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3. A REDEMOCRATIZAÇÃO POLÍTICA DO BRASIL E AS POLÍTICAS

3.2 O Processo de redemocratização política brasileira

3.2.5 Cidadania de gênero, capital social e o empoderamento das mulheres, no

A cidadania de gênero requer que se atente para os efeitos da expansão do capitalismo e às rápidas mudanças oriundas deste, dificultando a interpretação da realidade. Sendo assim, ao analisar o citado tema, se faz necessário, um olhar a partir dos estudos feministas, analisando as tensões e exclusões que impactam a participação feminina nas perspectivas da promoção de direitos humanos às mulheres e a equidade de gênero (PRÁ, 2001).

Segundo Prá (2001) os estudos feministas apontaram para o fato da participação das mulheres ter obtido e sustentado suas maiores conquistas cidadãs, uma vez que a presença das mulheres na esfera pública vem ampliando sua capacidade de participar dos processos de decisões políticas. E a autora cita alguns pesquisadores: Garcia e Gomáriz (2000) chamam a atenção para um fato relacionado ao exercício dos direitos por parte das mulheres que, embora elas possam ter cidadania formal (garantida por lei), mas, às vezes, não as tem de forma substantiva, ou seja, uma coisa é ter capacidade e outra é se valer dela (apud PRÁ, 2001). Silvia Yannoulas (2001) denuncia em sua pesquisa, baseada em dados das Nações Unidas, o fenômeno da feminização da pobreza e nos aponta que, em um bilhão de pessoas em condição de pobreza, 70% são mulheres (apud PRÁ, 2001).

Nas considerações acerca do exercício da cidadania substantiva, Prá (2001), ressaltou que se faz necessário e constitui um recurso vital para a promoção, afirmação e manutenção da igualdade social, tomar na dimensão e relevância dos estudos de gênero, o debate de conceitos de capital social e empoderamento da mulher. O debate da equidade de gênero, juntamente com os conceitos desigualdade e exclusão social, fazem emergir reflexões e questionamentos de como são pensadas e desenhadas as políticas públicas e como sugerir formas alternativas de vida em sociedade. Nesta perspectiva, o conceito de capital social, passa a destacar as ideias de identidade coletiva, cooperação e reciprocidade, elementos essenciais, na obtenção do

desenvolvimento sustentável. Para Bernado Kliksberg (2000), “o desenvolvimento

política, bases essenciais para o crescimento são e sustentado” (KLISKSBERG, 2000 apud PRÁ, 2001, p. 174).

O capital social nos discursos sobre desenvolvimento sustentável possibilitou uma posição privilegiada aos teóricos da economia, uma vez que este aborda a equidade e o progresso social, enquanto fatores que podem ampliar o desenvolvimento humano. O capital social, estudado à luz das Ciências Sociais e Ciências Políticas, possibilita que ocorra a integração da dimensão do desenvolvimento humano e o econômico, a partir da relação direta entre as esferas econômica, política e social.

Segundo Arizpe e Kliskberg (2000), a lógica utilizada pelos defensores do capital social baseou-se na defesa da afirmação da identidade cultural de um povo; suas particularidades, autoestima, transmissão de valores, dentre outras. Sendo necessário o reconhecimento de elementos como confiança, cooperação, identidade comum, respeito, enfim, elementos constitutivos do tecido social, nos quais política e economia devem se basear (apud PRÁ, 2001).

O capital social, visto como um fenômeno subjetivo traz em sua noção normas, valores, atitude que podem refletir nas relações entre pessoas de uma comunidade ou de uma sociedade, promovendo a autoestima, a confiança mútua e a solidariedade, possibilitando a formação de redes sociais horizontais, sustentadas por princípios de reciprocidade, confiança e normas de ação, que podem impactar de maneira positiva, levando o governo à equidade social (PRÁ, 2001). Enfim, o capital social nas perspectivas dos estudos de Putnam, Kliskberg e Abu-El-Haj, é uma potencialidade para a reafirmação de práticas de participação cidadã e ele oferece a possibilidade de interpelar democraticamente nos quadro de exclusão social e revertê-los.

Prá (2001), objetivando um melhor esclarecimento acerca da abordagem da cidadania de gênero relacionada ao conceito de empoderamento das mulheres, destacou o estudo de alguns pesquisadores como Silvia Yannoulas (2001), com a concepção do desenvolvimento de potencialidades com a ampliação do acesso a informações e melhoria da percepção, por meio da troca de ideias, que poderá favorecer o fortalecimento das capacidades e habilidades, bem como a disposição das mulheres para o exercício do seu legítimo poder. Várias ações e práticas podem desencadear o empoderamento de mulheres, como os programas de formação, as trocas de experiências pessoais, o desenvolvimento de grupo de mulheres, dentre outros. Delaine Costa (1998) nos aponta que o empoderamento da mulher pode se dar por meio do acesso destas às instâncias de decisão, por meio da redistribuição do poder. Patrícia Fernández e Alexandra Barrientos (2000) trabalham em seus estudos as perspectivas do

empoderamento pela base, denominado por elas como empoderamento cidadão. Neste âmbito, a cidadania assume dimensões relativas à associatividade, aos exercícios de direitos e obrigações individuais e coletivas, voz às mulheres, e as mulheres acessando decisões políticas e públicas. Terezinha Lima (1999) propõe o desafio de se redimensionar as transformações econômicas, oriundas do capitalismo e como isso, buscar uma organização social mais humanizada, que possibilite o rompimento com a subordinação alimentada pelo processo de globalização.

Segundo Prá (2001), avanços e tensões têm demarcado a participação das mulheres na esfera pública da sociedade brasileira. No encontro entre o Estado e a sociedade, por meio do debate democrático e do controle cidadão, existe um ponto de convergência, entre as noções de capital social e de empoderamento, sendo possível sustentar que o empoderamento pela base pode funcionar como uma ferramenta que viabiliza a geração de capital social e o exercício da cidadania substantiva, cabendo às políticas públicas a função de captação deste processo e retroalimentá-lo.

3.2.6 Democracia contemporânea no Brasil: panorama dos aspectos positivos,