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2 CICLO DE POLÍTICAS PÚBLICAS: A JUDICIALIZAÇÃO E SUA PERSPECTIVA

2.2 CICLO JUDICIALIZADO DE POLÍTICAS PÚBLICAS

O ciclo judicializado de políticas públicas surgiu com base no ciclo tradicional de políticas públicas na tentativa de inserir o poder judiciário como ator e participante da complexa dinâmica que envolve o estado e a sociedade na definição do rumo das políticas públicas no Brasil. Nesse sentido, o ciclo judicializado de políticas públicas envolve os elementos essenciais da análise de uma política pública (formulação, implementação e avaliação), que se apresenta judicializada (BARREIRO; FURTADO, 2015), conforme mostra a figura 2.

Figura 2 – Ciclo judicializado de políticas públicas.

Fonte: Barreiro e Furtado, 2015.

Por meio desse modelo teórico, as políticas públicas são formuladas e na medida em que são executadas e surgem falhas nessa etapa, gera-se o fenômeno da judicialização, a qual diante de suas características processuais engloba o que se chamou de formulação judicial. Como consequência, há uma implementação forçada das políticas públicas, com posterior avaliação dos resultados obtidos e com possível re (formulação) da política original.

Diante desse ciclo (figura 02), percebe-se que as decisões judiciais são capazes de fornecer subsídios analíticos para que a gestão pública analise as motivações para se judicializar determinar política pública e quais são os impactos para o planejamento dessas demandas judiciais e dependendo do que for obtido dessa avaliação poderá dar sequência ao ciclo de avançar para a fase de re (formulação) da política em questão.

Diante desse ciclo judicializado, a atuação do poder Judiciário pode ser considerada um veículo de impugnar e intervir na implementação de políticas públicas, na medida em que promove uma implementação forçada de políticas públicas, apresentando-se, desse modo, como ator do processo e capaz de representar pessoas excluídas das decisões na esfera administrativa e política. Fato esse reforçado por Barreiro e Furtado (2015, p. 306):

Resta evidente que é por falhas na implementação das políticas públicas que determinada demanda chega ao Judiciário. E segundo, porque é nessa etapa que as consequências da judicialização geram maiores efeitos à administração pública e à gestão das políticas públicas. Deve ficar claro que, diante da força normativa dos preceitos constitucionais (Barroso, 2010), se houver falhas no processo de implementação de políticas públicas (Secchi, 2010), embasadas em direitos sociais (saúde, educação etc.), e essas “falhas” forem levadas ao Poder Judiciário, judicializando-se aquela determinada política pública, tem-se uma demanda legítima.

Diante da implementação forçada e promovida pela judicialização, ao Poder Executivo cabe a função de implementar a decisão do juiz, cumprindo-a conforme a sentença, deixando, no momento do cumprimento da decisão de realizar ponderações quanto a identificação do problema, formação da agenda, formulação de alternativas e tomada de decisões, o que altera a sistemática do ciclo das políticas pública e gera conjunturas analíticas que precisam ser aprofundadas e analisadas, a fim de contribuir com a gestão pública e com a ampliação da implementação de políticas pública de forma equitativa.

De acordo com o ciclo judicializado apresentado, da forma está esquematizada na Figura 2, entende-se que a judicialização acontece quando se tem falhas na implementação. Mas a única razão para o fenômeno da judicialização seriam essas falhas na implementação? Para solucionar tal inquietação e com o intuito de adotar um modelo teórico capaz de comportar as particularidades da judicialização do acesso a medicamentos e que esse fenômeno não estivesse apenas interligado a falhas na implementação, mas também outras causas pudessem ser analisadas dentro do ciclo judicializado, julgou-se necessário adaptá-lo de modo a incorporar todas essas características. Tal adaptação também visa suprir uma lacuna apresentada no ciclo judicializado de Barreiro e Furtado (2015) no que diz respeito às características analíticas compreendidas entre a fase da formulação e das falhas da implementação da política pública. Assim, propõe-se o modelo conforme Figura 3, chamando-o de ciclo judicializado de políticas públicas envolvendo a teoria top down da implementação.

Figura 3 – Ciclo judicializado de políticas públicas envolvendo a teoria top down da implementação.

Fonte: Elaboração própria.

A partir desse modelo teórico do ciclo judicializado de políticas públicas envolvendo a teoria top down da implementação, reconhece-se na presente tese, a premissa de que: falhas na fase de implementação da política poderá promover a judicialização e que diferentes atores estão inseridos nesse processo. Mas, também não descarta a possibilidade de existência de outras causas, diferentes das falhas na implementação também promoverem esse fenômeno. Além disso, o modelo proposto de forma sistemática, conseguiu abarcar: o ciclo judicializado,

a implementação de políticas pública por meio da vertente top down, as categorias de Edwards (1980) para se investigar a implementação e as conjunturas analíticas envolvendo os objetivos do presente estudo, os quais envolvem: falhas na implementação da política pública, causas da judicialização, consequências, alternativas e evidências da judicialização.

Ressalta-se, que por meio do modelo teórico proposto, permite visualizar que o poder judiciário pode não só intervir na fase da implementação das políticas públicas, mas também na de formulação, seja de forma direta ou indiretamente. Entretanto, no que se refere à formulação da política, apesar da presente tese reconhecer a participação do poder judiciário, especialmente ao longo prazo, visto que os medicamentos deferidos pelo poder judiciário em muitas demandas, podem conduzir a avaliações da política e conclusões que levem a necessidade de reformulação de postulados e consequentes inclusões e/ou exclusões de medicamentos na padronização do SUS, reforça-se que a presente tese não foca em seus resultados essa avaliação das consequências da implementação forçada pelo judiciário a longo prazo na re (formulação) da política pública.

3 PERSPECTIVA METODOLÓGICA

No presente capítulo, foi abordado o delineamento da pesquisa, o tipo da pesquisa com suas respectivas fases, seja o plano de coleta ou análise de dados, o quadro metodológico, por fim foram abordadas as questões éticas da pesquisa.