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Neste capitulo iremos abordar de forma mais detalhada o início e constituição da indústria têxtil paulista, principalmente na região do grande ABC, com o início da imigração no final da década de 1890, que cresceu de maneira acelerada até a década o final da década de 1920, com o crash da bolsa de Nova Iorque. (JESUS, 2009)

No tópico referente a constituição da Tecelagem e Fiação Tognato, resgatamos através de entrevistas concedidas pela Sra. Nair Tognato, que pacientemente nos ajudou a relacionar os pontos do referencial teórico com a história que viveu e fez parte.

Descrevemos em tópico especifico, o auge e a decadência desta centenária empresa, a luz dos acontecimentos explorados e descritos no capitulo Dois. Contudo entendemos também não somente o fim de uma indústria, mas também a mudança de hábitos de todo um mercado consumidor que corroboraram com o enfraquecimento desta empresa dedicada a manufatura de cobertores e mantas jaqcard e piquet.

Entender também a mudança de paisagem do bairro Baeta Neves, marcada pelas chaminés e pela caixa d’água da empresa. Podemos traçar um paralelo entre reestruturação econômica ocorrida associada equivocadamente a desindustrialização da região do Grande ABC. A mesma dinâmica se aplica com a paisagem local, pois anterior a tecelagem Tognato na mesma área esteve localizada a fazenda Baeta Neves e sua olaria.

3.1 – Constituição da Tecelagem e Fiação Tognato

No final do século XIX os imigrantes italianos que se estabeleciam em São Paulo, tinham como parada obrigatório a Hospedagem dos Imigrantes, no bairro do Brás, de lá direcionavam-se para trabalhar na lavoura nos núcleos coloniais, nas fazendas de café ou nas industrias estabelecidas na capital (LEONE & TEIXEIRA, 2010).

No começo do século a indústria têxtil estava em franca expansão na capital paulista, as tecelagens funcionavam em regime de 24 horas, os estabelecimentos existentes dobraram de tamanho em relação à última década do século XIX, demandando grande quantidade de mão de obra, preferencialmente de origem

estrangeira, não raro explicitado nos anúncios de jornais da época com a expressão “dá-se preferência a estrangeiros” (JACINO, 2012).

Os trabalhos ligados a indústria têxtil estavam em alta, pois o tecido tinha uma importância econômica significativa em toda a cadeia produtiva, desde a embalagens para exportação de sacas de café e comercio em geral interno, a produção de cordas e tecidos para o “boom” demográfico que São Paulo vivenciou nas primeiras décadas do século XX. A demanda por tecelões inflacionou o salário percebido por esta categoria, sendo considerada uma das mais bem pagas da época, conforme cita Jacino (2012):

“Na discriminação das ocupações, encontramos os seguintes valores: batedor 5$533, carcador r$971, maçaroqueiro 6$006, fiandeiro 5$067, bobineiro 5$369, tecelão 8$812, urdidor 7$062, engomador 7$347, alvejador 5$778, tintureiro 5$686, acabador 5$803”. (JACINO, 2012, p. p. 153)

Diante da escassez da necessidade crescente de mão de obra, especificamente para a indústria têxtil era permitida por lei, o emprego de menores de 12 anos para exercício de funções ligadas ao aprendizado deste segmento, conforme decreto número 1.313 em seu artigo segundo e terceiro:

“Art. 2º Não serão admittidas ao trabalho effectivo nas fabricas crianças de um e outro sexo menores de doze annos, salvo, a titulo de aprendizado, nas fabricas de tecidos as que se acharem comprehendidas entre aquella idade e a de oito annos completos. Art. 3º Em cada estabelecimento fabril haverá um livro, aberto e rubricado pelo inspector, para a matricula dos menores, no qual se escreverão as notas e dados individuaes de cada um e a data da admissão” (Decreto nº 1.313, 1891)

Diante deste cenário chega ao Brasil em 27 de outubro de 1895, a bordo do vapor Attivitá, originário da Província de Rovigo na região Vêneta, Valentino Tognato com sua esposa Giulia e seus nove filhos, onde após uma breve passagem pela lavoura de café no município de Mococa, resolve voltar para São Paulo e se emprega no Cotonifício Rodolfo Crespi (1897), uma das maiores tecelagens em funcionamento no Brasil, que em 1900 já contava com 1305 empregados e 500 teares.

Por volta de 1901, a família se muda para Santo André e passa a trabalhar para a tecelagem Ipiranguinha, fruto da união das tecelagens São Bernardo Fabril com a Silva Seabra & Cia, e a maior da região e estabelecida desde 1899 (PASSARELLI, 2005). Santo André, na época fazia parte do município de São Bernardo juntamente

com São Caetano do Sul e Diadema, e de população predominantemente italiana34,

e com vocação industrial ou artesanal, uma vez que a qualidade do solo da região não era atraente para os imigrantes de vocação agraria.

Os trabalhadores oriundos da Tecelagem Ipiranguinha e da Fábrica de Casemira Kowarick, após dominarem os misteres de tecelão, acabaram por fundar boa parte das indústrias têxteis da Região do ABC, uma vez que no início do século XX eram somente as duas citadas, já em 1935 formavam 38 estabelecimentos voltados a produção têxtil, conforme levantamento realizado por Jesus (2009) nos livros de apuração de impostos da cidade de Santo André.

Neste contexto, surge a Irmãos Tognato, que seria de grande importância e coadjuvante das mudanças urbanísticas na região ocorridas no século passado. Além destas mudanças, a tecelagem foi importante também na construção da própria história do ABC.

Um fato curioso atribuído ao operariado da Irmãos Tognato, predominante feminino, foi um dos primeiros movimentos grevistas femininos a eclodir em São Paulo, entrando em greve em agosto de 1931 reivindicando melhores condições de trabalho e remuneração, passando a contar com a solidariedade da Força Operaria de São Paulo, que panfletou a fábrica com um manifesto de apoio, conforme figura 1:

34 O relatório do Ministério da Agricultura ano de 1893 aponta um levantamento relativo a nacionalidade

dos habitantes do distrito de São Bernardo: Italianos 459, Austríacos 83, Brasileiros 78, Alemães 21, Franceses 10, Suíços 10, Ingleses 3 e Uruguaios 1. (COSTALLAT, 1893)

Figura 4: Manifesto de Apoio a greve na Irmãos Tognato.

Fonte: Arquivo do Estado de São Paulo (DEOPS), Prontuário de Abillio Neves (1946)

Além da importância no desenvolvimento da região, é inegável a contribuição histórica para o movimento sindical, no que se refere a participação feminina, uma vez que a participação das mulheres não era bem assimilada pelos movimentos sindicais, conforme afirma Leone & Teixeira (2010):

“Outro fator se refere ao machismo, uma vez que os espaços sindicais são considerados espaços masculinos. Para Alves (1999), as mulheres não se sentem habilitadas para a disputa de espaços de poder, na hora de discursar ou propor-se para determinados cargos, sentem-se melhor na execução de tarefas. Embora se possa reconhecer que as mulheres apresentam maior dificuldade em se impor e disputar espaço pela condição a que foram submetidas historicamente, também é verdadeiro que os homens não cedem espaço espontaneamente.” (LEONE & TEIXEIRA, 2010, p. p. 14)

Outra pratica adotada por empresas na região, a da bica d´água foi iniciada pela empresa em 1952, quando se mudou de Santo André para São Bernardo do Campo.

A Bica d´água é uma das recordações mais associadas a imagem da Tecelagem Tognato pelos moradores do Baeta Neves, essa gentileza urbana compartilhada com a população do entorno não foi uma iniciativa apenas da Tecelagem Tognato, a Fiação Lydia I.R.F.M e a Termomecânica São Paulo35 também

ofereciam este recurso a vizinhança, em comum entre elas a origem italiana. Difícil determinar de como e por que surgiu esse costume de instalar bicas água na entrada principal das empresas. Quanto esta questão, Lopes (2008) atribui essa pratica denominada “política das bicas d’água”:

““Política das bicas d’água”, virou sinônimo de clientelismo, devido profusão de ocorrências voltada ao abastecimento nas regiões. Onde não havia políticas públicas responsáveis pelas demandas da população, vereadores e deputados trocavam o precioso líquido por votos, colocando bicas d’água nas praças. Festas eram realizadas, onde havia muita exaltação e discursos emocionados”. (LOPES, 2008, p. p. 7)

Porém, estas empresas não exigiam contrapartida política em favor próprio ou alheio para a utilização das bicas d’água, muito provavelmente por serem grandes consumidores de recursos hídricos, e por falta de uma legislação ambiental sobre tratamentos de resíduos industriais36, lançados livremente nos rios e córregos

próximos e utilizados pela população. A instalação de bicas d’água seria uma compensação a esta população pelo uso e poluição deste recurso, e recebiam de bom grado a gentileza pela praticidade das bicas em comparação ao rios e córregos de difícil acesso, a associação frequentemente atribuída pureza e limpeza da água da bica provavelmente remete a este contraste.

A importância histórica da tecelagem não foi determinante apenas para a formação do bairro Baeta Neves e seu entorno, principalmente no período pré- automobilístico, anterior a década de 1950, onde a indústria têxtil era economicamente importante para o recém emancipado município por sua forte necessidade de mão de obra e fonte geradora de receita (JESUS, 2009).

35 ZUCATELLI, Kelly. Água de bica é tradição no Grande ABC. DGABC, 08 de Março de 2009.

36 A primeira lei específica sobre meio ambiente surgiu apenas em 1981, com a Política Nacional de

3.2 – A Fundação da Tecelagem Tognato

Em 1909, os irmãos Giacinto Pietro, Romano, Attilio, Massimiliano Ângelo e Amabile Tognato iniciaram as atividades da Irmãos Tognato com dois teares ingleses, adquiridos com dinheiro de empréstimos do Banco de Londres, nos fundos da casa onde moravam com a família localizada no cruzamento da Rua Alfredo Flaquer com as Rua Fernando Prestes, no bairro Ipiranguinha, porém a licença para funcionamento formal só foi expedida em 1910, com a emissão do alvará de funcionamento pela Prefeitura de Santo André. (JESUS, 2009)

Sendo o terceiro estabelecimento a se fixar na região, a Irmãos Tognato a princípio, se concentrou na fabricação de uma pequena quantidade de seda. A iniciativa surte efeito, e em 1913 a Irmãos Tognato conta com 10 teares, dez anos depois com 53 teares e força de trabalho de 500 pessoas, em sua maioria mulheres e menores de idade, mão de obra habitual nesta época para operação deste tipo de manufatura, em uma área adquirida pela família na Rua Siqueira Campos em Santo André fabricando colhas piquet e cobertores (TOGNATO, 2014).

Por volta da década de 1930, a sociedade Irmãos Tognato contava apenas com os irmãos Giacinto, Attilio e Romano. Os outros irmãos haviam se desligado da sociedade para outros projetos pessoais assim como Romano Tognato, que pouco tempo depois deixou a sociedade para se dedicar a um projeto de construção de um cinema em Osasco, restando apenas Giacinto e Attilio Tognato.

A tecelagem havia se firmado como umas das mais importantes fabricantes de enxovais de cama do país, e dividia cordialmente o mercado com a Oddone, Scavone & Comp., propriedade de italianos estabelecidos em Itatiba, interior de São Paulo. Além das linhas de colchas e cobertores, foi convencido por fabricantes de material para higiene e hospitalar a produzir algodão esterilizado para hospitais e cotonetes, tornando-se um produto de alta demanda pressionando as linhas de produção já esgargaladas da Irmãos Tognato, o que levou Giacinto considerar a mudança para um local mais amplo onde pudesse expandir o fluxo produtivo dos produtos em linha e eventualmente desenvolver novos produtos e novidades que trazia anualmente da Europa. (TOGNATO, 2014)

Giacinto Tognato, juntamente com seus filhos estava presente em todas etapas e processos da Irmãos Tognato, viajava todos os anos para a Europa a bordo de vapores a fim de trazer as novidades e ultimas tendências do velho continente para os teares da Irmãos Tognato. Em uma dessas viagens retornando ao Brasil, sofreu naufrágio a bordo do “Principessa Mafalda” (figura 2), em 25 de Outubro de 1927, sendo resgatado e levado ao litoral baiano, um choque para todos ainda abalados com o naufrágio do Titanic 15 anos antes, e que Giacinto Tognato37 recordaria por

toda vida. (TOGNATO, 2014)

Figura 5: Operação de abandono do navio Principessa Mafalda em 25 de outubro de 1927.

Fonte: pt.wikipedia.org/wiki/Principessa_Mafalda.

Com o crescimento da Irmãos Tognato foi necessária mudar para instalações maiores, onde pudessem não somente desapertar e liberar mais o fluxo produtivo, mas alçar novo ganho de escala com a ampliação produtiva e aquisição ou fabricação própria de novos teares (TOGNATO, 2014).

O arranjo produtivo utilizado no início do século XX era extremamente verticalizado ou All-core, onde todas as etapas do processo desde produção a distribuição de mercadorias são assumidas pela empresa (STORPER & HARRISON, 1991), não diferente na Irmãos Tognato, que fabricava desde os próprios teares e montagem das caixas de papelão dos cobertores para embalagem, necessitando de uma grande área para a operação de manufatura.

Por conta deste tipo de arranjo-produtivo, e pressionado por mais espaço para a produção, em 1940 a Irmãos Tognato compra do inglês Charles Murray, um prospero exportador de café e autor do plano de aquisição e destruição das safras de

37 Giacinto Tognato consta na lista de sobreviventes da segunda classe do Principessa Mafalda,

café adotado pelo governo federal durante a crise de 1929 (SIMONSEN, 1973), uma grande área de 220 mil m², conforme figura 3, no Bairro Baeta Neves em São Bernardo do Campo38.

Façamos um recuo no tempo para determinar a propriedade desta área, originalmente era parte da fazenda39 de 83 alqueires demarcada em 1862 de

propriedade de Antonio Serafim Bueno, após sua morte em 1903, parte desta fazenda foi vendida para o Dr. Luís Filipe Baeta Neves, médico e cafeicultor da região de Limeira, pretendia lotear e vender a área em conjunto com os irmãos Pujol, mas por ocasião da crise do café, negociou a área com Wallace Simonsen e o inglês Charles Murray40, exceto a área compreendida entre a avenida Pereira Barreto e avenida e

rua Dr. Amâncio de Carvalho, que continuou sua propriedade, loteada por seu ex- capataz João Versolato. Este é um ponto importante da pesquisa, pois em algumas pesquisas a instalação da Irmãos Tognato em São Bernardo do Campo é atribuída a doação da área pela prefeitura do município. Esta política realmente existiu, na década de 1950 na gestão do prefeito Lauro Gomes no seu primeiro mandato de 1952 a 1955, posterior a instalação completa da Irmãos Tognato para São Bernardo do Campo em 1952 (JESUS, 2009).

Na primeira metade do século passado o uso de algodão era predominante ao uso de fibras sintéticas, para cada quilo de tecido tingido e acabado consumia-se 100 litros de água nas etapas produtivas41, a exigência de água foi fator determinante para

escolha do local, onde ocorre o encontro do Ribeirão dos Meninos de São Bernardo do Campo com o Córrego Taioca de Santo André e com várias exsurgência, permitindo a abertura de vários poços artesianos em toda área adquirida. Esta abundância de recursos hídricos na área da Tecelagem ficou popularmente conhecida no bairro Baeta Neves, onde vários moradores abasteciam-se de água nas várias bicas instaladas na portaria da empresa para este fim, e que durou até a mudança da Tecelagem em 2001.

38 200 mil m² – inicialmente o local tinha 222 mil m² mas uma parte foi vendida na década de 1990.

OLIVEIRA, Mariana. Perto dos 100 anos, Tognato paralisa produção e venda. Diário do Grande ABC, 13 de jun. 2005.

39 Sitio dos Viana abrangia a Vila Baeta Neves, Bairro Jardim do Mar e parte da Bairro Chácara Inglesa

em São Bernardo do Campo - Seção de Pesquisa e Documentação - Prefeitura do Município de São Bernardo do Campo.

40 Documentação sobre a Villa Baeta Neves, na Memória e Patrimônio Histórico e Cultural da Prefeitura

de São Bernardo do Campo.

41 Segunda a ABIT, eram 100 litros de água usados para produzir 1 kg de tecido beneficiado, antes do

A área também ficava pouco mais de 5 quilômetros da Irmãos Tognato original, e muito próximo a área que a família Tognato mudara-se, um onipotente casarão localizado na avenida Dom Pedro II, conhecido como “Mansão Tognato”42, projeto e

construído pelo engenheiro Luiz Giacometti na década de 1930.

A mudança da Irmãos Tognato iniciada na década de 1940 foi concluída em 1952, acelerada por uma explosão de uma caldeira em 1950 nas instalações da rua Alfredo Flaquer, ocupando 75 mil m² dos 220 mil m² do total da área terreno, passando a partir deste evento a denominar-se Tecelagem e Fiação Tognato (TOGNATO, 2014).

As novas instalações eram dedicadas a produção de colchas, cobertores e enxovais de camas. Composta de galpões para lavanderia, tinturaria, costura, fiação, tecelagem, mecânica - para conserto e confecção de teares – vestiários, refeitório, enfermaria, administração, expedição e um bem cuidado campo de futebol para os empregados e usado por times da primeira divisão do futebol paulista como Palmeiras, Santos e Corinthians para treinamento. (JESUS, 2009).

Figura 6: Instalações da Tecelagem Tognato em 1962.

Fonte : http://www.abcdpedia.com.br (2015)

Neste período, Yolando Tognato, filho mais velho de Giacinto Tognato é elevado a condição de Diretor-Presidente da Tecelagem e Fiação Tognato. Yolando Tognato já estava sendo preparado desde 15 anos, enviado para a Europa para

42 Data de Tombamento: 17/04/2007. Considerado exemplar da arquitetura da elite industrial na cidade,

estudar tecelagem e fiação, permanecendo por 3 anos na Itália e 2 anos na Alemanha no período posterior ao início da segunda guerra mundial, permaneceu nesta posição até pouco antes de sua morte em 1995, considerado o membro da família que permaneceu mais tempo a frente da Tecelagem. (TOGNATO, 2014)

3.3 – Auge e Decadência

De acordo com o IBGE, em sua publicação Enciclopédia dos Munícipios de 1958, as principais indústrias de São Bernardo do Campo eram: Varam Motores S.A.; Mercedez Benz do Brasil S.A.; Tecelagem e Fiação Tognato S.A.; Cia Comercial e Industrial Brasmotor; Nubrisa S.A.; Fontoura; Fontoura Wyeth S.A.; S.A. Elni de produtos Manufaturados; Fiação Lydia I.R.F.M. S.A.; Indústria Elétrica e Musical Odeon S.A.

Pouco tempo depois de estabelecida em São Bernardo do Campo, a Tecelagem Tognato figurava juntamente com Tecelagem Elni (1947) e a Fiação Lydia, das Indústrias Reunidas Francisco Matarazzo (1946) – a segunda fonte geradora de renda do município (tabela 4), atrás apenas da Varam Motores.

Tabela 4: Atividade Industrial em São Bernardo do Campo em 1958

Segmento Unidade Quantidade CR$/Milhões % Fabricação e Montagem de Veículos Unitário 3.000 627,00 29% Industria Têxtil M 7.300.000 590,00 28% Industria moveleira Cj. 65.500 446,00 21% Fabricação de Refrigeradores Unitário 19.500 332,00 16% Fabricação de Discos fonográficos Unitário 3.500 135,00 6%

2.130,00

100% Total

Fonte: IBGE

Já na a década de1970, município de São Bernardo do Campo abrigava uma população de 201.662 habitantes43, com 66.90044 empregados formais, a Tecelagem

Tognato tinha cerca de 1.70045 empregados representando quase 2,5% da população

formalmente empregada no município.

43 De acordo com dados obtidos no Sumário de Dados de 2010 de São Bernardo do Campo

44 Informações IBGE (www.ibge.gov.br) PEA – População Economicamente Ativa. Acessado em

06/06/2014.

45 Entrevista José Santos, que trabalhou 35 anos na Tecelagem Tognato no controle de produção, em

A tecelagem atingira seu auge nesta década, aproveitando-se do apogeu econômico vivido pelas indústrias têxtis nas décadas de 1950, 1960 e 1970 (NEIRA, 2012).

Durante este período a tecelagem direcionou-se majoritariamente para produção de cobertores, colchas e lençóis, contudo, a colcha piquet jacquard foi o produto mais conhecido da Tecelagem Tognato que por mais de 60 anos forneceu quase que exclusivamente para hotéis de primeira linha, como por exemplo o Copacabana Palace. Este item também era extremamente demandado pelas noivas das décadas de 1950, 1960 e 1970 onde a presença de pelos menos três colchas no enxoval de casamento era praticamente obrigatória. A produção de colchas piquet ocupava pouco mais de 20% da capacidade produtiva, mas chegou a representar quase 50% do faturamento da tecelagem por ser um produto de maior valor agregado. (TOGNATO, 2014)

Porém, a demanda interna por cobertores fez com que a tecelagem concentra- se cada vez mais neste item, dedicando 80% de seu efetivo produtivo e áreas auxiliares para a confecção de cobertores. Em 1976 atinge seu auge com 1.700 empregados e uma produção anual de 12,3 milhões de cobertores por ano. Seu maior concorrente nesta década era a Tecelagem e Fiação Parahyba, que também produzia cobertores, mas seu parque três vezes menor, tinha apenas 60 mil m² e 1.200 empregados em seu auge na década de 1940, mas apesar de menor se tornou mais famosa pela emblemática campanha de marketing que veiculou na década de 1960 e 1970 nas rádios e TV, uma canção simples que acabou se tornando referência em todo o Brasil, colocada estrategicamente no horário das 21 horas foi um sucesso absoluto por quase 20 anos, relembrado na figura 4.

Figura 7 : Campanha Publicitária da Cobertores Parahyba.

Fonte: youtube.com – Comercial Cobertores Parahyba

Yolando Tognato, diretor-presidente da tecelagem, era refratário a qualquer

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