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ESCOPO ESTUDOS DE CASOS

4.3.5 Cerâmica Gomes de Matos

A Cerâmica Gomes de Matos (CGM) é uma empresa de médio porte, que possui em torno de 160 funcionários, está no mercado há cerca de 20 anos e tem como principal atividade a produção de cerâmica vermelha. Têm em torno de vinte produtos diferenciados entre tijolos, blocos e telhas. Está situada na região semiárida nordestina, região conhecida como Vale do Cariri, na cidade de Crato, Ceará, e faz parte do MVC desde 2006 (CGM, 2005).

A cidade de Crato enfrenta um problema grave relacionado à degradação ambiental decorrente do recente boom no setor imobiliário. Tal ocupação provocou a devastação de áreas de reserva, sendo a madeira nativa empregada em processos industriais. O projeto veio com proposta de minimizar os impactos negativos do desmatamento do bioma Caatinga.

Esse projeto utilizou como padrão de certificação VCS para medição dos créditos de carbono e adotou o padrão adicional Social Carbon. Contou também com a consultoria

Sustainable Carbon para elaboração do projeto e acompanhamento do seu desenvolvimento.

Teve início em 2006, sendo suas emissões contabilizadas nesse mesmo ano. O referido projeto consiste em utilizar madeira de florestamento e resíduos lenhosos (como aparas de madeira), que são biomassas renováveis, além de materiais que eram considerados resíduos (como podas de cajueiro e pó de serraria), para alimentar os fornos em vez de utilizar a madeira proveniente de desmatamento da caatinga.

Segundo dados do DCP, o projeto reduzirá o desmatamento de 22.800 m3 de madeira/ano (CGM, 2005), além de contribuir para redução de materiais que seriam descartados para os lixões como as podas de árvores (Figura 30), restos de colheita (coco babaçu, algaroba e eucalipto) e pó de serraria (Figura 31) que seriam direcionados para a empresa, reduzindo o volume dos lixos urbanos, que quando acumulados, geram metano (CH4), um gás vinte e uma vezes mais prejudicial às mudanças climáticas do que o gás

carbônico (CO2) gerado a partir da queima desses materiais nos fornos da empresa

Figura 30 – Podas de árvores Figura 31 – Pó de Serraria

Fonte: Telésforo (2012) Fonte: Telésforo (2012)

O projeto tem duração estimada de 10 anos, prevê uma redução anual média de 28 toneladas de dióxido de carbono equivalente (CO2eq), ou seja, 280 mil toneladas de CO2eq até

o término do prazo estipulado, o que configura um projeto de pequena escala. Tem como principal atividade a substituição do uso de lenha, proveniente de desmatamento, por biomassa, derivadas de restos de podas árvores urbanas, podas de cajueiro e pó de serraria na alimentação dos fornos da cerâmica. Como o projeto gera anualmente entre 20 a 100 KtCO2,

este projeto é classificado como de média escala.

A aplicação do quadro teórico-metodológico anteriormente apresentado, tendo como base o DCP analisado, as observações em campo e as entrevistas semiestruturadas (ao projeto e a consultores especializados neste tipo de projeto), originaram as seguintes constatações, com relação aos cobenefícios deste projeto (Quadro 20):

Dimensão Cobenefício Projeto Gomes de Matos Declarados Verificados

Econômica Dinamização da economia local, incluindo a criação de emprego e

redução da pobreza +1 +1

Desenvolvimento ou difusão local da tecnologia +1 +1

Melhoria da infraestrutura 0 0

Ambiental Redução da poluição +1 +1

Promoção de energia confiável e renovável 0 0

Preservação dos recursos naturais +1 +1

Social Melhoria das condições de saúde e segurança +1 +1

Envolvimento da Comunidade Local +1 +1

Promoção da educação 0 0

Empoderamento das mulheres, o cuidado das crianças e dos frágeis 0 0

Quadro 20 – Cobenefícios declarados e verificados do projeto Gomes de Matos Fonte: Elaborado pela autora (2014)

O projeto da Cerâmica Gomes de Matos (CGM) apresentou mediana contribuição para o desenvolvimento sustentável, já que contribui com seis dos 10 indicadores elencados. Assim como na análise documental de todos os projetos, a dimensão ambiental foi preponderante em

cobenefícios apresentados no projeto CGM enquanto que a social foi a que obteve menor contribuição.

No aspecto econômico, à medida que se encontra novas formas de matérias-primas para alimentação dos fornos, como os restos de colheita e pó de serraria, é possível observar benefício financeiro direto à população local, já que os agricultores e donos de serrarias vendem esses produtos para a indústria, gerando assim um novo segmento de mercado.

Ainda em dinamização da economia local, segundo gerente do projeto Sr. Stephenson Lemos (2011), a redução dos custos foi um dos principais benefícios econômicos para a empresa quando da implantação do projeto, conforme sua declaração:

O nosso ganho é na arrumação da casa. A gente teve uma redução de uso da matéria- prima, redução de perda de material, de quebra. O desperdício que acontecia aqui hoje não existe mais.

Para você ter uma ideia o metro de lenha que custa R$ 30,00. A gente reduziu o consumo de 1,5 m para 0,6 m. Uma redução de é 0,9 m, ou seja, em torno de R$ 27,00 que está economizando por milheiro de peça, o que é um ganho significativo. (informação verbal).

Por meio das entrevistas e observação em campo, é possível constatar que os benefícios relatados na fala do Sr. Stephenson Lemos (2011, informação verbal), gerente do projeto, foram traduzidos em melhoria da imagem e consequente visibilidade em nível nacional. Segundo seu relato, um dos objetivos da empresa é apresentar a cerâmica CGM como um produto diferenciado, já que se trata de um processo de fabricação sustentável, levando esse atributo de valor aos seus produtos, inclusive com alteração em seu preço.

No que se referem aos cobenefícios ambientais, um deles é a redução de poeiras (fuligem) na fábrica. Com o projeto, foram instalados filtros e ampliada altura das chaminés, melhorando a dispersão e gerando menos poeira para o meio externo. Além disso, a mecanização contribui com a redução de poluentes, pois quando se deixa de alimentar o forno manualmente, a combustão se torna mais eficiente e o que antes era lançado ao meio ambiente, retorna ao processo produtivo, fechando o ciclo dentro da atmosfera do forno, reduzindo os resíduos expostos ao ar e melhorando a eficiência energética (CERÂMICA GOMES DE MATOS, 2006).

A proposta corrobora em muito para a preservação dos recursos naturais, uma vez que são utilizadas biomassas renováveis para alimentar os fornos em substituição a uma matéria- prima antes extraída da mata nativa. Ademais, foram adquiridos com o projeto novos equipamentos: um triturador para beneficiar a poda das árvores; um dosador, aparelho utilizado para inserir o pó de serraria nos fornos; a construção de galpões para que as biomassas fiquem protegidos do sol, evitando a evaporação e aumentando o rendimento da

combustão (CGM, 2005), além de um sistema de canalização para regular a temperatura dos fornos, o que diminui consequentemente o gasto de energia.

Além disso, segundo dados da CGM (2005), o projeto reduzirá o desmatamento de 22.800 m3 de madeira/ano o equivalente a 1,9 mil m3/mês. Deste modo, auxilia na proteção dos recursos naturais (madeira nativa) e reduz a produção de lixo, pois materiais que antes seriam descartados para os lixões como as podas de árvores, restos de colheita (coco babaçu, algaroba e eucalipto) e pó de serraria são direcionados para a empresa, reduzindo o volume dos lixos urbanos, e a geração metano (CH4), um gás vinte e uma vezes mais prejudicial às

mudanças climáticas do que o gás carbônico (CO2) gerado a partir da queima desses materiais

nos fornos da empresa.

Quanto ao aspecto social, neste projeto foram incorporadas inovações simples, como adaptações de equipamentos e métodos, onde houve a necessidade de novos aprendizados e de uma maior capacitação de seus funcionários. Essas inovações em geral também contribuem para uma melhoria das condições de trabalho, a partir do momento que tornam o ambiente laboral menos insalubre (CERÂMICA GOMES DE MATOS, 2006).

Igualmente, a aquisição dos novos equipamentos (trituradores de madeira e dosadores) exigiu certa capacitação dos funcionários para o seu manuseio, sendo também ministradas palestras relacionadas à melhoria de vida, o que contribuiu para certa melhora nas condições de trabalho, como maior uso de equipamentos de proteção individual, com resultados na saúde geral do indivíduo.

De acordo com o relatório de monitoramento do padrão Social Carbon (CERÂMICA GOMES DE MATOS, 2006) cerâmica CGM com o desenvolvimento do projeto e incentivada pelos critérios do padrão SC passou a adotar práticas que proporcionam uma sinergia com a comunidade local. São elas:

 Torneios de Futebol: a CGM construiu um campo de futebol dentro da fábrica com a finalidade de proporcionar lazer aos trabalhadores e membros da comunidade. A fábrica promove torneios de futebol entre as equipes comunitárias e os trabalhadores da CGM;

 "CGM em Ação": O evento tem como objetivo interagir com a comunidade local, oferecendo oficina de reciclagem, cabeleireiro, médico, dentista e cuidados de enfermagem. Além disso, a fábrica de cerâmica distribuiu mudas nativas. Durante o período analisado no relatório, foram registrados três eventos (em Village Carrapato, São Bento e Aldeia Vila Padre Cícero), sendo que cada um recebeu uma média 250 membros da comunidade;

 Geopark Araripe: A fábrica tem uma parceria formal com o Geopark Araripe, que é um parque de Rede Global de Geoparques. A rede é um resultado do Programa Nacional

Geopark da Unesco. O Geopark é um território ecológico, que visa conservar e divulgar sítios geológicos aliados ao desenvolvimento econômico e sustentável. No período analisado, a CGM proporcionou visitas educativas de mais de 1.000 alunos e visitantes do parque ao torno da fábrica;

 Parceria com coletores de resíduos recicláveis: A fábrica de cerâmica tem uma parceria com uma associação do município de Crato, que recolhe os resíduos recicláveis da região. A partir dessa parceira são entregues a cada 15 dias os insumos – biomassa, no caso resíduos de madeira – para ser utilizado como combustível nos fornos de cerâmica. Além disso, a fábrica remodelando três carros de coleta de material de reciclagem para a Associação;

 Contribuição da Comunidade: CGM doou um fogão ecológico a um membro da comunidade; e

 Cursos de capacitação: A fábrica contratou oito jovens da comunidade matriculados em instituições de ensino para trabalhar na fábrica. Esta iniciativa faz parte do programa brasileiro "Jovem Aprendiz", que visa incentivar as empresas a dar oportunidades aos jovens.

Desta forma, a dimensão social foi pontuada com apenas um cobenefício – envolvimento da comunidade local – no que tange a promoção da harmonia social, educação e conscientização de questões ambientais locais, tendo a certificação padrão Social Carbon sido preponderante na busca por esse cobenefício, ratificando os resultados de Nussbaumer (2009) que conclui que uma maior contribuição ao desenvolvimento sustentável pode ser evidenciada quando um projeto é certificado em mais de um PC, desde que solicitem cobenefícios.

Ademais, foi constatado na entrevista/ visita que os cobenefícios encontrados não se restrigem aos muros da fábrica, sendo confirmados no relato do Gerente do Projeto Sr. Stephenson Lemos (2011):

Quando a Cerâmica deu início às atividades socioambientais, percebemos que nosso trabalho não deve se restringir apenas a atividades dentro da empresa (informação verbal).