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Fonte: http://www.cnj.jus.br/noticias/cnj/84034-trafico-de- drogas-e-o-crime-mais-cometido-pelos-menores-

que não diz do estar “em desenvolvimento”, diz de um modo de ser – de ser menor e infrator.

Para concluir este subcapítulo, resgato que embora esteja falando de “privação de liberdade”, a garantia de direitos fundamentais não pode estar em suspenso. Por isso deve ser oferecida dentro da unidade a escolarização, profissionalização, assistência e atenção integral à saúde. Outros aspectos referentes à internação – como espaços físicos, proposta socioeducativa, trabalhadores/funcionários, serão abordados no próximo capítulo.

3.5. O QUE VEM PRIMEIRO: JOVENS

Embora tenha anunciado anteriormente esse subcapítulo, e, ainda, entregue ao leitor no início do capítulo apontamentos que justificam minha escolha por nomear, substantivar, indicar, tratar, referir os sujeitos deste estudo como “jovens” e “juventudes”, diante do apresentado sobre as normativas quanto a esses sujeitos, percebendo a construção de diversos nomes nessas diretrizes, torna-se ainda mais importante reforçar minha escolha, a qual não se trata de apenas utilizar mais uma forma de escrita, trazendo mais palavra, uma indicação, um nome, um rótulo. Mas por entender junto a Gorczevski (2007) que “na atualidade, o termo ‘juventude’ vem assumindo um vasto leque conceitual e operacional, expressando a urgência e complexidade envolvida na questão” (p.81).

Dentro dessa complexidade e urgência em que me coloco a pensar sobre os contornos possíveis de trazer nesse momento. Além de toda a multiplicidade já apontada, trago as considerações de Kammsetzer (2014), a qual apoiada nos estudos de Velho (2006) aponta:

Coloquemos juventude no plural, considerando-a categoria complexa e heterogênea, não universal, rompendo com a perspectiva etnocêntrica proposta pela mídia e por estudos que se pretendem generalizáveis independente dos contextos de existência dos jovens e que acabam por produzir uma associação entre cultura jovem e mercado. (KAMMSETZER, p.49, 2014)

O que vem primeiro são os jovens, as juventudes. Vale apontar que nas normativas e diretrizes trazidas para este estudo, a questão das juventudes não ganha visibilidade, não no formato em que as juventudes se mostram – no sentido plural, mas empreendendo as singularidades, as performidades (PAIS, 2006).

Quando a questão da definição aparece em certas diretrizes e instituições, vem para indicar formas, limites, apontando um modo “reducionista” do que é a juventude, tal qual Gorczevski (2007) indica após trazer uma “síntese” quanto aos modos de instituições definem a juventude:

Para a Organização das Nações Unidas (ONU) os jovens são definidos como pessoas em idades de 15 a 24 anos. Já para a Organização Internacional da Juventude – (OIJ) a intenção é de ampliação até 29 anos. Outra importante referência é a Organização Mundial de Saúde (OMS) que aponta, por exemplo, duas fases de constituição da adolescência: uma primeira que vai dos 10 aos 16 anos, e uma segunda, dos 16 aos 20 anos (GORCZEVSKI, 2007, p.82).

Na companhia da autora, compreendo que é preciso desconsiderar classificações etárias49, não havendo uma definição que envolverá todas as

dimensões da(s) juventude(s) (GORCZEVSKI, 2007).

Ao apontar “o que vem primeiro” é trazer exatamente a compreensão da infinidade das juventudes trazendo esse olhar para os sujeitos deste estudo: jovens em privação daquilo que mais os torna singulares – a liberdade. Mas a ausência dela, digo, ela estando em suspenso, não pode ser motivo para que o olhar aos sujeitos não seja dentro de toda a multiplicidade a qual possuem (não está em suspenso! Muito embora pareça estar).

No entanto, os sujeitos deste estudo (jovens!), são ditos pela mídia, normativas e instituições como infratores, criminosos, delinquentes e tantos outros termos os quais vimos no decorrer do capítulo (e ainda aparecerão outros, imagino), transformando-os em perigo (e perigosos).

[...] a população juvenil hoje é considerada o grande motor da economia de mercado e padrão universal de estética, ao mesmo tempo em que os jovens são vistos cada vez mais como uma ameaça à ordem pública. Eles,

49 Lembro que ainda há a Política Nacional da Juventudade: Diretrizes e Perspectivas (CNJ, 2006) em

que utiliza a categorização do “Jovem” da seguinte forma: os sujeitos da faixa etária de 15 a 17 anos, são denominados como “adolescentes-jovens”; jovens de 18 a 24 anos, como jovens-jovens; e jovens da faixa dos 25 a 29 anos como jovens-adultos. Opto por manter a reflexão a partir dos referidos autores, a fim de não trazer um olhar que possa limitar os sujeitos público-alvo deste estudo, mas ampliar, seja em suas idades ou perfomidades, singularidades, vidas.

simultaneamente, ditam a moda e movimentam milhões de dólares em bens de consumo, também figuram excessivamente nas editorias policiais, como delinquentes, infratores, homicidas e arruaceiros, ou ainda, como vitimas vivendo em situação de risco e vulnerabilidade social (GORCZEVSKI, 2007, p.84, grifos meus).

Nenhum desses adjetivos que acabam vindo colados a outros termos também “reducionistas” como menores (neste a redução é literal!) e adolescentes (explicada no início deste capítulo), poderia definir qualquer um dos (meus) jovens. Por isso minha insistência em usar a preposição “em”: jovem em medida socioeducativa, jovem

em conflito com a lei, jovem em cumprimento de medida... pois essa pre[posição]

exprime relação de tempo, os jovens não são um determinado aspecto (ou coisa mesmo!), eles estão em determinado tempo, construí[indo], per[formando], seus modos de ser e estar nos diversos lugares que habitam – inclusive nas unidades de medida socioeducativa de internação.

Apresento a seguir uma linha do tempo50, com os apontamentos trazidos no

decorrer deste capítulo, sendo um mapa cartográfico do caminho e movimento empreendidos nas e pelas normativas. Para acompanhar a construção, apresento-a por partes, ressalto que sua forma tem o objetivo de apresentar o movimento de uma linha do tempo, entendendo que ela não é fixa e embora ressalte pontos, momentos, nomes e até mesmo acontecimentos, são constituintes desta pesquisa, das intensidades e afectações encontradas por mim.

50 Produção da autora.

INFAMES

“A gente teve de se acostumar com aquilo. Às penas, que, com aquilo, a gente mesmo nunca se acostumou, em si, na verdade.” Guimarães Rosa