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Pernambuco: o sexo-turismo e o tráfico de drogas

CAPÍTULO II EDUCAÇÃO POPULAR COM PAULO FREIRE

3.6 Pernambuco: o sexo-turismo e o tráfico de drogas

Localiza-se no centro-leste da região Nordeste, limita-se ao norte com o estado da Paraíba, a noroeste com o Ceará, a sudeste com Alagoas, ao sul com a Bahia, a oeste com o Piauí e a leste com o oceano Atlântico. Ainda pertencentes ao seu território fazem parte os arquipélagos de Fernando de Noronha e São Pedro e São Paulo. Sua malha rodoviária expõe pontos de vulnerabilidade de exploração sexual de crianças e adolescentes nas rodovias da BR-101, BR-104, BR-232, BR-423 (OIT, 2007, p. 89-90).

Uma das primeiras regiões do país a ser ocupada pelos portugueses foi o mais importante polo econômico e um dos principais núcleos políticos do período colonial. O turismo no estado de Pernambuco oferece diversas atrações históricas, naturais e culturais. As principais localidades turísticas do estado são Fernando de Noronha, Porto de Galinhas, Cabo de Santo Agostinho, Olinda, Recife, Igarassu, Itamaracá, Gravatá, Triunfo, Garanhuns e Caruaru.

Recife, sua capital, conhecida como Mauritsstad (Cidade Maurícia) foi a capital do Brasil holandês, considerada a mais urbanizada e mais próspera cidade do continente americano. É também a mais antiga capital brasileira fundada em 1537 (OIT, 2007, p. 88). Constituindo o maior aglomerado urbano do estado a região metropolitana do Recife, um dos principais polos industriais do país, abriga o maior porto tecnológico do Brasil, o Porto Digital.

O estado de Pernambuco adota o Código de Conduta Ética em 2007, para tentativas de diminuir os casos de exploração sexual com divulgação da sua proposta de conscientização da população para este tipo de crime, a que estão expostas as crianças e adolescentes com a

pobreza extrema e a falta de perspectiva da população. Elaborado coletivamente, faz a opção por uma aliança estratégica entre organizações não governamentais, poder público e iniciativa privada com o objetivo de mobilizar, articular e garantir as políticas públicas de proteção à infância e adolescência no turismo de Pernambuco. Tem sido um mecanismo de “instrução, educação e sensibilização junto aos colaboradores da cadeia produtiva do setor turístico para que sejam agentes de proteção ao respeito e à dignidade de crianças e adolescentes” (VASCONCELOS; GONÇALVES; FUCKS, 2012, p. 19).

Em 2010, cria a Diretoria de Polícia da Criança e do Adolescente (DPCA) que posteriormente é transformada em Gerência de Polícia da Criança e do Adolescente da Polícia Civil (GPCA), período em que elaborou uma cartilha de orientação, não só para crianças e adolescentes e a comunidade em geral, mas também para policiais no sentido de como agir com os “principais procedimentos a serem adotados por um policial diante de uma situação flagrancial de crime de exploração sexual de crianças ou adolescentes” (MONTENEGRO, 2012, p. 45).

Em 2013, com a reconfiguração na estrutura da Polícia Civil de Pernambuco, a GPCA passa de Gerência a Departamento, recebendo a designação de Departamento de Polícia, voltando à designação da sigla DPCA. A DPCA assume a competência de proteção às crianças e adolescentes com seus direitos violados, apurando os crimes praticados contra esse segmento social, como também a apuração dos atos infracionais praticados por adolescentes. Cabe ainda ao DPCA a fiscalização de locais de diversão pública com o objetivo de garantir a aplicação do que determina o ECA com relação a esses estabelecimentos. O estado conta em sua estrutura de atendimento com delegacias especializadas em crimes contra crianças e adolescentes apenas nos municípios de Recife, Jaboatão dos Guararapes e Paulista, sendo insignificante diante do tamanho do estado e o número de municípios existentes. Tem também a atuação efetiva de algumas ONGs, desde os anos de 1980, sendo referência na região Nordeste, pela sua história e atuação como a Casa de Passagem e o Coletivo Mulher Vida, em Recife.

O turismo no Recife assume a característica de sexo-turismo que aliada ao tráfico de drogas aumenta o seu grau de complexidade. Os crimes envolvendo o abuso e a exploração sexual comercial de crianças e adolescentes têm registros escassos com a não efetivação das denúncias, o que dificulta uma análise mais detalhada, praticamente impossibilitando qualquer análise com relação à prática desses crimes por turistas, conforme informações fornecidas pela GPCA. Somada a outras atividades ilícitas que possuem um alto grau de

invisibilidade, aponta o não mapeamento do problema da exploração sexual segundo Relatório da UNICEF (2005).

O Plano Estadual elaborado em 2003 para execução no triênio 2003-2005, foi revisado só em 2007 e consolidado em 2008 com o Plano Decenal vigente até 2017, com metas e investimentos a curto, médio e longo prazo. Momento significativo de parceria com a Rede de Combate ao Abuso e Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes no Estado e o Childhood – Brasil. Os dados da violência contra crianças e adolescentes têm aumentado, conforme registros da Gerência de Polícia da Criança e do Adolescente (GPCA)33.

Em 2006, foram registrados 4.652 crimes praticados contra crianças e adolescentes. Dentre esses, 13,3%, isto é, 622 foram crimes de natureza sexual praticados contra a criança e o adolescente. No ano de 2007, foram registrados 4.611 crimes praticados contra a criança e o adolescente, sendo que 641 caracterizados como de natureza sexual, que representam 13,9%. No período de janeiro e fevereiro de 2008, já foram registrados 785 crimes praticados contra crianças e adolescentes, sendo que, desses, 104 são de natureza sexual, ou seja, 13,2%. Analisando os dados, verifica-se que, nesses três últimos anos, houve uma média mensal de 53 registros de crimes de natureza sexual praticados contra crianças e adolescentes (GOVERNO DO ESTADO DE PERNAMBUCO, 2008, p. 18).

O aumento da violência tem exigido políticas concretas e eficazes de curto prazo para amenizá-la. Um diferencial, apresentado no Plano Decenal, em relação aos outros estados com um eixo de trabalho a mais, acrescido especificamente de Formação e Qualificação para os profissionais do Sistema de Garantia de Direitos34, poderá melhorar esse quadro, mas não a curto prazo. A atuação qualificada nos eixos promoção, controle e defesa de crianças e adolescentes em situação de violência sexual, extensivo aos profissionais da educação, saúde, atendimento de média e alta complexidade, policiamento, operadores dos Conselhos Tutelares, Instituto Médico Legal, Defensorias e Centros de Defesa, necessita de investimentos e compromisso do estado para sua efetivação e manutenção. A violência só aumenta, com um índice bem maior entre os estados da região Nordeste e uma diferença entre os gêneros que chama a atenção pela sua intensidade no sexo feminino.

33 A GPCA não possui a estrutura necessária para atender todo o estado de Pernambuco. Atua na capital e na

Região Metropolitana. Portanto, esses dados não abrangem a realidade do estado. Nos demais municípios do estado, os crimes de natureza sexual praticados contra crianças e adolescentes são subnotificados, em razão de vários fatores, entre eles, a ausência de serviços especializados na área de Segurança Pública e do Sistema de Justiça (GOVERNO DO ESTADO DE PERNAMBUCO, 2008).

34 É um conjunto articulado de ações do Governo e da Sociedade Civil, previsto pelo Estatuto da Criança e do

Adolescente, para garantir a execução de suas determinações. As instituições que integram o SGD são encarregadas da elaboração, controle e fiscalização das políticas públicas voltadas para a infância e a adolescência. Disponível em: <http://www.estacaodajuventude-ba.org.br/transformese.htm>. Acesso em: 06 nov. 2013.

Quadro 10 - Estado de Pernambuco Estado Região Reg. sex. Masculino Reg.. sex. Feminino Faixa de idade(11 anos) Faix a de idade(12 a 18 anos) Total de Registros Pernambuco Nordeste 638 2298 725 1971 538 Total: 638 2298 725 1971 538 Fonte: Matriz Intersetorial de Enfrentamento à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes (2010).

Esta diferença de 3,6 vezes mais casos notificados do sexo feminino em relação aos casos referentes ao sexo masculino torna-se recorrente mesmo sendo um dos estados que tem uma estrutura de retaguarda no Sistema de Garantia de Direitos com um Departamento Especializado para controle e monitoramento. E a confluência dos acontecimentos na faixa de idade correspondente à adolescência em torno de 2,7 maior que na idade referente à infância também tem sido uma constatação declarada da adolescência no estado.