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Os fatores institucionais e culturais da política nacional estadunidense que

1. INTRODUÇÃO

2.2 Os fatores institucionais e culturais da política nacional estadunidense que

O grande sucesso dos think tanks nos Estados Unidos não se deve unicamente ao ativismo de segmentos da elite da sociedade civil, que como exibimos acima, organizaram, financiaram e desenvolveram as atividades dos think tanks. Fatores culturais e institucionais da política nacional são muito importantes para compreender como esses institutos tiveram grande acesso ao ambiente político e assim, se consolidarem como importantes atores do debate político nacional (ABELSON, 2006).

Nos Estados Unidos, mesmo com o desenvolvimento de uma Burocracia capaz de oferecer aos legisladores elementos técnicos para a tomada de decisão, políticos são bastante abertos para receberem ideias externas em razão de uma cultura política de desconfiança em relação ao governo e ao mesmo tempo de valorização dos meios privados sobre o público para a solução de problemas políticos. Desse modo, ideias produzidas ou/e reproduzidas nos think tanks são valorizadas e muitas vezes consideradas importantes pelos tomadores de decisões (ABELSON, 2006).

Aliada a essa cultura política, o sistema político estadunidense é descentralizado, o que cria espaços distintos de atuação para os think tanks no processo decisório nacional, aumentando a presença desses institutos no ambiente político nacional. Na Casa dos Representantes, por exemplo, em virtude de legisladores estarem abertos a opiniões externas, os think tanks tem a oportunidade de influenciar o processo de formação de leis — uma das principais funções dessa Casa. Para tanto, os think tanks concebem diferentes ambientes para ter acesso aos deputados e seus assessores, seja via pública, quando publicam artigos em importantes jornais de alcance nacional (onde são lidos por essas pessoas), ou/e nos bastidores da ação política, quando os think tanks articulam redes de contatos pessoais com os congressistas simpáticos a suas formulações (ABELSON, 2006).

Já no Senado — Casa responsável por confirmar, por exemplo, as indicações do presidente para diversos cargos importantes, como secretários de gabinetes, embaixadores, conselheiro de Segurança Nacional e ratificar ou rejeitar tratados internacionais — os think tanks procuram se envolverem na própria administração, buscando através de contatos pessoais, a indicação de seus membros a esses cargos, e assim, de alguma maneira ter suas ideias representadas nas administrações (ABELSON, 2006).

Outro fator que incentiva os think tanks a produzirem e divulgarem intensamente suas formulações políticas é o fato que os próprios legisladores sentem a necessidade de ter ao alcance de suas mãos soluções políticas prontas. Os legisladores têm muito

interesse em recomendações políticas que acompanham a dinâmica do tempo político a respeito de questões que surgem no momento ou de interesse do seu eleitorado, bem como argumentações para justificar o ponto de vista por ele adotado (ABELSON, 2006).

Essa abertura aos diversos âmbitos do processo político decisório também é ampliada pelo fato de nos Estados Unidos não haver uma unidade partidária. Tal fato permite aos think tanks criar canais para estabelecerem relações com os decisores e o processo político. Pois ao contrário do que acontece no Brasil, os legisladores ficam livres para votar de acordo com seus interesses e não do partido. Isso proporciona uma maior abertura e relevância dos tomadores de decisões para as ideias políticas dos think tanks, que aproveitando essa oportunidade estabelecem diversas estratégias para chegar até eles e de alguma maneira influencia-los (ABELSON, 2006).

Nos Estados Unidos, ao contrário do Brasil, também não há um serviço público de alto escalão permanente, como secretários adjuntos e seus postos acima. A cada nova administração é o presidente a autoridade responsável por nomear mais de dez mil cargos públicos, entre eles posições importantes em setores da política externa. Essa característica oferece um incentivo significativo para que think tanks disponibilizem seu pessoal para assumirem cargos importantes, e assim, de alguma maneira estar no processo decisório e influenciar as decisões ou as questões a serem debatidas ou postas como problemas políticos (ABELSON, 2006).

Assim, os think tanks elaboram estratégias para que seus policy experts tornem- se indicados seja em forças tarefas de transições ou serem de alguma forma, por contatos pessoais, lembrados pelo presidente e sua equipe nesses momentos de indicação a importantes cargos administrativos-consultivos. Este fenômeno pelos quais os membros dos think tanks se tornam membros do governo é conhecido como revolving door ou porta giratória (ABELSON, 2006; PARMAR, 2004).

É importante destacar que pelo enquadramento do Revenue Code, os membros dos think tanks são proibidos de participar de partidos e de cargos públicos. Assim, quando o fazem, o indicado não se apresenta formalmente como membro de um think tank, mas como indivíduo sem filiação alguma. Na prática, continuam e fortalecem vínculos entre os institutos, os políticos e o processo decisório (ABELSON, 2006).

A Burocracia é outro espaço que é de interesse dos think tanks e ao mesmo tempo possível de estarem presentes por haver canais para isso. Entre outras atribuições, a Burocracia é a responsável por supervisionar e garantir a segurança nacional dos

Estados Unidos. Assim, os diversos cargos de importantes agências ligadas a política externa estão em disputada pelos think tanks, os quais podem ser conseguidos por nomeações presidenciais. Além desta possibilidade, a Burocracia tem uma abertura bastante ampla para receber as publicações dos think tanks que são usadas, muitas vezes, para corroborar e legitimar certas ideias desenvolvidas nesse ambiente (ABELSON, 2006).