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Nota 01: Sigla dos PCs: Verified Carbon Standard (VCS); Chicago Climate Exchange (CCX); Climate Action

3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Este capítulo apresenta os procedimentos metodológicos desta tese que permitiram atingir os objetivos deste trabalho por meio do levantamento, coleta, tratamento e análise dos dados. Conforme Trivinos (1994), o método utilizado na pesquisa deve ser adequado ao tipo de estudo que se deseja realizar, entretanto é a natureza do problema ou o nível de aprofundamento que determinam a escolha da metodologia. A pesquisa realizada pode ser mais adequadamente classificada como pesquisa exploratória/descritiva, uma vez que contou com procedimentos como pesquisa exploratória do objeto de estudo, documental e bibliográfica, levantamento e organização dos dados e por fim estudos de casos múltiplos.

Segundo Gil (1999), a pesquisa exploratória tem por finalidade desenvolver, esclarecer e modificar conceitos e ideias, tendo em vista a formulação de problemas mais precisos ou hipóteses pesquisáveis para estudos posteriores, constituindo a primeira etapa de uma investigação mais ampla e abrangente.

Dado que o Mercado Voluntário de Carbono (MVC) tanto mundial como brasileiro e seus projetos de redução de emissão de redução de emissão de Gases de Efeito Estufa (GEEs), objeto de estudo dessa tese, ainda carecem de pesquisas (SILVA JUNIOR, 2011; SOUZA, 2011), a realização de pesquisa exploratória proporciona maior familiaridade com o problema elaborado, com o objetivo de torná-lo explícito a fim de construir questionamentos importantes para futuras investigações.

Já o caráter descritivo do estudo é o resultado da forma simples em que o MVC e seus cobenefícios são descritos, com base em relações simples entre variáveis. Para tanto foram utilizadas técnicas padronizadas de coleta de dados como questionário, que apoiaram o levantamento, relato e comparação dos dados.

O enriquecimento da análise da pesquisa foi feito com a realização dos estudos de casos múltiplos ilustrativos. Assim, de acordo com Yin (1994), um estudo de caso investiga um fenômeno contemporâneo dentro do contexto da vida real, especialmente quando os limites entre o fenômeno e o contexto não estão claramente definidos. Para o autor, duas fontes de evidências são utilizadas: a observação direta e a série sistemática de entrevistas. Ademais, o estudo de caso se caracteriza pela capacidade de lidar com ampla variedade de evidências, tais como documentos, artefatos, entrevistas e observação que precisam ser confrontados com a triangulação de dados. Entretanto, dentre as limitações, o estudo de caso fornece pouca base para a generalização científica.

A pesquisa pode ser dividida em quatro fases que podem ser assim caracterizadas: primeira fase ou fase exploratória; segunda fase dedicada ao aperfeiçoamento e descrição do modelo analítico; terceira fase voltada aos procedimentos para análise ex-ante e quarta fase que apresenta os procedimentos para análise ex-post.

Sendo assim a primeira fase da metodologia teve caráter exploratório e se ateve ao estudo preliminar que visa obter maior familiaridade com o fenômeno que se pretende investigar, no caso o MVC brasileiro, limitando-se a entender o seu funcionamento, sua estrutura e suas principais características. Buscou-se dessa forma, formular a questão de pesquisa, analisando a melhor delimitação do campo de trabalho. Para tanto, foi realizado levantamento bibliográfico e documental, assim como entrevistas com os principais atores (relação constante no Quadro 12 a seguir) utilizando roteiro semiestruturado apresentado nos Apêndices A e B.

Essa fase teve o propósito de realizar o mapeamento das principais instituições como os padrões de certificação e organizações como empresas proponentes, Organizações Não Governamentais (ONGs), empresas de consultoria e empresas de auditoria, bem como dos projetos de redução de emissão de GEEs que estão sendo negociados no MVC mundialmente, tendo como país proponente o Brasil, para que sejam utilizados na segunda fase da pesquisa. Foram dessa forma levantadas informações sobre o objeto de estudo da tese: projetos de redução de emissão de GEEs no MVC brasileiro.

Durante essa fase foram verificados os projetos existentes de redução de emissão de GEEs no MVC brasileiro. O mapeamento teve início em setembro de 2011 e término em junho de 2014, sendo identificados projetos que tiveram início em fevereiro de 2004 a julho de 2010. Foram considerados apenas os projetos que estivessem minimamente na fase de validação aguardando aprovação e registro pelo padrão de certificação e que estivesse disponibilizado pelo menos o Documento de Concepção de Projeto (DCP).

Outros projetos podem ter sido propostos a partir de junho de 2014 (final do mapeamento realizado), entretanto o corte temporal de projetos se justifica dada incerteza dos rumos do mercado de carbono pós período do Protocolo de Kyoto (PK) que tem corroborado para um comportamento cada vez mais tímido desse mercado, sendo expresso na redução do número de projetos ano a ano. Ademais, o corte temporal permitiu a análise dos dados e organização da pesquisa em tempo hábil para conclusão deste trabalho.

Nesta etapa da pesquisa, os projetos foram mapeados através da exploração de bancos de dados, a exemplo do Markit Environmental Registry (www.markit.com) que dispõe de um banco de dados contendo os projetos por país hospedeiro, e sites institucionais dos padrões de

certificação. O Markit Environmental Registry constituiu-se a maior fonte de dados desta tese, porém ela não abrange todos os projetos do MVC. Constatou-se que alguns projetos só estavam disponíveis nos sites dos padrões de certificação aos quais estavam vinculados. Foram, portanto consultados sites dos padrões de certificação tais como VCS (www.vcsprojectdatabase.org); CCB (www.climate-standards.org/category/projects/); Gold

Standard (www.goldstandard.org/about-us/project-registry); Social Carbon

(www.socialcarbon.org/); CCX (registry.chicagoclimatex.com/public/projectsReport.jsp), dentre outros.

Como fruto dessa primeira fase da pesquisa foi elaborada e organizada a base de dados da tese contendo a listagem de todos os projetos mapeados entre setembro 2011 e junho de 2014 (ver Apêndice D), assim como foram armazenados os documentos (DCP, relatório de validação, relatórios de monitoramento, relatório de cobenefícios, etc.) que servissem de fonte de informação para a terceira fase da pesquisa (análise ex-ante).

Paralelamente ao mapeamento dos projetos, foi realizado um aprofundamento da revisão da literatura, incluindo-se, fortemente a temática do mercado de carbono e suas vertentes, regulado e voluntário e cobenefícios para o desenvolvimento sustentável, visando a escolha do modelo de análise para avaliação dos projetos mapeados. Esta revisão da literatura foi realizada através de pesquisa bibliográfica e documental, por meio de consultas a base de periódicos da CAPES, livros, relatórios corporativos, periódicos nacionais e internacionais, artigos científicos nacionais e internacionais, relatórios técnicos, bases de dados nacionais e internacionais, bem como consultas a teses e dissertações, como também em sites institucionais.

A segunda fase foi dedicada à escolha e definição do modelo analítico. Para tal, foram pesquisadas as metodologias de avaliação de cobenefícios em prol do desenvolvimento sustentável dos projetos desenvolvidos no mercado de carbono. Foram identificadas várias metodologias, conforme discutido na seção 2.2 desta tese, sendo escolhido o modelo da UNFCCC (2012), que vem sendo utilizado para análise dos projetos do mercado regulado de carbono.

O referido modelo vem sendo utilizado para analisar projetos de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) no mundo com base em dez indicadores divididos nas três dimensões básicas do desenvolvimento sustentável: econômica, ambiental e social. As análises realizadas até agora foram de cunho documental baseada nos DCPs dos projetos registrados no mercado regulado mundial e os cobenefícios em prol do desenvolvimento sustentável declarados nestes documentos. Esse modelo de análise foi escolhido, pois daria

suporte para alcance de um dos objetivos desta tese que consiste em comparar os resultados da análise documental dos projetos brasileiros de redução de emissão de GEEs do MVC com os cobenefícios mapeados no mercado mundial regulado de carbono.

O modelo da UNFCCC (2012) foi aplicado em estudo com 3.864 projetos de MDL comercializados no mercado de carbono mundial tendo como corte temporal os projetos registrados de 2006 até junho de 2012. Todos os DCPs dos projetos foram analisados e confrontados com os dez indicadores divididos em três dimensões – Econômica, Ambiental e Social.

Para a referida análise documental, a UNFCCC (2012) adotou as seguintes premissas: 1. Para ser o mais consistente possível, todos os projetos foram avaliados por um único analista;

2. Foi determinado o DCP como fonte de dados para análise, não sendo utilizado outro documento para a análise realizada;

3. O estudo se ateve à análise documental não sendo realizada qualquer tentativa para verificar de forma independente as alegações de cobenefícios em prol do desenvolvimento sustentável para que as declarações feitas;

4. Quando da análise dos cobenefícios, os créditos de redução de emissões de GEEs não foram considerados como um cobenefício e não faziam parte dos indicadores de desenvolvimento sustentável, uma vez que este é um pré-requisito para um projeto de MDL;

5. Quando identificadas reivindicações de desenvolvimento sustentável "não-negativos", como "o projeto não vai levar à degradação do meio ambiente", estas não foram tratadas como um cobenefício declarado, devido à sua imprecisão; e

6. Informações gerais relacionadas à promoção do desenvolvimento sustentável no país hospedeiro do projeto que não estivessem diretamente relacionadas às atividades decorrentes do projeto analisado não foram tratados como cobenefícios declarados, pela falta de atribuição específica à ação do projeto.

A adoção do modelo da UNFCCC (2012) por esta tese exigiu algumas adaptações tais como a tradução da tabela de indicadores e a modificação do indicador constante no modelo original como “desenvolvimento ou difusão local da tecnologia importada” para “desenvolvimento ou difusão local da tecnologia”, passando a considerar de forma mais ampla toda e qualquer origem da tecnologia a ser adotada no projeto de redução de emissão de GEEs no MVC. Isto foi necessário considerando o fato que parte dos projetos deste mercado no Brasil não utilizam tecnologia importada. Os demais indicadores não sofreram alteração.

CONCEITO DIMENSÃO COMPONENTE INDICADORES