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2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICO-EMPÍRICA

4.2 Apresentação dos dados

4.2.1 O entendimento de responsabilidade social corporativa

O presidente dedica grande parte de seu tempo para a empresa, ao trabalho, e, lembra que para praticar ações de responsabilidade social a empresa tem que ter dinheiro. Lamenta que o empresário em geral seja mal visto pela sociedade, quase sempre como o bandido. Acredita que a grande maioria não o é. Que a maioria dos empresários tem consciência social. Só que sem dinheiro, fica difícil pensar em investir no social, principalmente para empresas de menor porte.

Acrescenta ainda o presidente, que empresas maiores, que tem dinheiro de vários acionistas, de capital aberto, tem uma estrutura diferenciada. Para o presidente a indústria transformou o mundo e ainda é a sua alavanca.

Tem muita empresa que não tem uma responsabilidade social maior, por problemas financeiros, não tem bons recursos. [...] Eu vejo um certo grau de heroísmo no empresário, porque é um cara empreendedor, é o que vai construir. Montar um comércio é fácil, agora, pegar e fazer uma coisa, como a maioria do pessoal faz, sem dinheiro, sem conhecimento, só com a força e a vontade, montar uma fábrica fazer funcionar e se tomar lucrativa, não é fácil, é muito difícil. (P)

O presidente acredita no homem, apesar de reconhecer que existam muitos abusos, por exemplo, em relação à cobrança da responsabilidade social da empresa. Por exemplo, alguns sindicatos, apoiados por uma Lei que reconhece muitos direitos aos empregados, muitas vezes injustos. E, na concepção do presidente, quem tem direitos, não pode esquecer dos deveres. Para ele, os empregados às vezes se esquecem de seus deveres, e isto pode se tornar injusto para o empresário.

Eu só acho que a responsabilidade social das empresas tem que ter concordância. Lá em São Paulo o Lula fez muita pressão, incitou muito o metalúrgico a fazer greve, a reinvidicar. [...] Para o que não existe uma lei definida, deve seguir da cabeça de cada um. Eu penso o seguinte, apesar de ajudar muita gente e ser muito dedicado ao social, eu não acho isso aí muito justo Tem determinadas coisas que não são muito justas. Claro, que direito tem que existir, mas, tem que existir um limite. E tem que existir os deveres. [...] Eu, por exemplo, não admito greve, acho uma coisa boba, porque

quem merece não faz greve. Quem quer trabalhar, faz por merecer. (P)

O presidente relatou ainda que dentro da própria Arteplas os benefícios concedidos aos empregados já foram maiores, porém, aconteceram abusos. Por exemplo, inicialmente a empresa pagava a totalidade dos medicamentos que os funcionários e dependentes necessitavam.

A Arteplas começou a pagar até produtos de higiene (xampu, sabonete) e o custo com os medicamentos, passou a ser muito alto, quase que inviabilizando o benefício. Então, a empresa resolveu dividir a responsabilidade com o empregado, passou a pagar somente a metade do custo dos medicamentos, conseqüentemente estas despesas caíram substancialmente.

Mesmo concordando que aconteceram abusos por parte dos funcionários, todos os gerentes e não-gerentes entrevistados consideram que é importante a atuação da empresa em ações de responsabilidade social. Inclusive, dos seis gerentes entrevistados, quatro, consideram uma obrigação da empresa empreender ações de responsabilidade social.

A empresa que não estiver comprometida com aspectos sociais, ela não será vista com bons olhos no futuro. Cada dia que passa meio ambiente, aspectos sociais, tanto colaboradores dentro da empresa, quanto fora, é preciso buscar fornecedores que tenham programas de preservação do meio ambiente, programas sociais. Então, eu acho que isso é bom e, é cobrado das empresas. Então, eu considero que a responsabilidade social é uma obrigação da empresa em relação ao micro ambiente e ao macro ambiente. (G3)

Eu acho que a empresa que faz sua obrigação social ela se destaca, faz o algo mais, a diferença. Para se manter no mercado, ou a empresa faz a diferença ou é apenas mais uma. (G5)

Dentro da ótica geral eu acho que é uma obrigação [...] a primeira meta nossa é ganhar dinheiro [...] Nós existimos para ganhar dinheiro, a forma de ganhar dinheiro e a longo prazo é atender bem o funcionário, o cliente. Nós temos que ter bem claro que a nossa meta é ganhar dinheiro e como se faz isso? Isso não impede, porém, que a empresa tenha obrigações. (G6)

Já no grupo não-gerencial, três dos quatro entrevistados consideram que os investimentos das empresas em responsabilidade social devem ser espontâneos. O motivo verificado é o receio que estes têm que empresa a partir do momento que seja obrigada a praticar determinadas ações sociais, o faça de maneira mínima, somente para atender à obrigatoriedade. Esse receio tem fundamento, conforme demonstra o relato a seguir,

A gente faz porque a gente gosta, porque a gente precisa ajudar as pessoas, eu não acho que a empresa tem que ser obrigada a ajudar deve ser de forma espontânea. Porque eu não posso fazer alguma coisa que eu seja obrigado, acabo fazendo do modo mais simplificado, o modo mais fácil, para fugir desta obrigação. (G1)

A responsabilidade social é encarada pelo corpo gerencial, como meio de diferenciar a Arteplas no mercado, visando sua perpetuação e o lucro. Esse conceito que se baseia notoriamente na racionalidade funcional, corroborando com os conceitos de Melo Neto e Froes (1999, 2001), Donaire (1999). Inclusive, Oliveira Neto (2001) argumenta que a responsabilidade social gera valor às empresas.

A empresa, segundo o corpo gerencial e não-gerencial da Arteplas, tem também a responsabilidade social de ser lucrativa, de conseguir sobreviver para que possa continuar a gerar e distribuir riquezas em todo seu espaço organizacional. Esta abrangência no conceito de responsabilidade social é compreendida por Daft (1999a), sendo a responsabilidade econômica uma das faces da responsabilidade social das empresas.

Considerando a natureza das empresas, as ações sociais empreendidas por elas serão basicamente visando fins funcionais ou instrumentais, lucrativos. Em uma sociedade onde o Estado é considerado falido, não tendo mais condições de zelar pelo bem-estar dos cidadãos, incentivando as empresas a realizarem ações sociais, a atuação social das empresas cresce, como demonstraram as pesquisas do IPEA e da FIESP. Este fato soma-se às considerações feitas por França e Dzmira (1993) quando consideram que o desemprego é um fator que também estimulou o fenômeno de responsabilidade social corporativa.

Esse crescimento leva as empresas a atuarem em dimensões sociais antes sob o cuidado de outras organizações ou do próprio Estado. Grajew (2000) explica que as empresas devem ponderar seu poder cada vez maior, assumindo responsabilidades sociais. Porém, corrobora-se com a dúvida de Dunfee (1999), quando se preocupa em saber se os administradores das empresas estão aptos a julgar as necessidades sociais.

Mesmo considerando que possam existir tais aptidões, estas são direcionadas péla racionalidade funcional. Isto é, quando o empresário empreende ações sociais, estas podem ser utilizadas para ampliar seu controle e influência sobre os funcionários e a sociedade.