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2.5 COMITÊS DE ÉTICA EM PESQUISA

2.5.3 O CEP como espaço de deliberação, grupo e equipe

2.5.3.2 O CEP como grupo e equipe

O trabalho em grupo não é um exercício da soma de subjetividades. Ele vai se construir na interação, na troca de ideias, no confronto das moralidades de cada indivíduo, isto é, constitui-se na intersubjetividade, no encontro com o outro. Tanto a subjetividade individual quanto a social vão se constituir mutuamente. Não se pode considerar e desvincular a subjetividade de um espaço social sem levar em conta a subjetividade dos indivíduos que vão constitui-lo (31, 210).

Para a concepção dialética, o grupo constitui-se em uma unidade formada por pessoas que interagem entre si e agem em conjunto, compartilhando normas e objetivos. Outro conceito que utiliza é o de processo grupal, cujo significado diz respeito às ações e à organização de um grupo. O processo grupal é uma experiência que se situa historicamente, construída no tempo e no espaço, com origem nas relações do cotidiano, em que se repetem aspectos gerais da sociedade. Três parâmetros são utilizados para que se analise o processo grupal. O primeiro corresponde à identidade, que define o que é o grupo e como se caracteriza diante de outros grupos; o segundo representa o poder que o grupo tem frente aos demais grupos. Por fim, o terceiro, representa a atividade grupal e a significação social que essa atividade produz (211).

A organização grupal envolve, além das atividades realizadas, as produções afetivo-emocionais as quais norteiam o clima que se estabelece nas relações entre os membros e entre estes e a atividade, o que se dá de modo formal e informal. Assim sendo, não é possível desconsiderar a importância da afetividade nas relações grupais, seja no sentido de ampliar a união, seja para ameaçar a sua existência. As relações e as decisões coletivas são influenciadas ou facilitadas pelo vínculo de amizade entre membros de um grupo ou por reações negativas de um membro sobre a manifestação do outro (211).

Para Albuquerque e Puentes-Palacios (212), grupo é um conjunto de pessoas que se envolvem e interagem por algum tempo em busca da consecução de objetivo ou objetivos em comum. Possuem algumas características que propiciam sua identificação, como o fato de ser pequeno, a relação ocorrer entre pessoas que se conhecem, têm objetivos comuns e aceitam as normas estabelecidas pelo próprio grupo. Ao se reconhecer que as pessoas possuem diferentes compreensões, valores e percepções distintas a serem compartilhadas, os grupos serão espaços de conflitos. Nesse sentido, é necessário propiciar abertura de canais de expressão para as forças de ação desenvolvidas no grupo, liberando de forma assertiva o contraditório dentro de cada grupo ou equipe.

Tomando como referencial a teoria de valores, estes vão se expressar com base em um conjunto de características. Nesse sentido, os valores são ligados à emoção, representam um construto motivacional, ou seja, as pessoas procuram obtê-los. Constituem-se em objetivos abstratos, transcendem ações e situações específicas. São ordenados pela prioridade em relação aos demais e por fim,

servem como padrões ou critérios para a seleção e avaliação de ações, políticas, pessoas e eventos. Pela teoria, todos os valores possuem essas características, com variações no tipo de objetivo e motivação que eles expressam (213).

O grupo tem influência na expressão do indivíduo, nem todos conseguem se expressar e apresentar suas concepções, valores. Nos contextos grupais, a comunicação torna-se o elemento que funcionará como fio condutor dos fenômenos que emergem na situação intergrupal e vai permear a ação do grupo, possibilitando que as diferentes visões se expressem. Os grupos em que as pessoas se reúnem com a finalidade de realizar algum tipo de trabalho vão formar as equipes de trabalho, criadas para atender as especificidades das diferentes organizações e instituições. Ao serem criadas, as equipes percorrem algumas fases até atingirem o estágio favorável ao desempenho das tarefas, quais sejam: formação, conflito, normatização, desempenho e desintegração (212).

A formação é o início do grupo de trabalho, período em que os membros se identificam e ocorre a descoberta do outro. Conflito é o momento seguinte à identificação dos membros e tem como objetivo os ajustes, negociações e distribuições de tarefas. Nessa fase, ocorre a resolução ou negociação de conflitos para que a equipe possa se manter e atingir os objetivos pretendidos. Em seguida, vem a normatização, fase em que as normas se estabelecem como fruto da coesão entre os membros da equipe, o estabelecimento de relações mais próximas, fruto de percepções e sentimentos compartilhados. O desempenho é a quarta fase e corresponde àquela na qual a atividade é executada, é o momento de produtividade do grupo. A última fase, desintegração, representa o final de uma equipe após ter cumprido sua tarefa (212).

A atuação das equipes pode se dar em diferentes níveis: multidisciplinar, pluridisciplinar, interdisciplinar ou transdisciplinar. Na multidisciplinaridade ocorre a justaposição de disciplinas sem que haja relação entre elas, e na pluridisciplinaridade a aproximação se dá entre disciplinas que convergem entre si. Entretanto, nos dois casos, os diferentes pontos de vista se mantêm e não resultam em síntese. No terceiro tipo, a interdisciplinaridade, há o pressuposto de interação entre disciplinas que contribuem com seus métodos e conceitos. Já a transdisciplinaridade parte de um postulado ou princípio comum que perpassa um conjunto de disciplinas, as quais utilizam o mesmo referencial de conceitos e métodos (214).

O alcance do trabalho interdisciplinar ou mesmo transdisciplinar vai se dar mediante ações articuladas a interações entre os envolvidos, buscando construir um projeto comum. O ponto fulcral do trabalho interdisciplinar e transdisciplinar é a comunicação entre os profissionais no cotidiano do seu trabalho articulada por meio da mediação simbólica. Essa articulação se refere à consideração das conexões e interfaces existentes entre as intervenções de cada profissional, a partir das respectivas especificidades (215).

No campo da saúde, as equipes têm sido recomendadas há muito tempo. Os estudos mostram, porém, que muitos são os desafios a serem vencidos na atuação dos grupos de trabalho, inclusive no que se relaciona à efetividade entre discurso e prática (214).

O trabalho em equipe envolve decisões em nível individual e coletivo, o que pode ser problemático, pois depende da diversidade e quantidade de informação e da negociação exigida para a decisão, o que envolve vários passos, que vão desde a determinação do problema até o processo final de decisão (216, 217).

Robbins (218) apresenta algumas sugestões a serem consideradas para o momento da tomada de decisão em nível individual: analisar a situação de modo compatível com o contexto em que se opera, lembrando que as avaliações podem apresentar vieses que comprometem decisões racionais; combinar análise racional com intuição, pois a experiência da pessoa contribui para as escolhas racionais; adequar o estilo individual às exigências da função que exerce e aprimorar a criatividade.

Ao analisarem uma instituição hospitalar de reabilitação, Queiroz e Araújo (13) constataram que o trabalho de equipe em saúde no contexto de programas de reabilitação encontra empecilhos que se relacionam com a atuação da equipe profissional. Para as autoras, ainda falta, no campo conceitual, conhecer melhor, atributos das profissões envolvidas, das instituições e das próprias equipes.

No exercício de sua rotina de trabalho, os comitês de ética poderiam se transformar de um grupo de trabalho multiprofissional para uma equipe interdisciplinar. Têm, na sua composição, pessoas com diferentes formações profissionais para o exercício de uma tarefa com objetivo comum, nem sempre com as mesmas concepções e com pontos de vista convergentes. O momento culminante do trabalho em grupo é o da reunião colegiada com a elaboração do parecer consubstanciado, que se constitui na síntese deste trabalho. Para que se

possa atingir o nível de trabalho interdisciplinar, as reuniões devem ser não só momentos de deliberação, mas também espaço de escuta, de troca de conhecimentos. Contudo, pelo menos dois obstáculos se apresentam à busca da interdisciplinaridade; a agenda de encontros esporádicos e o volume de trabalho nos comitês de ética são limites a serem superados.

2.6 AVALIAÇÃO E DECISÃO ÉTICA