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2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICO-EMPÍRICA

2.3 A responsabilidade social corporativa

2.3.1 A cidadania e a ética empresarial

Como mencionado anteriormente, a atuação das empresas em causas sociais tem ganhado diversas roupagens, dentre elas, além de responsabilidade social corporativa, a cidadania empresarial e ética empresarial tem prevalecido, tanto na comunidade acadêmico, como no meio empresarial.

Para alguns autores responsabilidade social e cidadania empresarial são sinônimos. Para outros autores o termo cidadania empresarial é utilizado de maneira bastante instrumental. Isto é, quando a empresa busca praticar a cidadania empresarial, ela visa melhorar sua imagem para obter benefícios próprios (ASHLEY; COUTINHO; TOMEI, 2000). Melo Neto e Froes (1999) consideram que a empresa só terá o status de empresa-cidadã quando atingir as duas dimensões, a interna e a externa.

A cidadania empresarial é praticada pela empresa que não se omite em trabalhar por causas sociais, melhorando a qualidade de vida da sociedade em geral (ASHLEY; COUTINHO; TOMEI, 2000). Martinelli (2000) lembra que um programa de cidadania empresarial gera subprodutos interessantes à empresa que o desenvolve: agrega valor à imagem da empresa, fonte de motivação aos funcionários,

consciência coletiva social aprimorando o espírito de equipe na empresa e mobiliza recursos financeiros, sem necessariamente implicar em novos custos.

É interessante perceber as origens da cidadania empresarial. Mayhew (apud ASHLEY; COUTINHO; TOMEI, 2000) salienta, no entanto, que a cidadania empresarial teve origem em ações paternalistas, para consolidar relações entre as organizações e as comunidades em que estavam inseridas. As ações tinham como principal fator motivador algum tipo de retorno aos acionistas da empresa.

Martinelli (2000) considera ainda que existem empresas em três estágios diferentes. As empresas que atuam somente como negócios - preocupam-se somente com a obtenção do lucro. As empresas que atuam como organização social - relacionam-se e preocupam-se com aqueles que compõe o seu grupo de interesse: clientes, fornecedores, governo, comunidade e os próprios acionistas. E as empresas cidadãs - que se envolvem profundamente com as causas sociais, criando institutos, fundações, divulgando o balanço social.

Assim, os conceitos de cidadania empresarial e responsabilidade social corporativa podem convergir para o mesmo significado, ou seja, ampliam as atividades das empresas para além de seu papel tradicional, produtora de bens e serviços, para o papel de mantenedora do bem-estar social.

O termo cidadania empresarial foi introduzido muito posteriormente ao conceito de responsabilidade social corporativa, podendo ser visto como uma etiqueta adequada ao uso instrumental. A cidadania empresarial é alcançada pela prática da responsabilidade social corporativa (ASHLEY; COUTINHO; TOMEI,

2000).

A prática da responsabilidade corporativa terá então como conseqüência o prêmio com o título: empresa-cidadã. Ilustrando esta afirmação do uso instrumental da cidadania empresarial podem ser citados diversos prêmios concedidos à empresas que praticam a cidadania empresarial: Prêmio Eco, da Câmara Americana de Comércio de São Paulo e o Selo de Cidadania concedido pelo poder municipal de algumas cidades no Brasil.

Outro conceito muito utilizado e empregado é o de ética empresarial. Este conceito é também considerado como sinônimo de cidadania empresarial e

responsabilidade social corporativa. No entanto, existem sustentações de que a ética empresarial é um conceito que se encontra intrínseco na cidadania empresarial e na responsabilidade social corporativa. Para Schommer e Fischer (1999) a idéia de cidadania ou responsabilidade social corporativa está fortemente relacionada à discussão sobre ética empresarial.

Ferrei; Fraedrich; Ferrei (2001) argumentam que a ética empresarial é um conjunto de princípios e padrões de comportamento que orientam o comportamento das empresas, enquanto que a responsabilidade social é um contrato, onde a empresa se obriga a maximizar os efeitos positivos sobre a sociedade. Como uma das cláusulas do contrato que a empresa assume com a sociedade é justamente o compromisso ético, estabelecendo princípios e padrões de comportamento, os conceitos de ética e responsabilidade das empresas estão estreitamente vinculados.

Este vínculo torna-se evidente quando se examinam alguns conceitos de ética. Para Robbins e Coulter (1998), ética se refere às regras e princípios que definem a conduta do que é certo e errado. Segundo Daft (1999a), a ética é o código de princípios e valores morais, orientando o comportamento de uma pessoa ou grupo quanto ao que é certo ou errado, estabelecendo padrões do que é bom ou ruim na tomada de decisões.

Espera-se que a empresa ao assumir a responsabilidade social assuma uma posição ética. “Quem decide faz escolhas entre diferentes cursos de ação e deflagra conseqüências. Aí entra a reflexão ética” (SROUR, 1998, p.291). Assim, toda decisão tomada pela empresa pode influenciar o destino da fauna, flora, fornecedores, clientes, comunidade, empregados.

Para Srour (1998) o importante não é saber se a empresa é uma ilha moral, mas, se suas decisões são ou não benéficas para a maioria dos componentes do espaço organizacional. Administrar com responsabilidade social e ética parece ser uma pré-condição de sobrevivência para as empresas. De qualquer forma, uma coisa não se pode perder de vista, as empresas se tornaram centros de poder e agregam milhões de pessoas em todo o mundo, utilizam recursos naturais, distribuem riquezas e, é claro fazem parte e influenciam o ambiente macroeconômico.

Soares (2001) argumenta que a integridade ética das empresas define-se por pressões tanto internas, quanto externas, ligadas a algumas questões-chave: evitar ameaças à sobrevivência da empresa, corresponder aos preceitos legais, compatibilizar interesses empresariais e sociais nas tomadas de decisão, desenvolver resultados visando alcançar ao maior número de interesses dos

stakeholders, preservar as condições ambientais para as próximas gerações,

valorizar a diversidade, dando condições iguais para as pessoas e disseminar os valores estabelecidos pela empresa. Todas estas questões permeiam a tomada de decisão das empresas, influenciando tanto os funcionários quanto a sociedade.

As influências que as decisões das empresas assumem na sociedade podem ser tanto benéficas, quanto devastadoras. Assim, delimitar a ação, as decisões das empresas dentro de padrões éticos pode garantir a qualidade de vida dos homens. A ação de grupos interessados nesta delimitação pode ser considerada importante e até essencial.

[...] a empresa capitalista [...] só passa a comportar-se de modo socialmente responsável quando sua continuidade está em risco, quando enfrenta a intervenção organizada das contrapartes com as quais lida ou quando mergulha no cabo-de-guerra das relações de poder. Sem contrapartes ativas, a maximização do lucro leva a melhor (SROUR, 1998, p.295).

A administração dos negócios de forma ética delimita a ação da empresa na esfera humana, uma vez que segundo Creagan (1991), a ética permite a liberdade de escolha, ajudando a minimizar antagonismos sociais, reduzindo também a necessidade de regulamento e interferência do Estado. De qualquer forma, aderir a causas sociais pode trazer uma melhoria na imagem da empresa, facilitando a venda de seus produtos e serviços.

Ou seja, existe um ganho tanto para a sociedade como para a empresa. A empresa busca melhorar seus ganhos, internalizando em sua cultura, as ações sociais ou as práticas de ética empresarial. A prática da cultura socialmente responsável e ética deve participar desde pequenos atos como a reciclagem de lixo,

até uma ação mais direta e estruturada, como a criação de uma fundação de amparo social.

É claro que, se espera que as atitudes éticas, responsáveis socialmente, sejam pressupostos de uma cultura interna verdadeiramente consciente dos atos sociais. Conforme salientam Schommer e Fischer (1999) para que a empresa consiga ser socialmente responsável, que pratique a ética, não é possível uma decisão unilateral da alta direção da empresa, um decreto. Portanto, é necessária a criação e manutenção de uma cultura interna voltada às ações sociais.

De acordo com o Centro de Estudos de Ética nas Organizações, da Fundação Getúlio Vargas de São Paulo,

uma cultura organizacional ética leva a: elevação do clima de confiança e respeito para com todas as pessoas que, de forma direta ou indireta, se relacionam com a instituição; redução de custos e aumento de produtividade como conseqüência do crescente nível de satisfação geral pelo clima ético de trabalho; fortalecimento da credibilidade da organização junto ao mercado e à sociedade e melhora das relações de trabalho, com o desenvolvimento das qualidades humanas e a integridade dos membros da organização. (<http://www.fgvsp.br/academico/estudos/cene/etica.htm>. Acesso em: set. 2000)

Para Schommer e Fischer (1999), a empresa socialmente responsável é a empresa que cultiva e pratica um conjunto de valores, muitas vezes formalizados num código de ética, que formata consensualmente a cultura interna. Neste sentido a sociedade cobra da empresa coerência em suas atitudes e práticas cotidianas. Fernandes (2000) acredita que a ética empresarial deve se materializar em códigos internos, para não virar abstração.

É claro que podem acontecer conflitos entre a ética pratica pela empresa e a ética individual. A empresa pratica a ética da responsabilidade, onde prevalece a racionalidade funcional. Os indivíduos que compõem a empresa praticam a ética da convicção, buscando utilizar além da racionalidade funcional, também a racionalidade substantiva. Mas, resolver este conflito tornar-se um desafio, pois, acredita-se que, quando a empresa assume completamente o espaço do homem, prevalecendo a ética da responsabilidade, o ser humano é reduzido, unidimensionalizado.

Acredita-se que a empresa que pratica a responsabilidade social é por definição ulterior uma empresa que pratica a ética empresarial. Esta conclusão é corroborada por Melo Neto e Froes (2001, p. 132) “o exercício da responsabilidade social pressupõe a adoção de um comportamento ético pela organização. A incorporação e difusão desses princípios éticos qualifica-a como uma empresa socialmente responsável”.

Reconhece-se, assim, que tanto os conceitos de responsabilidade social corporativa, de cidadania empresarial como de ética empresarial estão ligados à ampliação na atuação das empresas na sociedade. As empresas além de cumprirem seu papel tradicional, estendem suas atividades para o atendimento de causas sociais.