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5. AS POSSIBILIDADES DE EMPODERAMENTO DA MULHER NO

5.1 O Empoderamento Privado

5.1.4 Nível de violência doméstica

Um importante documento contra a discriminação e violência contra as mulheres, segundo Carmo e Moura (2010), foi a Declaração Universal dos Direitos Humanos, proclamada na Assembleia Geral das Nações Unidas em 1948, sendo este fruto do longo processo de luta da mulher pelo reconhecimento na sociedade de seus direitos. O Estado brasileiro manteve-se com uma legislação atrasada em relação a muitos países capitalistas ocidentais, inclusive da América Latina, até avançado o século XX. Neste contexto o Estatuto da Mulher Casada, efeitos da Lei 4.121/1962, que representava de forma legal e jurídica o casamento e as relações patrimoniais, e este representava a perspectiva de atraso, tendo em vista que nessa época, em pleno auge da industrialização brasileira e mesmo a mulher ocupando um lugar de destaque no mercado de trabalho, a ela não cabia plenos direitos e a relação de submissão e poder com o marido era muito forte e a lei sustentava a relação de hierarquia e permitia ao homem manter a imagem e a conduta de superioridade e poderio sobre a vida da mulher. O citado estatuto normatizou direitos de homens e mulheres, baseado no Compêndio do Vaticano II e em normas patriarcais, mantendo a mulher em uma posição desfavorável, tomando-a como uma colaboradora e substituta eventual do marido, classificando-a como relativamente incapaz e quando ocorriam divergências de ponto de vista prevalecia sempre à decisão masculina.

Os dados da pesquisa apontaram que somente 04 entrevistadas afirmaram terem sofrido violência doméstica, tendo três delas idade superior a 60 anos, mas apenas 6% afirmaram ser a violência coisa do passado. Todavia, esta parece ser uma questão repudiada pelas mulheres, em virtude de 90% das entrevistadas terem respondido que denunciariam caso vissem uma mulher sofrendo violência.

SOFRERAM VIOLÊNCIA DOMÉSTICA (Q I) Mulher %

SIM (duas denunciaram as agressões) 4 6%

NÃO 63 94%

Total 67 100%

Tabela 15 - Opinião das mulheres acerca da violência doméstica. Fonte: Dados da autora em pesquisa de campo (2012).

OPINIÃO SOBRE A VIOLÊNCIA DOMÉSTICA Homem %

Coisa do passado 2 6%

Uma violência que precisa acabar 30 94%

Total 32 100%

Tabela 16 - Opinião dos homens acerca da violência doméstica. Fonte: Dados da autora em pesquisa de campo (2012).

Carmo e Moura (2010), ainda na abordagem da violência doméstica, apresentaram reflexões acerca do ciclo da violência doméstica, um tema recorrente no debate de diversos atores sociais, nos mais diversos meios de comunicação e por entidades que trabalham com esse tipo de situação de violência. Os autores citam alguns estudos relevantes para o entendimento da violência doméstica. Fraga (2002) aponta para o fato de que a violência doméstica funciona como um dispositivo que acompanha o homem desde os primórdios da história e esta vem sendo praticada como uma necessidade incontrolável pela sobrevivência a situações que não oferecem em absoluto, qualquer possibilidade de saída, a não ser a violência em si. Para Rocha (2007), normalmente a violência acontece no âmbito familiar, onde as relações são constituídas com pessoas conhecidas, em locais nos quais deveria existir cumplicidade, harmonia, paz, são os mesmos onde cresce expressivamente a violência doméstica. Almeida (2007), evidencia em seus estudos o fato de a violência de gênero trazer em sua gênese toda situação que se reflete em um quadro de desigualdades sociais e econômicas. Para a autora esta se estabelece em uma demonstração de força e de poder, em que ocorre a efetiva supremacia corporal do homem. A autora toma a violência de gênero como fruto de uma construção social que demarca espaços de poder, privilegiando os homens e oprimindo as mulheres. A violência se manifesta no corpo e no psicológico da mulher que, além de sofrer a brutalidade, é também dominada e humilhada, e estes embates produzem graves resultados e danos para sua saúde física e psicológica. Nesta perspectiva a violência doméstica funciona como algo espacializado e próprio da esfera privada e da dimensão da vida social, em uma noção que historicamente contrapõe ao

público, ao político e independente do sujeito, do objeto ou do vetor. Sousa (2008) 39 considera que a violência doméstica em maior escala envolve relações familiares e o espaço doméstico, caracterizando-se como uma questão relativa estritamente à esfera da vida privada, um ambiente recoberto por ideologias que tomam a família como uma instituição natural, sagrada, na qual se desenvolvem apenas relações de afeto, carinho, amor e proteção, a ser preservada pela sociedade.

A violência doméstica se estabelece para além do âmbito privado, além de encontrar-se relacionada à violência de gênero, ao quadro de desigualdades de gênero e ao conjunto que integra as desigualdades estruturais produzidas e reproduzidas nas

relações sociais, portanto ela é “um abuso de poder executado por pais, responsáveis

pela criança ou adolescente, pelo marido/companheiro sobre a mulher, também sofrida por idosos, estando associada à violência de gênero” (CARMO e MOURA, 2010, p. 4).

Para Saffioti ( 1994) 40 , a violência doméstica é produto de um fenômeno transversal à sociedade, ignorando fronteiras de classe social, embora esta seja mais frequente nas camadas subprivilegiadas de distribuição de renda nacional, seu aparecimento às delegacias de policiais para a apresentação de queixa é maciço em relação às demais. A violência de gênero é também conhecida como violência contra a mulher, doméstica ou sexual. Em decorrência da violência, a mulher acaba em uma situação de subordinação, sendo obrigada a ceder ao agressor de violência, considerando que a sua relação com o agressor é de total dependência na maioria das vezes financeira e emocional, o que a faz viver em constante situação de violência. A autora ressalta ainda que o contexto que envolve a mulher - família, condições socioeconômicas, perfil do agressor, etc. -, deve ser analisado para o entendimento da violência doméstica, sendo que esta pode funcionar como um sistema circular, denominado ciclo da violência, que ocorre em três etapas: a tensão, que é mais psicológica e intimidativa; a explosão, quando ocorre a violência doméstica propriamente dita e a reconciliação, fase na qual ocorre o recomeçar do relacionamento e da renovação das promessas. Segundo os autores, muitas vezes fica difícil entender como a mulher se mantém no ciclo da violência e para romper este ciclo muitas necessitam de ajuda de agentes externos.

Carmo e Moura (2010) ressaltam ainda que as dificuldades do cotidiano, como a falta de emprego, baixa escolaridade, dependência financeira, alcoolismo e drogas são

39

. SOUSA, M. C. de. O papel da mulher nos novos arranjos sociais da família brasileira: o desafio de garantir direitos. Mini curso do CRESS 7º região.

40

SAFFIOTI, H. Violência de gênero no Brasil contemporâneo. In: Mulher brasileira é assim. R.J: NIPAS: Rosa dos tempos; Brasília: UNICEF, 1994.

fatores que contribuem para o momento da agressão, entre outros fatores. Muitas mulheres ficam marcadas para o resto da vida com a aquisição de doenças de fundo emocional e nervoso e outras vivem infelizes para o resto da vida, conformadas com sua condição de vida, outras têm o pensamento muito tradicional e acha que não deve deixar o marido a não ser que o mesmo tome a decisão de deixar o lar.

5.1.5 A percepção acerca da contribuição da mulher na família e na