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27 SUMÁRIO

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO

O grande volume de informação produzido a partir do desenvolvimento científico e tecnológico do pós-guerra fez emergir uma nova ciência voltada à resolução de problemas oriundos dessa sobrecarga informacional. Áreas específicas como a documentação e a biblioteconomia que até então davam conta desta problemática impulsionaram e também foram transformadas pelo avanço da Ciência da Informação.

Porém, esta questão não é tranqüila e consensual quando se discute a origem e o desenvolvimento da Ciência da Informação a partir de distintos pesquisadores da área. Enquanto uma corrente interpreta o nascimento da Ciência da Informação exclusivamente a partir do crescimento vertiginoso da produção e do consumo de informação depois da 2ª Guerra Mundial (LE COADIC, 1996; PINHEIRO; LOUREIRO, 1995; SARACEVIC, 1996); outra reconhece o surgimento da Ciência da Informação como uma evolução das disciplinas de documentação e da biblioteconomia (SHERA, 1980; SMIT; 2000). Porém, ambas reconhecem a interdisciplinaridade da Ciência da Informação e sua relação com estas duas disciplinas.

A compreensão do advento da Ciência da Informação no pós-guerra (1939-1945) tem como marco histórico o artigo publicado por Vannevar Bush (1945). Nele, o autor identifica o excesso de informação causado pelo desenvolvimento da produção científica e tecnológica daquele período, classificando- o de “explosão informacional”, e propõe a adoção de tecnologias de processamento de dados para solucionar os problemas frente a esse excesso.

Adeptos a esta concepção, Pinheiro e Loureiro (1995) acreditam no surgimento deste campo a partir do binômio “ciência-tecnologia” e afirmam que ele foi prenunciado em 1948, com a publicação de Cybernetics or control and communication

in the animal and the machine, de Norbert Weiner, e em 1949, com The mathematical theory of communication, de Claude Shannon e Warren Weaver. Também são claros ao afirmar que a Ciência da Informação é uma “área do conhecimento autônoma e com seu próprio estatuto científico e cuja natureza interdisciplinar é evidenciada com distintos campos” (PINHEIRO; LOUREIRO, 1995, p.43).

Da mesma forma, Le Coadic (1996) condiciona o surgimento da Ciência da Informação ao advento das novas tecnologias de informação e à crescente necessidade de informação dos setores científico, técnico e industrial, sem falar no grande público. O autor reconhece a biblioteconomia, a museologia, a documentação e o jornalismo como atuantes no campo da Ciência da Informação, mas critica o fato destas áreas atribuírem “um interesse particularmente grande aos suportes da informação e não à própria informação” (LE COADIC, 1996, p. 14). Um dos autores que também se destaca nesta corrente é Saracevic (1996), para quem a Ciência da Informação está inexoravelmente ligada à tecnologia da informação; é, por natureza, interdisciplinar; e uma participante ativa e deliberada na evolução da sociedade da informação. Neste sentido, afirma que este campo “tem um importante papel a desempenhar por sua forte dimensão social e humana, que ultrapassa a tecnologia” (SARACEVIC, 1996, p. 42).

Já a segunda corrente está ancorada no reconhecimento de arquivos, museus e bibliotecas enquanto espaço e instrumento de controle e acesso universal ao conhecimento, os quais evoluíram e foram decisivos para o posterior surgimento da Ciência da Informação (OTLET, 1937 apud ALMEIDA, 2005). Para Shera (1980), a ciência da informação não se opõe à biblioteconomia, e vice-versa, pois ambas as disciplinas e seus profissionais são aliados naturais.

Embora haja divergências com relação à origem da Ciência da Informação, o fato é que somente a partir da década de 60 foram elaborados os primeiros conceitos e definições que permitiram melhor demarcá-la por meio de eventos os quais passaram a organizá-la como um campo de pesquisa, ensino e prática profissional. Em 1962, uma conferência no Georgia Institute of Technology definiria o termo que nasceu formalmente como:

A ciência que investiga as propriedades e o comportamento da informação, as forças que governam o fluxo da informação e os meios de processamento da informação para acessibilidade e usabilidade ótimas. Os processos incluem a geração, disseminação, coleta, organização, armazenamento, recuperação, interpretação e uso da informação. (SHERA, 1977 apud BRAGA, 1995).

Já em 1966, a publicação do trabalho “Informática”, de Mikhailov, Chernyl e Giliarewskii, também apresentou importantes discussões sobre a Ciência da Informação a partir do que eles entendiam como informática (PINHEIRO; LOUREIRO, 1995). Um ano depois, na conferência da Special Libraries Association, Rees e Saracevic (1967, apud SHERA, 1980, p. 98) a definiram como “um ramo de pesquisa que toma sua substância, seus métodos e suas técnicas de diversas disciplinas para chegar à compreensão das propriedades, comportamento e circulação da informação”. Resumidamente, referiam-se ao “estudo dos fenômenos da comunicação e das propriedades dos sistemas de comunicação” (SHERA, 1980, p. 98). Outro marco importante ocorreu em 1968, com a publicação do artigo Ciência da Informação: o que é?. Nele, Borko (1968) aborda a Ciência da Informação enquanto uma ciência pura e, ao mesmo tempo, aplicada, a qual desenvolve produtos e serviços:

Ciência da Informação é aquela disciplina que investiga as propriedades e o comportamento da informação, as forças que governam o fluxo de informação e os meios de processamento para acesso e uso otimizados. Ela diz respeito àquele corpo de conhecimento ligado à origem, coleta, organização, armazenagem, recuperação, interpretação, transmissão, transformação e utilização da informação. (BORKO, 1968 apud PINHEIRO; LOUREIRO, 1995).

Na mesma publicação, Borko (1968 apud PINHEIRO; LOUREIRO, 1995) afirma que, ao investigar as propriedades, o comportamento e o fluxo de informação, a Ciência da Informação

assume um caráter interdisciplinar, relacionando-se com outras áreas do conhecimento, entre elas a documentação e a biblioteconomia. Igualmente, na visão de Saracevic (1996) a interdisciplinaridade é justamente uma das principais características que constituem a existência e a evolução da Ciência da Informação, uma vez que este campo de estudo comporta problemas complexos os quais não podem ser resolvidos no âmbito de uma única disciplina. Estes problemas, segundo o pesquisador, estão relacionados à compreensão da informação e da comunicação e suas manifestações, ao comportamento informativo humano e aos problemas voltados a tornar mais acessível o crescente acervo de conhecimento, o que inclui a tecnologia.

Neste aspecto, Saracevic (1996) considera a biblioteconomia, a ciência da computação, a ciência cognitiva e a comunicação como os campos que se desenvolveram de forma mais significativa visando a solução destes problemas pela Ciência da Informação. Considerando os termos que evoluiu e seu enfoque contemporâneo, ele afirma:

A Ciência da Informação é um campo dedicado às questões científicas e à prática profissional voltadas para os problemas da efetiva comunicação do conhecimento e de seus registros entre os seres humanos, no contexto social, institucional ou individual do uso e das necessidades de informação. No tratamento destas questões são consideradas de particular interesse as vantagens das modernas tecnologias informacionais. (SARACEVIC, 1996, p. 47).

A relação com outras disciplinas também é abordada por González de Gómez (2000), para quem a interdisciplinaridade da Ciência da Informação ocorre, por um lado, devido à referência de seu objeto a todos os outros modos de produção de saberes e, por outro, em função da natureza estratificada e poli- epistemológica dos fenômenos ou processos de comunicação. Para a autora, a Ciência da Informação,

Surge no horizonte de transformações das sociedades contemporâneas que passaram a considerar o conhecimento, a comunicação, os sistemas de significado e os usos da linguagem como objetos de pesquisa científica e domínios de intervenção tecnológica. (GONZÁLEZ DE GOMES, 2000, s.n).

Gonzáles de Gomes (2000) também coloca que os desafios na Sociedade da Informação são o de sustentar processos intensivos em inovação informacional e promover ações inclusivas de cidadania informacional e identificação cultural, sendo que o conhecimento, a comunicação, os sistemas de significado e o uso de linguagem são vistos pela autora como os principais objetivos de pesquisa da Ciência da Informação na atualidade.

Talvez o conceito de Ciência da Informação utilizado em 1962 se mantenha ainda atual. Porém, os problemas relacionados à informação já não podem ser observados sob o mesmo aspecto após as várias transformações tecnológicas e sociais das últimas décadas. A emergência da Sociedade da Informação, afirma Le Coadic (1996), demanda uma ciência que estude as propriedades da informação e os processos de sua construção, comunicação e uso. Para o autor, a Ciência da Informação neste século XXI deve ser tratada enquanto uma ciência social, uma vez que as mudanças culturais, econômicas e tecnológicas das últimas décadas a fizeram diferenciar-se da biblioteconomia e disciplinas afins, tendo como objeto “a preocupação de esclarecer um problema social concreto, o da informação, voltada para o ser social que procura a informação” (LE COADIC, 1996, p. 21). Diante disso, o autor compreende a Ciência da Informação como o estudo das propriedades gerais da informação no que tange sua natureza, gênese e efeitos, principalmente com relação à análise dos processos de construção, comunicação e uso da informação; e à concepção dos produtos e sistemas que viabilizam estes processos (LE COADIC, 1996).

Neste contexto, Saracevic (1996) também apresenta uma contribuição importante acerca dos desafios da Ciência da Informação frente à crescente condicionante tecnológica. O autor

observa esta realidade com preocupação, e alerta que os problemas da informação não estão diminuindo, mas sim estão sendo transformados. Ele chama atenção para o fato das aplicações tecnológicas muitas vezes não permitirem o acesso à informação e à comunicação que estocam conhecimento, e por isso defende o equilíbrio entre os extremos humano e tecnológico pela Ciência da Informação. Na chamada Ecologia Informacional, Saracevic (1996) reforça a importância do equilíbrio ecológico da informação, de modo a reduzir o isolamento e os conflitos entre os vários membros da cadeia informacional e assim propiciar maior grau de compatibilidade e interação entre eles. Por isso, ostenta que a principal necessidade da Ciência da Informação é enfocar os problemas em termos humanos, e não tecnológicos, caminhando para uma melhor definição e reestruturação (SARACEVIC, 1996).

Essa reestruturação, inclusive, encontra respaldo em Smit e Barreto (2002), para quem a Ciência da Informação deste início de Século XXI redefine o conteúdo e a prioridade de seus objetivos continuamente, devido à sua interação com a tecnologia intensa, com elevado teor de inovação e em contínua mutação. Frente a esse novo contexto, o campo da Ciência da Informação pode então ser compreendido conforme a redefinição feita por Barreto (2007):

A Ciência da Informação se preocupa e se ocupa com os princípios teóricos e as práticas da criação, organização e distribuição da informação. Estuda os seus fluxos, como uma passagem feita por uma variedade de formas e através de uma variedade de canais, caminho que se inicia na sua criação e vai até a sua utilização. A Ciência da Informação mostra a sua essência quando uma linguagem no pensamento de um emissor atinge uma linguagem de inscrição pública colocada em uma estrutura passível de apropriação por receptores e com destino final para gerar conhecimento (BARRETO, 2007, s.n.).