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Certificados de Recebíveis do Agronegócio

4. ELEMENTOS DA SECURITIZAÇÃO E SEUS RISCOS INTRÍNSECOS

4.5. Títulos e seus respectivos créditos-lastro

4.5.3. Certificados de Recebíveis do Agronegócio

Os certificados de recebíveis do agronegócio têm como objeto a securitização de direitos creditórios do agronegócio, com colocação nos mercados financeiros e de capitais.246

Conforme definido no Art. 36 da Lei 11.076, o certificado de recebíveis do agronegócio – CRA é título de crédito nominativo, de livre negociação, representativo de promessa de pagamento em dinheiro e constitui título executivo extrajudicial.

Destaca-se que a emissão de referido título é exclusiva das companhias securitizadoras de direitos creditórios do agronegócio.

Quanto às garantias para os certificados de recebíveis do agronegócio, frisa-se que: “referidos títulos conferem direito de penhor sobre os direitos creditórios a ele vinculados,

245 DOWNES, John e GOODMAN, Jordan Elliot. Dicionário de Termos Financeiro e de Investimento, 3ª edição;

tradução, Ana Rocha Tradutores Associados, p. 310.

246 BURANELLO, Renato. Novos títulos para Financiamento do Agronegócio. In: Revista de Direito Mercantil

independentemente de outra convenção que poderá dispor sobre garantias adicionais, reais ou pessoais, livremente negociadas”247

.

Questão relevante do ponto de vista jurídico sobre os certificados de recebíveis do agronegócio – CRA consta de comunicado divulgado pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM), por meio do qual manifesta que em reunião do colegiado realizada em 18 de novembro de 2008248, referido colegiado decidiu por comunicar ao mercado que utilizará, para a análise de pedidos de registro de ofertas públicas de distribuição de certificado de recebíveis do agronegócio – CRA e companhias securitizadoras emissoras de CRA, a regulamentação aplicável ao registro de ofertas e emissores de certificados de recebíveis imobiliários – CRI, por entender que possuem natureza jurídica semelhante à do CRA, embora sejam vinculados financiamentos de atividades distintas.

Nesse sentido, considerando que referidos certificados possuem natureza jurídica semelhante, embora estejam vinculados a financiamentos de atividades econômicas distintas, referido comunicado traz de forma bastante evidente quais são os direitos creditórios que servem de lastro para a emissão de CRA, conforme segue:

“O CRA é necessariamente vinculado a direitos creditórios originários de

negócios realizados entre produtores rurais, ou suas cooperativas, e terceiros, inclusive financiamentos ou empréstimos, relacionados com a produção, comercialização, beneficiamento ou industrialização de produtos ou insumos agropecuários ou de máquinas e implementos utilizados na atividade agropecuária.”249

Para finalizar esse item, é importante trazer recente MEMO/SRE/GER- 1/Nº45/2013250, por meio do qual é possível verificar em uma estrutura prática submetida à análise da Comissão de Valores Mobiliários em que se demonstra em bases legais, todos os títulos que poderão servir de lastro para um CRA, conforme segue:

247 Ibidem.

248 “REGULAMENTAÇÃO DO CRA – CERTIFICADO DE RECEBÍVEIS DO AGRONEGÓCIO –

MEMO/SDM/Nº 30/2008 - Reg. nº 6289/08 - Relator: SDM - O colegiado aprovou proposta da Superintendência de Desenvolvimento de Mercado – SDM de edição de comunicado ao mercado informando que a CVM utilizará, para a análise de pedidos de registro de ofertas públicas de distribuição de certificado de recebíveis do agronegócio – CRA e de companhias securitizadoras emissoras de CRA, a regulamentação aplicável ao registro de ofertas e emissores de certificados de recebíveis imobiliários - CRI.”

249 Disponível em: http://www.cvm.gov.br/port/infos/Comunicado%20CRA.asp 250 Disponível em: http://www.cvm.gov.br/port/descol/respdecis.asp?File=8782-0.HTM

“1.1 A Lei 8.929/94 (“Lei 8.929”) instituiu as Cédulas de Produto Rural (“CPR” ou “CPR Físicas”), que são títulos representativos de promessa de entrega de produtos rurais, emitidas por produtor rural e suas associações, inclusive cooperativas, e podendo contar ou não com garantia cedularmente constituída.

1.2 A Lei 8.929/94 instituiu ainda as Cédulas de Produto Rural com liquidação financeira (“CPR Financeiras”), que são CPR que não preveem a entrega física do produto, apenas a liquidação com o pagamento do valor correspondente à multiplicação da quantidade especificada pelo preço ou índice de preços adotado no título.

1.3 Por sua vez, a Lei nº 11.076/04 (“Lei 11.076”) estabeleceu diversos títulos com vistas ao financiamento da cadeia de agronegócios, entre os quais encontram-se os CRA e os Certificados de Direitos Creditórios do Agronegócio (“CDCA”).”

Quanto às securitizações que envolvem títulos representativos da dívida rural, o principal ponto controvertido, e na verdade pacificado pela jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça251 está na executividade dos títulos representativos de tais créditos e a prerrogativa legal em se alongar dívidas dessa natureza. Nesse sentido, sendo o título securitizado, fazendo ou não parte de um novo negócio jurídico, no caso a securitização, detectados os elementos identificados na Lei 9.138/95, referido tribunal é praticamente unânime em reconhecer o direito de alongar a dívida.

Para fins de contextualização do problema, a Lei 9.138/95 tem como fundamento a subvenção econômica da atividade rural e visava o financiamento dessa atividade, trazendo a prerrogativa de alongamento de dívidas rurais constituídas por entidades públicas e estabelecimentos de crédito particulares em favor dos produtores ou cooperativas rurais. Ocorre que os créditos securitizados não estão mais no âmbito das entidades públicas e estabelecimentos de crédito particulares de crédito. Mesmo assim, o judiciário vem reconhecendo a manutenção da prerrogativa de alongamento em créditos securitizados. O resultado prático disso é que esse alongamento poderá levar a securitizadora de crédito a descumprir os prazos de devolução de recursos captados por meio de emissões de títulos securitizados, caso não tenha considerado tal hipótese e venha incorrer em uma situação dessa natureza.

Ponto de atenção que resta mencionar em relação ao adquirente de um título originado de operação de securitização nessas condições, é que tempo para se ressarcir do valor investido poderá ser maior, se o devedor do título originador da securitização levar a discussão relativa à exequibilidade da obrigação ao Judiciário.