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ESCOPO ESTUDOS DE CASOS

4.3.4 Cerâmica Sul América

A cerâmica Sul América está localizada em Itaboraí no Estado do Rio de Janeiro e produz cerâmica como tijolos estruturais e decorativos assim como telhas (ARROZAL, GGP & SUL AMÉRICA, 2008). O projeto para o MVC foi desenvolvido com mais outras duas indústrias cerâmicas da região, Arrozal e GGP, e integra um Programa de Atividades (PoA) (ARROZAL, GGP & SUL AMÉRICA, 2007).

O projeto teve início em 2006 com duração de 10 anos sendo prevista a redução de 277.707 toneladas de CO2 equivalente para os três projetos que integram o PoA - Arrozal,

GGP e Sul América -, e visa a utilização de resíduo de biomassa renovável, nesse caso madeira de florestamento e resíduos lenhosos, como aparas de madeira e serragem para fornecimento de energia térmica para os fornos. Na ausência dos resíduos de biomassas citadas, os proponentes do projeto farão uso de capim elefante disponível na região.

Seu desenvolvimento e acompanhamento têm sido realizados pela empresa de consultoria Carbono Social Serviços Ambientais LTDA, que apoiou na elaboração do DCP, acompanhamento do monitoramento e auditorias. O projeto utilizou como padrão de certificação para medição dos créditos de carbono o VCS e o padrão Social Carbon para apuração dos cobenefícios em prol do desenvolvimento sustentável.

A cerâmica Sul América declara em seu DCP realizar o uso de 1.338,75 toneladas de resíduos de biomassa por mês, a fim de produzir 880 mil unidades de cerâmica (ARROZAL, GGP & SUL AMÉRICA, 2008). Diferentemente de óleo pesado, o novo combustível deve

estar seco para ser utilizado na queima e manutenção da temperatura ideal do processo de queima de cerâmica, de modo a ampliar a eficiência de queima do forno industrial. Para tanto, os proponentes do projeto tiveram que reservar um espaço abrigado na empresa para armazenamento dos resíduos de biomassa em locais cobertos, a fim de mantê-los seco.

Ainda, foi necessário o consumo de 551,25 toneladas de serragem e outras 787,5 toneladas de resíduos de madeira das indústrias para alimentação de dez fornos “Paulistinha” e secadores, quantidade essa bem superior a outras cerâmicas já que o processo produtivo da cerâmica Sul América atua com toque e aparência final de peças de cerâmica que exigem um tempo maior de forno (o dobro) que os demais processos. Contudo cabe observar que o primeiro resíduo de biomassa utilizado no processo foi a lenha a partir de eucalipto, mas um ano depois da implementação a cerâmica passou a utilizar resíduos de madeira e serragem.

Desta forma, os cobenefícios observados no projeto da cerâmica Sul América podem ser assim observados no Quadro 19:

Dimensão Cobeneficio Cerâmica Sul América Declarados Verificados

Econômica Dinamização da economia local, incluindo a criação de emprego e

redução da pobreza + 1 + 1

Desenvolvimento ou difusão local da tecnologia + 1 + 1

Melhoria da infraestrutura 0 0

Ambiental Redução da poluição + 1 + 1

Promoção de energia confiável e renovável 0 0

Preservação dos recursos naturais + 1 + 1

Social Melhoria das condições de saúde e segurança + 1 + 1

Envolvimento da Comunidade Local 0 0

Promoção da educação 0 0

Empoderamento das mulheres, o cuidado das crianças e dos frágeis 0 0

Quadro 19 – Cobenefícios declarados e verificados do projeto Sul América Fonte: Elaborado pela autora (2014)

A mudança no combustível, principal cobenefício do projeto, acarretou em uma série de adaptações necessárias, dentre as mais importantes a aquisição de equipamentos e ferramentas e reformas para adaptação ao novo combustível.

As entradas dos fornos de cerâmica tiveram suas entradas reconstituídas além de adquiridos queimadores mecânicos para melhorar a circulação de ar no interior dos fornos (ARROZAL, GGP & SUL AMÉRICA, 2008). Foram também instaladas portas nas entradas dos fornos para melhorar o isolamento térmico e consequente melhor rendimento da combustão. Além disso, outros canais de ar foram construídos com o intuito de capturar o calor gerado nos fornos, para que assim pudessem ser reaproveitados nos secadores de cerâmica. Para possibilitar a injeção dos resíduos de madeira e serragem nos fornos, foi necessária aquisição de dois eixos mecânicos.

Durante a visita foi verificada a sinergia gerada com o projeto no que se diz respeito ao envolvimento com os pequenos proprietários de armazenamento de resíduos de biomassa. Segundo gerente do projeto, Renan Nunes (2012, informação verbal), foi implementado pela cerâmica um sistema de logística para seu recolhimento, o que resultou em aquecimento da economia local e consequente geração de emprego, apoiando positivamente para o cobenefício de dinamização da economia local, incluindo a criação de emprego e redução da pobreza. Fernández (2014) corrobora para os resultados afirmando em sua pesquisa que as ações do projeto contribuíram positivamente para a redução da pobreza.

Na dimensão ambiental, a troca de combustível contribui para preservação dos recursos naturais, uma vez que são utilizadas biomassas renováveis para alimentar os fornos em substituição a uma matéria-prima antes extraída da mata nativa. Ainda nessa perspectiva, a substituição do maquinário melhorou na redução do ruído gerado, já que o maquinário anterior para fabricação da cerâmica emitia ruído maior. Foi declarado no relatório de cobenefícios ARROZAL, GGP & SUL AMÉRICA, 2008) que a cerâmica instalou um filtro de chaminé para capturar partículas de produção que, de outra forma escapar para a atmosfera, da mesma forma essa prática foi evidenciada em pesquisa em campo.

Consta também no Arrozal, GGP & Sul América (2008) que a cerâmica Sul América, como empresa de pequeno porte, gera pequenas quantidades de resíduos no seu processo produtivo. Dentre os resíduos gerados estão as cinzas geradas, que além de não representarem risco de toxidade, são incorporadas na massa de argila dos dispositivos. O relatório também informa que a empresa participa de um programa de coleta seletiva, realizada pela prefeitura de Itaboraí.

Outrossim, com a aquisição dos novos equipamentos (queimadores mecânicos, termopares e trituradores de madeira) foi exigido dos funcionários para operar estes novos equipamentos algum treinamento, uma vez que não era uma prática comum este tipo de serviço. Além disso, foi relatado em visita in loco que foram ministradas palestras relacionadas à melhoria de vida para os funcionários. A partir dessas ações foi possível perceber melhora nas condições de trabalho (maior uso de equipamentos de proteção individual), bem como saúde. Tal fato foi pontuado no Arrozal, GGP & Sul América (2008), conforme pode ser observado abaixo e constatado durante a visita e operacionalização do projeto, computando positivamente para cobenefício de melhoria das condições de saúde e segurança.

With the introduction of sawdust and other renewable biomass as fuel, the kilns are fired in a semi-automatic way, which reduces the contact between the kiln operators

and the heat, also helping the work of employees and their working conditions. These modifications represent indirect improvements in working conditions (p.12)

Em entrevista com gerente do projeto, Sr. Renan Nunes (2012, informação verbal), foi pontuada a importância do projeto da cerâmica Sul América para as demais empresas da região. A utilização dos resíduos de biomassa como alternativa energética incentiva o uso de combustíveis renováveis, contribuindo assim para a geração de uma consciência de maior compromisso com o meio ambiente, buscando proporcionalmente, gerar vantagens socioeconômicas para a empresa através da imagem de sua responsabilidade ambiental e social. O uso destes resíduos como combustível renovável vem surgindo como uma alternativa para à destinação correta desses resíduos, antes jogados fora, trazendo assim, benefícios como a adequação à legislação ambiental, alcançando benefícios que atingem a gestão da qualidade e ambiental, contribuindo para o desenvolvimento sustentável dos seus processos e da região.

No monitoramento realizado pelo padrão Social Carbon, foi evidenciado que os recursos tecnológicos e financeiros obtiveram os melhores índices, cooperando para um desempenho positivo do projeto. Por outro lado, o recurso de Recursos Humanos apresentaram desempenho crítico, sendo o recurso com o menor índice de avaliação.

Como principais destaques positivos do projeto Sul América, segundo o relatório de monitoramento, foram destacados o processo de secagem da cerâmica produzida com controle da umidade e temperatura. O controle de qualidade possui certificação do Programa de Qualidade Setorial também se constitui um diferencial positivo do projeto.

Contudo, o setor de cerâmica geralmente precisa de um sistema de gestão na saúde, segurança e meio ambiente, fato que não tem sido diferente na cerâmica Sul América, o que criou dificuldades para obter um melhor desempenho durante a avaliação do PC (ARROZAL, GGP & SUL AMÉRICA, 2008).

De forma geral o relatório Arrozal, GGP & Sul América (2008) aponta que o proponente do projeto busca melhorias contínuas no processo produtivo, tais como: a mudança de combustível, melhorias das condições de trabalho através de instalação de máquinas; promoção da automação de processos; e a intenção de melhorar as condições de trabalho e do ambiente de seus funcionários.

Mesmo que não pontuado como cobenefícios com base no framework da pesquisa é importante ressaltar as mudanças pontuadas no relatório de cobenefícios Arrozal, GGP & Sul América (2008) que declara que a cerâmica Sul América a partir da implantação do projeto

passou a produzir cerca de 50 tipos de produtos cerâmicos (alguns com um alto valor de mercado) tornando-o mais competitivo no mercado. Assim como passou a publicar em seu site institucional suas iniciativas de sustentabilidade.

De forma geral o projeto contribui de forma mediana para o desenvolvimento sustentável tendo apontado positivamente cinco cobenefícios, os quais foram todos ratificados nas entrevistas e vista realizadas.