• Nenhum resultado encontrado

2 A CIDADE E A REGIÃO

2.1 A cidade e o campo: Santo Antônio de Jesus nos anos 1950-1970

“Porque o produtor é quem toma chuva e toma sol, e a cidade sem a roça não vive. A história é essa”. (Elizeu Mota – feirante, 2014).48

É Justo Que Se Faça Uma Referência

48

Depoimento de Elizeu Lopez da Mota. Feirante. Rua Marita Amâncio, nº 581. Nasceu em 14/06/1940. Entrevista 15/07/2015. Pg.09.

Já há alguma imundície em torno das barracas que estão levantadas nas imediações da Estação, à praça Félix Gaspar, nas quais se vende ao povo comestíveis, café, etc. Não condenamos a existência das barraquinhas porque são destinadas a servir ao povo, mas que haja pleno asseio ali, que tudo se faça numa atmosfera higiênica, numa área sanificada. No mesmo chão de onde se erguem as barracas encontra-se uma leitôa presa por uma corda, um galo velho esperando comprador, galinhas e muitas coisas mais que não são gêneros de refeição, mas elementos que concorrem para a sujeira do local, contaminado além disso por cascas de laranjas, de cana e de bananas. É de esperar que tal estado de coisas tenha um corretivo.49

A primeira epígrafe que abre as portas e janelas deste capítulo, de autoria do feirante Elizeu Mota, traduz não apenas a concepção desse trabalhador da feira livre sobre a relação campo-cidade, como o meu entendimento de como um pesquisador das ciências sociais deve perceber essa complexa relação, que, a meu ver, não são duas realidades distintas e distantes, mas conexas, cada qual com suas especificidades, cuja realidade se dá numa contínua e descontínua, mas permanente, rede de diálogos, tensões e conflitos. “Essa é a história”. A epígrafe evidencia, ainda, uma das características identitárias mais marcantes da cultura de homens e mulheres que, na condição inicial de produtor rural, – a partir do mundo do trabalho – exerceram o ofício de feirantes na feira livre da cidade de Santo Antônio de Jesus no Recôncavo da Bahia, entre os anos 1950-70; cujas vivências e experiências estavam atreladas tanto ao universo da roça quanto ao mundo da rua.

A segunda epígrafe, (parte de minhas fontes) aparece aqui propositadamente por trazer a visão de um jornal que circulava na cidade nos anos de 1950, temporalidade que marca o recorte inicial dessa pesquisa. Na cidade de Santo Antônio de Jesus era comum, ainda nas décadas de 50 e 60, a presença de animais em várias ruas da cidade. Esses hábitos começaram a causar descontentamento a vários setores sociais que passaram a criticar essas práticas, solicitando mudança nos hábitos e costumes daqueles que praticavam a urbe. Essa realidade não poupava os esforços da imprensa local em produzir várias matérias denunciando a sujeira e a imundície que esses animais causavam na cidade de Santo Antônio de Jesus.

Apesar de defender a sobrevivência, não condenando as barraquinhas nas quais se vendiam gêneros alimentícios, próximo à Estação Ferroviária, o articulista parece se chocar com uma dinâmica onde o “moderno” – representado pela figura do trem – contrastava com os velhos hábitos de criar e vender animais próximos a lugares que comercializavam refeições, além de cascas de laranjas, canas, bananas e os excrementos que se juntavam àquele

49

cenário. Não precisamos ir muito longe para perceber que muitos dos costumes e hábitos, que eram alvos de crítica das pessoas que faziam parte da elite local, eram originários de muitos homens e mulheres que nasceram e viveram boa parte de suas vidas nas roças do Recôncavo baiano. Por isso, para corrigir esse “defeito” era preciso “um corretivo”. Portanto, essa era uma realidade marcada por tensões e conflitos, mesmo que não fossem explosivos. Muitos desses conflitos e tensões se davam no campo dos valores. Ou seja, na dinâmica das relações campo-cidade. Assim, penso a relação campo-cidade como elementos constitutivos de uma totalidade dialética, ou seja, uma totalidade cuja unidade se forma na diversidade.50

Em Santo Antônio de Jesus, ao que tudo parece, o “embelezamento da urbe” era uma das questões que se tornaram pauta do dia no cotidiano da cidade. Contrastando com essa realidade, ou melhor dizendo, com a cidade que se pretendia, apresentava-se ali uma realidade bem diferenciada, onde o novo e o velho, tradição e modernidade, atraso e progresso, campo e cidade, conviviam dentro de uma dinâmica própria, específica e dialética. Muito dos discursos de civilidade e progresso esbarraram nas trincheiras de homens e mulheres da roça que com seus hábitos, costumes e valores, só permitiram que mudanças e transformações mais radicais no universo da urbe fossem efetuadas de maneira lenta, gradual e progressiva, a exemplo da retirada da feira livre da praça principal da cidade, em 1971. Ou seja, do centro, do coração da urbe. Como veremos mais adiante.

Localizada no Recôncavo da Bahia, mais especificamente na região do Recôncavo Sul, a cidade de Santo Antônio de Jesus atualmente desfruta de uma posição privilegiada na região em grau de importância social e econômica, que a colocou na condição de capital do Recôncavo baiano. Porém, nos anos de 1950, Santo Antônio de Jesus não desfrutava ainda dessa condição, foram nos anos 60 e, sobretudo, 70 do mesmo século, que essa cidade conseguiu se destacar na região e foi paulatinamente conseguindo tal status. Então: como se configurava a cidade de Santo Antônio de Jesus entre os anos 1950 a 1970? Como eram vivenciadas as relações campo-cidade? O meu objetivo nessa secção é reconstituir a cidade através de alguns aspectos da vida cotidiana que foram experimentados e vivenciados por homes e mulheres da roça e da rua em suas múltiplas relações sociais, para já começar a apresentar algumas dificuldades e desafios que faziam parte das vivências e das lutas cotidianas dos feirantes.

50

MARQUES, Marta Inês Medeiros. O conceito de espaço rural em questão. Terra Livre. São Paulo. Nº 19. Pgs.95-112. Ano 18. 2002.

A matéria do jornal, que apresento no início desse capítulo, permite-me inferir que o autor estava preocupado com as vivências urbanas na cidade de Santo Antônio de Jesus. Num estudo sobre as vivências urbanas nessa cidade entre os anos 1950-1970, Edilma Souza Oliveira Quadros revela que,

a problemática da urbanização e seus corolários sociais se apresenta como uma das mais importantes questões das sociedades contemporâneas. No Brasil, o século XX assinala a transição de uma sociedade com população rural para uma sociedade cada vez mais urbana, como um fenômeno que marcaria de forma iniludível múltiplos aspectos da vida social.51

A autora ressalta também que o processo de urbanização vivenciado na Bahia, a partir de meados do século XX relaciona-se em grande medida com as iniciativas de investimento no setor industrial observadas, sobretudo, desde a década de 50.52 Na fase inicial o processo de industrialização na Bahia esteve permeado pela influência e disputa de dois projetos de desenvolvimento econômico: o nacionalista Varguista e o que defendia a internacionalização do capital brasileiro. É nessa conjuntura que algumas iniciativas são tomadas com vistas a dotar o Recôncavo de uma infraestrutura capaz de permitir a instalação dos futuros centros industriais: rodovias foram construídas e pavimentadas, empresas públicas de eletricidade e telefonia, como também um banco de fomento foram criados.53

Para ampliar esse cenário de mudanças e transformações que estavam ocorrendo na Bahia nesse período e contexto histórico, Quadros ainda aponta: Investimentos em educação e saúde, iniciou-se a implantação de investimentos em Aratu, acordos foram firmados para obras com a Petrobrás, criação da CPE (Comissão de Planejamento Econômico) e elaboração de um plano de diretrizes econômicas para o Estado. Foi também nessa década que a Usina de Paulo Afonso entrou em funcionamento para gerar a energia elétrica que viabilizaria tal projeto de desenvolvimento.54

No bojo desses acontecimentos, na década de 1950, ocorreu também a construção da Refinaria Landulfo Alves. Nos anos 1960 foi instalado o Centro Industrial de Aratu e foram implementados vários centros industriais em municípios do interior da Bahia, como o da

51

QUADROS, Edilma Oliveira Souza. Transformações na cidade: vivências urbanas em Santo Antônio de

Jesus/Ba. (1950-1970). Programa de Pós-Graduação em História Regional e Local. UNEB (Universidade do

Estado da Bahia-CAMPUS V) – Santo Antônio de Jesus-Bahia. 2009. Pg.14.

52 Idem. Ibdem. 53 Idem. Ibdem. 54 Idem. Ibdem.

cidade de Feira de Santana, além de outras realizações financiadas por instituições estatais como a Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE) e o Banco do Nordeste do Brasil (BNB),55 culminando com a implantação do Polo Petroquímico de Camaçari no final dos anos 1970. Assim, Quadros afirmou que “esse processo de industrialização foi acompanhado pelo êxodo rural e pelo crescimento acelerado da população urbana, tendo como desdobramento o fenômeno da favelização, a ocupação desordenada do espaço urbano e o surgimento de muitas demandas sociais”.56

De acordo com essa dinâmica, a vida urbana na cidade de Santo Antônio de Jesus carecia de muitas demandas. Uma delas era a energia elétrica. A cidade de Salvador conheceu a energia elétrica em 1885, com a experiência feita por um professor da Faculdade de Medicina da Bahia que utilizou pilhas e iluminou, por algumas horas, os cômodos e a área fronteiriça do prédio da Escola do Terreiro, causando espanto aos alunos e ao povo aglomerado na rua. Com a expectativa criada na população, aumentava a pressão sobre o poder público para que fosse instalada a energia elétrica servindo para a iluminação pública e privada e para os meios de transportes da capital.57

A eletricidade chegaria às cidades do interior em um ritmo muito mais lento. Segundo Luiz Fernando Motta Nascimento,

Em outubro de 1920, foi inaugurada a Usina Hidroelétrica de Bananeiras em Paulo Afonso. Mas foi somente com a CHESF, criada em 1945 e constituída em 1948, tendo como missão produzir, transmitir e comercializar energia elétrica para a Região Nordeste, que se estendeu o serviço para todo o Estado da Bahia, através de um programa de eletrificação, que não se deu ao mesmo tempo para todo o Estado.58

Quadros ressaltou que, para entender o processo que envolveu a chegada da luz elétrica na cidade de Santo Antônio de Jesus, faz-se necessário recuar algumas décadas no tempo. Ela salientou que,

55

SOUZA, Edilma Oliveira. SOUZA, Edinélia M. Oliveira. Modernização e vida urbana na cidade de Santo

Antônio de Jesus-BA. Simpósio Internacional Globalización, innovación y construcción de redes técnicas

urbana em América Europa, 1890-19300. Brazilian Traction, Barcelona Traction y otros conglomerados financieiros y Técnicos. Universidad de Barcelona. Facultad de Geografia e História, 23-26 de enero, 2012. Pg.03.

56

Quadros. Edilma. Transformações na cidade... Op. Cit. Pg.14.

57

TEIXEIRA, Cid. História da Energia Elétrica. Salvador-Bahia: Editora Publicações e Publicidade, 2005.

58

NASCIMENTO, Luiz Fernando Motta. Paulo Afonso: luz e força movendo o nordeste, Salvador-Bahia. EGBA/ACHÉ, 1998, Pg.215.

Em 1925 a cidade de Santo Antônio de Jesus passou a usufruir os serviços precários de luz e força, fornecidos pela Empresa Fabril S/A do vizinho Nazaré das Farinhas. Antes, a iluminação da cidade era feita por meio de lampiões a gás. Em 1929, a prefeitura adquiriu um motor de fabricação alemã, com capacidade de 200 kVA, que funcionava a óleo diesel e inaugurou uma usina termoelétrica em que era usado um gerador que funcionava das 18:00 às 22:00 horas. Entretanto, isso apenas garantiu pequenos melhoramentos ao serviço. Nos anos que se seguem, o fornecimento da energia na cidade continuava irregular, sujeito a frequentes apagões e constantes interrupções para reparos. A situação era frequentemente denunciada em jornais locais, além de ser tema central dos discursos e promessas dos políticos do município.59

Um desses discursos e promessas fora noticiado no Jornal o Palladio no ano de 1949, cuja matéria, intitulada Eletricidade – símbolo de urbanização e modernidade, dizia:

Voltamos hoje, num êxtase de contentamento, a informar ao público – que em entrevista ao nosso diretor com sua Excia. o Sr. Prefeito, foi-nos por este assegurado, que, em face do seu entendimento em dias da semana finda, com a direção da Cia de Energia da Bahia, dentro de poucos meses teremos a nossa cidade servida por aquela grande e poderosa empresa de eletricidade do norte do país. (...) Consignamos, pois, esta auspiciosa notícia, levando ao povo os nossos parabéns pela era de eletricidade, no despontar feliz de seus raios brilhantes, trazendo aos santoantonienses um complexo de grandezas, para maior conforto dos nossos labores, elegância das nossas ruas e maiores possibilidades à indústria, ao comércio desta gleba tão justamente elogiada por quantos a visitam.60

O prefeito em exercício na época, que concedeu essa entrevista ao referido jornal, era Antônio Magalhães Fraga. Como podemos perceber, providências estavam sendo tomadas para implantar definitivamente a energia elétrica na cidade de SAJ e a expectativa, pelo menos por parte das elites locais, era de que essa inovação iria ser importante para o mundo do trabalho de diversas ordens, desde o comércio à indústria, como também serviria para dar aspectos de elegância às ruas do município. Vale ressaltar que esse prefeito era dono de armazéns e comercializava fumo, era um grande proprietário rural, assim como outros membros de sua família. O seu cunhado Luiz Argolo, também proprietário de armazém de café e de grandes propriedades rurais no perímetro urbano, foi o homem ao qual o feirante

59

SOUZA, Edilma Oliveira. SOUZA, Edinélia M. Oliveira. Modernização e vida urbana na cidade de Santo Antônio de Jesus-BA. Op. Cit. Pgs.05-06.

60

Rodrigo Lopez do Vale, na condição de trabalhador, vendeu sua mão de obra durante o período de 22 anos no passado, segundo ele, “alugado”, conforme veremos em alguns aspectos de sua história mais adiante.61

Foi a gestão de Antônio Magalhães Fraga também que “permitiu o funcionamento da feira livre em dia de quarta-feira, o que causou boa aceitação pela maioria da população, pois o movimento comercial aumentou na praça Luiz Viana, atual praça Padre Mateus”.62

Até a década de 80 do século passado, era comum os cidadãos santo-antonienses ironizarem a falta de dois bens considerados cruciais à vida, a água e a luz elétrica, (este último, um dos grandes vetores da vida moderna), expressando a frase: “Santo Antônio de Jesus: de dia falta água e de noite falta luz”. Dessa forma, podemos imaginar o quanto foi lento a oferta desses serviços para a população, e o quanto foi precário seu fornecimento, pelo menos entre os anos 1950-70, sobretudo, para as pessoas que viviam nas zonas rurais. Clementino Ferreira, que era lavrador, produtor rural e vendia seus produtos na feira livre de SAJ, traz dados dessa realidade quando morava na roça naquele tempo:

Então, quando a roça começou a maducer*, eu aqui parei de vender carvão e capim, eu achei que não ia dá dinheiro pro meu trabalho de trabalhador. Ai, comecei. Arrancava mandioca e fazia uma carga de farinha, era manual, era muito trabalho pra fazer. Aí, comecei, né? Plantava muita roça, quando plantava muita roça, aí, me soltei (muitos risos). Aí, comecei a trabalhar e trabalhava até de noite. Trabalhei várias vezes de noite, de lua, mas consegui. Trabalhava de enxada, noite de lua Cheia, no claro.63

Maducer é um termo muito recorrente na linguagem dos feirantes. Essa palavra significa o momento, ou seja, “o tempo da colheita”, a época em que a roça já está pronta para ser colhida. Todavia, percebe-se que, nesse contexto específico, maducer traz também a ideia ou noção de prosperidade, de positividade, algo que estimulou o feirante Clementino Ferreira a abandonar o carvão e o capim, produtos com os quais iniciou sua experiência de comerciante na feira livre de SAJ no início da década de 1960. Ele deixou de comercializar tais produtos porque, além de ser uma atividade árdua, essas mercadorias não eram vistas socialmente como algo dignificante perante os feirantes, o vendedor de carvão, nesses

61

Depoimento de Rodrigo Lopez do Vale. Ex-feirante, aposentado. Rua Viriato Lôbo nº 505. Nascido em 06/10/1931. Entrevista realizada em Julho de 2015. Pg.04.

62

COSTA, Alex Andrade; BITTENCOURT, Melina de Oliveira; NASCIMENTO, Manuela Santana. História e

memória da administração pública municipal de Santo Antônio de Jesus. Santo Antônio de Jesus-Bahia.

2012. Pg.39.

63

referidos anos, se posicionava num status social inferior numa suposta hierarquia que pode representar esse grupo ou categoria social.

O relato também apresenta as preocupações desse trabalhador com o futuro e a dureza do trabalho com a cultura da mandioca, que era manual, pois naquela época não existia a possibilidade de uso do motor por causa da ausência da energia elétrica. Essa realidade conduzia não só o lavrador Clementino Ferreira, como tantos outros que prolongavam sua diária na labuta do trabalho à noite, a realizarem suas atividades sob a luminosidade da lua. Parece que dentre as quatro fases que esse satélite apresenta, a lua cheia se destaca ganhando um significado especial na memória dos feirantes.

As fontes apontam pistas que o uso da luz da lua ainda iria fazer parte das necessidades dos feirantes por um bom tempo. Já que na década de 1950, a cidade constituía- se de 62 logradouros, dos quais 15 eram pavimentados e 32 possuíam luz elétrica.64 Edilma Souza e Ednélia Souza assinalam que, com a instalação de uma máquina a vapor, na Usina Geradora da Empresa Luz e Força, o serviço de energia elétrica pública e particular ultrapassou os limites do centro da cidade e estendeu-se a ruas e bairros mais afastados, como o São Benedito, a Avenida Luiz Viana, as ruas das Queimadas e Expedicionário. Ainda nessa década, o serviço de iluminação pública foi ampliado até as cinco horas da manhã, dobrando assim o trabalho desempenhado pelos funcionários da empresa.65

Tudo nos leva a deduzir que o processo de “expansão” desse serviço, seguiu uma ordem baseada em distinções sociais, cujas primeiras ruas e bairros beneficiados foram aqueles que – discordando das autoras Edinélia Souza e Edilma Souza – a meu ver, eram os mais próximos do centro da cidade. Pessoas menos abastadas não residiam nessas localidades (Rua Rui Barbosa, Avenidas Barros e Almeida e Luiz Viana, Rua dos Expedicionários e Bairro São Benedito).

A importância de estar tratando do processo de implantação da luz elétrica em Santo Antônio de Jesus nessa tese, é para mostrar que não existia esse serviço nas zonas rurais. Então, o que a ausência da energia elétrica implicava na vida dos feirantes? Como vimos a partir dos relatos já apresentados e os que virão ao longo do texto, a falta de luz elétrica implicava em grandes dificuldades para o mundo do trabalho dos feirantes, tornando a vida mais árdua. Essas dificuldades eram sentidas em várias etapas do labor, desde o fato de não poderem usar máquinas a motor para a feitura e produção da farinha de mandioca, daí todo

64

Dados do senso de 1950. Enciclopédia dos Municípios Brasileiros. Rio de Janeiro XXI Volume.

65

processo ser manual, como também, durante o transporte das mercadorias da roça até a rua, quando esses trabalhadores eram obrigados a conduzirem seus produtos e mercadorias sob a luz de candeeiros, etc.

Assim, a energia elétrica chegou primeiro nos lares dos citadinos, para depois ser introduzida nas residências daqueles que residiam nas roças. Não existia uma infraestrutura no campo, durante as duas primeiras décadas da segunda metade do século XX, era a luz do candeeiro que não só iluminavam os lares na zona rural, como eram também de suma importância para clarear as trilhas e caminhos dos feirantes que se deslocavam à noite e durante as madrugadas transportando os produtos que eles iriam comercializar não só na feira livre de SAJ, como também em outras cidades da região do Recôncavo baiano, a exemplo de Nazaré das Farinhas; conforme veremos nas histórias que aparecerão ao longo desse texto. Isso sugere entendermos que as vivências naqueles anos eram marcadas pelo tempo do candeeiro.

No tempo do candeeiro, a água encanada não era um bem acessível aos diversos moradores da cidade de SAJ. Desde a década de 1930 que a imprensa local cobrava melhoramentos no sistema de abastecimento de água. No ano de 1938, o Palládio trouxe a seguinte matéria:

“O problema da água”

Dando mão forte à obra da água, que vem melhorar a cidade, de modo progressivo, no sentido higiênico principalmente, o governo da cidade em ação conjunta com o Estado, promete a Santo Antônio de Jesus esse commettimento.

Obra de utilidade geral, nivelando Santo Antônio à outras localidades já