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4 O BRASIL NA AMÉRICA LATINA: REGIONAL POWER ALIADO NA

6.5 Center for a New America Security

Para o CNAS, ao atuar em negociações com o Irã sobre o programa nuclear daquele país e nas votações de sanções via CSONU como membro não permanente nos casos líbio e sírio, o Brasil se posicionou frente a dois pilares da ordem internacional

liberal: a não proliferação nuclear e direitos humanos (KLIMAN; FONTAINE, 2012).

Embora o relatório de modo geral tenha construído uma visão geral bastante positiva do Brasil — o que tornava o País um possível aliado global estadunidense — no caso específico da atuação no Oriente Médio, a visão construída fora de críticas as ações brasileiras, definidas contrárias ao desenvolvimento de dois princípios fundamentais

para a manutenção da ordem vigente (KLIMAN; FONTAINE, 2012).

183 That initiative and its aftermath left a contradictory legacy. On one hand, Brazil made others look at its

international prowess differently. At the very least, Brazil’s bold attempt at brokering a complicated international standoff made observers curious about Brazil’s potential. On the other hand, the negative fallout from the Tehran Declaration left a strong impression on Brazil, and it does not appear likely that Brasília will venture into the Iran-nuclear mix again anytime soon.

184 All this means that it is highly unlikely that Brasília will venture out to the very forefront of global

nuclear politics anytime soon. The fallout from the Tehran Declaration, the different leadership style of Dilma compared to Lula, and the domestic situation in Brazil all speak against it. Yet, Brazil’s own steady progress in the nuclear field will continue, and the country’s role in the global nuclear order will grow.

Em um primeiro plano, a atuação do Brasil na região se tornou, simultaneamente com outras atividades, argumentos à afirmação do País como um

“influential global power”. Para Kliman e Fontaine:

O Brasil emergiu como líder regional e influente poder global. […] Globalmente, o Brasil assumiu uma posição de maior destaque ao ocupar um assento não permanente no Conselho de Segurança da ONU (CSONU), pressionando por um assento permanente no CSONU, exibindo liderança dentro do G20, aumentando seu ativismo na OMC, envolvendo-se em conversas nucleares com o Irã […] (KLIMAN; FONTAINE, 2012, p. 13, tradução nossa)185.

Para os autores, “o envolvimento mais importante do Brasil com a ordem de não-proliferação foi uma tentativa em 2010 de negociar um acordo nuclear com o Irã

(KLIMAN; FONTAINE, 2012, p. 18)186. Contudo, estas iniciativas foram de encontro

ao princípio da não proliferação nuclear global — para o CNAS consideradas muito cara a manutenção da ordem. Segundo os articulistas o Brasil, ao agir baseado no seu princípio de que toda nação tem direito ao enriquecimento de uranio para seu desenvolvimento, não afirmou seu papel como um defensor da não proliferação:

A preservação da soberania às vezes levou Brasília a se opor a medidas destinadas a fortalecer a ordem de não-proliferação. O Brasil considera o acesso à tecnologia de enriquecimento de urânio não apenas como um caminho para o reconhecimento internacional aprimorado, mas também uma necessidade para o desenvolvimento industrial contínuo. Por isso, continua cauteloso com os esforços internacionais para limitar o acesso ao ciclo do combustível nuclear, inclusive para o Irã (KLIMAN; FONTAINE, 2012, p. 17, tradução nossa)187.

No entanto, este perfil da política externa brasileira foi associado exclusivamente ao período do governo Luiz Inácio Lula da Silva. Para isso, os autores ressaltaram em suas análises uma mudança a partir da presidência de Dilma Rousseff em 2011, então com uma política externa mais próxima aos princípios liberais globais vigentes. Para

185 Brazil has emerged as a regional leader and influential global power. […] globally, Brazil has taken on

a higher profile by holding a nonpermanent seat on the U.N. Security Council (UNSC), pressing for UNSC permanent membership, exhibiting leadership within the G20, increasing its activities in the WTO, engaging in nuclear talks with Iran […].

186 Brazil’s most high-profile engagement with the nonproliferation order was a 2010 attempt to broker a

nuclear agreement with Iran.

187 The preservation of sovereignty has at times inclined Brasilia to oppose measures aimed at

strengthening the nonproliferation order. Brazil regards access to uranium enrichment technology as not only a path to enhanced international recognition but also a necessity for continued industrial development. It therefore remains wary of international efforts to limit access to the nuclear fuel cycle, including for Iran.

enfatizar esta ideia, os articulistas inclusive afirmaram que as ações do período Lula foram para os próprios brasileiros um ponto fora da curva:

A entrada de Brasília nas negociações nucleares com o Irã não foi um prenúncio de sua abordagem para futuras questões nucleares. Ao contrário, muitos brasileiros hoje veem esse episódio como um grande erro de política externa (KLIMAN; FONTAINE, 2012, p. 19, tradução nossa)188.

Esta perspectiva de mudança de eixo da política externa entre os governos Lula e Dilma também foi enfatizada no segundo ponto abordado sobre a atuação do Brasil no Oriente Médio no relatório: as ações e posições do Brasil frente aos países da região em relação ao princípio dos direitos humanos no CSONU. Nesta perspectiva, além do caso iraniano de 2010, os autores também incluíram o posicionamento brasileiro frente aos então recentes conflitos na Síria e Líbia. Kliman e Fontaine afirmaram que: “sob a presidência de Luiz Inácio Lula da Silva, o Brasil se opôs a medidas robustas do CSONU contra violadores de direitos humanos e ofereceu apoio político a regimes repugnantes (KLIMAN; FONTAINE, 2012, p. 19, tradução nossa)189”.

No entanto, os autores fizeram questão de ressaltar em suas análises o fato de uma mudança de política externa com a presidente Dilma Rousseff, segundo eles, grande parte devido a experiência pessoal de Dilma durante o regime ditatorial civil militar de 1964 a 1985. Um dos exemplos utilizados para mostrar essa inflexão foi o próprio caso do Irã, quando então em 2011, na gestão de Dilma, o Brasil votou a favor de novas sanções ao Irã:

A sucessora de Lula, Dilma Rousseff, foi pioneira em uma abordagem diferente sobre questões de direitos humanos, em grande parte devido às suas experiências pessoais como prisioneira sob o regime militar. Em 2011, por exemplo, o Brasil votou no Conselho de Direitos Humanos da ONU pela primeira vez para apoiar um relator especial para o Irã. Autoridades brasileiras se manifestaram contra o golpe militar de 2012 na Guiné-Bissau. O Brasil também co-fundou a Parceria para Governo Aberto, uma iniciativa que fortalece a democracia ao promover um governo transparente e responsável entre os membros do grupo (KLIMAN; FONTAINE, 2012, p. 19, tradução nossa)190.

188 Brasilia’s entry into nuclear negotiations with Iran was not a harbinger of its approach to future

nuclear issues. To the contrary, many Brazilians today view this episode as a major foreign policy blunder.

189 under Luiz Inácio Lula da Silva’s presidency, Brazil opposed robust UNSC measures against human

rights violators and offered political support to unsavory regimes.

190 Lula’s successor, Rousseff, has pioneered a different approach on human rights issues, in great

measure due to her personal experiences as a prisoner under the military regime. In 2011, for instance, Brazil voted at the U.N. Human Rights Council for the first time to support a special rapporteur for Iran.Brazilian officials spoke out against a 2012 military takeover in Guinea Bissau. Brazil has also

Porém nos casos sírio e líbio, os dois autores ressaltaram o compromisso da diplomacia brasileira com a mediação via multilateralismo e diplomacia para resolver e mediar conflitos envolvendo os direitos humanos, afirmando que “o uso da força militar para deter as atrocidades continua sendo uma linha vermelha para Brasília, que prefere a mediação multilateral e a consulta diplomática (KLIMAN; FONTAINE, 2012, p. 19, tradução nossa) 191”.

6.6 Heritage Foundation

Na Heritage Foundation, embora delimitada quase tão somente pela tentativa diplomática brasileira de negociação a um acordo nuclear com o Irã, a produção discursiva sobre a atuação do Brasil no Oriente Médio se tornou a base para a definição das intenções do País na qualidade de um ator global, identificado mais como uma ameaça do que um possível parceiro e aliado dos Estados Unidos na manutenção da ordem.

Até meados de 2009 — antes do início das tratativas — os registros de investigações sobre as atividades externas do Brasil no think tank indicavam um gradual reconhecimento da expansão da influência do Brasil. Nestes, conquanto tenha havido recomendações para a não legitimação desse crescimento em alguns aspectos, tal qual a candidatura do Brasil ao assento permanente no CSONU (GARDINER; SCHAEFER, 2005a, b), as visões sobre a base e o modelo de atuação brasileira foram positivas, argumentando-se pela responsabilidade econômica e social doméstica e externamente, pela sua liderança em missões de paz na região (ROBERTS, 2008; ROBERTS; WASLER, 2009).

A amostra de exemplo, James Roberts, em artigo de 2008, ao caracterizar as razões para o fortalecimento das relações bilaterais Estados Unidos – Brasil, reconheceu uma nova emergência externa brasileira a qual, devido as suas características, dirigia-se ao encontro dos princípios e objetivos dos Estados Unidos:

Os laços dos EUA com o Brasil se fortalecem. Sob a liderança do presidente socialdemocrata Luiz Inácio ‘Lula’ da Silva, o Brasil continua a emergir

cofounded the Open Government Partnership, an initiative that strengthens democracy by promoting transparent and accountable government among the group’s membership.

191 the use of military force to halt atrocities remains a red line for Brasilia, which prefers multilateral

como uma potência regional. Do avanço das negociações comerciais internacionais à manutenção da paz no Haiti, de programas sociais e antipobreza bem-sucedidos ao desenvolvimento de biocombustíveis, os EUA e o Brasil têm muitos interesses em comum. As relações entre Brasília e Washington são um importante e indicativo teste da capacidade dos Estados Unidos de construir uma agenda hemisférica positiva. Washington deve continuar buscando oportunidades de engajar o Brasil (ROBERTS, 2008, não paginado, tradução nossa)192.

Mesmo em janeiro de 2009, apenas alguns meses antes do início das negociações, Roberts em coprodução com Ray Wasler — este último importante articulista que em 2010 dominou a produção e as críticas da Heritage em relação a atuação externa do Brasil — também realizaram uma descrição positiva da política externa brasileira. Na posição de um “regional powerhouse”, o Brasil por suas atitudes, a saber a sua liderança na MINUSTAH, foi compreendido como um competente líder internacional, tornando-se um importante aliado dos Estados Unidos:

Seguir em frente com o Brasil: Obama tem a oportunidade de forjar uma aliança mais ampla com o Brasil; o fortalecimento dos laços comerciais seria um bom lugar por onde começar. Sob o Presidente Luiz Inácio ‘Lula’ da Silva, o Brasil emergiu como uma potência regional, liderando com competência os esforços internacionais de manutenção da paz no Haiti e atuando como um ‘adulto’ (ROBERTS; WASLER, 2009, p.2, tradução nossa)193.

No entanto, em 2010, as noções que informaram a definição da atuação externa do Brasil se alteraram substancialmente a partir dos significados dados pelos articulistas ao diálogo do Brasil com o Irã e seus desdobramentos no caso do programa nuclear iraniano. Para se ter uma percepção da importância que o think tank deu ao tema, no ano acima apontado, todos os sete artigos identificados — seis de Wasler e um de Philiphs — trataram exclusivamente do assunto, tornando-se assim, a única pauta da Heritage em relação a atuação externa do Brasil (WASLER2010a, b, c, d, e, f; PHILLIPS, 2010).

A base para discutir a questão, o reconhecimento de uma crescente influência externa brasileira não foi alterado durante 2010. Por exemplo, Wasler, em artigos distintos expressou essa visão afirmando que: “[...] o presidente do Brasil, Lula da

192 U.S. ties with Brazil grow stronger. Under the leadership of social democratic President Luiz Inácio

‘Lula’ da Silva, Brazil continues to emerge as a regional powerhouse. From advancing international trade negotiations to peacekeeping in Haiti, from successful social and antipoverty programs to the development of bio-fuels, the U.S. and Brazil have many shared interests. Relations between Brasilia and Washington are an important litmus test for the United States' ability to construct a positive hemispheric agenda. Washington should continue to seek opportunities to engage Brazil.

193 Move Ahead with Brazil: Obama has an opportunity to forge a more extensive alliance with Brazil;

strengthening trade ties would be a good place to start. Under President Luiz Inácio ‘Lula’ da Silva, Brazil has emerged as a regional powerhouse, competently leading international peacekeeping efforts in Haiti and acting as a ‘grown-up’.

Silva, [...] preside um Brasil que está crescendo em confiança, poder econômico e [...] global (WASLER, 2010d, não paginado, tradução nossa)194” ou na declaração “com um assento temporário no Conselho de Segurança da ONU e considerável influência sobre os Estados não ocidentais, o Brasil é um ator internacional extremamente importante (WASLER, 2010e, p.1, tradução nossa)195”.

O que mudou nas análises dos articulistas foi a percepção do perfil que o Brasil intencionava exercer na ordem global. Em seu conjunto as produções apresentaram contundentes críticas ao posicionamento brasileiro, marcadas pela percepção de irresponsabilidade brasileira com a segurança internacional e estadunidense; falta de compromisso com os valores democráticos e direitos humanos — como já identificamos em capítulos anteriores, uma das bandeiras do think tank e; pela posição antiamericana frente a ordem internacional (WASLER, 2010a, b, c, d, e, f, 2012a; PHILIPHS, 2010, 2012).

O principal articulista, Wasler, até reconheceu a justificativa dada pelo Ministro das Relações Exteriores Celso Amorim (2015) para a entrada do Brasil nas negociações ao afirmar em um artigo publicado no Daily Signal em 10 de junho que “o governo Obama não contribuiu para sua própria causa em relação ao Irã ao enviar uma carta ambígua ao presidente Lula, que deu a impressão de encorajar o Brasil a prosseguir com o acordo de troca nuclear de maio (WASLER, 2010f, p. 1, tradução nossa) ”196.

No entanto, já em seguida ponderou que “por outro lado, uma carta presidencial não desculpa a dúbia afinidade de um Brasil democrático com o Irã (WASLER, 2010f, p. 1, tradução nossa)197”. Como veremos a seguir, para Wasler a ambígua carta de

Obama não justificou nenhum dos posicionamentos e atitudes do Brasil em relação ao caso.

Um dos argumentos construídos e enfatizado por Wasler ao longo de sua produção de 2010 e utilizada para desqualificar as ações do Brasil no caso, foi a ideia de intromissão do Brasil em assuntos cujos quais não faziam parte dos interesses nacionais brasileiros. Nesse sentido, Wasler chegou até a recomendar ao presidente dos Estados

194 [...] Brazil’s President Lula da Silva [...] he presides over a Brazil that is rising in confidence,

economic power, and global [...].

195 with a temporary seat on the U.N. Security Council and considerable influence among nonWestern

states, Brazil is an extremely important international player.

196 The Obama Administration did not help its cause on Iran by sending an ambiguous letter to Brazil’s

President Lula da Silva that gave an appearance of encouraging Brazil to proceed with the May nuclear swap deal.

197 on the other hand a Presidential letter does not excuse democratic Brazil’s dubious affinity inity for

Unidos deixar claro essa interferência ao propor a Obama “ajudar o cético presidente brasileiro a reconhecer que um Irã com armas nucleares não é do interesse do Brasil é extremamente importante (WASLER, 2010e, p.1, tradução nossa)198”.

Nesse enquadramento Wasler também lançou outro argumento no qual afirmou ser desnecessária as negociações do Brasil. Por exemplo, em um artigo de março Wasler declarou todos os esforços até aquele mês, desde a posição brasileira de defesa do direito do Irã a um programa nuclear pacífico, o diálogo e a promoção do encontro do presidente Lula com Ahmadinejad no Brasil em novembro de 2009 e a promessa de visita oficial do presidente do Brasil ao Irã para 2010, ser em dispensáveis, pois “até agora a posição brasileira quanto ao Irã não tem sido útil (WASLER, 2010d, não paginado, tradução nossa)199”. Os acontecimentos subsequentes, a Declaração de Teerã em maio e no mesmo mês a recusa do Brasil a assinar novas sanções ao Irã via CSONU, também foram alvos dessa crítica (WASLER, 2010b, c, f).

Aumentando o nível das críticas, segundo o ex-embaixador, o Brasil estaria até adiando a resolução do problema, já que para ele o Brasil foi “usado” pelo Irã. Para Wasler, o Brasil, além de se envolver em questões aquém de seus interesses, não ser útil e até mesmo considerado dispensável, tornou-se um instrumento do próprio Irã para este ganhar mais tempo no desenvolvimento de seu potencial nuclear militar (WASLER, 2010b, d, e):

Apesar dessa camuflagem diplomática, o objetivo central do Irã continua sendo evitar ou enfraquecer possíveis sanções da ONU e semear confusão entre os atores internacionais com uma diplomacia de gestos e blefes. O objetivo é comprar mais tempo às custas dos EUA e do Ocidente para desenvolver uma arma nuclear (WASLER, 2010b, não paginado, tradução nossa)200.

Aproveitando oportunidades o ex-funcionário do Departamento de Estado realizou críticas duras a diplomacia presidencial. Para ele definida como ingênua: “analistas em Washington ainda estão tentando descobrir o que está impulsionando a política externa brasileira. Ingenuidade, narcisismo ou fome de poder e influência? Não

198 Helping the skeptical Brazilian president recognize that a nuclear-armed Iran is not in Brazil’s interest

is extremely important.

199 thus far the Brazilian stance on Iran has not been helpful.

200 Despite this diplomatic camouflage, Iran’s central objective remains avoiding or watering down

possible UN sanctions and sowing confusion among international players with a diplomacy of gestures and bluffs. It aims to buy more time at the expense of the U.S. and the West to develop a nuclear weapon.

há dúvida de que o Brasil está emprestando sua credibilidade à desonesta diplomacia do Irã (WASLER, 2010f, não paginado, tradução nossa)201”.

Wasler então ponderou para uma deslegitimação de uma possível liderança internacional brasileira. Para o articulista, o Brasil, devido ao que definiu ser uma inquietação quase irracional do País em ser um ator mais influente globalmente, não assumiu as devidas responsabilidades exigidas desta posição na ordem global. Recomendou a Hillary avisar o Brasil sobre tal fato:

O Secretário terá que fazer uma forte defesa de seu argumento para convencer o presidente Lula da Silva a ser cauteloso com a crescente conexão Irã-Brasil, que pode produzir laços financeiros e cooperação para desenvolver o potencial nuclear do Irã. A mensagem do Secretário é: ‘com influência vem a responsabilidade’ (WASLER, 2010d, não paginado, tradução nossa) 202.

Nesse cenário, Wasler também lançou dúvida em relação ao papel internacional do Brasil em afirmações tal qual “muitos em Washington estão reavaliando sua opinião sobre o popular presidente do Brasil e seu compromisso com uma liderança global responsável (WASLER, 2010b, não paginado, tradução nossa)203”. Alongando-se em

seus argumentos, para apontar a falta de compromisso do Brasil com a ordem global o articulista apelou para referências morais. Wasler associou o diálogo do Brasil com o Irã a uma conivência brasileira a violação de direitos humanos e a democracia — valores estes muito caros ao think tank. Assim lançou frases do tipo: “a adesão de Lula aos ditadores teocráticos do Irã é um duro tapa na cara da diversa e vibrante democracia brasileira e uma afronta àqueles que acreditam na proteção dos direitos humanos (WASLER, 2010b, não paginado, tradução nossa) 204”.

Wasler — que em 2009 recomendou o maior engajamento dos Estados Unidos com o Brasil devido a proximidade de interesses — após o voto brasileiro contrário a novas sanções no CSONU em maio, apresentou a percepção de uma atuação global brasileira contrária aos interesses dos Estados Unidos afirmando que “a decisão do Brasil, junto com a Turquia, de votar contra novas sanções ao Irã certamente não era o

201 Analysts in Washington are still trying to figure out what is driving Brazilian foreign policy. Naïveté,

narcissism, or a hunger for power and influence? There is little doubt that Brazil is lending its good name to Iran’s devious diplomacy.

202 The Secretary will have to make a strong pitch to convince President Lula da Silva to be wary of the

budding Iran-Brazil connection which might produce sanctions-evading financial ties and cooperation to develop Iran’s nuclear potential. The Secretary’s message is: “with influence comes responsibility”.

203 Many in Washington are reassessing their opinion of Brazil’s popular president and his commitment to

responsible global leadership.

204 Lula’s embrace of Iran’s theocratic dictators is a hard slap in the face of Brazilian diverse and vibrant