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Síntese do estudo com os coordenadores: como se caracterizam

3.5 ASPECTOS ÉTICOS CONSIDERADOS

4.1.8 Síntese do estudo com os coordenadores: como se caracterizam

A partir das informações do estudo é possível identificar que, do ponto de vista profissional, a maioria dos coordenadores é bem qualificada: são mestres e doutores, pesquisadores em exercício e oriundos de instituições de ensino superior. Como as faixas etárias predominantes foram entre 40 e 60, é possível supor que sejam também profissionais experientes. Chama atenção que o perfil dos coordenadores se mantém semelhante ao observado em outros estudos, o que leva a crer que isso esteja consolidado.

Os CEPs de origem estão localizados em instituições de ensino superior, o que explica o perfil dos coordenadores, já que são as instituições responsáveis pela maior quantidade de pesquisas no país. Esta é uma informação relevante, pois estas instituições prestam serviços a grande quantidade de pessoas. Com isso, as ações desenvolvidas no comitê podem ter um efeito multiplicador no fortalecimento dos cuidados éticos em pesquisa.

São CEPs com existência de pelo menos três mandatos, porém com pouco tempo de permanência dos membros e dos coordenadores, o que implica renovação constante na sua composição e pouca experiência na avaliação de projetos. Este fato vai demandar tempo para treinamentos constantes dos membros, sobrecarregando tanto o trabalho do coordenador, quanto do funcionário administrativo.

A distribuição dos CEPs participantes por região geográfica foi mais homogênea, do que a distribuição dos CEPs no país, em que aproximadamente a metade localiza-se na região Sudeste. Os CEPs, cujos coordenadores mais participaram localizam-se nas regiões Centro-Oeste e Sul

Verificou-se que a atuação dos comitês estava em consonância com as exigências regulamentares da Resolução CNS n. 196/96, em sua composição, na forma de escolha de membros e de coordenadores, possibilidade de ambos serem reconduzidos no mandato e com a presença de membros do controle social. Também por realizarem ao menos reuniões mensais e fornecerem treinamento inicial aos membros, além de propiciarem a participação destes em atividades de educação continuada.

Os CEPs não atendiam ou atendiam parcialmente o cumprimento das diretrizes da Resolução CNS n. 196/96 quanto ao acompanhamento das pesquisas aprovadas. Falta também a esses CEPs maior incentivo institucional à participação em eventos, principalmente para os membros.

O papel educativo dos comitês de ética pode ser identificado quando os coordenadores pontuaram como vantagens do CEP institucional a formação de ética em pesquisa de alunos e professores e ao propiciarem a participação dos membros em atividades de educação continuada.

Esses coordenadores pautavam a atuação dos CEPs nas diretrizes éticas nacionais, quanto às formas de treinamento que privilegiavam as leituras dos documentos, a atuação e operacionalização e na avaliação de protocolos de pesquisas. Os comitês cumpriam os papéis educativos e consultivos utilizando-se de várias formas de interlocução com os pesquisadores, como atendimento pessoal, divulgação eletrônica das atividades e promoção de atividades de educação continuada para seus membros.

A distribuição de protocolos de pesquisa aos relatores valia-se de critério técnico, a afinidade temática, e não do critério ético, o que se supõe buscava propiciar melhor compreensão das pesquisas aos relatores de qualquer área de formação.

O trabalho colegiado para avaliar as pesquisas se dava de forma dialógica com leitura do parecer, discussão e busca do consenso nas decisões. Já a resolução de polêmicas em relação às pesquisas também ocorria por meio de discussão e consenso e, se não fosse possível, o colegiado recorria à votação.

A relação da CONEP com os CEPs foi destacada com sendo de natureza protocolar com o envio de documentos.

Com o estudo foi possível concluir que o número de CEPs no país continua em crescimento, em dezembro de 2010 eram 602 e em abril de 2012 eram 645.

As informações do estudo indicam que os comitês cumprem a regulamentação, têm estrutura adequada, buscam comunicação com os pesquisadores e trabalham de forma dialógica. Contudo, a literatura mostra que ainda há muitas críticas e queixas dos pesquisadores em relação às avaliações de suas pesquisas. Muitos dos problemas estão nas próprias diretrizes, o que aqui foi discutido.

É esperado que as mudanças na Resolução CNS n. 196/96 e a criação de uma diretriz complementar, específica para as áreas de ciências humanas e sociais, possam contribuir para sanar problemas que persistem desde a criação do sistema CEP-CONEP.

Além dessas mudanças, sugere-se a criação pela CONEP de um fórum permanente para o aperfeiçoamento do sistema. Nesse fórum, participariam todos os envolvidos com o desenvolvimento das pesquisas: membros do sistema CEP- CONEP, representantes da sociedade, pesquisadores, promotores de pesquisas, agências de fomento e patrocinadores diversos. Considera-se que a comunicação dialógica seja a principal ferramenta para a troca de ideias, ampliação do conhecimento e aceitação do trabalho dos CEPs e avaliação das pesquisas no país.

É necessário que se dê maior visibilidade à atuação dos CEPs e da CONEP e eles sejam reconhecidos como espaços políticos de discussão e deliberação. São elementos importantes para esse trabalho a regulamentação pertinente, a composição multidisciplinar e o exercício do controle social da ética em pesquisa. Porém, é com o conhecimento e aval da sociedade e a parceria com a comunidade acadêmica que o trabalho pode ser reconhecido nessa dimensão política. Afinal, os conselhos nacionais e suas diferentes instâncias foram criados a partir do poder da autoridade pública, para a concretização da participação social e democrática (201, 202).

4.2 Estudo com os membros

Para este estudo, foi aplicado um questionário composto de 35 questões organizadas em três partes: identidade profissional, papel do CEP, avaliação de projetos.

4.2.1 Identidade profissional

Para a identificação profissional, foram solicitadas informações sobre idade, sexo, escolaridade, relação com pesquisa e formação na área de Bioética/Ética/Ética em Pesquisa. Os resultados estão dispostos na Tabela 5.

Tabela 5 - Identificação profissional dos membros participantes da pesquisa

N % Idade 21 - 30 anos 23 7,8 31 - 40 87 29,49 41 - 50 94 31,86 51 - 60 68 23,05 61 - 70 12 4,07 71 - 80 4 1,35 Sexo Feminino 172 58,3 Masculino 115 38,98 Ensino Fundamental 1 0,33 Nível de escolaridade Ensino Médio/Técnico 3 1,01 Graduação 13 4,4 Especialização 44 14,91 Mestrado 103 34,91 Doutorado 124 42,03 Área de formação do curso superior

Ciências Biológicas e Saúde 186 63,05 Ciências Humanas e Sociais 64 21,69 Ciências Exatas e da Terra 18 6,1

Dupla formação/N inf. 13 4,4

Pesquisador(a) Sim 236 80

Não 49 16,61

Formação na área de Bioética, Ética, Ética em Pesquisa

Não 168 56,95

Sim, curso de extensão 85 28,81

Sim, especialização 18 6,1

Sim, mestrado 6 2,03

Sim, doutorado 6 2,03

Fonte: pesquisa da autora, 2012.

A caracterização dos respondentes mostra que a maioria dos membros é do sexo feminino (172 respostas), com faixa etária que se distribui predominante entre dois intervalos de 41 a 50 anos (94 respostas) e de 31 a 40 anos (87 respostas), cuja soma representa 61,35% dos participantes da pesquisa.

Os dados relativos ao nível de escolaridade apontam que 124 membros possuem doutorado e 103 possuem mestrado, sendo os cursos da área de

ciências biológicas e saúde os mais encontrados (187 respostas), seguidos pelos das ciências humanas e sociais (64 respostas) e das ciências exatas (18 respostas).

A grande maioria dos membros é de pesquisadores (236 respostas) e mais da metade deles não tem formação em Bioética, Ética ou Ética em Pesquisa (168 respostas).

Assim como no estudo com os coordenadores, a composição dos CEPs é multidisciplinar, com pesquisadores de várias áreas de conhecimento, porém com maioria de profissionais da área de ciências biológicas e saúde (o que pode ser observado no Quadro 2), conforme já apontado em outras pesquisas (130, 162, 175).

Quadro 2 - Formação acadêmica dos membros participantes da pesquisa, por área de conhecimento

Área Ciências Biológicas e da Saúde Ciências Humanas e Sociais Ciências Exatas e da Terra Cursos

Biomedicina Administração Arquitetura Ciências Biológicas Direito Ciência da Computação

Educação Física Economia Engenharia

Agronômica

Enfermagem Geografia Engenharia Civil

Farmácia História Engenharia Elétrica

Fisioterapia Filosofia Engenharia

Metalúrgica

Medicina Letras Estatística

Medicina Veterinária Pedagogia Geologia

Nutrição Psicologia Química

Terapia Ocupacional Serviço Social Secretariado Executivo Teologia Turismo Total de cursos 10 13 9

Fonte: pesquisa da autora, 2012.

Esta é uma situação que propicia o trabalho de colegiados mais habilitados para análise de pesquisas biomédicas, mas gera uma lacuna de mais membros

experientes e com conhecimento para a análise de pesquisas de outras áreas, como as ciências humanas e as ciências sociais. Por outro lado, é muito positivo que os CEPs sejam formados por membros com grande diversidade profissional.

Chama atenção a formação mais diversificada nas áreas de ciências humanas e sociais, o que confere ao CEP uma melhor representação da diversidade moral e torna-o mais propício à atuação plural. São áreas cujos campos de estudo envolvem temas extremamente relevantes aos trabalhos dos CEPs, como estigmatização, preconceito, vulnerabilidade e empoderamento e a temática de pluralismo e diversidade.

O estudo também identificou que 168 membros não têm qualquer formação na área de Bioética, Ética ou Ética em Pesquisa. Estudo com membros de CEPs do Distrito Federal constatou que 59,3% deles têm cursos nas áreas mencionadas (165). Supõe-se que a existência de um programa completo de pós-graduação em Bioética sediado na Universidade de Brasília (UnB) seja um estímulo à capacitação dos membros dos CEPs locais. Uma possibilidade para melhorar o treinamento e a capacitação dos membros seria a aproximação da CONEP com as instituições acadêmicas e a promoção de cursos frequentes de Bioética e ética em pesquisa nessas instituições.