; o descanso deverá permitir-lhe a reposição de forças e o cumprimento dos deveres religiosos; não devem organizar-se corporativamente e as organizações profissionais deverão regular as relações de trabalho; o Estado deve intervir para regular e fixar condições em favor de quem não conta com outra sorte de proteção.

Diante desses quatro fatores, a legislação trabalhista nasce com o caráter intervencionista do Estado, seja para limitar a autonomia da vontade nas relações de trabalho, seja para instituir sistemas obrigatórios de previdência. (SÜSSEKIND, 2004a).

Conforme Süssekind e outros (2000, v. 1, p. 39), “em nome da solidariedade substitui-se a igualdade pura pela igualdade jurídica, como regra de direito que impõe o interesse geral sobre o particular sem que, entretanto, se anule o indivíduo”.

O Estado intervém em favor dos trabalhadores através da criação de leis. Alega Pinto (1999, p.73) que:

O Estado intervém em favor do proletariado com a elaboração de leis que garantam a preservação de direitos básicos e que limitam o poder do empregador, como o direito ao descanso, limitação na jornada diária de trabalho, repouso semana semanal, direito a férias anuais, à proteção da vida, da saúde e da segurança física, repressão à discriminação da mulher e do menor, e outros.

Frisa-se que, a intervenção do Estado nas relações de trabalho pode ser maior ou menor, dependendo do sistema econômico adotado pelo respectivo regime jurídico-político e dos sindicatos dos trabalhadores conseguirem através da negociação coletiva estipular as condições de trabalho adequadas. Diante disso,

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Süssekind (2004a, p. 28) traz uma escala com diversos graus de intervenção do Estado, vejamos:

a) Nos principais países de língua inglesa (Estados Unidos, Grã-Bretanha e Canadá) o sistema jurídico de proteção ao trabalho esteia-se preponderantemente na negociação coletiva, impulsionada por poderosos sindicatos, não obstante vigorar na Inglaterra algumas leis de proteção ao trabalho; b) na maioria dos países, inclusive naqueles em que há inúmeros sindicatos fortes e a sindicalização é ponderável (República Federal da Alemanha, França, Itália, Espanha etc.), leis imperativas fixam o nível considerado adequado de proteção aos trabalhadores, que é complementado pelos instrumentos de negociação coletiva; c) nos poucos países onde a economia ainda é integralmente dirigida pelo Estado, as condições de trabalho integram os planos periodicamente aprovados e impostos pelo Poder Público, não podendo as convenções coletivas ter, a respeito, conteúdo inovador.

Para SÜSSEKIND e outros (2000, v. 1, p. 40) “nesse aspecto intervencionista a ação do Estado, faz-se sentir de maneiras diversas, seja, regulamentado a iniciativa privada, seja fomentando-a e vigiando-a, seja substituindo-se a ele em benefício do interesse coletivo”.

Registre-se que o Estado, nessa medida, não age sozinho, vez que a Igreja, intervindo nas questões do Estado passa a se preocupar com o trabalho subordinado. (MARTINS, 2003, p. 37).

Ainda, salientamos que a intervenção do Estado no Direito do Trabalho tem como finalidade de corrigir a desigualdade social, surgindo, dessa forma, uma nova concepção da sociedade, o “Estado polícia” ou “Estado providência”. (SÜSSEKIND et al, 2000, v. 1, p. 40).

Após a demonstração da base econômica e política, iremos demonstrar as primeiras leis trabalhistas.

2.4 AS PRIMEIRAS LEIS TRABALHISTAS

Nas palavras de Martins (2003, p. 37) com o “término da Primeira Guerra Mundial, surge o que pode ser chamado de constitucionalismo social, que é a inclusão nas Constituições de preceitos relativos à defesa social da pessoa, de

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normas de interesse social e de garantia de certos direitos fundamentais, incluindo o direito do Trabalho”.

A primeira Constituição a cuidar dessa matéria foi a do México em 1917. Demonstra Nascimento que (2007, p. 45):

No art. 123 disciplina a jornada diária de 8horas, a jornada máxima noturna de 7 horas, a proibição do trabalho de menores de 12 anos, a limitação de jornada do menor de 16 anos a 06 horas, o descanso semanal, a proteção à maternidade, o direto ao salário mínimo, à igualdade salarial, a proteção contra acidente no trabalho, direito de sindicalização, de greve, de conciliação e arbitragem dos conflitos, de indenização de dispensa e de seguros sociais.

Como descrito por Süssekind (2004b, p. 13) a Constituição do México “armou um quadro significativo dos direitos sociais do trabalhador, muitos dos quais foram repetidos nas Cartas Magnas de alguns países latino-americanos”.

A segunda Constituição a versar sobre o assunto foi a da Alemanha, de Weimar (1919), a qual era considerada a base das novas democracias sociais. Disciplinava sobre a proteção do Estado ao trabalhador, organização de um direito unitário do trabalho, liberdade de associação para defesa e melhoria das condições de trabalho, de produção, integração do trabalhador na empresa e o seu direito de participar na fixação do salário e das demais condições de trabalho. (NASCIMENTO, 2007, p. 45).

Em razão da influência dos socialistas, nessa Constituição inseriu-se em seu texto um capítulo sobre a ordem econômica e social, prevendo a criação de conselhos de trabalhadores nas empresas; nos distritos e no Reich e de conselho econômico nacional. (SÜSSEKIND, 2004b, p. 14).

Em 1919, surge o Tratado de Versalhes, antecipando a criação da Organização Internacional do Trabalho (OIT), que teria como finalidade proteger as relações entre empregados e empregadores no âmbito internacional, com a expedição de convenções e recomendações nesse sentido. (Martins, 2003, p. 38).

Gomes e Gottschalk (2005, p. 5) caracterizam o Tratado de Versalhes da seguinte forma:

Como se sabe, esse Tratado preconiza nove princípios gerais relativos à regulamentação do trabalho, que se recomendavam à adoção pelos países que o firmaram. Nesse período inicia-se, propriamente, a atividade legislativa dos estados em favor dos trabalhadores, obediente àqueles nove princípios. Caracteriza-se, sobretudo, pela incorporação de medidas de

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caráter social aos textos das Constituições em todos os países democráticos, e pela intensificação da legislação ordinária em todas as nações civilizadas, abrangendo todos os aspectos da regulamentação do trabalho. A extinta Sociedade das Nações havia instituído como uma de suas agências de inter-relação dos povos a Organização Internacional do Trabalho, destinada à execução dos nove princípios do Tratado. Com o desaparecimento da Sociedade das Nações, sobreviveu-lhe a OIT, o que bem demonstra a sua eminente importância social e política. E mais tarde um documento de alta relevância, como é a Encíclica Mater et Magistra, põe em destaque a incomparável atuação, no mundo, da OIT.

Instituindo um sistema corporativista-fascista e com o intuito de organizar a economia em torno do Estado surge em 1927 a Carta del Lavoro. (MARTINS, 2003, p. 39).

Nascimento (2007, p. 45) explicita a Carta del Lavoro assim:

A Carta del Lavoro da Itália, de 1927, foi a base dos sistemas políticos corporativistas, não só da Itália, mas da Espanha, Portugal e Brasil, tendo como princípio a intervenção do Estado na ordem econômica, o controle do direito coletivo do trabalho e, em contrapartida, a concessão, por lei, de direitos aos trabalhadores. O lema da Carta del Lavoro, ao proclamar “tudo dentro do Estado, nado fora do Estado, nada contra o Estado”. É, por si, suficientemente expressivo para dar a idéia das concepções do corporativismo. Os sindicatos não tiveram autonomia, e a organização sindical modelada pelo Estado, impediu a sua liberdade de organização e de ação. Se, de um lado, a forte presença estatal promoveu a tutela dos assalariados por meio de ampla legislação de fundo paternalista, por outro lado, com o dirigismo exercido sobre o movimento sindical, o estado prejudicou o desenvolvimento sindical.

Martins (2003, p. 38) acentua com grande propriedade que “a Declaração Universal dos Direitos do Homem, de dezembro de 1948, prevê alguns direitos aos trabalhadores, como limitação razoável do trabalho, férias remuneradas periódicas, repouso e lazer, dentre outros”. Isto permite compreender a importância que passa a ser atribuída aos direitos trabalhistas, na medida em que ganham acolhimento no próprio teor da Declaração Universal dos Direitos do Homem.

Para Gomes e Gottschalk (2005, p. 5) a declaração Universal dos Direitos do Homem contém uma importante afirmação “toda pessoa tem direito de fundar, com outros, sindicatos e de se filiar a sindicatos para a defesa de seus interesses”.

Após a apreciação das primeiras leis trabalhistas, passamos para o próximo capitulo, o direito do trabalho brasileiro.

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3 DIREITO DO TRABALHO BRASILEIRO

Primeiramente antes de retratar o Direito do Trabalho brasileiro iremos abordar um breve histórico sobre o Direito do Trabalho no Brasil.

Historicamente, o Direito do Trabalho do Brasil pode ser dividido em três períodos. (GOMES; GOTTSCHALK, 2005).

No primeiro período, época da escravidão e tempo do Império ocorrido em 1808, às atividades agrícolas eram exercidas pelos escravos. Süssekind e outros (2000, v. 1, p. 51) descrevem as condições de trabalho do Brasil nessa época assim:

As atividades agrícolas eram realizadas pelos escravos e estes nem ao menos se sentiam capazes de serem possuidores de qualquer direito, os casos registrados de rebelião, de fuga, de organização de confraria de pretos forros, tudo isso tinha como causa apenas o desejo de libertarem-se de alguns raros senhores violentos, mas nunca o anseio de uma igualdade jurídica, de obtenção de direitos e regalias, de que os escravos jamais tinham ouvido falar. Não existiam indústrias desenvolvidas e, salvo algumas, de instalações e métodos primitivos, de cerâmica e de madeira, tudo se fazia com um artesanato ainda incapaz de se organizar.

Para Delgado (2007, p. 106) esse período foi “marcado estruturalmente por uma economia do tipo rural e por relações escravistas, não restava espaço significativo para o florescimento das condições civilizadoras do ramo justrabalhista”.

O problema da escravidão foi debatido por uma elite intelectual, a qual focalizava o seu aspecto desumano e a posição de inferioridade de nosso País em relação a outros Países civilizados. (SÜSSEKIND et al, 2000, v. 1).

A escravidão somente teve fim em 1888, através da Lei Áurea. Delgado (2007, p. 105-106) argumenta sobre a mencionada lei dessa forma:

Embora a Lei Áurea não tenha, obviamente, qualquer caráter justrabalhista, ela pode ser tomada, em certo sentido, como o marco inicial de referência da história do direito do trabalho brasileiro. É que ela cumpre referência da História do direito do Trabalho brasileiro. É que ela cumpriu papel relevante na reunião dos pressupostos à configuração desse novo ramo jurídico especializado. De fato, constituiu diploma que tanto eliminou da ordem sociojurídica relação de produção incompatível com o ramo justrabalhista (a escravidão), como, em conseqüência, estimulou a incorporação pela prática social da fórmula então revolucionária de utilização da força de trabalho: a relação de emprego.

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Eliminada a escravidão e devido à Proclamação da República surge o segundo período que se estende de 1888 a 1930, o período liberal do direito do trabalho. (NASCIMENTO, 2009, p. 57).

Na visão de Delgado (2007, p 107-108), o segundo período “se destaca pelo surgimento ainda assistemático e disperso de alguns diplomas ou normas trabalhistas, associados a outros diplomas que tocam tangencialmente na chamada questão social”.

As principais leis criadas no inicio da República são: o Decreto nº. 1.162/1890, em que era garantida a liberdade do trabalho, Decreto nº. 1.313/1891, o qual estabelecia diretos dos trabalhadores menores, Lei nº 1.150/1905, que conferiu privilégio para pagamento de dívida proveniente de salários do trabalhador rural, Lei nº 1.637/1907, a qual foi a primeira lei sindical. (SÜSSEKIND et al, 2000, v. 1).

Já o terceiro e último período, começou com a Revolução de 1930. Foi nesse período que começou a fase atual ou contemporânea do Direito do Trabalho brasileiro. (RUSSOMANO, 2003, p. 31).

Segundo Gomes e Gottschalk (2005, p. 7) período em questão “caracteriza-se pela intensificação febril da legislação ordinária e extensa adoção, no País, da anterior regulamentação internacional do trabalho, elaborada durante vários anos de atividade da OIT”.

Esta fase de institucionalização do Direito do Trabalho, nos seus primeiros quinze anos, em decorrência do novo padrão de gestão sociopolítica instaurado no País e com a queda da hegemonia exclusiva do segmento agroexportador de café se caracteriza como intensa atividade administrativa e legislativa do Estado. (DELGADO, 2007, p. 109).

Efetuada uma breve análise sobre o histórico do Direito do Trabalho Brasileiro passamos a demonstrar a abordagem jurídica, política e econômica.

3.1 ABORDAGEM JURIDICA, POLÍTICA E ECONÔMICA

No tempo do império, em nosso País, nas opiniões de Süssekind e outros (2000, v. 1, p. 51) “não existiam indústrias desenvolvidas, e, salvo algumas, de

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instalações e métodos primitivos, de cerâmica e de madeira, tudo se fazia com um artesanato ainda incapaz de se organizar”.

Com a abolição da escravidão e a proclamação da República houve um aumento da população brasileira nas zonas industriais. Em São Paulo, por exemplo, em 1890 possuía 65.000 habitantes e 1900 essa cifra atingiu 240.000, formando, dessa forma, as condições para que o trabalho subordinado viesse a ser regido por leis de proteção. (NASCIMENTO, 2009, p. 57).

Porém, nesta fase apesar de iniciar o desenvolvimento industrial não houve a aparecimento de Leis Trabalhistas. Neste sentido, Süssekind e outros (2000, v. 1, p. 52) fazem o seguinte comentário:

Com o desenvolvimento industrial, mesmo na sua fase inicial, começava a se fazer sentir o desajustamento entre as condições normais de vida do trabalhador e aquelas a que ele deveria ter direito. Inexistia, entretanto, o espírito de classe, e ainda não se haviam formado as concentrações de população operária; as reivindicações que se apresentavam, num e noutro ponto do País, eram atribuídas a agitações de anarquistas. Os acontecimentos dramáticos de Pernambuco, nos quais teve heróica atuação o Professor Joaquim Pimenta, defendendo os trabalhadores, não chegaram a emocionar o proletariado do resto do Brasil. Nem as greves do Distrito Federal e de São Paulo tiveram o efeito de se transformar em “movimento ascendente”, capaz de provocar o aparecimento de leis, ao obstante todos esses acontecimentos se terem verificado depois da primeira grande guerra mundial.

Durante o período da Revolução de 1930 e o fim da Primeira Guerra Mundial, pelo fato dos trabalhadores começarem a ter a mesma ideologia do movimento de classe que empolgou o operariado mundial iniciava no Brasil uma ambiente propicio para a proteção legal das classes trabalhadoras. (SÜSSEKIND et al, 2000, v. 1).

No mencionado período não obstante o País começar a se industrializar e os trabalhadores a se organizar e ter consciência de classe, o Governo não fez nenhuma ação para o desenvolvimento do direito do trabalho, sendo que somente no dia 07 de setembro foi reformada a Constituição para incluir no número 28 do art. 34 a competência privativa do Congresso Nacional para legislar sobre o trabalho. (SÜSSEKIND et al, 2000, v. 1).

Registra-se que somente na década de 1930 em decorrência do nosso capitalismo tardio é que o Brasil deu inicio a ter o modo capitalista de produção e um sistema econômico estruturado em indústrias. (HINZ, 2006).

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Tendo em vista o crescimento das indústrias, de acordo com Süssekind e outros (2000, v. 1, p. 57) “o problema social começava a se fazer sentir e muitas vozes ilustres defenderam o direito dos trabalhos a uma vida melhor”.

Dessa forma, o Direito do Trabalho começou a ser reestruturado em 1930. Através da política trabalhista do governo provisório de Getúlio Vargas passamos a ter intervenção maior do Estado nas relações de trabalho. (NASCIMENTO, 2009).

Delgado (2007, p. 110), caracteriza o Estado que se forma do seguinte modo:

O estado largamente intervencionista que ora se forma estende sua atuação também à área da chamada questão social. Nesta área implementa um vasto e profundo conjunto de ações diversificadas mas nitidamente combinadas: de um lado, através de rigorosa repressão sobre quaisquer manifestações autonomistas do movimento operário; de outro lado, através de minuciosa legislação instaurado um novo e abrangente modelo de organização do sistema justrabalhista, estritamente controlado pelo Estado.

Portanto, a legislação trabalhista brasileira não foi criada em razão de conflitos sociais, mas sim por ato do próprio governo. Nesse propósito, Hinz (2006, p. 9) exemplifica que:

Diferentemente do que se deu nos países avançados, a legislação laboral aqui não decorreu doa necessidade de superar conflitos sociais entre o capital e o trabalho, mas sim foi idealizada e instituída pelo Governo Federal da época, tendo em vista as peculiaridades nacionais.

Getúlio Vargas, o grande precursor dessa mudança no País, assumiu a chefia do Governo Provisório em 24 de outubro de 1930 e no dia 26 do mês seguinte criou o Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio dirigido por Lindolfo Collor. Desde o dia em que assumiu o cargo, Getúlio legislou intensamente por meio de decretos legislativos sobre as relações individuais e coletivas do trabalho e a Previdência Social. (SÜSSEKIND, 2004a, p. 36).

Em Süssekind e outros (2000, v. 1, p. 58), sobre Lindolfo Collor vamos encontrar as seguintes características:

Estudioso e conhecedor do problema social, Collor tinha a mesma orientação política de Getúlio Vargas e se apressou a pôr em execução uma série de medidas legais destinadas a colocar nossa legislação em consonância não só com o nosso estágio econômico-social como com a legislação trabalhista vigente nos países em que o proletariado era mais beneficiado.

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Collor elaborou e projetou importantes leis, cumprindo destacar o Decreto Legislativo nº. 19.770/31, sobre a organização sindical. Süssekind (2004a, p. 36-37) retrata que essa lei tem as seguintes características:

a)representação unitária do grupo sindicalizado (unicidade sindical compulsória); b) liberdade de organização por categoria ou indústria, profissão, ofício ou empresa; c) reconhecimento do sindicato mediante registro no Ministério do Trabalho; d) proibição de propagar ideologias sectárias de caráter político ou religioso; e) hierarquia sindical, com sindicatos na base; federações regionais ecléticas ou uniões nos Estados; uma Confederação do Trabalho e uma Confederação da Indústria e Comércio, de âmbito nacional (Centrais Sindicais).

Na visão de Nascimento (2009, p. 69) “os sindicatos foram considerados não só órgãos de defesa dos interesses da profissão e dos direitos de seus associados, mas também entidades de coordenação dos direitos e deveres recíprocos de trabalhadores em empregadores”.

Para fortalecer o sistema coletivo do trabalho, Collor elaborou dois projetos de grande importância que pouco depois de deixar o Ministério foram transformados em decretos legislativos: nº. 21.396/32, que instituiu as Comissões Permanentes e Mistas de Conciliação; o de nº. 22.132/32, que instituiu as Juntas de Conciliação e Julgamento e o de nº. 21.690/32, que dispôs sobre a convenção coletiva do trabalho. (SÜSSEKIND, 2004a, p. 37).

Nascimento (2009, p.71), sobre esse tema alega que:

[...] As Comissões Mistas de Conciliação, de 1932, e até 1937 foram instaladas 38 comissões. Destinavam-se a tentar a composição entre os trabalhadores e os empregados quanto aos conflitos coletivos. Para os conflitos individuais o Governo criou as Juntas de conciliação e Julgamento, em maior número, existindo, na mesma ocasião, 75 juntas.

Nascimento (2009, p. 71) continua a abortar sobre essas comissões da seguinte forma: “[...] as comissões e as juntas foram consideras organismos fracos porque não estavam revestidos de poderes mais amplos parra impor soluções, já que suas tarefas resumiam-se à tentativa de conciliação”.

O governo de Getúlio Vargas também foi responsável pela criação de diversas medidas legais para proteger o trabalhador, dentre elas realçamos: a Lei de Nacionalização Trabalho (Dec. nº. 19482/30), que reduziu a participação de imigrantes no segmento obreiro do país, estabelecendo o mínimo de 2/3 de

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trabalhadores nacionais no conjunto de assalariados de cada empresa; a criação da Carteira Profissional (Dec. nº. 21.175/32); fixação da duração da jornada de trabalho no comércio (Dec. nº. 21.186/32) e na indústria (Dec. nº. 21.364/32), nas farmácias (Dec. nº. 23.084/33), dentre outras categorias; regulamentou o trabalho das mulheres nos estabelecimentos industriais. (Dec. nº. 21.417/32). (DELGADO, 2007, p. 112).

Registra-se que com o Decreto-lei nº. 1.237 do dia 1º de maio de 1939 foi o responsável por instituir a Justiça do Trabalho, instalada oficialmente no dia primeiro de abril de 1941 e tendo como órgãos as Juntas, os Conselhos Regionais do Trabalho e o Conselho Nacional do Trabalho, estes últimos alterados, no ano de 1946, para Tribunais Regionais do Trabalho e Tribunal Superior do Trabalho, passando de órgãos não-judiciais a órgãos integrantes do Poder Judiciário. (NASCIMENTO, 2009, p. 71).

Salientamos que a maioria das leis trabalhistas criadas por Getúlio Vargas foram elaboradas de uma forma diversa para cada classe trabalhadora. Nascimento (2009, p. 71) traz um importante comentário sobre essa questão, vejamos:

As leis trabalhistas cresceram de forma desordenada; eram esparsas, de modo que cada profissão tinha uma norma específica, critério que, além de prejudicar muitas outras profissões que ficaram fora da proteção legal, pecava pela falta de sistema e pelos inconvenientes naturais dessa fragmentação.

A multiplicidade de normas legais no campo do trabalho que confundia os seus destinatários, intérpretes e aplicadores, estava a exigir o ordenamento das respectivas disposições em uma única norma. (SÜSSEKIND et al, 2000, v. 1, p. 61).

Portanto, para unir todos os diplomas legais sobre o Direito do Trabalho foi promulgada através do Decreto Lei nº 5.452 de 01.05.1943 a Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT). A CLT além de reunir as leis trabalhistas ampliou a legislação existente. (DELGADO, 2007, p. 112).

Do mesmo modo Nascimento (2009, p. 72) elucida:

O Governo resolveu, então, reuniu os textos legais num só diploma, porém foi mais além de uma simples compilação porque, embora denominada Consolidação, a publicação acrescentou inovações, aproximando-se de um verdadeiro Código. Não obstante, a matéria de previdência social e de acidentes do trabalho permaneceu separada em outras leis. Foram reunidas

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as leis sobre o direito individual do trabalho, o direito coletivo do trabalho e o direito processual do trabalho. Surgiu, portanto, promulgada pelo Decreto- lei n. 5.452, de 1º de maio de 1943, a Consolidação das Leis do Trabalho- CLT, [...].

Nos dizeres de Süssekind e outros (2000, v. 1, p. 64), a CLT não tem como inspiração o texto a Carta del Lavoro. Resumindo, trazemos o comentário abaixo:

Tal acusação, além de confundir o todo com uma de suas partes, revela, sem dúvida, o desconhecimento da evolução das leis brasileiras sobre o Direito do Trabalho. Dos onze títulos que compõem a Consolidação, apenas o V, relativo à organização sindical, correspondeu ao sistema então vigente na Itália. Mas, nesse tópico, a Comissão nada mais fez do que transplantar para o sei projeto os decretos- leis de 1939 a 1942, que reorganizaram o sistema sindical à luz da Constituição de 1937, então vigente, tendo por alvo a preparação das corporações cujos representantes integrariam o Conselho de Economia Nacional nela instituído (art. 57 e 58). O título VI, referente ao contrato coletivo de trabalho, revelou as necessárias adaptações ao regime sindical adotado.

Registra-se que, muito embora tivéssemos diversas revoluções e golpes internos, crises políticas e econômicas sérias e profundas alterações no cenário mundial a Consolidação das Leis Trabalhistas, desde o seu surgimento, teve bem poucas alterações em suas disposições. (HINZ, 2006).

Demonstrada a abordagem jurídica, política e econômica, serão abordados os aspectos jurídico-constitucionais.

3.2 ASPECTOS JURÍDICOS CONSTITUCIONAIS

Martins (2003, p. 38) afirma que “inicialmente, as Constituições brasileiras versaram apenas sobre a forma do Estado, o sistema de governo. Posteriormente, passaram a tratar de todos os ramos do direito e, especialmente, do Direito do Trabalho [...]”.

A primeira Carta Magna do País outorgada no dia 25 de março de 1824 por D. Pedro I limitou-se a apenas proibir as corporações de oficio (art. 179, nº. 25). (SÜSSEKIND, 2004b, p. 29).

Referências

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