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diferentemente do que ocorre na lei brasileira, na qual a expressão faz referência

2.2 CENÁRIO EUROPEU

As nações europeias enquanto unidades soberanas possuem um histórico bastante desenvolvido em relação à proteção das indicações geográficas, especialmente países como França, Espanha, Itália e Portugal, apenas para exemplificar.

39 Detalhes a respeito do processo de revisão e do quadro geral de mudanças trazidas pelo ato de Genebra podem ser verificadas em Geuze (2016, p. 116- 121).

Já legislação pertinente às indicações geográficas no nível comunitário, isto é, aquela aplicável no território dos estados membros do que se denomina União Europeia, é relativamente recente, mas é o conjunto normativo utilizado como referência neste trabalho. Isso porque atualmente, para gozar de proteção no nível comunitário, é indispensável que sejam seguidas as regras comunitárias relativas ao registro das IGs, posto que a proteção nacional é limitada às fronteiras do respectivo país.

2.2.1 Legislação vigente

A União Europeia mantém quatro sistemas de proteção de indicações geográficas, todos ligados ao setor de alimentos e bebidas, sem proteção, até o momento, para produtos não agroalimentares, como o artesanato.

Adiante são enumerados os sistemas vigentes e mencionadas algumas de suas particularidades, especialmente no que diz respeito ao conceito aplicado às IGs e às exigências para registro. Por óbvio os regulamentos cobrem um extenso número de tópicos, porém os mencionados são os mais relevantes para esta pesquisa.40

Interessante registrar que as indicações geográficas no âmbito comunitário estão inseridas em um projeto muito mais amplo. Fazem parte das estratégias de qualidade da política agrícola comum da UE. O Senhor Nuno Miguel Vicente, da Diretoria Geral de Agricultura da Comissão Europeia, por ocasião de conversa mantida na sede da Comissão Europeia em Bruxelas, relata que o estabelecimento das IGs no âmbito da PAC foi crucial para a superação da crise agrícola europeia e representa um instrumento de sucesso na promoção de produtos europeus de reputação e/ou qualidade.

2.2.1.1 Vinhos: Regulamento (UE) n. 1.308/2013

A legislação para proteção dos vinhos no âmbito da União Europeia começou a ser desenhada nos anos 197041, como parte do

40 Para uma compreensão aprofundada dos temas tratados nos regulamentos, sugere-se, além da consulta às normas em si, leitura em Mantrov (2014), que oferece comentários para excertos das regras.

41 Uma visão mais detalhada a respeito do histórico de alteração pode ser obtida em consulta os Regulamentos (CEE) n. 922/72, (CEE) n. 234/79, (CE) n. 103797/2001 e (CE) n. 1234/2007.

primeiro pilar da política agrícola comum (PAC), conhecido como organização do mercado comum (MANTROV, 2014).42

Desde então o mercado de vinhos se desenvolveu consideravelmente. Em 1999 uma reforma buscou resolver a disparidade entre oferta e demanda, mas não logrou êxito. O sistema foi atualizado novamente em abril de 2008 no contexto do que se chamou de reforma

do vinho.43 Na ocasião, foram adotados princípios da legislação dos produtos agroalimentares e os objetivos gerais foram delimitados da seguinte maneira (EUROPEAN COMMISSION, 2008):

(i) Tornar os vinhos europeus ainda mais competitivos, reforçando a sua reputação e (re)conquistando fatias de mercado tanto na União Europeia quanto fora dela;

(ii) Tornar as regras de gestão de mercado mais simples, claras e eficazes, com intuito de alcançar o equilíbrio entre oferta e procura; e,

(iii) Preservar as melhores tradições vitivinícolas europeias e reforçar o seu papel social e ambiental em zonas rurais.

Mais tarde, a regulamentação da proteção dos vinhos foi incluída na reforma da organização do mercado comum de 2013, e atualmente o Regulamento (UE) n. 1.308/2013 do Parlamento Europeu e do Conselho, de 17 de dezembro de 2013, que estabelece uma organização comum dos mercados dos produtos agrícolas e que revogou os Regulamentos (CEE) n. 922/72, (CEE) n. 234/79, (CE) n. 103.797/2001, (CE) n. 1.234/2007 do Conselho, é a norma que dita as regras para registro de indicações geográficas no setor de vinhos no âmbito da União Europeia.

As definições trazidas pelo regulamento e aplicáveis para cada espécie são, para denominação de origem:

Artigo 93.o […] a) […] o nome de uma região, de um local determinado ou, em casos excecionais44 e devidamente justificáveis, de um país, utilizado para designar um produto a que se refere o artigo 92.o, n.o 1, que cumpra os seguintes requisitos:

42 Nesse sentido sugere-se leitura do material disponível em: <http://www.europarl.europa.eu/atyourservice/en/displayFtu.html?ftuId=FTU_5 .2.4.html>.

43 Detalhes sobre a reforma do vinho estão disponíveis em: <http://ec.europa.eu/agriculture/wine/reforms/index_en.htm>.

44 Essa e outras palavras contidas em citações diretas das normas europeias aparecem com grafia em português europeu, por isso a diferença para a grafia do português brasileiro.

i) a qualidade e as características do produto

são essencial ou exclusivamente devidas a um meio geográfico específico, com os fatores naturais e humanos inerentes ao mesmo,

ii) as uvas a partir das quais o produto é

produzido provêm exclusivamente dessa zona geográfica,

iii) a produção ocorre nessa zona geográfica, e iv) o produto é obtido a partir de castas pertencentes à espécie Vitis vinifera; (UNIÃO EUROPEIA, 2013, grifos nossos).

E para indicações geográficas:

Artigo 93.o […] b) […] uma indicação relativa a uma região, um local determinado ou, em casos excecionais e devidamente justificáveis, um país, utilizado para designar um produto a que se refere o artigo 92.o, n.o 1, que cumpra os seguintes requisitos:

i) possui determinada qualidade, reputação ou

outras características que podem ser atribuídas a essa origem geográfica,

ii) pelo menos 85 % das uvas utilizadas para a

sua produção provêm exclusivamente dessa zona geográfica,

iii) a sua produção ocorre nessa zona

geográfica, e

iv) é obtido a partir de castas pertencentes à espécie Vitis vinifera ou provenientes de um cruzamento entre a espécie Vitis vinifera e outra espécie do género Vitis (UNIÃO EUROPEIA, 2013, grifos nossos).

Os artigos seguintes esclarecem a documentação necessária para o pedido de proteção, tratam dos requerentes, do exame do pedido e suas fases. Com relação à documentação, é exigido:

Artigo 94.o […] 1. Os pedidos de proteção de nomes tais como denominações de origem ou indicações geográficas devem incluir uma ficha técnica na qual figurem:

a) O nome a proteger;

b) O nome e o endereço do requerente;

c) O caderno de especificações a que se refere o n.o 2, e

d) Um documento único de síntese do caderno de especificações a que se refere o n.o 2.