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3. Do erro ortográfico

3.4. Causas / origens dos erros ortográficos

Relativamente às causas ou origens que poderão estar na base dos erros ortográficos, consideramos que algumas delas já podem ser vislumbradas nas secções anteriores quando nos referimos aos processos implicados na aquisição / aprendizagem da ortografia, bem como nas diferentes sistematizações dos tipos de erros ortográficos explanados anteriormente. Contudo, não deixaremos de referir, de uma forma mais sistematizada, aquilo que os diferentes autores têm investigado acerca deste aspecto em particular.

Deste modo, segundo M. H. Mateus (2002), a influência dos sentidos poderá ser uma importante fonte de erro, já que a má audição e uma má visão impedem a aprendizagem normal e colocam o aluno em desvantagem. Ainda na perspectiva desta autora, a influência do contexto familiar e social da criança, bem como do meio escolar (pela sobrecarga dos programas) e também regional (dialectismos fonéticos) podem ser outros factores de origem dos erros ortográficos. Caberá ao professor “contrapor-lhes uma dicção clara do português-padrão” (Idem: 104). A influência do sexo também revela a “superioridade das raparigas sobre os rapazes em matéria de ortografia” (Ibidem). A esta conclusão também chegara O. Sousa, na análise dos resultados obtidos no seu primeiro estudo, em que “as raparigas conseguem níveis de classificação melhores do que os rapazes” (1999: 150). Por outro lado, M. H. Mateus (2002) refere ainda que a influência da psico-motricidade é um aspecto importante, dado que “a caligrafia deficiente, muito miúda, ilegível por vezes, tem uma influência dupla igualmente prejudicial: levanta a dúvida no espírito de quem lê (…) e cria uma imagem visual errada no campo dos conhecimentos, já bastante inseguros, de quem escreve” (Idem: 106). Esta autora realça a influência do professor que, numa situação de ditado, a forma como o dita influencia a escrita dos alunos; “seja na forma como silaba, como entoa ou como pontua, o professor é altamente responsável por um certo número de erros dos seus alunos” (Idem: 107).

A. Gomes (2006) explica que não é fácil sistematizar de forma exaustiva as causas dos erros ortográficos, já que são “inumeráveis os factores que contribuem para que um aluno erre” (Idem: 93). Contudo este autor, enumera alguns factores: aspectos

121 psicológicos (memória, atenção, percepção, lateralidade); métodos de leitura seguidos; o meio social do aluno – (pobreza do) vocabulário usado, hábitos de leitura; um grande contacto com situações predominantemente orais – conversação, audiovisuais, banda desenhada (balões); dificuldades da própria língua; interferências linguísticas – “Françês”, “là”, “elle”…(Ibidem).

R. Galisson (1980) também refere que as causas dos erros podem residir nas estratégias de aprendizagem, nomeadamente, “l’utilisation trop ou pas assez systématique de la généralisation, de l’analogie (…) et même de la méthode d’enseignant utilisée” (Idem: 62).

Já M. Fayol & J. P. Jaffré (1999) apontam como causas os chamados erros de transcrição ortográfica que consistem nas simplificações silábicas por redução ou substituição “qui correspondent à des dimensions phonétiques plutôt que visuelles et qui se produisent également souvent à l’oral chez les jeunes enfants” (Idem: 158).

M. F. Azevedo (2000) considera igualmente que muitas são as razões para que o aluno erre e que, nomeadamente, o erro poderá indicar aprendizagens que não foram alcançadas bem como a utilização de estratégias cognitivas inadequadas. Por outro lado, os equívocos também poderão explicar outros tipos de erros que, neste caso, não são atribuíveis a falta de conhecimentos, mas a cansaço, falta de atenção (Idem).

Segundo K. Perera (1984, apud Azevedo, 2000) as causas dos erros em crianças podem ser as seguintes:

- o facto de as ideias fluírem mais rapidamente do que o seu registo escrito, ocasionando omissões de palavras, repetições, combinação de dois tipos diferentes de estrutura sintáctica;

- a falta de estratégias de releitura durante o processo de composição;

- a experimentação de novas construções que não estão ainda totalmente dominadas;

- o uso de construções que são normais a nível da linguagem oral, mas menos aceitáveis na escrita.

Femia Godoy (2000) atribui ainda as seguintes causas ao escasso rendimento ortográfico dos alunos: 1) o facto de a ortografia em si mesma não apresentar muitos atractivos, pelo que não desperta a curiosidade do aluno; 2) o estudo das regras exige um grande esforço de memória, o que nem sempre se apresenta como rentável; 3) a lentidão dos ditados provoca o aborrecimento dos mais destros; por outro lado, o ditado obriga todos a escreverem uma série de palavras que nem sempre oferecem dúvidas

122 ortográficas, o que também implica uma perda de tempo desnecessária; 4) a falta de unidade dos textos propostos para ditado, sem que exista continuidade entre eles; 5) em muitos dos métodos utilizados o aluno não tem consciência de qual é o seu erro ortográfico e muitas das vezes o aprendente é obrigado a copiar ou a escrever frases com palavras das quais não apresenta dúvidas ortográficas, contribuindo, assim, para a desmotivação.

De acordo com L. Barbeiro (2007), os erros ortográficos podem encontrar as suas causas no processo de transcrição e nas competências que esta mobiliza: segmentação das unidades, sua identificação e representação sequencial, por meio dos grafemas. Se estas competências não estiverem dominadas, podem conduzir a incorrecções que apresentam na transcrição gráfica formas incompletas, adição de grafemas, trocas de posição, trocas de grafemas ou falha de discriminação entre os segmentos em causa ou por insuficiente domínio do sistema de grafemas (Idem). Por outro lado, uma das outras causas de incorrecções reside no facto de o sujeito aplicar as competências de transcrição a formas que não coincidem com as formas representadas na ortografia: trata-se das realizações características da oralidade corrente, realizações dialectais ou sociolectais (Idem). Para além destas incorrecções devidas à transcrição da oralidade, estas também podem decorrer de outros critérios: o critério fonológico (regras contextuais e de acentuação); o critério morfológico (representação dos fonemas e sua integração em morfemas); o critério lexical (forma gráfica específica de uma palavra) e o critério frásico-entonacional (utilização de maiúsculas e minúsculas para a organização da sequência de frases) (Idem).

Tão ou mais importante que a procura de uma causa possível para os erros ortográficos será a preocupação de aplicar estratégias preventivas ou de tratamento das incorrecções ortográficas e de que nos ocuparemos de seguida.