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3 TECNOLOGIA E AS NOVAS CONCEPÇÕES PARA A EDUCAÇÃO

3.7 CIBERESPAÇO E CIBERCULTURA

A contemporaneidade envolta pelas transformações tecnodigitais, involuntariamente adere a terminologias como ciberespaço e cibercultura entre outras que definem a hodierna reestruturação da informação, ainda não decretada, prescrita ou acabada e que se depara em ininterrupta mutação. A sociedade complexifica-se cada vez mais, pois, os indivíduos encontram-se imersos em um mundo virtualizado e interconectados da informação, onde o conhecimento é disponibilizado em um fluxo contínuo através das redes (APARICI, 2012).

Como já dito em tópicos anteriores, o ciberespaço é um espaço oriundo da utilização das tecnologias da informação e comunicação, um espaço não real, integrador e que não possui limites do espaço físico, sendo atemporal. William Gibson utilizou este termo pela

primeira vez em seu livro Neuromancer28, para afirmar que num futuro não tão distante, a sociedade estaria repleta de aparatos tecnológicos e que a informação e comunicação seriam uma mercadoria necessária para a transformação da sociedade. Contudo, foi através de Perry Barlow29 (1996), na reunião da Organização Mundial do Comércio - OMC que a expressão foi consentânea como uma esfera de inter-relações entre os sujeitos através do texto “A Declaração de Independência do Ciberespaço”, texto este substancial para a interpelação de outros temas em escala global (APARICI, 2012).

Alguns trechos podem ser aqui mencionados como reflexões oriundas de 8 de Fevereiro de 1996, por Barlow em Davos, Switzerland. Assim, a Declaração da Independência do Ciberespaço30, diz:

Governos do Mundo Industrial, vós, cansados gigantes de carne e aço, venho do Ciberespaço, o novo lar da mente. Em nome do futuro, peço-vos no passado que nos deixeis em paz. [...] Não exerceis nenhuma soberania sobre o lugar onde nos reunimos. Não elegemos nenhum governo, nem pretendemos tê-lo [...] Declaro o espaço social global, que estamos construindo, independente por natureza das tiranias que estais procurando nos impor. Não tende nenhum direito moral de nos governar, nem possuís métodos para nos fazer cumprir vossa lei que devamos temer verdadeiramente. [...] O Ciberespaço não se encontra dentro de vossas fronteiras. [...] É um ato natural que cresce com ações coletivas. [...] Estamos criando um mundo em que todos podem entrar, sem privilégios ou preconceitos de raça, poder econômico, força militar ou lugar de nascimento. Estamos criando um mundo em que qualquer um, em qualquer lugar, pode expressar suas crenças, sem importar que sejam singulares, sem medo a ser coagido ao silêncio ou ao conformismo. [...] Aqui não há matéria. [...] Em nosso mundo, qualquer coisa que a mente possa criar pode ser reproduzido e distribuído infinitamente, sem nenhum custo. [...] Devemos declarar nossos “eus” virtuais imunes à vossa soberania, embora continuemos consentindo vosso poder sobre nossos corpos. Nós nos espalharemos por todo o planeta para que ninguém possa encarcerar nossos pensamentos. Criaremos a civilização da Mente no espaço cibernético (BARLOW, 1996) (grifos meus).

Esta declaração desvela que o ciberespaço necessita ser compreendido como um espaço habitado por bilhões de pessoas, o território e o universo de todos os internautas com acesso a sua virtualidade, convivendo individualmente ou não prescritos pelas suas próprias normatizações e informações.

Assim, Castells (1999) afirma que a informação é a zênite da nossa ordenação social contemporânea e a transição dessas informações são os enlaces sócio-virtuais em qual a sociedade se estrutura. Não existe um indivíduo que saiba “tudo sobre tudo”; o conhecimento

28 Neuromancer é um livro de ficção científica lançado em 1984 que introduzia novos conceitos para a sua época como inteligências artificiais avançadas, e um cyberespaço quase que físico.

29 Co-fundador da Eletronic Frontier Foundation Fundação da Fronteira Eletrônica)

30 Declaração da Independência do Ciberespaço. Disponível em:< https://projects.eff.org/~barlow/Declaration- Final.html>. Acessado em: 22 de dez. de 2015.

então se delineia por meio de agentes tecno-informacionais concernentes ao ciberespaço. Em Freire (2008, p.81), o ciberespaço “é o ambiente e circulação de discussões pluralistas, reforçando competências diferenciadas e aproveitando o caldo do conhecimento que é gerado dos laços comunitários, podendo potencializar a troca de competências”. Portanto, salientamos que o ciberespaço é um espaço de socialização e de discussão com inúmeras possibilidades de interação através das informações que o envolvem, ou seja, ocorre uma comunicação global na imaterialidade espacial, no virtual.

Para tantos, o virtual está ligado diretamente a algo impalpável, inexistente, que foge as regras físicas, contudo o “virtual” dimensiona-se às características mais complexas dos fluxos informacionais e do conhecimento. Sendo assim, Lévy (1996), em seu livro “O que é virtual”, defende que o virtual não está em oposição com a realidade fractal e sim que existe uma dependência vice-versa entre a realidade e o virtual. Além disso, Lévy caracteriza o virtual sendo um espaço de produção e apropriação de saberes alimentado pelo conhecimento segundo após segundo. No entanto, o virtual (o ciberespaço) justapõe a realidade, devido ao seu dinamismo, fluidez e rapidez do conhecimento, a procura por informação a qualquer momento de qualquer lugar através da estrutura física da escola, das folhas dos livros e das estantes da biblioteca.

Além disso, uma série de fatores como a digitalização informacional, a evolução da internet, as intervenções e inovações tecnovirtuais, as redes de computadores e suas conexões permitem o acesso mais flexível ao ciberespaço e ao desenvolvimento da cibercultura. Aprofundando nos estudos de Bergmann (2007, p.5), concebemos que a cibercultura é um síncrono de técnicas, práticas, ideias, atitudes, valores que afloram com a evolução da internet e da sua tecnologia.

A cibercultura constitui-se como o principal veículo de comunicação e armazenagem (memória) da sociedade contemporânea e por que não dizer, da humanidade (LÉVY, 1999). Baseia-se no campo dos problemas, na maneira ou modo como a sociedade realiza-se através da rede digital, conexões em redes e relações informacionais sendo parte integrante da humanidade contemporânea, necessitando da compreensão de sua espacialidade global e colaborativa.

A cibercultura nada mais é do que a cultura contemporânea em sua interface com as novas tecnologias de comunicação e informação, ela está ligada às diversas influencias que estas tecnologias exercem sobre as formas e sociabilidade contemporâneas, influenciando o trabalho, a educação, o lazer, o comércio, etc. Todas as áreas da cultura contemporânea estão sendo reconfiguradas com a emergência da cibercultura (LEMOS, 2003, p. 01).

Em outras palavras, fundamenta-se em Freire (2008, p.81) no sentido de entender que “a cibercultura emerge com o ciberespaço constituído por novas práticas comunicacionais (e- mails, listas, weblogs, jornalismo online, webcams, chats, etc) e novos empreendimentos que aglutinam grupos de interesses”. Segundo Lemos (2003, p.12), é importante “(...) entender a cibercultura como a forma sociocultural que emerge da relação simbiótica entre a sociedade, a cultura e as novas tecnologias de base microeletrônica que surgiram com a convergência das telecomunicações com a informática na década de 70”.

Partindo da premissa, de que tudo que é atômico (com restrições físicas à mobilidade e resistência), envolve-se na fluidez virtual, entrando num processo que aqui denominei como “processo desenfreado”, na criação de novos territórios, desvinculação do cotidiano, o que possibilita a vivência e experiência depara o compartilhamento de informações e conhecimentos. Contemporaneamente, a desmaterialização é fundamental, pois os espaços não mais delimitam e o tempo, torna-se fracionado em intervalos ínfimos e consecutivos para ana construção.

A cultura contemporânea passa a ser caracterizada pela utilização progressiva das tecnologias digitais, cria-se uma nova relação entre a vida social e a técnica, síncrono, o que proporciona o despontar de novas formas e modos de agregação social espontânea no ambiente virtual, com práxis culturais que constituem a cibercultura (CORRÊA, 2004).

Através de elementos que compõe a cibercultura é condizente criar condições que possibilitem e facilitem a formação social e a construção do indivíduo. O multiculturalismo, os processos organizacionais, as relações interpessoais, a cultura escolar ao serem interpretadas pela mediação das TICsNTICs, são processos imprescindíveis para o desenvolvimento intelectual e cultural dos educandos. Para Corrêa (2004, p. 3), “o ciberespaço potencializa o surgimento de comunidades virtuais e de agregações eletrônicas [...] delineadas em torno de interesses comuns, de traços de identificação, pois ele é capaz de aproximar, de conectar indivíduos [...]”. Assim, comunidades virtuais são as novas interfaces para o relacionamento digital através do comum interesse ou objetivos convergentes, isso nos leva a refletir sobre sua utilização como uma ferramenta para o ensino e aprendizagem.