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Ceará: as máscaras urbanas

CAPÍTULO II EDUCAÇÃO POPULAR COM PAULO FREIRE

3.3 Ceará: as máscaras urbanas

O estado do Ceará tem por limites o oceano Atlântico ao norte e Rio Grande do Norte a nordeste, Paraíba a leste, Pernambuco ao sul e Piauí a oeste. Conhecido nacionalmente pela

beleza de seu litoral e pela imagem de berço de talentos humorísticos. Também conhecida como “Terra da Luz” numa referência à grande quantidade de dias ensolarados, remonta também ao fato de o estado ter sido o primeiro da federação a abolir a escravidão quatro anos antes da Lei Áurea, em 1884. Tem como símbolo do povo e de sua cultura, a jangada, comum em toda a sua costa litorânea. Possui uma malha rodoviária com pontos vulneráveis à exploração sexual infantojuvenil nas rodovias das BR-020, BR-116, BR-222 (OIT, 2007, p. 111-112).

Caracteriza-se como um estado que possui uma localização geográfica estratégica em relação às rotas aéreas internacionais, diferenciando-se pelos altos índices de desigualdades sociais e econômicas. Esses fatores, somados a outros, consolidam um terreno fértil à exploração comercial e sexual de seres humanos, incluindo o segmento mais vulnerável de crianças e adolescentes (SETFOR, 2008).

Sua capital Fortaleza se sustenta economicamente com parte do fluxo gerado pelo turismo, que tem uma variada estrutura de serviços de qualidade. Por “trás das cortinas” dessa estrutura “encontram-se práticas legitimadoras, e por vezes, fomentadoras desse gênero de atividade turística criminosa, constituindo-se em polo central do turismo sexual e de suas variadas formas de violência” (SETFOR, 2008, p. 36), dimensionando o elevado grau de exploração sexual de crianças e adolescentes nas ruas da capital. Fortaleza abriga o Beach Park, considerado como o maior parque aquático da América Latina recebendo cerca de 1 milhão de visitantes por ano. Tem o segundo maior PIB do Nordeste, e o 10º maior do país. Algumas cidades “se destacam pela religiosidade, como é o caso de Canindé, Quixadá e a famosa Juazeiro do Norte onde viveu o Padre Cícero. A cidade atualmente abriga um memorial, uma biblioteca e um museu vivo em homenagem ao religioso” (OIT, 2007, p. 110).

Várias pesquisas realizadas no estado ampliam o leque de análise sobre a questão da Exploração Sexual Infantojuvenil no Turismo de Fortaleza. Uma delas realizada pela Secretaria de Turismo de Fortaleza (SETFOR), em 2008, revelou o perfil de crianças e adolescentes, a gravidade da situação de vulnerabilidade, a pouca idade diante de todo tipo de exploração à noite em estradas, avenidas e excluídas do processo escolar. Não se vê no lugar de oprimido, pelo contrário,

Crianças e adolescentes de nossa cidade não têm consciência da exploração que vivenciam e chegam a afirmar que o tolo é o outro, que o gringo é aquele fácil de ser “enrolado”, como uma artimanha própria daqueles que não conseguem ver, porque o conscientizar-se é paralisador (SETFOR, 2008, p. 86).

A pesquisa aponta o grau de instrução das crianças e adolescentes com dados preocupantes: 43,4% estão cursando, ou cursaram e não concluíram o ensino fundamental, 23,3% concluíram o ensino fundamental e 18,6% estão com o ensino médio incompleto. 9,3% são alfabetizados e somente 2,3% têm o ensino médio completo e 2,3% são analfabetos. Estes dados contradizem uma realidade de universalização, democratização e acesso à educação. O referido relatório revela que 52,7% das crianças e adolescentes afirmaram não estarem frequentando a escola mesmo com a existência dos programas sociais de inclusão educacional e a legislação específica a ser cumprida pelos familiares das crianças e adolescentes.

Outra pesquisa realizada pelo Fórum Cearense de Enfrentamento da Violência Sexual contra Crianças e Adolescentes sobre uma amostra de mil turistas italianos desembarcados no aeroporto de Fortaleza; à pergunta sobre que tipo de turismo foram fazer no Brasil, 58% dos entrevistados admitiram candidamente que era turismo sexual. Este fato revela segundo o Fórum a banalização e a impunidade de quem pratica o turismo sexual com crianças e adolescentes.

O contexto do turismo sexual de Fortaleza, conforme a pesquisadora Piscitelli (2007), favorece a migração, mas nem sempre é vinculada “a inserção de brasileiras na indústria do sexo no exterior” (PISCITELLI, 2007, p. 741). Na pesquisa realizada entre casais de brasileiras com italianos, com relacionamentos iniciados a partir do turismo sexual, apontam para a heterogeneidade das migrações associadas ao turismo sexual, no terreno ambíguo da sexualidade, onde as entrevistadas deixaram o país convidadas por turistas sexuais e encontraram no casamento uma via de saída da indústria do sexo, desmistificando alguns traços vinculados à brasilidade.

O Plano Estadual foi elaborado em 2002 mantendo as mesmas propostas dos outros estados que tomaram como parâmetro referencial o Plano Nacional considerado marco teórico da temática da violência sexual contra crianças e adolescentes. Portanto, as ações postas no Plano Estadual apontam para a inclusão de conteúdos sobre os direitos da criança e do adolescente e de prevenção à violência sexual nos currículos, em toda a rede de ensino e em todos os níveis; acesso de crianças e adolescentes em situação de risco e suas famílias a políticas sociais; o envolvimento das redes familiares, de vizinhança e comunitárias na prevenção da violência sexual; na capacitação de agentes comunitários, profissionais de educação de saúde e demais operadores de políticas públicas sobre a prevenção e proteção contra a violência sexual e ocupação de espaços na mídia para prevenção da violência sexual.

Como metas pensadas para atingir essas ações a inclusão do ECA nos conteúdos escolares, com ênfase nas questões de violência sexual é prioridade. A garantia de prioridade

absoluta ao acesso, permanência e sucesso escolar, com inclusão obrigatória nos programas de saúde, educação, renda mínima, geração de emprego e renda, entre outros; a inclusão do tema da prevenção à violência sexual nos trabalhos com famílias, em programas de rádio, TV e jornais de circulação e internet. Todas essas ações precisam de monitoramento para sua efetivação, visto que o estado do Ceará lidera a região Nordeste como uma das maiores incidências de crianças e adolescentes explorados sexualmente.

Quadro 07 - Estado do Ceará Estado Região Reg. Masculino sex. Reg.. Feminino sex.

Faixa de idade(11 anos) Faixa de idade(12 a 18 anos) Total de Registros Ceará Nordeste 628 2293 758 1918 1626 Total: 628 2293 758 1918 1626

Fonte: Matriz Intersetorial de Enfrentamento à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes (2010).

Os registros no estado corroboram com a maioria das estatísticas levantadas, com o triplo do número de casos incidentes no sexo feminino situando-se por volta de 3,6 vezes mais. Essa distância entre um e outro tem sido duas vezes maior o registro na faixa etária de 12 a 18 anos com uma diferença de 2,5 mais de casos notificados.