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2 CIDADANIA E PARTICIPAÇÃO

No documento Renata Junqueira Ayres Villas Boas (páginas 44-62)

Ao colocar em foco a cidadania e a participação juvenil, o Projovem destaca a importância dessas dimensões na formação para o desenvolvimento integral dos jovens que, por sua vez, estão indissoluvelmente associadas ao desenvolvimento democrático da sociedade brasileira. As condições e os sentidos da participação juvenil têm como parâmetro o conjunto de questões que envolvem o aprofundamento democrático e a concretização da cidadania no país.

Em tempos de globalização e de hegemonia da ideologia liberal, não apenas a economia e a dinâmica das relações sociais são profundamente afetadas, mas a construção do processo democrático em curso desde o fim do regime militar. As disputas de concepções de democracia subjacentes permeiam a vida política do país e imprimem diferentes sentidos à participação cidadã.

Para Boaventura de Souza Santos (2005), o aprofundamento do processo de globalização coloca um conjunto de questões que remetem ao debate sobre a democracia liberal representativa e a democracia participativa, especialmente nos países em que os direitos sociais não são reconhecidos e onde a diversidade de interesses se choca com os das elites econômicas, como é o caso do Brasil.

O modelo hegemônico de democracia (democracia liberal, representativa), apesar de globalmente triunfante, não garante mais que uma democracia de baixa densidade baseada na privatização do bem público por elites mais ou menos restritas, na distância crescente entre representados e representantes e em uma inclusão política abstrata feita de exclusão social. (SANTOS, 2005: 52)

Na experiência brasileira, o processo de democratização se realizou com a inserção de novos atores sociais na cena política, que ressignificaram as práticas democráticas ao trazerem para o campo da política as relações de gênero, étnicas,

o privatismo na apropriação dos recursos públicos e tantas outras que alteram a gramática das relações entre sociedade e Estado. Essas experiências são caracterizadas como contra-hegemônicas por Boaventura de Souza Santos em seu livro

Democratizar a democracia

, porque representam iniciativas de resistência à marginalização produzida pela globalização hegemônica dominada pela lógica do capitalismo neoliberal mundial.

Para esse pesquisador e estudioso da democracia, a relação entre diversidade cultural e social e democracia liberal torna-se complexa porque os grupos sociais mais vulneráveis não conseguem que seus interesses sejam representados com facilidade no sistema político. Por sua vez, a democracia participativa propicia a inclusão de temáticas até então ignoradas, a redefinição de identidades e vínculos, o aumento da participação e a afirmação de direitos, especialmente no nível local. Dessa forma, a articulação entre democracia representativa e participativa apresenta-se como um caminho na defesa das múltiplas identidades.

As mobilizações sociais que ensejaram a criação de organismos institucionais de defesa de interesses e direitos dos jovens, tais como a Secretaria e o Conselho Nacional de Juventude no âmbito do governo federal, abordados no capítulo anterior, são conquistas que se inscrevem nos parâmetros das práticas de democracia participativa. E não é por outro motivo que no Projovem, programa deflagrado nesse contexto e portador do ideário de uma política nacional de juventude em construção, a participação cidadã é adotada como uma das dimensões estratégicas para a formação integral dos jovens, sendo associada a questões como “direitos de cidadania”, ”ação coletiva de interesse público”, “cidadania ativa”, valorização de “espaços públicos” e “protagonismo social”, aspectos que concretizam e qualificam a participação juvenil proposta.

O avanço no cumprimento dos objetivos deste estudo, que é resgatar um conjunto de referências históricas, teóricas e conceituais sobre esses temas, a partir de pesquisa sobre a ampla bibliografia existente, será exposto a seguir.

2.1. Cidadania e direitos

Desde que Thomas H. Mashall, na década de 1940, em abordagem que se tornou clássica nas Ciências Sociais, estabeleceu uma tipologia dos direitos de cidadania, distinguindo os direitos civis conquistados no século XVIII, dos direitos políticos, alcançados no século XIX e dos direitos sociais, no século XX, a noção de direitos e o conceito de cidadania têm se alargado. Na passagem do século XX para o XXI mais uma nova geração de direitos vem se afirmando, que engloba os direitos coletivos: o direito à paz, ao ambiente saudável, ao desenvolvimento, à autodeterminação dos povos, entre outros. São os direitos sem fronteiras, como categoriza Benevides (2004), que, como os direitos humanos, se referem a toda a humanidade.

Historicamente a cidadania foi concebida como pertença de indivíduos a um Estado-nação com direitos e obrigações que definem a relação dos sujeitos com o Estado que, por sua vez, lhes assegura proteção. Enquanto os direitos civis englobam todos os que habitam o território do Estado-nação e se vinculam aos direitos sociais, compreendidos como acesso a benefícios, tais como educação, saúde, moradia, etc., os direitos políticos estabelecem as condições e formas de os cidadãos participarem dos assuntos públicos e decisões de interesse coletivo. O Estado-nação, surgido nas revoluções francesa e americana e difundido por todo o mundo, traz a conotação de uma comunidade moldada por uma origem, uma cultura e uma história comuns, em que cidadãos se vêem com o parte de um todo. Segundo Habermas (1995), essa primeira forma de identidade coletiva teve função catalizadora na legitimação da república democrática e forneceu o substrato socialmente integrador para a identidade da república. Mas, para o autor, a

cidadania democrática, para além do

status

legal definido em termos de direitos, consuma sua função integrativa ao se tornar foco central de uma cultura política compartilhada. Desafio que se torna cada vez mais complexo com a globalização, o crescente pluralismo no interior das sociedades nacionais e a diferenciação cultural da sociedade civil. (1995: 90 a 100)

Marilena Chauí (1984), ao afirmar que em uma democracia os cidadãos não são apenas titulares de direitos estabelecidos, distingue a

cidadania passiva

– aquela que é outorgada pelo Estado com a idéia do favor e da tutela –

da cidadania

ativa

– aquela que institui o cidadão como portador de direitos e deveres, atribuindo- lhe o permanente papel de

criador de novos direitos.

A cidadania é assim definida pelos princípios da democracia: significa necessariamente conquista social e política pela participação na vida pública.

No Brasil as mobilizações sociais pelo reconhecimento de direitos dos jovens, surgidas nas duas últimas décadas, inscrevem-se no processo político que procura articular a construção democrática com as lutas pela ampliação de direitos específicos dos mais diversos segmentos populacionais – crianças e adolescentes, idosos, portadores de deficiência, homossexuais – e o acesso a políticas públicas específicas que os considerem em suas singularidades e universalidade. No caso das juventudes, a necessidade de articular a busca da igualdade de condições com a valorização da diferença é um dos atributos importantes para a afirmação de direitos e, conseqüentemente, para a elaboração e implementação de políticas públicas, formulação que ganhou sustentação nas experiências e na trajetória dos movimentos sociais dos últimos anos na consolidação democrática do país.

O esgotamento do regime militar instalado em 1964 e o longo processo de democratização da sociedade brasileira, iniciado na década de 1970, marcaram a emergência de uma multiplicidade de atores coletivos na sociedade civil e de lutas pelo reconhecimento de direitos sociais, decisivas para as conquistas democráticas que se concretizaram no processo Constituinte que se instaurou na década de 1980.

Eder Sader (1988), ao analisar os movimentos sociais que surgiram nesse período, destaca as experiências de trabalhadores e moradores das periferias que alargaram o espaço da política ao se constituírem como sujeitos coletivos e portadores de uma identidade compartilhada em torno da defesa de interesses e vontades comuns, politizaram questões do cotidiano e buscaram autonomia no controle de suas condições de vida contra as instituições do poder estabelecidas.

(...) Eles mostravam que havia recantos da realidade não recobertos pelos discursos instituídos e não iluminados nos cenários da vida pública. Constituíram um espaço público além do sistema de representação política. (SADER, 1988: 313-314)

A conquista do direito a ter direitos, impulsionada pelas mobilizações sociais iniciadas nos anos 1970, foi consagrada na Constituição de 1988, dita “Cidadã”, que garante a todos os cidadãos direitos sociais que incluem educação, saúde, moradia, trabalho, lazer, segurança, previdência social, proteção e assistência (art. 6º) e regulamenta direitos e deveres de cidadania que incluem formas de controle sobre os poderes.

O princípio da soberania popular está explícito no primeiro artigo da Constituição, que afirma o exercício do poder por intermédio de representantes eleitos ou diretamente pelo povo.

Benevides (2003) associa o exercício da soberania popular ativa à participação direta da população nos processos decisórios sobre questões de interesse público e que se referem, em geral, às formas como se organizam o Estado e seus poderes, à definição dos objetivos da ação estatal e às políticas públicas.

A exigência de juntar, de modo inarredável, democracia política e social rompe com a definição tradicional que restringe democracia à

existência de direitos e liberdades públicas individuais e eleições periódicas – indispensáveis, é óbvio. Além disso, é preciso afirmar, com veemência, que a democracia supõe, sempre, o controle sobre as possibilidades de abuso do poder, inclusive o do povo soberano... (BENEVIDES, 2003: 86)

A Constituição de 1988 estabeleceu também novas competências entre as esferas de governo federal, estadual e municipal, com ênfase na descentralização e autonomia administrativa dos municípios, de forma que os governos locais foram fortalecidos e passaram a assumir novo papel na implementação das políticas públicas. Introduziu um conjunto de mecanismos de democratização do poder público, tais como referendo, plebiscito, projeto de iniciativa popular, conselhos gestores de políticas públicas e novos procedimentos para elaboração do orçamento público que deram abertura para maior participação da sociedade. Essas conquistas estenderam-se às Constituições Estaduais e às Leis Orgânicas dos Municípios, que passaram a garantir legalmente a organização de canais de participação direta da população na gestão pública.

Desde a promulgação da Constituição, o país vem construindo uma nova cultura política com a emergência de múltiplas e diversas organizações e movimentos sociais, redes e fóruns mobilizados em torno da conquista, da garantia e da ampliação de direitos sociais; seja por meio de ações reivindicativas para melhoria das condições de vida ou combate às discriminações de gênero e raça, de mobilizações culturais de afirmação e reconhecimento de identidades sociais segregadas de mulheres, afrodescendentes, homossexuais, portadores de deficiência, etc., ou pela criação de canais institucionais de participação na formulação e no controle das políticas públicas, tais como conselhos, conferências, orçamento participativo, entre outros. Essa construção democrática vem ampliando os espaços de participação na vida pública para além dos limites da visão liberal em que o princípio da soberania popular se restringe estritamente ao exercício do voto.

A participação direta dos cidadãos na esfera pública é bem-vinda em um país marcado pela tradição oligárquica e patrimonialista, como afirma Benevides (2003):

A democratização em nosso país, nesse sentido, depende das possibilidades de mudança nos costumes e nas “mentalidades” – em uma sociedade tão marcada pela experiência de mando e do favor, da exclusão e do privilégio. A expectativa de mudança existe e se manifesta na exigência de direitos de cidadania ativa (...)

(idem, 2003: 82)

A visão de cidadania que se expande a partir dessas experiências transcende o reconhecimento legal de direitos que passaram a regular a relação entre o Estado e os indivíduos, para se constituir em parâmetros de convivência social em que os direitos se tornam referências que estruturam identidades e sentido de pertencimento social. O reconhecimento do outro como sujeito de interesses legítimos abre espaço para a interlocução, a negociação de conflitos em que se constroem regras formais ou informais de convivência, que projetam os direitos como parâmetros públicos que balizam o debate sobre as diferenças. (TELLES,1994: 45-48)

Longe de corresponder a um processo harmonioso e linear, esta é uma construção que a cada momento é feita e refeita no terreno conflituoso e problemático da vida social. Mas sinaliza um campo no qual a utopia democrática pode ser formulada na aposta de que homens e mulheres descubram o sentido do espaço público no qual as diferenças se expressam e se representam numa interlocução possível; no qual valores circulam, argumentos se articulam e as opiniões se formam; (...) e, por fim, no qual a dimensão ética da vida social pode se constituir através da convivência democrática com as diferenças e conflitos que elas carregam (...) (idem, 1994: 48).

O reconhecimento da diferença e do conflito como inerentes à convivência democrática e, portanto, constitutivos das dinâmicas que envolvem a participação

cidadã, implica a noção plural do que é o interesse público que incorpore a diversidade e complexidade da sociedade, em que o reconhecimento recíproco de direitos possa operar como mediação capaz de estabelecer parâmetros de justiça e eqüidade social.

Essa visão de cidadania expressa assim uma noção ampliada de democracia que extrapola o estatuto do regime político para designar uma sociedade democrática, heterogênea, com múltiplos atores sociais e ações coletivas. E, por sua vez, valoriza as “novas formas de fazer política”, a multiplicidade de espaços e sujeitos, temas e processos capazes de vocalizar uma sociedade democrática nas dimensões cultural, social e política. (DAGNINO, 2006).

A construção da cidadania, compreendida como um processo permanente de abertura de novos espaços de participação na vida social e política, coloca em evidência temas como as relações de parceria, processos de negociação de conflitos em torno do que é interesse coletivo e público, respeito à diversidade, à diferença, entre tantos outros constitutivos de uma nova cultura política que emergiu no país nos últimos anos. A partir dessas experiências, uma nova compreensão do significado de espaços públicos e da prática da democracia passa a pautar debates e estudos.

2.2. Espaço público e sociedade civil

O conceito de espaço público vem sendo revitalizado por diversos autores como espaço da sociedade, essencial ao exercício da cidadania, e que tem o potencial de redefinir as relações entre Estado e sociedade.

O público é o que nos permite hoje escapar desse dilema entre privado e estatal, entre mercado e Estado, entre o direito de uns poucos e o de todos. Nesse sentido, o público é o espaço da solidariedade, da igualdade, da participação, da diversidade, da

liberdade. Enfim, o público é a expressão da democracia aplicada ao conceito do que deve e pode ser universal. Mas é também um modo de pensar a reorganização da sociedade marcada por esta dicotomia entre o privado e o estatal (...). Estamos propondo que o democrático seja abrangente, que o público seja a forma democrática de existir e equacionar os problemas de todos. (SOUZA, 1995:03)

Para Dagnino (2006) a noção de espaço público, ao romper com a dicotomia entre o privado e o estatal apresenta-se como dimensão em que tanto o direito à igualdade como o direito à diferença podem ser reconhecidos, o que possibilita que a cidadania se realize em toda a sua universalidade.

Nesta ótica, os espaços públicos seriam aquelas instâncias que permitem o reconhecimento e dão voz a novos atores e temas; que não são monopolizados por algum ator social ou político ou pelo próprio Estado, mas são heterogêneos, ou seja, refletem a pluralidade social e política; que, portanto, visibilizam o conflito, oferecendo condições para tratá-lo de maneira tal que se reconheçam os interesses e opiniões na sua diversidade; e nas quais haja uma tendência à igualdade de recursos dos participantes em termos de conhecimentos, informações e poder. (DAGNINO, 2006: 24)

Wanderley (1996) reforça a noção abrangente de espaço público, no sentido que engloba as relações entre o econômico e o político, o público e o privado, o público não estatal, reafirmando que “o espaço público é sustentado pelo princípio da liberdade de expressão” e, portanto,“é consubstancial à democracia”.

Vera Telles (1996), ao analisar o papel dos espaços públicos, compreendidos também como espaços de mediação entre Estado e sociedade, que se configuram como canais institucionais de participação, destaca que podem desempenhar na renovação da gestão da coisa pública:

(...) significa a constituição de parâmetros públicos que balizem a deliberação política, regulem os modos de utilização dos recursos públicos, estabeleçam as regras do jogo na negociação e arbitragem dos interesses envolvidos e permitam, por isso mesmo, neutralizar práticas de corporativismo e clientelismo que até agora vigoraram nas relações entre Estado e Sociedade (...) (TELLES, 1996: 9-10)

O que trazem de novo às experiências de participação direta voltadas ao enfrentamento de problemas sociais e à definição, ao acompanhamento e à fiscalização de políticas públicas, geradas tanto a partir das organizações da sociedade civil como da ação indutora do Estado, é uma sinergia capaz de alterar a relação entre ambos. Para Abers (1997), a participação nas decisões da gestão pública “empodera” os cidadãos.

Participação não é apenas uma questão de transferência de responsabilidades públicas aos grupos de cidadãos, mas também se refere ao crescimento do controle da cidadania sobre o Estado e ao fomento da capacidade do indivíduo comum entender e decidir sobre assuntos que afetam suas vidas de modo mais geral. .(ABERS, 1997: 09)

Raichelis (1998) apresenta cinco categorias que na sua concepção devem orientar a análise de uma esfera pública:

1) visibilidade social, na qual, as ações e os discursos dos sujeitos devem expressar-se com transparência não apenas para os diretamente envolvidos, mas também para aqueles implicados nas decisões políticas;

2) controle social que significa acesso aos processos que informam as decisões no âmbito da sociedade política, o qual possibilita a participação da sociedade civil organizada na formulação e na revisão das regras que conduzem as negociações e a arbitragem sobre os interesses em jogo, além do acompanhamento da implementação daquelas decisões, segundo critérios pactuados;

3) representação de interesses coletivos, que implica a constituição de sujeitos sociais ativos, que se apresentam na cena pública a partir da qualificação de demandas coletivas, em relação às quais exercem papel de mediadores;

4) democratização, que implica a dialética entre conflito e consenso, de modo que os diferentes e múltiplos interesses possam ser qualificados e confrontados, resultando na interlocução pública capaz de gerar acordos e entendimentos que orientem decisões coletivas;

5) cultura política que implica o enfrentamento do autoritarismo social e da “cultura privatista” de apropriação do público pelo privado, remetendo à construção de mediações sociopolíticas dos interesses dos sujeitos sociais a serem reconhecidos, representados e negociados na cena visível da esfera pública.

Para Santos (2005) essas experiências vêm demonstrando que práticas democráticas são mais do que um método de autorização de governos, mas uma forma de exercício coletivo do poder político fundado no pluralismo das experiências. A esse pluralismo corresponde a heterogeneidade da sociedade civil em que coexiste uma multiplicidade de atores sociais, de práticas e projetos políticos.

Sem entrar no debate e sem desconhecer as divergências presentes na academia sobre o conceito de sociedade civil, resgato sinteticamente alguns aspectos desenvolvidos por Wanderley (1999) que, a partir de diversos autores, procurou articular abordagens até mesmo conflitantes para avançar na direção de uma concepção ampliada de sociedade civil e que fornece substratos para a compreensão de seu significado:

1) é tudo o que constitui a esfera pública e não se confunde com a esfera estatal (visibilidade social, controle social, democratização, confrontação, cultura política);

2) há inter-relação entre sociedade política (que inclui os governos) e sociedade civil, mas que pode oscilar entre a hegemonia e a dominação, segundo o momento histórico;

3) traz o consenso e o conflito que permeiam as diversas dimensões da vida social;

4) exerce direção intelectual, moral, social e política;

5) não há separação entre mercado, sociedade civil e sociedade política, que estão organicamente interligadas na constituição do bloco histórico, que inclui intelectuais, representações das classes sociais e de setores sociais, tais como grupos religiosos, étnicos, autogestionários, etc.;

6) incorpora os movimentos sociais geradores de novos sujeitos sociais, que trazem práticas inovadoras e questionadoras das práticas tradicionais do mercado e do Estado (movimentos ecológicos, de gênero, indígenas, de negros, etc.) (1999: 112-115).

Na construção democrática a ação política não se limita à sociedade política, mas é parte da lógica da sociedade civil que disputa espaços de poder ao desenvolver ações coletivas e defendê-las na esfera pública. Na dinâmica tensa e conflituosa que marca essas disputas, a sociedade civil não pode ser compreendida como “o pólo da virtuosidade democrática e o Estado a encarnação do mal”, como assinala Dagnino (2006:28) ao caracterizar algumas tendências presentes no debate atual. A heterogeneidade é uma característica tanto da sociedade civil como do Estado, que num jogo de inter-relações, ora de cooperação ora de confronto, de

No documento Renata Junqueira Ayres Villas Boas (páginas 44-62)

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