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4.1 Políticas públicas de incentivo à indicação geográfica do café em

4.1.3 Certifica Minas

O Certifica Minas27 é o projeto estruturador implantado pelo governo de Minas Gerais e criado no PPAG 2008-2011. Cabe ressaltar que o Agrominas foi um programa criado no âmbito do PPAG, cuja duração foi de quatro anos (2004- 2007), portanto, já não é mais vigente. O Certicafé foi criado por um decreto estadual que continua em vigor. As experiências dos gestores públicos nos dois programas anteriores foram importantes para a definição dos objetivos e ações do Certifica Minas, apesar de não guardarem entre si uma continuidade das ações implementadas e dos objetivos básicos.

Teve um programa inicial em Minas Gerais (Certicafé) que separava o Estado por área. Pode ser que tenha sido aproveitada alguma coisa disso. O café do Cerrado, por exemplo, está bem evoluído na certificação do produto (...) o Agrominas, que era mais abrangente, era um programa estruturador do governo de Minas Gerais. Depois, com a evolução e importância da certificação não só de café, mas também de carne e outras certificações, o programa Certifica Minas passou a ser um programa estruturador e, dentro do Certifica Minas está o Certifica Minas Café (...) ele cresceu e passou a ser o programa estruturador. (Gestor Público 4)

O objetivo do programa é a certificação de propriedades que adotam as boas práticas agrícolas, no intuito de ampliar a inserção competitiva da produção agropecuária mineira nos mercados nacional e internacional, com ênfase na superação das restrições zoofitossanitárias existentes. Trata-se, portanto, de

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O Certifica Minas não é um projeto estruturador específico para o café, mas também do agronegócio de carnes.

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programas de monitoramento e de certificação da qualidade dos produtos agropecuários. O programa visa, ainda, melhorias dos programas de defesa sanitária e inspeção de produtos de origem animal e vegetal, com uma abordagem preventiva e sistemática direcionada ao atendimento da sanidade, qualidade e inocuidade dos produtos do agronegócio mineiro, bem como a expansão da certificação com ênfase na rastreabilidade dos produtos agropecuários e agroindustriais. A meta é conseguir certificar 1.500 propriedades até 2011 (Minas Gerais, 2008):

O Certifica Minas abrange todas estas regiões do Certicafé, não faz nenhuma distinção. Qualquer propriedade no estado de Minas Gerais pode receber orientações e ser certificada, independente da região. Estas quatro regiões continuam existindo, mas todas elas são beneficiadas pelo programa (...) Hoje, o café numa propriedade pode estar situado numa das quatro regiões cafeicultoras de Minas Gerais e receber este certificado, mas ele não perde aquela identificação da origem. (Gestor Público 4)

O projeto é capitaneado pela Secretaria de Estado da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, em parceria com a Emater e o IMA. As funções de cada órgão são bem definidas e em fases distintas do processo de certificação (Gestor Público 2, Gestor Público 4 e Gestor Público 5):

a) Emater – responsável pelo acompanhamento inicial, de adequação do produtor. Assim, concentra a maior parte do trabalho operacional do Certifica Minas.

b) IMA – responsável por fazer uma pré-auditoria, depois do trabalho realizado pela Emater. Após a pré-auditoria, o IMA informa ao auditor com reconhecimento internacional (cadastrado pela SEAPA) que averigua se o certificado pode ser emitido para determinada propriedade.

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Uma das grandes propostas do Certifica Minas é o baixo custo para certificação, se comparado aos demais certificados internacionais, como Utz Kapeh e Rain Forest. Nesse sentido, pode ser considerado um programa de inclusão dos pequenos cafeicultores no mercado de produtos certificados. O único custo para o produtor é a visita dos auditores, que equivale ao valor de uma a duas sacas de café.

O preço que o agricultor vai pagar vai ser menos que uma saca de café e podendo chegar, dependendo do tamanho do grupo, até a R$ 60,00 (...) Outras certificadoras sai caro para os agricultores (....) a nossa certificação é diferenciada por ser de forma grupal. Os grupos são acompanhados pela Emater e, ao final, o valor da certificação é rateado. Então isso cai muito o preço e possibilita que todos tenham acesso. (Gestor Público 4)

O mercado do café é típico em relação à quantidade de alternativas de certificação existentes, com escopos e objetivos similares, mas o mesmo foco primário de diferenciação do produto. A iniciativa do governo de Minas Gerais de criar um certificado de protocolo misto no âmbito de uma política pública de acesso ao pequeno produtor no mercado de cafés certificados pode não ter um resultado esperado, em termos mercadológicos. Qual a aceitabilidade, pelo mercado externo, de um certificado com padrões similares aos já existentes? O mercado se interessará em consumir este produto diferenciado?

Nós estamos trabalhando com um protocolo mineiro de certificação, e já existem vários no mundo (Utz Kapeh, etc). Qual o perigo desta iniciativa? É um protocolo misto, atende alguns requisitos de Utz Kapeh, de mercado justo. Pode acontecer que este protocolo não ter boa aceitação no mercado externo, porque ninguém criou este protocolo e apresentou

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para o importador de café. Precisa trabalhar esta questão, mostrar este protocolo de certificação para o mercado comprador de café e ver qual será a aceitabilidade. (Gestor Público 2)

Pelo conhecimento que a gente tem do Certifica Minas, vai ser mais uma certificação. Com relação às leis trabalhistas, questão ambiental, será como as outras certificações internacionais. (Gestor Privado 2)

Do Certicafé ao Certifica Minas se passou mais de uma década, três mandatos, dois governadores, três PPAGs. O que fica evidente com o desenrolar da conjuntura política é uma falta de continuidade das ações públicas em cada mandato. É o que ser observa com a mudança de foco das políticas públicas relacionadas à cafeicultura: o Certicafé focou a certificação de origem; o Agrominas na melhoria da infra-estrutura da cadeia do café; já o Certifica Minas objetiva a certificação de “boas práticas de produção” envolvendo aspectos sociais e ambientais.