3. BASES CONCEITUAIS PARA A EDUCAÇÃO SUPERIOR A DISTÂNCIA
3.3 CIBERESPAÇO E AMBIENTE VIRTUAL DE APRENDIZAGEM
É inegável que a revolução cibernética-tecnológica afeta os mais variados
aspectos da vida cotidiana, com a inserção de contextos virtuais, como círculos
eletrônicos de amizade, por meio de comunidades virtuais, e da possibilidade de
“navegar” pelo mundo, tornando o presente cada vez mais próximo da idéia, do que
Castells (2000) chama, de aldeia global. “Apenas com o surgimento da rede digital e
do ciberespaço na última metade do século XX, é que seria explicitada a centralidade
ontológica da virtualização e do virtual como um traço ineliminável da práxis
humano-social”. (ALVES, 2002, p.13).
O conceito de ciberespaço diz respeito a uma “estrutura virtual
transnacional de comunicação interativa”. (TRIVINHO, 2000, p.180). Ou, nas
palavras de Levy: “um novo meio de comunicação aberto pela interconexão
mundial dos computadores”. (2000, p.206). Levy também define cibercultura como:
“conjunto de técnicas (materiais e intelectuais), de práticas, de atitudes, de modos
de pensamento e de valores que se desenvolvem juntamente com o crescimento
do ciberespaço”. (1999, p.17). Ao discorrer sobre o ciberespaço e seus efeitos,
Trivinho pontua: “Além da mudança de suporte dos processos socioculturais e
político, a abolição do território geográfico, a circularidade absoluta de informações
e a interatividade, o ciberespaço, pressupõe o computador como tecnologia de
acesso a esse universo comunicacional”. (2000, p.180) O ciberespaço provoca
uma mudança no esquema clássico da comunicação (emissor-meio-receptor), pois
dá ao meio o caráter híbrido de emissor-receptor que interage com os usuários,
levando a comunicação para a esfera do infoterritório. Toda esta estrutura do
ciberespaço possui, obviamente, características nunca antes imaginadas, como
expõe Levy (1999):
As telecomunicações são de fato responsáveis por estender de uma ponta à outra do mundo as possibilidades de contato amigável, de transações contratuais, de transmissões de saber, de trocas de conhecimentos, de descobertas pacíficas das diferenças. O fino enredamento dos humanos de todos os horizontes em um único e imenso tecido aberto e interativo gera uma situação absolutamente inédita e portadora de esperança. (p.14)
Pode-se afirmar que o ciberespaço diz respeito a uma forma de virtualização
informacional em rede. Por meio da tecnologia, os homens, mediados pelos
computadores, passam a criar conexões simbólico-lingüísticas capazes de fundar um
espaço de sociabilidade virtual.
O espaço cibernético intensificou transformações sociais nos mais diversos
campos da atividade humana. É o que Castells (2000) apresenta como sendo a
“sociedade em rede”. Surgiram não apenas no campo da produção de mercadorias,
as empresas vituais, que tem a internet como seu campo de atuação primordial, mas
ocorreram importantes mutações sócio-culturais e políticas que atingiram as mídias
de virtualização em decorrência da aceleração dos meios de comunicação e de
informação. Constituiu-se um novo espaço de sociabilidade, não-presencial, com
impactos decisivos na produção de valor e na esfera da indústria cultural e das
relações humanas.
A partir do avanço da educação a distância e da ampliação da utilização da
internet criaram-se as condições propícias para o surgimento dos Ambientes Virtuais
de Aprendizagens (AVAs). Esses ambientes são softwares disponibilizados online
que facilitam a interação entre a equipe pedagógica e os aprendizes em cursos a
distância, simulando “ambientes presencias de aprendizagem com o uso das TICs”
(ARAÚJO JUNIOR; MARQUESI, 2009, p.358).
Universidades federais brasileiras aderiram à educação a distância como
opção para formar cidadãos na educação superior, levando oportunidades
educacionais para lugares distantes, tendo escolhido o Moodle
4como AVA oficial do
4
MOODLE (Modular Object-Oriented Dynamic Learning Environment): softwares disponível via internet, estruturado como ambiente virtual de aprendizagem. Foi desenvolvido em uma perspectiva dinâmica de aprendizagem em que a pedagogia socioconstrutivista e as ações colaborativas fundamentam a estruturação das funcionalidades. Objetiva possibilitar processos de ensino-aprendizagem por meio da interatividade e da interação, privilegiando a construção e a reconstrução de conhecimentos, a autoria, a produção de saberes em colaboração com os agentes do ambiente e a aprendizagem significativa dos educandos. (SILVA, 2011 p.18).
programa MEC/UAB. Selecionado por ser um software livre (código aberto, gratuito e
com possibilidade de otimização), de fácil usabilidade e que contém todas as
funcionalidades básicas necessárias para realização de ações em EAD. É um
software de gestão de atividades educacionais direcionado à criação de
comunidades online voltadas para a aprendizagem. Propõe-se a estimular a
aprendizagem em colaboração e fornece instrumentos interativos e comunicacionais
fundamentais para o processo de ensino-aprendizagem a distância, no qual alunos,
professores, tutores e demais agentes institucionais se relacionam para organizar a
formação superior online.
A utilização das TICs na EAD se apresenta como uma grande inovação na
última década e os AVAs estão sendo aprimorados cada vez mais para se
tornarem mais interativos e mais adequados à metodologia institucional para a
mediação pedagógica a distância. Nesse contexto a observação de Kenski (2008)
se torna ainda mais importante, quando ressalta que as tecnologias devem sempre
estar submetidas ao contexto pedagógico que se quer desenvolver (fugindo assim
do determinismo tecnológico).
Para que as TICs possam trazer alterações no processo educativo, no
entanto, elas precisam ser compreendidas e incorporadas
pedagogicamente. Isso significa que é preciso respeitar as
especificidades do ensino e da própria tecnologia para garantir que o seu uso, realmente, faça diferença. Não basta usar a televisão ou o computador, é preciso saber usar de forma pedagogicamente correta à tecnologia escolhida. (KENSKI, 2008, p. 46).
Desse modo, é imperativo que se reconheça a relevância estratégica do uso
apropriado dos AVAs em cursos superiores a distância, preocupando-se com a
capacitação dos recursos humanos envolvidos, a fim de que a tecnologia escolhida
não torne-se uma barreira principalmente para os alunos. De acordo com Palloff e
Pratt (apud KENSKI, 2008) ambientes virtuais de aprendizagem surgem da
necessidade de atender certas condições objetivas como as seguintes:
- Centralizar metas a alcançar; e organizar objetivos comuns a todos os
envolvidos no processo de ensino-aprendizagem;
- Estabelecer um ambiente com igualdade de participação para todos os
membros;
- Construir ferramentas que possibilitem que os professores assumam a
função de orientadores e animadores de uma comunidade de aprendizagem
colaborativa;
- Criar conhecimentos e forma ativa e significativa segundo os temas de
interesse da comunidade.
Existem três tipos de integração virtual possíveis entre os participantes de
uma comunidade de aprendizagem (COPPETTI, GOMES, 2009): Interação,
Cooperação e Colaboração on-line.
Na Interação usuários de diferentes regiões geográficas atuam partilhando informações e manipulando objetos no ambiente. Para que seja possível a Cooperação foi criado um sistema (groupware) que suporta grupos e pessoas engajadas em uma tarefa comum (ou um ideal), onde é permitido às pessoas verem, ouvirem e enviarem mensagens umas às outras, ao mesmo tempo ou em tempos diferentes. Colaboração pressupõe a realização de tarefas coletivas, a tarefa de um complementa a de outros. Cada membro é responsável pelo desenvolvimento do grupo com quem está conectado. "Cada um é o centro", não existe um detentor permanente do saber, mas circulação de informações e trocas. (p.3).
Educandos e educadores enfrentam certas dificuldades no que se refere à
implementação de processo mediados por TICs. As principais dificuldades que os
educandos enfrentam se referem à questões de autonomia, colaboração e autoria.
Com relação aos professores e tutores há uma tendência que deve ser evitada, que
é buscar reproduzir as práticas presenciais para os AVAs como que se as atividades
fossem meramente instrucionais. É preciso aplicar uma metodologia própria para
EAD com base no perfil do educando que se deseja formar e com base na proposta
pedagógica proposta. Os profissionais da instituição devem ser capacitados
adequadamente e é preciso lutar contra a descrença que alguns agentes tem quanto
às possibilidades pedagógicas dos AVAs. Professores, tutores e alunos devem estar
em constante processo de formação tecno-pedagógica.
Os recursos tecnológicos operacionalizados por meio dos AVAs podem ser
agrupados em quatro eixos principais conforme representado na figura a seguir:
Figura 01 – Eixos de classificação dos recursos dos AVAs
Fonte: elaboração própria com base em Pereira (2007).