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4 O BRASIL NA AMÉRICA LATINA: REGIONAL POWER ALIADO NA

5.3 Woodrow Wilson Center

Para o Wilson Center, em razão do que consideraram ser o andamento de projetos brasileiros voltados ao desenvolvimento continental africano, o País foi definido por volta de 2011 — ano em que a temática começou a ser analisada — como um ator fundamental na África. Nesse contexto houve grande incentivo do think tank para os Estados Unidos intensificar o que denominaram “parceria estratégica” com o Brasil no continente SOTERO, 2014a; WILSON CENTER, 2011c;2013d).

Em 2013 o Brazil Institute do Wilson Center divulgou um dos eventos do Finacional Times Live118, a conferência intitulada Brazil-Africa Leadership Forum 2013, ocorrido em Johanesburgo na África do Sul (WILSON CENTER, 2013d). Pelo conteúdo disponível sobre a justificativa para a realização do evento, identificamos um grande reconhecimento do think tank para tratar o Brasil como um global player, um ator fundamental no continente e através das relações que estava desenvolvendo com os países da região, também foi visto como um promotor de um novo reordenamento internacional, então mais voltado a intensificação das relações entre países em desenvolvimento:

A mudança global de poder político e econômico dos mercados desenvolvidos para os principais mercados em crescimento da Ásia, América Latina e África está remodelando profundamente os assuntos internacionais. Como a quinta maior economia do mundo e membro do grupo de países do BRIC, o Brasil se encontra na vanguarda dessa mudança. Seu crescente envolvimento com a África, sob a bandeira da cooperação Sul-Sul, é um símbolo do realinhamento global dos laços comerciais, políticos e de desenvolvimento. O Brasil é hoje um parceiro estratégico vital no desenvolvimento do continente, em áreas fundamentais como agricultura, cooperação técnica e desenvolvimento de infraestrutura (WILSON CENTER, 2013d, não paginado, tradução nossa)119.

117 Brazil is also active within a number of multilateral organizations — the Summit of the Community of

Portuguese Speaking Countries, the World Social Forum, the WTO, the IBSA Dialogue Forum, and the Africa-South America Summit — to advocate for sustainable development in Africa.

118 Promovidos pelo Financial Times Group, tem objetivo geral a promoção de eventos sobre pautas

globais com a participação de decisores-chave nas questões abordadas. Para saber mais ver: https://live.ft.com/What-we-do.

119 The global shift of political and economic power from developed markets to the major growth markets

of Asia, Latin America and Africa is profoundly reshaping international affairs. As the world’s fifth largest economy, and a member of the BRIC country grouping, Brazil finds itself at the forefront of this change. Its growing engagement with Africa, under the banner of South-South cooperation, is symbolic

Esta ideia foi ao encontro das visões expostas pelo então recém ex-embaixador dos Estados Unidos no Brasil Thomas Shannon por ocasião de sua fala proferida em dezembro de 2013, em evento promovido pelo Brazil Institute intitulado A conversation with ambassador Thomas A. Shannon. Questionado pela plateia sobre a potencialidade das relações Brasil- África e Brasil-África e Estados Unidos em diversos campos, como agricultura, infraestrutura, indústria e saúde pública, o diplomata expôs uma visão bastante positiva e otimista sobre o assunto.

Mostrando ser importante para os interesses estadunidenses a promoção de projetos voltados ao desenvolvimento continental, Shannon argumentou pela defesa e substancial potencialidade do aprofundamento de relações dos Estados Unidos com o Brasil na África. Para tanto, o diplomata citou algumas das parcerias bilaterais e trilaterais de sucesso já ocorridas entre Brasil- Estados Unidos e países africanos. Nesse ínterim, o diplomata também destacou como exemplo de potencial intensificação das relações, o bom diálogo já estabelecido entre as agências estadunidense USAID e ABC para trocas de conhecimentos:

Há muitas possibilidades. Em assistência externa, iniciamos a nossa cooperação trilateral com São Tomé e Príncipe, no esforço de erradicar a malária, mas a estendemos para Moçambique, onde estamos fazendo um trabalho importante quanto a produtividade agrícola [...]. E isso é novo para nós e para o brasileiro e trabalhar por meio da agência de cooperação brasileira ABC tem sido uma experiência interessante e frutífera [...]. Nós criamos uma relação interessante entre a USAID e a ideia da agência ABC, onde temos agentes de intercâmbio. À medida que tentamos ter uma ideia melhor de como os dois lados trabalham e onde pode haver sinergias e conexões. E estamos bastante interessados e empolgados em estender essa possibilidade, porque pensamos que o Brasil, especialmente quanto a agricultura e a saúde pública, acreditamos que o Brasil tem algumas coisas realmente interessantes para oferecer aos países da África e de outros lugares (SOTERO, 2014a, não paginado, tradução nossa) 120.

of the global realignment of trade, policy and development ties. Brazil is now a vital strategic partner in the continent’s development, in key areas such as agriculture, technical cooperation and infrastructure development.

120 There are lots of possibilities. In foreign assist we began our trilateral cooperation in Sao Tome and

Principe in the effort to eradicate malaria but have extended that to Mozambique, where we're doing some important work on the agricultural productivity side [...]. And this is brand-new for us and for the Brazilian and working through Brazilian cooperation agency ABC has been an interesting and fruitful experience [...]. We have created an interesting relationship between USAID and idea ABC agency where we have exchange officers. As we try to get a better feel for how both sides work and where there might be synergies and connections. And we are quite interested and excited about extending that possibility, because we think that Brazil, special in agriculture side and public healthy care, we think that Brazil has some really interesting things to offer countries in Africa and elsewhere.

Em 2011 — dois anos antes dos eventos acima —, o Brazil Institute promoveu um almoço-evento (lunch event) com a finalidade, segundo o Wilson Center, de discutir e formular ideias à promoção do desenvolvimento agrícola africano e de parcerias nessa área. Pela composição da mesa de conferencistas e o debate apresentado, podemos observar claramente a manifestação de uma das características gerais do think tank, ou seja, a promoção do intercâmbio entre agentes-chave. Com o título, Brazil and Africa: cooperation for innovation in agriculture and what the U.S. can do, estiveram presentes o coordenador do programa EMBRAPA Labex nos Estados Unidos, Ladislau Matin- Neto, o conselheiro do Banco Mundial para área de agricultura e desenvolvimento rural na América Latina e região do Caribe, Erik Fernandes, a diretora de Relações Exteriores em Agricultura, Biotecnologia e Comércio Têxtil no Departamento de Estado dos EUA, Marcella Szymanski, além, é claro, do diretor do Instituto, Paulo Sotero.

Pelo resumo da fala de cada um dos participantes — único documento disponível sobre o evento — identificamos que cada um dos conferencistas convidados tratou de expor as atividades das organizações que estavam representando em relação a temática central proposta.

Ladislau Martin-Neto, por exemplo, ressaltou a importância do acumulado de mais de trinta anos de pesquisa em agricultura tropical da EMBRAPA — segundo o autor razão para o País ter se tornado na época o segundo maior exportador de grãos do mundo — e a utilização desse know how para melhorar a produção de grãos no continente africano. Para o conferencista, as similaridades dos desafios, tornaram o Brasil e o região subsaariana parceiros naturais:

Tanto o Brasil quanto a África pertencem parcialmente ao bioma cerrado, onde o solo é naturalmente ácido e aluminoso, a chuva pode ser esporádica e a retenção de água no solo é baixa. Embora estes sejam todos desafios formidáveis para a agricultura, o Brasil tem sido muito bem-sucedido na adaptação da soja a este clima. Dadas as substanciais conquistas da Embrapa e as semelhanças entre as savanas africana e brasileira, Martin-Neto disse que era natural que a Embrapa estabelecesse parcerias com governos e cientistas africanos (WILSON CENTER, 2011c, não paginado, tradução nossa) 121 .

121 Both Brazil and Africa partially belong to the savannah biome, where soil is naturally acidic and

aluminic, rainfall can be sporadic, and water retention in the soil is low. Although these are all formidable challenges to agriculture, Brazil has been very successful in adapting soybeans to this climate. Given Embrapa’s substantial achievements and the similarities of the African and Brazilian savannahs, Martin-Neto said that it was natural that Embrapa would establish partnerships with African governments and scientists.

Martin-Neto também destacou a parceria entre agências brasileiras para a instalação do famoso escritório da EMBRAPA em Gana, o qual, para o autor, tornou-se um grande centro de treinamento e pesquisa em agricultura para os cientistas africanos:

Com a ajuda financeira do Ministério das Relações Exteriores e da Agência Brasileira de Cooperação (ABC), a Embrapa abriu um escritório de pesquisa agrícola em Accra, Gana, em 2006. Esse escritório serve como centro de treinamento e local de mobilização de pesquisa (WILSON CENTER, 2011c, não paginado, tradução nossa) 122.

Nesse contexto, o coordenador do LABEX EMBRAPA também enfatizou as parcerias da agência brasileira e organismos e países estrangeiros, tal qual o Banco Mundial e o governo do Japão: “juntamente com o Banco Mundial e o com apoio de governos como o Japão, a Embrapa tem projetos em todo o continente africano, desde o cultivo de arroz no Senegal até o treinamento de cientistas locais em Moçambique pesquisa (WILSON CENTER, 2011c, não paginado, tradução nossa) 123 ”.

Já Erik Fernandes, embora tenha ressaltado a parceria referida pelo seu colega, entre suas descrições também realizou algumas críticas ao modelo de atuação brasileira na África. Para o conselheiro do Banco Mundial, embora o orçamento anual do BNDES fosse no período muito superior ao do Banco Mundial (segundo Fernandes $8 bilhões de dólares do BNDES e 140 bilhões do Banco Mundial), os projetos e programas do Banco Mundial teriam uma base mais ampla e pragmática:

No entanto, apesar de um orçamento restrito, Fernandes estava otimista: o Banco Mundial aproveita seus recursos ‘estrategicamente’. Além disso, o Banco usa suas experiências para formular consensos de melhores práticas, que depois distribui para outros projetos na África. ‘O Brasil é uma fonte valiosa de experiência’, explicou Fernandes. Embora as atividades do Banco no Brasil ‘nem sempre sejam ([diretamente]) aplicáveis, elas são valiosas para avaliar’ em termos de formulação e implementação de projetos na África (WILSON CENTER, 2011c, não paginado, tradução nossa) 124.

Por fim, Marcella Szymanski, a fim de elucidar sobre a cooperação já em curso entre Brasil, Estados Unidos e países africanos, apresentou os acordos e ações conjuntas

122 With financial assistance from the Minister of Foreign Relations and the Brazilian Agency for

Cooperation (ABC), Embrapa opened an agricultural research office in Accra, Ghana in 2006. This office serves as a training center and a place for research mobilization.

123 along with the World Bank and support from governments like Japan, Embrapa has projects across the

African continent, from a rice cultivation in Senegal to training local scientists in Mozambique.

124 Yet despite a restricted budget, Fernandes was optimistic: the World Bank leverages its resources

‘strategically’. Moreover, the Bank uses its experiences to formulate best practice consensuses, which it then distributes to other projects in Africa. ‘Brazil is a very valuable source of experience,’ Fernandes explained. Although the Bank’s activities in Brazil are ‘not always ([directly]) applicable, they are valuable to assess” in terms of project formulation and implementation in Africa.

desenvolvidas, como, por exemplo o Memorando de Entendimento para a Implementação de Atividades de Cooperação Técnica em Países Terceiros assinado em 2010 ou o Protocolo bilateral de Intenções para a Expansão de Atividades de Cooperação Técnica em Países Terceiros de março de 2011.

Para a autora, todas as atividades bilaterais aproveitaram ações já em curso: “em relação às oportunidades agrícolas nos Estados Unidos, Brasil e África, Szymanski observou que a maior parte da atividade é uma extensão do trabalho existente (WILSON CENTER, 2011c, não paginado, tradução nossa) 125”. Na visão de Szymanski através dessa parceria bilateral houve importantes avanços na área agrícola:

De modo mais geral, Szymanski apontou que os cientistas têm feito grandes avanços na criação de culturas como o milho resistente à seca e bananas resistentes a doenças. Eles usaram a biotecnologia para aumentar a eficiência com a qual algumas culturas usam nitrogênio e aumentar a tolerância a sal de outras culturas. Além disso, os cientistas aumentaram o conteúdo mineral, proteico e vitamínico dos alimentos básicos, como a mandioca e o arroz (WILSON CENTER, 2011c, não paginado, tradução nossa) 126.

Mostrando entusiasmo em futuras parceria Szymanski termina afirmando que “com relação à cooperação futura, Szymanski observou que havia um "rico processo de divulgação”, e que no próximo ano haverá contínuas conferências em biotecnologia, uso de recursos e políticas públicas (WILSON CENTER, 2011c, tradução nossa) 127”.