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Formas de distribuição

4. ELEMENTOS DA SECURITIZAÇÃO E SEUS RISCOS INTRÍNSECOS

4.8. Formas de distribuição

Conforme apresentado em nota anteriormente, a distribuição pública de valores mobiliários requer que seu emissor seja constituído na forma de sociedade anônima, salvo situações específicas294.

Ainda no âmbito da regulamentação da Comissão de Valores Mobiliários é possível identificar dois normativos que regulamentam a oferta pública de valores mobiliários. São estas: (i) a Instrução CVM 400/03, que apresenta todo o rito sobre as ofertas públicas de distribuição de valores mobiliários, nos mercados primário ou secundário; e (ii) a Instrução CVM 476/09 que trata das ofertas públicas de valores mobiliários distribuídas com esforços restritos e a negociação desses valores mobiliários nos mercados regulamentados.

Pela sistemática adotada pela Instrução CVM 400/03, a totalidade das ofertas públicas de distribuição de valores mobiliários nos mercados primário e secundário, no território brasileiro, dirigida a pessoas naturais, jurídicas, fundo ou universalidade de direitos, residentes, domiciliados ou constituídos no Brasil, deverá ser submetida previamente ao registro na Comissão de Valores Mobiliários – CVM295.

Tal procedimento tem como finalidade, conforme previsto na própria norma, assegurar a proteção dos interesses do público investidor e do mercado em geral, buscando garantir tratamento equitativo a todos os ofertados, por meio de ampla, transparente e adequada divulgação de informações sobre a oferta296.

294 Cf. Instrução CVM 480/09, somente podem ser emitidos valores mobiliários por empresas não constituídas na

forma de sociedade anônima, nas situações especificada em referida norma.

295Cf. Instrução CVM 400/03, Art. 2º. 296Cf. Instrução CVM 400/03, Art. 1º

Verifica-se que referida norma traz o tratamento de como deverão ser as ofertas públicas por meio da procura de subscritores ou adquirentes indeterminados para os valores mobiliários.

A diferença de aplicação entre o procedimento adotado pela Instrução CVM 400/03 ou Instrução CVM 476/09 está justamente na limitação da abrangência da oferta.

As ofertas públicas distribuídas com esforços restritos deverão ser destinadas exclusivamente a investidores qualificados e intermediadas por integrantes do sistema de distribuição de valores mobiliários297. Estarão limitadas a um número de “ofertados” de no máximo 50 (cinquenta) investidores qualificados, para que no máximo 20 (vinte) investidores qualificados adquiram referidos valores298.

Outro fator importante a ser destacado é que a Instrução CVM 476/09 determina um rol taxativo de ativos que poderão ser ofertados por meio desse mecanismo, dentre os quais se incluem debêntures não conversíveis ou não permutáveis por ações, os quais são títulos emitidos pelas securitizadoras de créditos financeiros, conforme já abordado; certificados de recebíveis imobiliários ou do agronegócio, também já tratados; e ainda, cotas de fundos de investimento fechados, nas quais estão incluídas as cotas de fundos de investimento em direitos creditórios, sejam estes padronizados ou não padronizados299.

Vale dizer que para cada uma das formas de oferta, seja esta pública (Instrução CVM 400/03) ou pública com esforços restritos (Instrução CVM 476/09), existirão diversos procedimentos que deverão ser seguidos, conforme previsto em cada uma das normas correspondentes.

Contudo, observa-se, que não são tratadas aqui: (i) as ofertas privadas ou “private placement” por não serem reconhecidas pela Comissão de Valores Mobiliários300

; e (ii) títulos cambiais de instituição financeira, que conforme já tratado não se submetem ao regime da Lei 6.385/76. 297 Cf. Instrução CVM, 476/09, Art. 2º 298 Cf. Instrução CVM, 476/09, Art. 3º

299Outros ativos permitidos por meio dos procedimentos descritos na Instrução CVM 476/09, confira referida

instrução.

300

Discussões sobre este tema surgirão com relação ao limite do que é uma oferta com esforços restritos ou do que será uma oferta privada, preferimos não adentrar a essa discussão nesse trabalho pelo nível a que se estenderá essa discussão.

4.8.1. Mercados de negociação dos títulos securitizados

Considerando o fato de que um dos principais objetivos da securitização é trazer ao mercado títulos ou créditos que de alguma forma estavam fora deste, ou seja, transformá-los em um título ou valor mobiliário mais facilmente negociável, passa-se a fazer breves considerações sobre este “ambiente” em que são negociados títulos de crédito e títulos e valores mobiliários.

A principal questão que se verifica na correlação entre esse ambiente e a securitização, estaria na forma em que tais ativos são negociados.

Embora se pretenda no Brasil criar um mercado mais transparente de renda fixa, no qual se incluiriam os ativos-lastro de operações de securitização, os ativos originados em operações de securitização ainda são negociados em mercados de balcão seja este organizado ou não.

Nesses ambientes de negociação os papéis são negociados conforme o preço estabelecido entre as partes e somente levados a registro e, eventualmente, a liquidação em tais mercados por obrigação legal301. No entanto, do ponto de vista prático, embora em alguns momentos se tenha abordado questões sobre a negociação no mercado secundário de ativos securitizados, isso ainda não existe de forma efetiva em um ambiente de formação de preços transparente. Aliás, isso valeria tanto para os ativos-lastro quanto para os ativos emitidos posteriormente ao processo de securitização.

Do ponto de vista teórico, isso gera um risco potencial e jurídico, principalmente quando os adquirentes desses ativos ficam expostos à utilização de oportunidades indevidas de seus administradores de recursos302.

O que se espera, é que um mercado mais transparente de títulos poderia impulsionar a utilização do mecanismo da securitização.

301 FARHI, Maryse e SINTRA, Marcos Antônio Macedo. A crise financeira e o Global Shadow Banking

System, p. 36

302 Vale destacar que conforme o desvio na atuação desses administradores de recursos, Cf. Instrução CVM 8/79,