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PARTE I – AS CONSTRUÇÕES TEÓRICO-CONCEITUAIS

4.2. Antecedentes da instituição do CBH-Miranda

4.2.1. O CBH-Miranda: o estado da arte

O estado da arte do CBH-Miranda é compreendido como a preparação, formação e instalação deste colegiado. Nesse período, entre 1999 a 2005, situa-se os direcionados à implementação das normas jurídico-institucionais da gestão dos recursos hídricos no estado, bem como a consolidação de vínculos entre os órgãos de Governos (Federal e Estadual), agências e organismos internacionais visando promover as políticas públicas de gerenciamento de recursos hídricos.

Dessa forma, foi priorizada a inserção da temática de gestão integrada das bacias hidrográficas na execução dos programas e projetos no estado. Nesses casos, enfatizam-se na bacia o rio Miranda as ações do Governo estadual por meio do Instituto de Meio Ambiente- Pantanal (IMAP) na execução de projetos de recursos hídricos, com linha de financiamento nacional e internacional, tais como a execução dos projetos de Práticas de Gerenciamento

Integrado de Bacias Hidrográficas para o Pantanal e a Bacia do Alto Paraguai (BAP), programa denominado de Projeto GEF Pantanal/Alto Paraguai (MATO GROSSO DO SUL, 2014).

Durante esse período, o Governo estadual passou a efetivar diversos programas e projetos com parcerias de organizações não governamentais, entre estas, a WWF-Brasil. Por meio dessa ONG, foram executados no Estado de Mato Grosso do Sul diversos programas e projetos voltadas à conservação e a gestão de recursos hídricos, entre os quais, destaca-se o Programa ―Água para a Vida– Água para Todos‖, desenvolvido desde em 2001, com recursos do Grupo HSBC166.

Segundo Pereira et al. (2004), a diretoria e equipe técnica do CIDEMA167 atuaram desde o ano de 1998, em parceria técnica entre os municípios, instituições governamentais e não governamentaispara conceber a gestão dos recursos hídricos nas bacias hidrográficas do Estado. Dessa forma, estas organizações, em parceria com os consórcios intermunicipais, o COINTA e o CIDEMA, e os órgãos estaduais realizaram os primeiros projetos no relacionados à avaliação e o gerenciamento dos recursos hídricos nas bacias hidrográficas dos rios Taquari, Miranda e Apa.

A partir de 2001, o foco das ações do CIDEMA, a WWF-Brasil e Governos (federal e estadual) foi direcionado ao estágio preparatório de criação do Comitê de Bacia do Rio Miranda. Nesse período, em 2002, no evento do ―1º Encontro de Intercâmbio para o Fortalecimento de Organismos de Bacias‖168, foram estabelecidos os contatos entre o CIDEMA e a WWF-Brasil pelo Projeto Alto Paraguai, visando organizar um processo de gestão dos recursos hídricos na bacia hidrográfica do rio Miranda.

No ano de 2002, o CIDEMA e a WWF-Brasil169 efetivaram a parceria no projeto de Caracterização da Bacia Hidrográfica do Rio Miranda cujas metas previam a mobilização dos

166 O Grupo HSBC - The Hongkong and Shanghai Banking Corporation - é uma corporação internacional sediada

em Londres e presente em 86 países. Nos primeiros dez anos do ―Programa Água para a Vida – Água para Todos‖ a corporação HSBC investiu US$ 13 milhões em duas fases distintas: Investing in Nature (2002-2006) e HSBC Climate Partnership (2007-2011). Em 2012, a parceria com o Grupo HSBC entrou na sua terceira fase. Até 2017 há previsões de investimentos de mais US$ 2,5 milhões em ações que favorecem a criação do Pacto em Defesa das

Cabeceiras do Pantanal. Disponível

em:<http://www.wwf.org.br/natureza_brasileira/reducao_de_impactos2/agua/>Acesso em: 10 jun. 2015. 167

Além intercambio e eventos técnicos, o CIDEMA coordenou um subprojeto no âmbito do projeto GEF Pantanal Alto Paraguai (GEF/OEA/ANA/PNUMA) concluído no final de 2003 (PEREIRA, et al., 2004).

168 O evento foi realizado em 01 e 02 de Abril, na cidade de Bonito, organizado pela Rede Brasil de Organismos de

Bacias Hidrográficas-REBOB. Disponível em <http://www.rebob.org.br/#!rebob-oquee/c2390> Acesso em: 11 jun.2014.

169 WWF-Brasil também denominado Fundo Mundial para a Natureza é uma organização não governamental

atores visando discutir a implementação das políticas públicas de recursos hídricos, de âmbito nacional e estadual, como também a realização de evento apresentado os seus resultados. Sobre o processo de mobilização, conforme afirmou o entrevistado [B1]: [...] a bacia do Miranda era fácil de encontrar os interlocutores, é uma bacia pouco industrializada comparada com a bacia do Ivinhema e focou os trabalhos por lá, tivemos reuniões em Bonito, Aquidauana, Jardim, várias reuniões170.

Em 2003, foi realizado, no munícipio de Bonito171, o workshop ―O Estado da Arte da Bacia Hidrográfica do Rio Miranda‖. O evento foi previsto no projeto, iniciado em 2002, com finalidades de apresentar e divulgar os trabalhos realizados pelo o CIDEMA e a WWF-Brasil. Os resultados foram organizados em uma carta de recomendações de gestão integrada na bacia hidrográfica do rio Miranda, orientando as seguintes ações:

[...] - Intensificar os trabalhos iniciados de forma a apoiar a implementação do processo de gestão e manejo na Bacia do Rio Miranda; - Desenvolver ações para complementar e sistematizar as informações existentes sobre a Bacia do Rio Miranda; - Identificar mecanismos para a gestão da Bacia Hidrográfica de forma inovadora e de acordo com as características específicas da Bacia do Rio Miranda e da Bacia do Alto Paraguai; - Dar continuidade à mobilização dos atores da gestão da Bacia, especialmente no comprometimento dos municípios; - Apoiar o Governo do Estado (SEMA/IMAP) para a regulamentação da Lei 2406/2002, especialmente na constituição e funcionamento do Conselho Estadual de Recursos Hídricos (PEREIRA, et al., 2004, p. 107).

A publicação do título ―Bacia Hidrográfica do Rio Miranda: estado da arte‖apresenta os resultados desse projeto. De acordo com essa publicação, nesse período, os principais atores no estágio de preparação do CBH-Miranda foram: a organização da sociedade civil por meio da pareceria entre o Consórcio Intermunicipal (CIDEMA)172 e a organização não governamental a WWF - Brasil, intermediadas pelo Poder Público através dos órgãos estaduais. Na época, a

preservação ambiental, entre quais se destacam: World Wildlife Fund (WWF), Conservação Internacional (CI), The

Nature Conservance (TNC), Fundação da Vida Selvagem Africana (AWF), World Conservation Strategy (WCS) e Enterprise Works/VITA (CAMELY, 2009).

170 Entrevista realizada em: 27/11/2012.

171 O evento foi realizado entre: 13 a 15 de agosto de 2003. A escolha do munícipio de Bonito evidência a projeção

dessa localidade no cenário internacional como destino ecoturismo, como também atrativos para realização de eventos relacionados as questões ambientais. Disponível em

<http://www.wwf.org.br/informacoes/bliblioteca/publicacoes_aguas/?uNewsID=8580> Acesso em: 22 jun. 2014.

Secretaria de Estado do Meio Ambiente de Mato Grosso do Sul (SEMA) 173 e do Instituto Meio Ambiente Pantanal (IMAP)(PEREIRA et al., 2004; MATO GROSSO DO SUL, 2010).

Conforme nota de comunicado da WW-Brasil de 2011, a ONG esclareceu que, desde 2002, atuou na bacia hidrográfica do rio Miranda, primeiro, aliado aos trabalhos já realizados pelo CIDEMA, visando à mobilização dos atores da bacia para discutir e apoiar a implementação das políticas públicas de recursos hídricos (Federal e Estadual) e, segundo por meio do Programa Água Para a Vida174 que participou e financiou ações do processo da formação do CBH-Miranda, durante os anos de 2002 até 2005.

No ano de 2005, após a aprovação do Conselho Estadual dos Recursos Hídricos- CERH, foi formalizada a criação do CBH- Miranda por meio da Resolução de CERH/MS No002 de 25/10/2005. Nessa ocasião, no Estado de Mato Grosso do Sul, havia sido recentemente instituída a Lei No 2.406/2002, portanto, as ações para instalar este Comitê foram realizadas no âmbito da implementação da primeira fase dessa Política de Governo. De acordo com o entrevistado [A1], o CBH-Miranda foi criado:

[...] ―a todo vapor‖ em no momento histórico de motivação da ANA com realização de curso de capacitação para montar comitês em todo Brasil, estava no ―auge‖ e no Mato Grosso do Sul foram realizadas especializações e mestrados, a partir dai foram iniciados estudos para criação do comitê. [...] outros envolvidos nos trabalhos de criação do comitê foram os pesquisadores (UCDB) e da (UFMS) (Entrevista em: 20/06/2102).

Além desses atores – representados pelo poder público e entidades da sociedade civil, envolvidos diretamente na criação do CBH-Miranda, enfatizam-se os interesses em acompanhar e participar por representações de Associações e Sindicatos compreendidas, conforme a Lei estadual, como entidades regional, locais ou setoriais legalmente constituídas dos usuários de recursos hídricos da bacia. Nesse sentido, segundo o entrevistado [B1], a sua participação como usuários de água do colegiado foi desde a sua criação. Ele afirmou que no início:

173 A Secretaria de Estado de Meio Ambiente de Mato Grosso do Sul - SEMA foi criada em 1999. (Lei Estadual

n°1.940, de 1º de janeiro de 1999). 174

A ONG - WWF-Brasil mantém em programas de gestão de recursos hídricos no Estado de Mato Grosso do Sul, através da integração do Programa Água Para Vida e Programa Pantanal para Sempre (desde 2002) com projeto sobre a Governança das Águas Para a Bacia Hidrográfica do Rio Paraguai. Neste ano, 2011, finalizou os investimentos da primeira fase desse programa. Conforme nota apresenta pela WWF-Brasil (2011), através do investimento do Grupo HSBC, entre o período de 2002 até 2011, foram aplicados na bacia do rio Miranda recursos de R$ 432.324,00. (WWF-Brasil, 2011). Disponível em:<http://www.aguaparavida.com.br/programa/grandes- conquistas/>Acesso em: 12 mai. 2014.

[...] o que desagradou bastante foi a decisão que o presidente do IMASUL seria o presidente do Conselho Estadual dos recursos hídricos e que o presidente seria do IMASUL, afirma que isso desagradou pois teria mais um foco na questão ambientalista. A PNRH não é uma política ambiental e nem ambientalista, é política de gestão e a ideia é criar um sistema de gestão recursos (Entrevista em: 27/11/2012).

Dessa forma, o processo da formação do CBH-Miranda ocorreu em torno das relações estabelecidas entre o Governo Estado e as organizações da sociedade civil. As decisões tomadas entre estes atores, no âmbito da Lei No 2.406/2002, englobaram os interesses político- institucional na definição das normas de gerenciamento das águas na área de jurisdição deste Comitê, como também os interesses locais. Em diálogo com o representante dos Usuários de água, o entrevistado [B2] afirmou que o seu interesse em participar tem duas razões:

[...] a primeira que se identificar com essas coisas, sempre priorizou a questão ambiental [...] e a segunda é que a sua propriedade geograficamente esta localizada na nascente do rio Aquidauana – para trazer a importância dentro do Miranda, se ninguém representa o Aquidauana por que temos que nos preocupar. [...] tudo que acontece no Aquidauana reflete no Miranda, por isso da para tratar um só, por isso o interesse em participar (Entrevista em: 20/06/2012).

No estágio preparatório e formação do CBH-Miranda, enfatiza-se a intermediação do poder público, âmbito estadual, em normatizar, regular e controlar os usos dos usos recursos hídricos por meio da instituição da Lei No 2.406/2002, merece ainda ser acrescentado à Política as construções de discursos de apelo ambientalista e as manifestações dos interesses locais, como, por exemplo, dentre os acontecimentos citados destacam os que levaram as alterações no primeiro projeto desta Lei.

Acerca da atuação das ONGs no estágio prepatório e, posteriormente, na composição no Comitê, enfatizamos que é no sentido compreender as relações da sociedade civil e usuários das águas que permeiam as representações nos colegiados gestores de recursos hidricos.

Desse modo, em relação ao Sistema de Gerenciamento e ao processo que levou a instalação do CBH-Miranda, congregaram várias instituições organizadas em torno de interesses próprios, o que prática repercute em uma ―aliança‖ entre as metas de execução de uma Política de Governo (Federal e Estadual) e de grupos da sociedade civil com interesses econômico e privado, como também de setores financeiros internacionais por fornecer meios – créditos e empréstimos, para promover o controle através da gestão dos recursos hídricos inserida em uma efetiva

mudança na compreensão sobre a água, pois essa vai ser destituída do significado de elemento da natureza comum e transformada em recurso limitado, atribuídos de valor econômico a ser explorado pelas novas oportunidades de mercado, visando, portanto, sua apropriação mercantil.