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Ciberativismo Anonymous nas redes sociais da internet

2 PERCURSOS DE EXPLORAÇÃO DO OBJETO DE PESQUISA: TEMA,

2.2 Ciberativismo Anonymous nas redes sociais da internet

(...) Um scholar alemão argumentou recentemente que Lutero nunca pregou suas teses na porta da igreja. Se o fez ou não, o certo é que circularam rapidamente; fez cópias delas e enviou-as a amigos, que recopiaram e as passaram adiante. Pouco depois, Lutero teve a constrangedora surpresa de as receber de volta do sul da Alemanha... impressas. Esse pequeno fato é significativo. A esperança de reforma de Lutero poderia ter soçobrado como tantas outras dos duzentos anos anteriores, se não tivesse ocorrido a invenção da imprensa. O tipo móvel de Gutemberg, já em uso há cerca de quarenta anos, foi o instrumento físico que dilacerou o Ocidente. (...). Opúsculos e panfletos podiam ser agora produzidos rapidamente, com exatidão, em quantidade e, comparados com as cópias manuscritas, muito mais baratos.31

A inserção desta epígrafe sobre a Reforma Protestante de Martin Lutero pode parecer atemporal ou descontextualizada. Contudo, um fato aproxima as condições de

31

BARZUN, Jacques. Da alvorada à decadência: a história da cultura ocidental de 1500 aos nossos dias. Rio de Janeiro: Campus, 2002, p. 23.

realização da Revolução produzida por Martin Lutero das mobilizações em massa deste início do século XXI: ambas tiveram como suporte fundamental a disponibilidade de tecnologias de comunicação. De acordo com Jacques Barzun, não foi a pregação de suas teses na porta Igreja, muito menos porque estas tratassem de novas ideias, pois há décadas já circulavam pelo imaginário popular. Assim, para o autor, o sucesso revolucionário da ação de Lutero tornou-se possível porque, naquele momento, havia a disponibilidade de dois recursos tecnológicos: o papel e a impressora.

Se há 15 ou 20 anos, afirmar que a experiência humana entrava numa nova fase ― com as tecnologias da informação e comunicação, alterando a noção de espaço e tempo da modernidade, impondo novas formas de relações sociais e se viveria numa “sociedade em rede” ―, já era uma certeza, contudo, de que a compreensão da vida cotidiana era aguardar o porvir. Dos muitos “atores” tecnológicos que se firmaram nas últimas duas décadas, por certo o computador pessoal e a internet foram os que mais contribuíram para as novas formas de interação social, conformando o ciberespaço, afirmando-se na cibercultura.32

Se o computador pessoal e a internet, adventos da ciência, da experiência militar e da cultura libertaria,33 produziram alterações para cada um dos setores de sua origem, é da cultura libertária que nos ocupamos, não em sua forma “pura”, o anarquismo, senão do ciberativismo e sua forma de ação no ciberespaço, em defesa da liberdade, privacidade e neutralidade da rede.

A segunda geração da internet, a web 2.0, ao possibilitar a interação instantânea e a facilidade de criação de conteúdo online, possibilitou aos usuários comuns ações que antes, em grande parte, só eram possíveis aos peritos em tecnologias da computação, os hackerativistas, e estes, por seus princípios libertários, continuam a facilitar ações de ativistas “comuns”.

Se, em tão pouco tempo (20 anos), é possível falar em um antes e depois das ações ciberativistas, o ponto divisor seria o surgimento do Wikileaks, site criado por Julian Assange e outros ativistas com o objetivo de “vazar” informações confidenciais de governos, políticos e empresas, quando estas informações comprometem o equilíbrio de forças (já desiguais) entre a sociedade e os grupos de interesses.

Essas informações, ao se tornarem públicas, funcionam como “motor” para muitas ações de ciberativistas, que, por suas causas difusas, não se pode (de momento) com segurança, ainda que relativa, classificá-las no corpo teórico dos movimentos sociais, nem

32 LÉVY, Pierre. Cibercultura. São Paulo: Editora 34, 1999.

mesmo daqueles, que há vinte anos se diziam novos. De outra forma, se poderiam explicar as ações ciberativistas da Praça Tahir ou dos milhões que ocuparam as ruas no Junho de 2013 no Brasil.

O ciberativismo Anonymous situa-se nesse universo de renovações tecnológicas. Portanto, caracterizar a apropriação dos artefatos culturais produzidos pelo ativismo Anonymous, compreendendo as suas formas de uso em suas ações políticas, são os objetivos deste tópico. Selecionamos como espaços virtuais da ação ativista na internet os websites Facebook e Youtube, redes sociais que possibilitaram a expressão, a interação e a socialização mediada pelas tecnologias da comunicação (computadores, celulares). Confira-se abaixo um Quadro, que elaboramos com o número de usuários do Facebook no Brasil.34

Quadro 1 - Número de usuários do Facebook no Brasil (2008-2014).

Ano Número de Usuários

do Facebook no Brasil 2008 209 mil 2009 2,4 milhões 2010 8,8 milhões 2011 35 milhões 2012 65 milhões 2013 76 milhões 2014 89 milhões FONTE: Quadro elaborado pela autora.

Para fundamentar o uso metodológico dessas ferramentas utilizaremos as teorias sobre esses suportes da internet, bem como os modos de funcionamento, ao tempo que

34 Cf. Fontes dos dados coletados: WIKIPEDIA. Estatísticas do facebook em agosto de 2011. 2011. Disponível

em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Facebook#Estat.C3.ADsticas>. Acesso em: 20 mar. 2015; G1 GLOBO.

Número de usuários brasileiros no facebook cresce 298% em 2011. 5 jan. 2012. Disponível em:

<http://g1.globo.com/tecnologia/noticia/2012/01/numero-de-usuarios-brasileiros-no-facebook-cresce-298-em- 2011.html>. Acesso em: 20 mar. 2015; CIRIACO, Douglas. Brasil foi o país com maior número de novos

usuários do facebook em 2012. TEC MUNDO. 23 jan. 2013. Disponível em:

<http://www.tecmundo.com.br/facebook/35709-brasil-foi-o-pais-com-maior-numero-de-novos-usuarios-do- facebook-em-2012.htm>. Acesso em: 20 mar. 2015; G1 GLOBO. Brasil é o 2º país com mais usuários que

entram diariamente no facebook. 21 set. 2013. Disponível em:

<http://g1.globo.com/tecnologia/noticia/2013/09/brasil-e-o-2-pais-com-mais-usuarios-que-entram-diariamente- no-facebook.html>. Acesso em: 20 mar. 2015; Facebook tem 1,23 bilhão de usuários mundiais; 61,2 milhões

são do Brasil. UOL Notícias. 03 fev. 2014. Disponível em:

<http://tecnologia.uol.com.br/noticias/afp/2014/02/03/facebook-em-numeros.htm>. Acesso em: 20 mar. 2015; FOLHA UOL. Facebook supera estimativa de receita de analistas; usuários já são 1,4 bi. 28 jan. 2015. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/tec/2015/01/1581963-facebook-supera-estimativa-de-receita-de- analistas-usuarios-ja-sao-14-bi.shtml>. Acesso em: 20 mar. 2015.

possibilita a interação e comunicação entre os atores sociais, deixando “rastros que permitem o reconhecimento dos padrões de interações e a visualização de suas redes sociais”.35

O tempo de vida dos websites é dependente de três elementos principais: o suporte físico (computador, celular e outros), a tecnologia (digital) e as inovações dos recursos que permitam a utilização dos sentidos humanos na comunicação (ver, ouvir, sentir, pegar). O olfato e o paladar ainda são desafios ― considerando que as mudanças, renovações e extinções de websites são muitos velozes, de modo que as novas gerações não saberão como funcionavam, por exemplo, as interações sociais nos canais do IRC, Orkut e Myspace ― apresentaremos aspectos da estrutura de funcionamento de nossas fontes de pesquisas, Facebook e Youtube.

O conceito de rede, no campo das ciências matemáticas e físicas, de onde se originou, é definido como um conjunto de nós conectados por arestas, cuja estrutura de inter- relação é horizontal, sem hierarquia, flexível e auto-organizável.36

Por sua vez, rede social compreende uma estrutura de grupo, composto de atores sociais e conexões. Raquel Recuero sintetizou diversas definições de “rede social”, resumindo-a como uma metáfora que se refere ao estudo da estrutura social, que observa os padrões de conexões de um grupo social, a partir das conexões estabelecidas entre diversos atores.37

De acordo com Raquel Recuero, as redes são metáforas estruturais e as redes sociais possuem estruturas, sendo que estão relacionadas com a “estrutura construída através dos laços sociais estabelecidos pelos atores”.38

O sistema que estrutura os sites de redes sociais da internet, de acordo com Boyd & Ellison, são aqueles que permitem “i) a construção de uma persona através de um perfil ou página pessoal; ii) a interação através de comentários; e iii) a exposição pública da rede social de cada ator.”39

Sob estes aspectos passaremos a caracterizar os websites que servem de espaço para o ciberativismo Anonymous.

Os elementos estruturais das redes sociais da internet referentes à construção de perfil ou de página apresentam especificidades, dependendo de suas finalidades. Entre as recomendações dirigidas aos ativistas Anonymous, está que as páginas do Facebook utilizadas para a prática ciberativista não revelem informações pessoais, oficiais.

35

RECUERO, Raquel. Redes sociais da internet. Porto Alegre: Sulina, 2009, p. 24. (Coleção Cibercultura)

36 COSTA, Larissa et. al (Coord.). Redes: uma introdução às dinâmicas da conectividade e da auto- organização. Brasília: WWW-Brasil, 2003, p. 73-74.

37 RECUERO, Raquel. 2009, op. cit., p. 22. 38

Id., ibid., p. 64.

O processo de criação de conta para acessar o Facebook ou Youtube exige o preenchimento dos dados pessoais (nome completo, idade) e um endereço de e-mail. No entanto, no momento da criação das contas, os websites não conferem a autenticidade das informações fornecidas, embora detectem palavras ou expressões que não correspondam a determinados padrões de nome próprio. Considerando que os atores sociais em estudo praticam uma forma de ativismo online que prima pelo anonimato, a maioria dos perfis pessoais utilizados pelos administradores de páginas no Facebook e no canal do Youtube não corresponde à identificação oficial dos atores socais, optando por pseudônimos, perfis criados especificamente para a prática do ativismo virtual.

Durante o desenvolvimento desta pesquisa, identificamos um dos perfis pioneiros40 da criação das páginas Anonymous no Brasil, o qual tratava de uma advertência que recebeu do Facebook com relação ao nome do seu perfil. Tratava-se do perfil de “José Augusto da Silva”, que apresentava a data de nascimento de 14 de abril de 1980 e se identificava com o gênero masculino. O perfil foi criado no dia 10 de junho de 2011, data que coincide com o início das atividades Anonymous no Brasil, o que indicava, além do material disponibilizado em sua página, que a mesma foi criada com a finalidade específica para o ativismo Anonymous. O ativista postou o seguinte comentário em sua página: “Q palhaçada!!! Agora eu virei João Augusto Silva, a porra do facebook não permitiu meu nome antigo ‘Vingança Anônima’, e me ameaçou: ‘se vc colocar um nome inválido novamente sua conta será desativada!!’ (...).”41

Em seus comentários, fica evidente que o mesmo tinha outros perfis com os pseudônimos “Vingador anônimo” e “AnonRevenger”.

No universo online, os perfis falsos são denominados perfis fakes. Porém, nos casos do ativismo Anonymous, em que uma de suas características fundamentais é o anonimato, a criação de perfis com pseudônimos é uma condição primordial para a realização de suas atividades. Nestas condições, quando nos referirmos aos perfis de ativistas Anonymous, não nos referiremos como fakes, mas como pseudônimos. Fake será o termo utilizado para os perfis pessoais ou páginas criados com os elementos de identificação Anonymous (máscaras, nomes, slogans) dissimulando o ativismo Anonymous, com objetivos divergentes da ideia Anonymous.

40 Nossa conclusão é de que o administrador do perfil João Augusto Silva tinha uma função de liderança na

criação das células Anonymous no Brasil, porque observamos que as datas das postagens de alguns documentos de criação da Anonymous foram compartilhadas em sua página pessoal, antes de disponibilizadas nas células Anonymous. Estes documentos referem-se a vídeo e livro que tratavam sobre o Plano Anonymous no Brasil, conforme trataremos no Capítulo 3.

41 SILVA, João Augusto. Comunicado Anonymous. 16 ago. 2011. Disponível em:

<https://www.facebook.com/notes/jo%C3%A3o-augusto-silva/comunicado-anonymous/14614974547918125> Acesso em: 25 jan. 2014.

Antes de prosseguirmos na análise dos perfis, destacaremos dois termos que permearão este trabalho, necessitando esclarecer os seus sentidos. Referir-nos-emos aos termos “página do Facebook” e “célula Anonymous”. Por página do Facebook utilizaremos no sentido técnico de espaço virtual do website Facebook, enquanto que o termo “célula Anonymous” será expresso com duas acepções: a primeira referente ao tipo de ativismo praticado nestas páginas e numa versão exterior à página na versão dialética apresentada pelos ativistas, que significa tanto uma parte que compõe o todo quanto uma parte que compõe uma unidade. Esta ideia dialética de célula é comumente representada em forma de slogan: “unidos como um e divididos por zero” ou em forma de imagem. Confira-se a ilustração abaixo:

Figura 12 - Lema Anonymous: unidos como um, dividido por zero.42

FONTE: ANONBR AÇÃO E INSTRUÇÃO (2011)

Essas distinções entre “Páginas do Facebook” e “células Anonymous do Facebook” fazem referência à mesma localização no espaço virtual. Porém, é na estrutura

42

ANONBRAÇÃOEINSTRUÇÃO. Jul. 2011. Disponível em: <http://anonbr- acao.blogspot.com.br/2011_07_01_archive.html>. Acesso em: 12 dez. 2014.

construída pelos laços sociais ciberativistas e nas demandas de anonimato dos atores sociais que se elabora mais uma metáfora para localizar um espaço virtual de compartilhamento de ideias, no caso, as chamadas células Anonymous.

Portanto, nos referimos aos espaços de ativismo Anonymous como células, a exemplo da Anonymous Ceará, Anonymous Brasil, Anonymous Curitiba, Anonymous FUEL, Anonymous Rio, Anonymous Paraná, Anonymous Minas, das quais caracterizaremos os perfis no tópico seguinte.43

Retomando as questões que envolvem a identificação oficial dos atores sociais para a prática do ciberativismo, referentes ao perfil pessoal ou das células Anonymous citaremos alguns dilemas das interações anônimas ocorridas em um site de ativismo Anonymous transnacional, trataremos do site http://youranonnews.tumblr.com/, porque este site teve importante função informativa no período de criação das células Anonymous no Brasil. O site é um canal alternativo de notícias. Em janeiro de 2014, quando o acessamos pela primeira vez, o mesmo estava fora do ar, mas, recentemente, apesar de inativo, foi novamente disponibilizado ao público.

A última postagem foi realizada em maio de 2014 e tratava de uma denúncia contra um dos ativistas Anonymous, membro da administração coletiva, identificado como JackalAnon. Nenhum dos demais ativistas que trabalhava no site o conhecia pessoalmente. Ainda assim, trabalharam juntos virtualmente por um longo período de tempo. A denúncia era referente ao sumiço de JackalAnon com valores em dinheiro que totalizavam mais de US$ 30.000,00 (trinta mil dólares). Este valor era parte dos US$ 54.000,00 (cinquenta e quatro mil dólares) que foi arrecadado numa campanha lançada em março de 2013 para criação de um site que apoiaria o jornalismo cidadão, ativistas e pessoas vítimas de regimes opressivos, veiculando notícias de ações diretas dos movimentos de protestos. O referido site foi

43 Referências das células Anonymous: ANONOPSBRAZIL. 2014. Disponível em:

<https://www.facebook.com/Anonopsbrazil/timeline>. Acesso em: 18 set. 2014; ANONYMOUSCEARA. 2014. Disponível em: <https://www.facebook.com/AnonymousCeara/> . Acesso em: 18 set. 2014;

ANONYMOUSRIO. 2014. Disponível em: <https://www.facebook.com/anonymousrio/timeline> Acesso em: 18 set. 2014;ANONYMOUSBRASIL. 2014. Disponível em:

<https://www.facebook.com/AnonBRNews/info/?tab=page_info>. Acesso em: 18 set. 2014;

ANONYMOUSFUEL. 2014. Disponível em: <https://www.facebook.com/AnonymousFUEL/?fref=ts>. Acesso em: 18 set. 2014. ANONYMOUSMINASGERAIS. 2014. Disponível em:

<https://www.facebook.com/4n0n.MG/?fref=ts>. Acesso em: 18 set. 2014; ANONYMOUSBR4SIL. 2014. Disponível em: <https://www.facebook.com/AnonymousBr4sil/timeline>. Acesso em: 18 set. 2014; CANAL NO YOUTUBE PLANOANONYMOUSBRASIL. 2014. Disponível em:

<https://www.youtube.com/channel/UC3JdxbWnkVWgn902SgyP3hg> . Acesso em: 18 set. 2014; Canal no Youtube. BRAZILANON. 2014. CANAL NO YOUTUBE. Disponível em:

<https://www.youtube.com/user/BrazilAnon> . Acesso em: 18 set. 2014; THEANONYMOUSBRAZIL. 2014. CANAL NO YOUTUBE Disponível em: <https://www.youtube.com/user/TheAnonymousbrazil>. Acesso em: 18 set. 2014.

denominado de Projeto YAN, que, segundo os denunciantes, JackalAnon se referia ao mesmo como o Projeto de um coletivo de iguais, sem patrões, nem trabalho alienado e muito menos hierarquia.

No final da matéria-denúncia, havia também uma carta dirigida ao administrador do Twitter pedindo que não atendesse o pedido de JackalAnon, que teria peticionado a custódia do site, após ter sido expulso por outro grupo de ativistas. Para atestar a legitimidade dos denunciantes, estes forneceram um endereço de e-mail e um contato telefônico. Observe- se que o contato telefônico é uma das formas de oferecer ligitimidade dos ativisvas Anonymous, mas não só pela comunicação telefônica, mas principalmente porque o uso deste aparelho tecnológico exige informações pessoais oficiais localizáveis (número de identificação e endereço).44 Portanto, a confiança nas relações ciberativistas anônimas estão expostas aos riscos deste tipo de interação, e isto não ocorre apenas quando envolve bens materiais, mas até mesmo a “boa fé” nas intenções e os interesses escusos.

O anonimato também é compreendido como um valor moral, social, que se contrapõe às vaidades e disputas por autoreconhecimento, confere o desabafo de um dos moderadores da célula Anonymous Rio:

Ah a vaidade... Ela é o maior mal da humanidade. É ela que nos faz competir ferozmente um com o outro, mesmo tendo o suficiente para dividir entre todos. Mas o prazer de ter mais, de ser superior, nos faz preferir competir. A vaidade é a marca de uma sociedade doente, falida, ferida, condenada. Foi a possibilidade de quebra-la que me fez apaixonar pelo ideal anonymous. Pois é, estou escrevendo em primeira pessoa, falo por mim, um dos administradores dessa página, antes da outra que foi roubada. Enquanto entendia o ideal do anonimato achei fascinante juntar o útil ao agradável: Aprender a abrir mão dos holofotes e a proteção a identidade. (...) A vaidade, meus queridos, precisa ser trabalhada. A coletividade não exclui a individualidade, antes a protege. Eu aprendi a me abster de mim quando o bem maior for mais importante, isso não é ser bondoso, é entender que o que te atinge, atinge a mim de alguma forma, afinal, a humanidade está interligada. (...).45 [grifo nosso]

As células Anonymous geralmente são administradas por mais de um administrador, que dividem atividades de produção de conteúdo, moderação, publicação, entre outras, dependendo do volume de atividades das células. Algumas células são formadas e se desenvolvem sem que os ativistas se conheçam, outras são criadas por pessoas que se conhecem, mas, no decorrer do tempo, os administradores, por questões voluntárias ou não, vão sendo substituídos, a ponto de depois nenhum dos ativistas da célula se conhecerem pessoalmente.

44 YOURANONEWS. Maio 2014. Disponível em: <http://youranonnews.tumblr.com/>. Acesso em: 12 jun.

2014.

45

ANONYMOUSRIO–FASE2. 8 nov. 2013. Disponível em:

Estas mudanças nas células implicam relações de confiança, uma vez que a estrutura do website do Facebook permite que os administradores tenham autonomia para realizar mudanças individualmente. Tal fato gera diversas consequências, que foram verificadas durante esta pesquisa, tais como invasões, apropriações, inatividade e até mesmo a extinção de células. A exemplo da célula Anonymous Rio, que foi “invadida e apropriada” e não se sabe ao certo se por iniciativa de algum dos membros ou por ações hackers. Diante da perda da célula, em novembro de 2013, os administradores criaram outra página, denominada Anonymous Rio - Fase II, no qual foi publicada uma nota de defesa contra os argumentos que justificavam o “roubo” da página. Confere abaixo:

Em primeiro lugar é curioso o acusador apontar características pessoais de possíveis administradores da página roubada, já que todos somos fakes. 100% da administração da página é fake. Fato é, por questões mais do que claras no sentido prático, todos os administradores escondem suas reais identidades. Além da questão de segurança tem a questão de não termos a mínima intenção e vontade de alimentar ego. O que é feito na página foi, e sempre será, visando a coletividade, então agentes pessoais não fazem o mínimo sentido.46

Observe-se no texto que os ativistas Anonymous se autodenominam fakes. Porém, conforme destacamos anteriormente, este termo não será utilizado para se refirir aos ativistas Anonymous, que optam pelo anonimato e que, para tanto, necessitam criar pseudônimos. O fato de a estrutura do Facebook exigir que, na criação de perfis, sejam informados dados “oficiais de identificação”, diferentemente do site 4chan, de onde se originou Anonymous, que permitia o anonimato, não significa que os perfis sejam falsos, mas pseudônimos, que se