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A (des) construçăo de uma nova centralidade: Cidade Tognato em Săo Bernardo do Campo

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Academic year: 2017

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HENRY DOS SANTOS OLIVEIRA

A (DES) CONSTRUÇÃO DE UMA NOVA

CENTRALIDADE: CIDADE TOGNATO EM SÃO BERNARDO

DO CAMPO

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HENRY DOS SANTOS OLIVEIRA

A (DES) CONSTRUÇÃO DE UMA NOVA

CENTRALIDADE: CIDADE TOGNATO EM SÃO BERNARDO

DO CAMPO

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie, como requisito para obtenção do título de Mestre em Arquitetura e Urbanismo

Orientadora: Prof.ª Dr.ª Nadia Somekh

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O48d Oliveira, Henry dos Santos

A (des) construçăo de uma nova centralidade: cidade tognato em Săo Bernardo do Campo. / Henry dos Santos Oliveira – 2015.

126 f. : il. ; 30cm.

Dissertação (Mestrado em Arquitetura e Urbanismo) - Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, 2015.

Bibliografia: f. 102-110.

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AGRADECIMENTOS

Ao iniciarmos uma dissertação nunca sabemos ao certo os caminhos a serem percorridos. Temos mais incertezas do que convicções. Deparamos com obstáculos que acreditamos serem intransponíveis. No entanto, essas barreiras são de certa forma vencidas, começamos a assimilar os conhecimentos e aos poucos as certezas de consolidam – e de uma certa maneira as incertezas também. Porém, em todas estas fases, se não existissem pessoas dispostas a dar seu apoio, transmitir suas experiências e repartir seu tempo com pareceres, discussões e preciosas dicas, seriam impossíveis o desenvolvimento e a conclusão deste trabalho. Por esta razão, deixo expresso meu sincero agradecimento às Pessoas que contribuíram com este trabalho. Em especial, agradeço:

- À Nadia Somekh por sua orientação, tempo e conhecimento compartilhado e as várias revisões deste trabalho – noite, feriados e dias úteis;

- À Angélica Tanus Benatti Alvim e Sueli Schiffer pela valorosa contribuição prestada na banca de qualificação, e principalmente pela indicação de referências essenciais para o desenvolvimento e conclusão deste trabalho;

- À Eunice S. Abascal e Vania Lima pela ajuda e contribuição durante todo o mestrado;

- A Amira Laila, Osmar Mendonça e todo pessoal da prefeitura de São Bernardo do Campo, principalmente do acervo histórico;

- A toda família Tognato, em especial a dona Nair Tognato e Elizabeth Tognato que acolheu abertamente este pesquisador em horários e dias mais inconvenientes para as entrevistas, não sei como expressar minha gratidão.

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"O saber deve ser como um rio, cujas águas doces, grossas, copiosas, transbordem do indivíduo, e se espraiem, estancando a sede dos outros. Sem um fim social, o saber será a maior das futilidades."

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RESUMO

A região do Grande ABC Paulista conhecida por ser o berço político do sindicalismo e por acomodar grandes indústrias e montadoras de veículos, tornou-se logo após o final da década de 1950 uma importante centralidade econômica do país.

A região passa por profundas transformações desde a década de 1990 em seu espaço urbano envolvendo a requalificação urbana de grandes áreas centrais, tradicionalmente industrializadas, em processo de degradação e subutilização espacial, consequências da restruturação produtiva de alguns segmentos econômicos.

A requalificação urbana destas áreas, localizadas estrategicamente junto a centralidades urbanas completas pela diversidade de oferta de serviços, centros comerciais, cultura e lazer são importantes na elaboração do planejamento urbano estratégico para mitigar conhecidos problemas que estas cidades herdaram durante os últimos 60 anos de desenvolvimento excludente como a favelização, informalidade econômica, acesso deficiente ou inexistente a serviços essenciais, degradação ambiental, longos deslocamentos aliados ao alto custo do transporte de má qualidade. O projeto de requalificação urbana abordado neste trabalho com maior profundidade, conhecido como Cidade Tognato, é um destes casos, uma grande área degradada localizada em uma região privilegiada de São Bernardo do Campo, com acesso a infraestrutura urbana, centros comercias e culturais e serviços urbanos de qualidade. O projeto Cidade Tognato, de inciativa privada, contou com forte participação e investimentos do poder público local para viabilizar com infraestrutura auxiliar com a inclusão de 6 obras no programa São Bernardo Moderna, e principalmente na articulação e estabelecimento de legislação auxiliar para a conversação de dívidas com o erário municipal da Tecelagem e Fiação Tognato em três lotes, ofertados em quatro leilões.

Neste trabalho procuramos associar os conceitos e boas práticas disseminados pelos acadêmicos da área de Projetos Urbanos através do Desenvolvimento Local no processo de reconstrução e reinvenção das cidades, principalmente modelos europeus, avaliando ônus e benefícios relacionados ao grande ABC dentro da metrópole paulista.

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ABSTRACT

The Greater ABC Paulista region, known for being the cradle of political unionism and accommodate large industries and car manufacturers, became after the end of 1950s an important economic centrality of the country.

The region is under deep transformations since the late 1990s in their urban space involving urban renewal of large central areas, traditionally industrialized in degradation and spatial underuse process, the productive restructuring from some economic sectors consequences.

The urban renewal of these areas, located strategically along the entire urban centralities the diversity of supply of services, shopping centers, culture and leisure are significant in drawing up a strategic urban planning to mitigate known issues these cities have inherited over the last 60 years of exclusive development as the slums, economic informality, poor or without access to essential services, environmental degradation, long journeys combined with high costs and poor quality of public transport.

The urban renewal project discussed in this paper in greater depth, known as Cidade Tognato, is one of these cases, a large degraded area situated in a prime area of São Bernardo do Campo, with access to complete urban infrastructure, commercial and cultural centers and city services quality. The project Cidade Tognato, of private enterprise, had strong evolving and investment of local government to enable auxiliary infrastructure adding six works in São Bernardo Moderna Program and especially in articulating laws and establishment aid for debt conversion with the city public treasury of Tecelagem e Fiação Tognato into three lots, offered in four auctions.

In this paper, we attempt to associate the concepts and best practices disseminated by academics works of urban projects fields by the Local Development Programme, in rebuilding and reinventing cities process, mainly european models assessing burdens and benefits associated to the large ABC within São Paulo metropolis.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1: Obras do Megaprojeto Porto Maravilha no Rio de Janeiro ... 24

Figura 2: Quadrinhos dos anos 10 – André Dahmer ... 30

Figura 3: Mapa das fábricas de automóveis no Brasil ... 42

Figura 4: Manifesto de Apoio a greve na Irmãos Tognato. ... 66

Figura 5: Operação de abandono do navio Principessa Mafalda em 25 de outubro de 1927. ... 69

Figura 6: Instalações da Tecelagem Tognato em 1962. ... 71

Figura 7 : Campanha Publicitária da Cobertores Parahyba. ... 74

Figura 8:Tear obsoleto utilizado no filme “Meninas do ABC”... 80

Figura 9:Antiga torre d’água da Tecelagem Tognato, . ... 82

Figura 10: Complexo Domo. ... 89

Figura 11: Divulgação do empreendimento DOMO ... 90

Figura 12: As três áreas desttinadas a leilão pela prefeitura de São Bernardo do Campo. ... 91

Figura 13: Novo Paço Municipal de São Bernardo. ... 98

Figura 14: intervenção C05 - Alargamento da avenida Pereira Barreto. ... 100

Figura 15: D08 - Alargamento da avenida Senador Vergueiro. ... 101

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Projetos de Desenvolvimento Urbanos realizadas com o Fundo Europeu de

Desenvolvimento Regional ... 33

Tabela 2: Evolução da participação das regiões na produção de têxteis ... 44

Tabela 3: Exemplo de Atração de Investimentos ... 49

Tabela 4: Atividade Industrial em São Bernardo do Campo em 1958 ... 72

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LISTA DE ABREVIATURAS

ABC – Santo André, São Bernardo do Campo e São Caetano do Sul ABIT - Associação Brasileira da Indústria Têxtil e Confecção

ADEGABC - Agência de Desenvolvimento Econômico do Grande ABC ANFAVEA - Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores BID – Banco Interamericano de Desenvolvimento

CNI – Confederação Nacional das Industrias CR – Câmara Regional

CUT – Central Única dos Trabalhadores

DIEESE - Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos FAB – Força Aérea Brasileira

GT – Grupo Temático

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

ICMS - Imposto sobre operações relativas à circulação de mercadorias e sobre prestações de serviços de transporte interestadual, intermunicipal e de comunicação IDH - Índice de Desenvolvimento Humano

INSS – Instituto Nacional de Seguridade Social IPEA - Instituto de Pesquisa Econômicas Aplicadas IPI – Imposto dobre Produtos Industrializados IRFM – Industrias Reunidas Francisco Matarazzo ONG – Organização Não Governamental

PEA – População Economicamente Ativa PIB – Produto Interno Bruto

PMSBC – Prefeitura Municipal de São Bernardo do Campo PNUD - Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento PPPs - Parceria Público-Privadas

RMSP - Região Metropolitana de São Paulo

SEADE - Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados SMABC – Sindicato dos Metalúrgicos do ABC

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO...10

CAPITULO I – INTERVENÇÕES URBANAS DE GRANDE PORTE ... 20

1.1 – Operações Urbanas de grande porte ... 21

1.2 – Os impactos no tecido urbano ... 26

1.3 – Desenvolvimento local como alternativa ... 30

CAPITULO II – NOVAS ESTRATÉGIAS DE AÇÃO REGIONAL NO GRANDE ABC 37 2.1 –Efeitos da Globalização na região do grande ABC em São Paulo. ... 37

2.2 Guerra Fiscal e o “Custo ABC”... 47

2.3 – Reestruturação produtiva e o setor terciário ... 52

2.4 – Para onde caminha a região do ABC? ... 57

CAPITULO III –“CIDADE TOGNATO” ... 63

3.1 – Constituição da Tecelagem e Fiação Tognato ... 63

3.2 – A Fundação da Tecelagem Tognato ... 68

3.3 – Auge e Decadência ... 72

CAPITULO IV –PROJETO “CIDADE TOGNATO” ... 84

4.1 –Projeto “Cidade Tognato” ... 84

4.2 – Programa São Bernardo Moderna ... 94

4.3 - Transição de Projetos: De “Cidade Tognato” para “Complexo Domo” ... 102

CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 104

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INTRODUÇÃO

O ABC paulista é uma das mais antigas e importantes regiões industriais do Brasil, situada a sudeste da Região Metropolitana de São Paulo (RMSP), é composta por sete municípios: Santo André, São Bernardo do Campo, São Caetano do Sul, Diadema, Mauá, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra com uma população de 2,71

milhões de habitantes equivalentes a 13% da RMSP e 6,3% do Estado.

Situada estrategicamente próxima ao Porto de Santos e interligada com a Região Metropolitana de São Paulo através das rodovias Anchieta e Imigrantes, o Rodoanel e a rede ferroviária. Reconhecida como berço da indústria automobilística brasileira, possui PIB regional de R$ 79 bilhões2, o 2º do Estado de São Paulo e o 4º

PIB Nacional (SP, RJ, DF e Grande ABC) alavancados pelos 44 mil estabelecimentos formais, que geram 800 mil empregos.

A partir da década de 1990, amplia-se no Grande ABC a necessidade da uma articulação regional, parcialmente explicada pelos efeitos e profundidade do impacto das transformações sobre a região e o tamanho da crise econômica.

Ao iniciarmos o processo de construção deste trabalho, uma das questões de maior inquietude está relacionado a vasta produção de livros, teses, dissertações, artigos e diversos materiais que abordam direta ou indiretamente o processo de transformação urbana da região do ABC Paulista. Qual contribuição que mais um trabalho poderia agregar para tentar entender os desafios vivenciados pela região e sua população? Esta pergunta assombra de maneira comum todo pesquisador durante todo o processo de desenvolvimento de seu trabalho, mas à medida que estabelece uma conexão com a bibliografia relacionada indicada pela orientação, e mais tarde pela banca de qualificação, o quadro toma forma e a resposta surge durante este interim. Mais recentemente, presenciamos a retomada do debate sobre o papel das cidades-região e das regiões metropolitanas na economia mundial, nesse sentido, representam possíveis plataformas para a elaboração e implementação de estratégias de desenvolvimento local, geração de trabalho e renda

Os contatos iniciais com as fontes documentais e com a bibliografia revelou-nos de início o equívoco do uso frequente da expressão “desindustrialização do

1 Cf. dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2014, o Grande ABC tem 2.702.071 habitantes.

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Grande ABC”. Diferentemente do imaginado, e que exposto mais à frente, o Grande ABC enfrenta um processo de reestruturação produtiva continua e permanente, e que particularmente São Bernardo do Campo enfrenta desde 1956.

Talvez a maneira mais adequada de referir a este processo seja através da expressão “ondas de reestruturação”, de maior ou menor intensidade que irão verter na década de 1990 um processo de reestruturação amplificado pelo que Harvey denomina como compressão do tempo-espaço na organização do capitalismo3,

abrangendo transformações em diversos níveis: crescimento de segmentos ligados ao setor terciário, maior compartimentalização de produção automotiva e um pesado ônus sobre a indústria têxtil, praticamente eliminando este segmento do Grande ABC. Estas ondas de reestruturação ocasionaram diversos vazios urbanos provenientes destas transformações em áreas providas de boa infraestrutura urbana e fácil acesso a serviços e espações públicos de qualidade, por vezes desconectando grandes áreas e fragmentando as cidades.

De início, o tema foi escolhido mediante a maneira como estes vazios estão sendo ocupados: através de grandes empreendimentos imobiliários, sob a forma de condomínios-clubes e enclaves enclausurados voltados para uma população de alto poder aquisitivo, disposta a encastelar-se em bairros murados completamente em uma realidade asséptica e distante dos mais pobres. Para quem vive no ABC, estranha a rápida transformação da paisagem industrial povoada por chaminés e regrada pelos apitos das fabricas em torres de condomínios-clubes de até 42 andares com nomes pomposos e suntuosos dados pelo mercado imobiliário como PRIME, PLUS, HIGH, etc., mas academicamente conhecidos como gentrificação ou arquitetura da gentrificação.

Ao mesmo tempo que estas transformações ocorrem, as poucas obras de infraestrutura de mobilidade urbana iniciadas a partir da década de 1990, beneficiam estes empreendimentos em detrimento a áreas tradicionalmente carentes e

3No terceiro capítulo: “A experiência do espaço e do tempo” (p. 185), Harvey faz uma bela reflexão sobre o espaço e o tempo, como categorias fundamentais da existência humana que, no entanto, raramente discutimos. Afirma o autor que essas duas categorias se entrecruzam no entendimento das pessoas e, por isso, são protagonistas de vários conflitos. Ainda nesse capítulo, o autor traz um

conjunto de argumentos embutidos no binômio “compressão espaço-temporal”, no qual ele analisa os

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desconectadas do centro da cidade, conforme iremos exemplificar no capitulo inerente ao Programa São Bernardo Moderna.

Através de experiências conduzidas em outros países para a tratativa destes mesmos problemas, principalmente na Europa, foi criada a Agencia de Desenvolvimento Econômico do ABC inspirada na Agencia de Desenvolvimento de Sesto San Giovanni, visitada durante uma comitiva da região enviada no início de Maio de 1999, por iniciativa dos prefeitos de Santo André e São Bernardo do Campo. Particularmente o projeto urbano denominado La Bicocca em Milão chamou atenção, por seu modelo inclusivo e de uso diversificado com universidades, torres comerciais e residenciais chamou a atenção por revitalizar todo uma área industrial obsoleta a cidade. Logo após a visita da comitiva, no mesmo ano de 1999, tentou-se reproduzir este mesmo projeto na área da Tecelagem e Fiação Tognato, que viria a ser conhecido como Cidade Tognato.

Porém, a Cidade Tognato que começou como um projeto urbano nos mesmos moldes do La Bicocca em Milão, incluindo a construção de um hospital, uma universidade e um novo centro de exposição de artes – motivo que justificou a inclusão de 6 obras de infraestrutura urbana no programa São Bernardo Moderna – metamorfoseou-se em um projeto de iniciativa privada denominado DOMO e suas vertentes de uso residências PRIME e HOME e de uso comercial CORPORATE e BUSINESS.

Nesse sentido, refletimos como uma grande operação urbana de características inclusiva e integradora – no sentido de compartilhar um espaço urbano que descontinuava a cidade – se tornou um empreendimento imobiliário, com uso de recursos públicos, alimentando lucros do capital imobiliário, e de quebra, reproduzindo e acentuando os problemas sociais da região. A intenção é estimular o debate em torno das grandes operações urbanas, elas podem ser instrumentos para alçar melhorias social e valorização ambiental como normatiza o Estatuto das Cidades? Ou somente fonte de recursos para o poder público local? É um instrumento, que parte do Planejamento Urbano Estratégico pode trazer inovações, no sentido de representar uma alternativa para flexibilizar as limitações do poder público, engessadas pela legislação normativa e burocrática, ou o contrário, tantos as virtudes quanto os malefícios necessitam de normativa técnica?

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as respostas. Mas de forma sucinta, nos quatro capítulos a seguir procuramos entender como as cidades, no pós-industrial enfrentam estas transformações, sob a perspectiva de um determinado projeto urbano – Cidade Tognato.

Ao nos referirmos a este processo como (des) construção de uma nova centralidade, abordamos desde as primeiras ações que deram origem a esta iniciativa, que tinha como objetivo inicial a construção de uma nova centralidade em São Bernardo do Campo, denominada Cidade Tognato, com espaços públicos de qualidade, aproveitando a infraestrutura local, e sua mutação para um empreendimento privado na forma de um condomínio-clube.

No primeiro capítulo, estruturamos nossa pesquisa através de revisão bibliográfica sobre como as Intervenções Urbanas de Grande Porte são implementadas e alavancadas pelo Estado sobre os mercados imobiliários, além dos efeitos excludentes na população local, seja por simples remoção ou pela exclusão através da valorização do solo local. Entender os impactos no tecido urbano na região do Grande ABC comparando-o com as experiências internacionais de projetos de requalificação urbana em regiões industrializadas sob os efeitos da globalização e acirrada disputa pelos investimentos. Ao final do capitulo, dissertamos a respeito do Desenvolvimento Local como alternativa as Intervenções Urbanas de Grande Porte, a exemplo do modelo adotado pelo Fundo de Desenvolvimento Europeu de Desenvolvimento Regional.

No Capitulo Dois avaliamos os efeitos da globalização no Grande ABC sob as indústrias do setor têxtil, por representarem principal importância econômica na região até 1950, e na indústria automotiva, considerado sinônimo de Grande ABC até a década de 1990. Nesta mesma década, motivados pela globalização e pelo investimento privado, acentua-se a Guerra Fiscal entre os estados da federação, que impactou sobremaneira o setor automotivo da região, intensificando a Reestruturação Produtiva na região do grande ABC, intensificando as transformações no mercado de trabalho, com forte orientação para o setor terciário.

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história da própria região do ABC, com o início da colonização, principalmente de italianos na região que estabeleceram-se na região, a maioria com inclinação industrial e operaria em razão da pobre qualidade do solo da região, que contribuiria muito para que a região desenvolvesse sua forte vocação industrial, contribuindo, dentre outros fatores, com a concentração industrial que a região sofreu após a década de 1950. A Tecelagem e Fiação Tognato sagraram-se como uma das principais empresas da região, principalmente nos anos anteriores a indústria automotiva, e juntamente com outras empresas do segmento ajudou a moldar não somente economicamente a região, mas também o próprio sindicalismo brasileiro, principalmente na década de 1930.

O Capitulo Quatro procuramos entender as motivações que originaram a Cidade Tognato, e ações de maneira cronológica que foram executadas no sentido de viabilizar este projeto de requalificação urbana nas antigas ruinas da Tecelagem e Fiação Tognato em sua proposta original, e sequencia de acontecimentos que acabaram por transforma-lo em um empreendimento imobiliário, beneficiado por obras públicas do programa São Bernardo Moderna.

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CAPITULO I

INTERVENÇÕES URBANAS DE GRANDE PORTE

É vasta a produção acadêmica acerca de intervenções para requalificação urbana nas metrópoles e as diversas consequências no tecido urbano. Contudo, as estratégias são frequentemente alteradas devido a dinâmica entre os planos político e econômico, em conveniência com a acumulação de capital.

A esses planos, geralmente sob o formato de uma PPPs (Parceria Público-Privadas), onde o Poder Público assume o papel de mediador a fim de favorecer as estratégias de reprodução do capital. Segundo Harvey (2012), esses projetos de intervenção urbana é essencial par a construção de uma imagem da cidade através da organização de espaços urbanos espetaculares ou ainda, de lugares que criem uma imagem positiva e de alta qualidade de si mesmos, procurando uma arquitetura e formas de projeto urbano que atendam este fim. (HARVEY, 2012)

Neste capitulo, pretende-se apresentar os principais conceitos relacionados a Grandes Operações Urbanas, a luz dos acadêmicos contidos na bibliografia referenciada neste trabalho. Ressaltamos que o referencial teórico presente nesta dissertação é trabalho de uma crítica analise e triagem, baseado na revisão da literatura, que obviamente não foi exaustiva, mas de maneira construtiva procuramos abordar os principais aspectos relacionados ao tema.

No primeiro tópico deste capitulo iremos abordar o modo como as grandes operações urbanas são implementadas e como ela se relaciona e transforma com a cidade contemporânea.

Essas transformações são analisadas no segundo tópico do capitulo: Os impactos no tecido urbano, através da revisão de produção acadêmica relacionada ao assunto, principalmente no que concerne a região do Grande ABC.

Por último, avaliamos o Desenvolvimento Local como alternativa proposta por diversos pesquisadores, notadamente Daniel (1999), que enxergou neste modelo uma proposta capaz de envolver a dinâmica econômica da região de maneira integrada, motivada principalmente pela integração social e fortalecimento da cidadania.

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do investimento privado, mas inclusiva socialmente mesmo diante de uma cidade cada vez mais fragmentada.

1.1 – Operações Urbanas de grande porte

Existe uma longa e bem documentada história da política de acumulação por espoliação, e espoliar pessoas no espaço urbano é parte central da história. Uma das primeiras afirmações nesse sentido, partiu de Engels, que em 1872 acusou o bonapartismo, política adotada por Haussmann em Paris4, e mais tarde disseminada

nas cidades inglesas de Manchester, Liverpool e Londres, sob o signo da industrialização, de empurrar sistematicamente a classe operária do centro da cidade para seus arredores sob a lógica de que pessoas pobres que vivem em terras caras, não permanecem ali por muito tempo.

Essa lógica, atual nos dias de hoje, seja pela ação do Estado ou por meios ilegais forçam as classes menos favorecidas a sair, como ocorreu nos incêndios nas favelas e cortiços bem localizados na malha urbana como no Estado de São Paulo (HARVEY, MARICATO, ZIZEK, & DAVIS, 2013) ou mesmo em Nova Iorque5.

Em determinados períodos históricos este tipo de reurbanização é muito forte, como ocorrido na primeira metade do século 20 na região metropolitana de São Paulo e nas cidades do interior sob influência das plantações de café (CANDIDO, 2010). A razão da escalada da expulsão por meio da reurbanização se dá pelo esgotamento das oportunidades de investimento do capital, uma vez que outras formas de produção e reprodução do lucro parecem não estar funcionando ou dando retorno apropriado. De 2002 a 2011 o investimento do capital privado no mercado imobiliário cresceu 45 vezes, passando de R$1,8 bilhões para R$79,9 bilhões (HARVEY, MARICATO, ZIZEK, & DAVIS, 2013), outro fator importante para esta movimentação que deve ser levado em conta é a apropriação de parte destes investimentos na forma de renda, tornando o mercado de aluguel mais atrativo.

4 Georges-Eugène Haussmann foi um advogado, funcionário público, político e administrador francês. Nomeado prefeito de Paris por Napoleão III, tinha do título de Barão e foi o grande remodelador de Paris, cuidando do planejamento da cidade, durante 17 anos, com a colaboração de arquitetos e engenheiros renomados de Paris na época. Haussmann planejou uma nova cidade, modificando parques parisienses e criando outros, construindo vários edifícios públicos como a L’Opéra. Fonte : www.wikipedia.com

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Desta forma podemos constatar o aumento dos valores das propriedades no mundo, no meio de uma crise no mercado imobiliário, dificultando a procura de lugares decentes para moradia, sem gastar uma parcela considerável da renda mensal com financiamento imobiliário. No Brasil, o limite imposto para o financiamento imobiliário em cerca de 30% da renda mensal com habitação6, contudo no Rio de Janeiro uma

parte da população tem destinado cerca de 40% a 50% de sua renda com os aluguéis7, demonstrando uma forte ascensão do uso deste tipo de política de

expropriação por despejo. Para o capital privado, esta política pode ser demonstrada de diversas maneiras, como por exemplo, liberando o mercado de alugueis para fazer seu trabalho, forçando a saída das pessoas de sua área de interesse, mas também através de intervenções do Estado por meio de operações urbanas, a exemplo do que aconteceu nas obras preparatórias para a Copa do Mundo, no Rio de Janeiro:

“O número de famílias removidas de suas casas ou ameaçadas de remoção em virtude das obras preparatórias para a Copa do Mundo de 2014 e para a Olimpíada de 2016 no Rio de Janeiro deverá ficar em torno de 8.350. Esta é a estimativa que faz o Comitê Popular da Copa no Rio de Janeiro, entidade da sociedade civil que lança nesta quarta-feira um documento chamado "Dossiê Megaeventos e Violações de Direitos Humanos no Rio de Janeiro" (KONCHINSKI & SEGALLA, 2013, p. p. 3)

Grandes operações urbanas são excelentes oportunidades para demonstrar como o interesse privado prevalece sobre as necessidades da comunidade (HARVEY, 2013), ou de maneira mais objetiva de como o capital vai bem, mas as pessoas vão mal. Na análise de Harvey (2013):

“O que temos visto, nos últimos 30 anos, é a reocupação da maioria dos centros urbanos com megaprojetos. Muitos desses projetos associam a urbanização ao espetáculo. E fazem um retorno à descrição de Guy Debord sobre a sociedade do espetáculo. Faz todo sentido na diretriz da realização dos megaeventos como as Olimpíadas e a Copa do Mundo. O capital precisa que o estado assegure essa dinâmica. Assim, pode usar esses eventos como instrumentos de investimentos e mais lucratividade” (HARVEY, 2013, p. p. 12).

6 A prestação não pode ser maior que 30% da sua renda familiar mensal bruta, conforme critérios estabelecidos pela CEF para financiamento imobiliário. Fonte: http://www.caixa.gov.br.

7 TAVARES, Karina. Aluguel já consome de 40% a 50% da renda familiar do carioca. O Globo. 25 de Maio de 2014.

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Estão inclusos nesta lógica os espaços geográficos e dentro destes, a urbanização ocupa lugar proeminente. Para dar vazão acumulativa do capital é necessário a produção de novos espaços e relações espaciais. Os donos das terras e a sinergia de interesses que se forma em torno dos investimentos imobiliários (incorporadores, financistas, políticos, empresários da construção) ampliam seu poder de classe e estabelecem os rumos do crescimento urbano. Simultaneamente, a demanda e a especulação inflada artificialmente nos preços provocam crises de sobreacumulação, endividamento e um espectro de inadimplências atrás de si. A prática do capitalismo rentista tem seu preço. A crise do subprime nos EUA é a mais recente e grave dessas manifestações de irracionalismo dos mercados, conduzidas em benefício das classes dominantes (HARVEY, 2013)

Algumas operações urbanas podem ter como premissa básica a movimentação do capital especulativo imobiliário, no entanto o período de consultas públicas seria o remédio para tratar estas questões de maneira aberta e democrática, previsto no Estatuto das Cidades8, ainda é pouco ou não utilizada na ocasião destas operações

urbanas, como no Projeto do Porto Maravilha (Figura 1) onde afirma Castro (2014): “Vejamos o caso da Região Portuária, em nenhum momento o prefeito propôs uma consulta pública para verificar se a população era favorável a derrubada do Viaduto da Perimetral e a consequente revitalização da área. A toque de caixa as obras seguem a pleno vapor, quanto mais rápido o local for concluído, mais rápido é o retorno financeiro daqueles que investiram nos terrenos oriundos das desapropriações. É a lei do mercado, simples assim.” (CASTRO, 2014, p. p. 3)

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Figura 1: Obras do Megaprojeto Porto Maravilha no Rio de Janeiro Fonte: www.portomaravilha.com.br (2015)

A lógica destes empreendimentos torna-se evidente mesmo quando a maioria dos envolvidos na comunidade expressam sua contrariedade e mesmo assim eles seguem adiante aprovados pelos gestores públicos reforçando o ceticismo da população em relação a participação popular nestes processos. A participação popular passa a ser exercida, em poucas e raras ocasiões, quando as pressões sobre essas grandes operações urbanas tomam as ruas, através de mobilizações e protestos, e sua vontade passa a ser exercida.

Estas operações urbanas e megaprojetos colaboram com a destruição sistemática do espaço público da cidade, transformando-o em espaços comerciais e privados, segmentando o público para seu uso através de interações comerciais e de consumo, mas ao mesmo tempo pode criar uma força contraria a sua destinação original, no sentido em que as pessoas rejeitam isso e se mobilizam, como ocorrido em maio de 2013 na Praça Taksim e no Parque Gezi, na Turquia, onde milhares de pessoas protestaram durante meses contra destruição do último parque no centro histórico da cidade, para a construção de um shopping center com um complexo planejado para atrair turistas. Após vigorosa oposição e protestos o projeto foi deixado de lado pelo governo, garantindo a devolução do espaço para a comunidade9.

Há aqui um problema de entendimento a respeito da dinâmica das cidades. Por um lado, subestima-se o peso dos espaços públicos urbanos na constituição da

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identidade local, isto é, na autoestima da população com respeito a sua cidade. Por outro, deixa-se de lado o fato de que os centros das cidades são locais tipicamente democráticos, uma vez que são passíveis de apropriação pelo conjunto da população e, sobretudo, daquela que habita a periferia. As elites, ao contrário, têm acesso a espaços privados em condomínios fechados, clubes esportivos, shopping centers etc. Em termos urbanos, a verdadeira oposição é entre os centros das cidades (espaços públicos) e os grandes centros de compras e lazer fechados, como shoppings (espaços privados).

O direito a cidade foi a força motriz que impulsionou estes protestos ao negar o direito a este espaço, onde podiam reunir-se sem ser segregado por categorias de consumidores, e ocupar um espaço sem ter que consumir ou pagar, como Lefebvre afirmou muito tempo atrás:

“O direito à cidade se manifesta como forma superior dos direitos: direito à liberdade, à individualização na socialização, ao habitat e ao habitar” (LEFEBVRE, 2001, p. p. 134)

No que tange ao direito à cidade, isto se vincula ao modelo de desenvolvimento local inclusivo, alinhado com os direitos sociais e trabalhistas, à busca de inclusão social e ao desenvolvimento urbano e ambiental. Se a cidade é, em primeira instância, local de encontros, são importantes os espaços públicos urbanos e consequentemente sua qualidade, sua adequação em termos ambientais e seu potencial de apropriação pela população, como oportunidade de socialização e de expressão cultural. Nesse caso, o direito à cidade se articula à identidade local, por meio de marcos urbanos, do patrimônio histórico e ambiental e de manifestações culturais comunitárias, engendrando uma síntese entre direitos e identidade a serviço de um projeto democrático e popular. (CASTELLS, 2009)

Essa lógica justifica em parte, as críticas que a representatividade política nas instituições tradicionais e o debate público vem sofrendo, críticas expressas com clareza nas palavras de W. G. Santos (2013), em entrevista concedida revista Insight Inteligência:

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A manifestações ocasionadas pelas transformações urbanas tem sido cada vez mais frequente evidenciando as críticas ao sistema de representatividade, e nos protestos de junho de 2013, o embate teve como fagulha a discussão entre aqueles que querem das cidades melhores condições de vida e aqueles que visam apenas extrair ganhos, tornando-a refém dos interesses do capital imobiliário. Entender estas transformações e os impactos que imprimem no tecido urbano de nossas cidades significa entender o tipo de cidade que buscamos, que de acordo com Harvey (2013), é inseparável da questão do tipo de pessoa que desejamos nos tornar. (HARVEY, 2013)

1.2 – Os impactos no tecido urbano

Diante dos efeitos da crise urbana decorrente restruturação econômica global, as cidades e setores econômicos apoiados nas atividades industriais que durante anos pautaram seu desenvolvimento e formação de sua identidade, foram compelidas a ordenar mudanças importantes em seu tecido urbano ocasionados pelo deslocamento destas atividades econômicas para outras regiões.

Podemos entender estas ações como parte de uma iniciativa renovação urbana, fomentada pelo poder dos agentes públicos, principalmente pelas prefeituras das localidades afetadas, dentro de uma perspectiva de desenvolvimento social de incentivo a geração de renda, emprego e combate à exclusão social.

A necessidade destes investimentos e intervenções, deve se apoiar no novo desenho do espaço e funcionalidade urbana definidos pela necessidade e articulação dos atores impactados pelo projeto ou pela região envolvida. Os efeitos excludentes, que caracterizam grande parte da crítica as grandes operações urbanas nestas últimas duas décadas, são fatores que nos levam a questionar a capacidade mediadora e mitigadora da sociedade civil e esferas governamentais na regulação, controle e governança da ação do capital imobiliário nestas intervenções (SOMEKH & CAMPOS, 2005). Uma linha tênue pode separar projetos com foco no desenvolvimento social e os megaprojetos de espoliação do espaço urbano, ou vice-versa, como no citado caso da Praça Taksim e no Parque Gezi, na Turquia.

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necessidade de habitação em um espaço provido de boa infraestrutura e equipamentos públicos de qualidade, desprovendo o viés excludente dos megaprojetos, seu principal efeito colateral como solução e remédio no processo de renovação urbana.

Em detrimento de ser uma das primeiras regiões industrializadas do Brasil com forte presença do setor automobilístico, o Grande ABC Paulista (ALMEIDA, 2008) foi duramente atingindo pela desindustrialização face as crises ligadas ao esvaziamento do modelo fordista de acumulação (ANAU, Evolução Econômica Recente do ABC Paulista, 2004) e os efeitos negativos da globalização (VIANA, 2005) nos últimos 25 anos (SOMEKH & CAMPOS, 2005), em um processo que propiciou o surgimento de grandes vazios urbanos decorrentes de áreas industriais obsoletas, ociosas ou subaproveitadas, localizadas em áreas dotadas de boa infraestrutura e acesso a equipamentos públicos de qualidade como efeito secundário sentido após os impactos econômico e de identidade em uma região com clara vocação industrial.

No âmbito internacional, a região faz analogia a cidade de Detroit no Hemisfério Norte, onde a partir da década de 1970’’ seu modelo de desenvolvimento estagnou-se devido o surgimento de novas tecnologias, assim como as tradicionais regiões portuárias, como o distrito de Docklands em Londres, que se tornaram obsoletas diante do surgimento da logística compartimentalizada, na forma de contêineres. Em algumas circunstancias, as medidas auxiliares das políticas sócias compensatórias foram incorporadas através de programas de redução de impactos (SOMEKH & CAMPOS, 2005).

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treinamento e capacitação, denominado Centro de Formação e Estudos (PRAUN, 2009) como forma de reinserção dos trabalhadores no mercado de trabalho ou em atividades ligadas ao empreendedorismo.

Contudo, mesmo diante da implementação de ações para mitigar os impactos imediatos da reestruturação produtiva global, as áreas atingidas ainda necessitavam de medidas para dinamizar a economia urbana local melhorando a atratividade e competitividade de suas respectivas regiões. Neste sentido Somekh (2012) aborda a necessidade da adoção de um planejamento urbano estratégico frente ao tradicional modelo de planejamento urbano normativo ineficiente e menos inclusivo, e aponta experiências bem sucedidas como a grande operação urbana de renovação da Cidade de Barcelona, neste sentido o planejamento estratégico seria uma resposta as transformações constantes da nova ordem econômica e de um mercado altamente competitivo, no entanto alerta para os riscos de uma característica predominante empresarial, onde a atração de investimentos e eventos de turismo seria a principal motivação, frente a necessidade de reinserção urbana e na intercomunalidade, bem como numa concertação ampla.

Na mesma linha que Somekh (2012), o francês François Ascher (2010) faz uma análise profunda entre os aspectos do urbanismo moderno, voltado a realização do projeto através de uma regra simples, imperativa e estável do planejamento tradicional: zoneamento, funções, gabarito, etc. em contraposição ao neourbanismo, que Somekh denomina de planejamento urbano estratégico, onde as relações privilegiam os resultados a serem obtidos, desafiando os atores públicos e privados a encontrar modais para este fim, mais eficientes para a coletividade (ASCHER, 2010). “O Neourbanismo esforça-se em construir os problemas caso a caso, e em elaborar respostas especificas para cada situação. Acumula e mobiliza experiências, os saberes e as técnicas, não para aplicar soluções repetitivas, mas para aumentar suas possibilidades de adaptação aos contextos particulares, mutantes, incertos. (ASCHER, 2010, p. p. 84)

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de maior especialização localizados no centro do debate sobre competitividade e inovação (MDIC, 2014).

Entender quais políticas e elementos foram importantes de maneira individualizada em cada uma destas experiências tornou-se importante para os planejadores e formuladores das grandes operações urbanas, tornando-a mais competitivo frente aos demais, mas também aos formuladores de políticas públicas inerentes ao planejamento urbano, no intuito de mitigar seus impactos sociais.

Do ponto de vista de atratividade dos investidores, a qualidade do projeto no tocante ao grau de intervenção, redefinindo não só o espaço degradado e sua utilização, mas também a vinculação da operação urbana a nomes influentes e midiáticos na concepção arquitetônica - potencializando as tendências vigentes na urbanização contemporânea - para satisfazer o enorme apetite da mídia para o consumo de imagens arquitetônicas e na criação de uma nova centralidade potencializando os ganhos proveniente destes investimentos. A necessidade de novos investimentos tornou acirrada a disputa entre as grandes operações urbanas de renovação diante da velocidade do capital volátil associadas à sobreacumulação e as baixas taxas de lucro, estimulando recorrentes processos migratórios intersetoriais e espaciais de capitais (SANTOS C. R., 2006).

Fica claro ao avaliar os limites deste modelo no que se refere as questões habitacionais e de infraestrutura, tanto no plano de integração social quanto o fator excludente e gentrificador das grandes operações urbanas. No âmbito econômico, questão de geração de renda e de empregos, com o intuito de minimizar e superar os fortes desequilíbrios sociais, são agravados pela geração de empregos nos níveis inferiores e em seu outro extremo com postos altamente qualificados (SOMEKH & CAMPOS, 2005), talvez sua característica mais desfavorável, por eliminar uma classe intermediária forte, presente no modelo econômico fordista e manufatureiro e acentuar o contraste social reforçando a distinção entre áreas periféricas e áreas renovadas.

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atento aos protestos ocorridos em 2013, soube capturar a essência desta dinâmica em sua tirinha publicada em seu sitio eletrônico (Figura 2).

Figura 2: Quadrinhos dos anos 10 – André Dahmer Fonte: http://www.andredahmer.com.br/ (2015)

Mas qual seria o modelo sustentável de renovação urbana de áreas centrais degradadas frente ao modelo existente, amplamente reproduzido? Fica patente, que as grandes operações urbanas contemporâneas expressam os anseios do capital imobiliário por maior retorno financeiro, dentro de uma visão de urbanidade modelada pelos hábitos de consumo e de lazer das classes A e B que acabam por legitimar a redefinição dos espaços urbanos diante da escassa intervenção do poder público. Entre alternativas apresentadas, podemos citar sua antítese, projetos urbanos menores de desenvolvimento local direcionado as demandas econômicas e sociais ou arranjos produtivos locais alavancados pela dinâmica econômica tradicional da região.

1.3 – Desenvolvimento local como alternativa

O governador paulista André Franco Montoro (1983 - 1987) costumava dizer que "o cidadão não mora na União, não mora no estado, mora no município", esta frase consegue sintetizar de maneira expressiva a necessidade de emponderar o governo local no sentido de criar e flexibilizar políticas públicas para dinamizar o arranjo produtivo local existente e fomentar a cultura de um ambiente propício a inovação e empreendedorismo, impactando diretamente a vida destes cidadãos, principalmente integrantes das camadas mais socialmente vulneráveis.

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É difícil fugir do clichê “pensar global e agir local” quando tratamos de desenvolvimento local combatendo os efeitos excludentes da globalização com políticas locais de desenvolvimento econômico e integração de diferentes segmentos populares, tornando o processo participativo com articulação do governo local envolvendo os diversos agentes na formulação de medidas atenuadoras e na tomada de decisões para aumentar a competitividade local. Nesse sentido Daniel (1999) afirma que é necessário um modelo de desenvolvimento local que seja capaz de envolver a dinâmica econômica da região de maneira integrada, motivada pela integração social e fortalecimento da cidadania para combater os efeitos excludentes da globalização através de programas que alavanquem as potencialidades locais, com forte governança do poder público local garantindo os interesses da população (DANIEL, 1999).

Nesse contexto, o decisivo não é se os setores são tradicionais ou de ponta, mas sim a garantia de que sejam dinâmicos, inovadores, capazes de produzir com custos e qualidade, permitindo-lhes alcançar os mercados exteriores à região (essa é a pedra de toque do sucesso do setor de confecções na região de Carpi, na terceira Itália - regiões da Emília Romagna e Vêneto). Dessa circunstância decorre a geração de empregos de qualidade, e não apenas empregos em geral.

Experiências internacionais bem sucedidas são citadas nessa direção, com a atuação das agências e fundos criados para o desenvolvimento e vocação de cada localidade, como o Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional, que em 1990 financiou projetos de renovação em diversas regiões em segmentos culturais, habitacionais e meio ambiente, contraposição aos projetos desenvolvidos na década de 1980, onde a premissa de investimentos em obras de infraestrutura básica (SOMEKH & CAMPOS, 2005).

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fomentando instituições de pesquisas, difusão tecnológica e qualidade urbana, criando um ambiente propício a inovação. Este modelo inclusivo foge ao lugar comum dos modismos como centros tecnológicos de ponta ou gigantescos equipamentos públicos como grandes estádios e centros poliesportivos versatilizados em centros de convenções e eventos. Essas fórmulas prontas, além de provocar um deslizamento artificial na vida da comunidade local incita a guerra com outras localidades atraídas pelo canto da sereia da valorização imobiliária (DANIEL, 1999).

Projetos e programas introduzindo uma nova dinâmica local em substituição ao arranjo produtivo em declínio tem produzido resultados positivos. Para definir o auge e o declínio de um ciclo de vida, Oliveira Júnior (2014) aponta que a vida de um arranjo produtivo pode ser dividido em quatro etapas: embrionária – determinada pela introdução de uma inovação, investimentos, ou outra vantagem competitiva local; crescimento - quando os mercados ainda estão desenvolvidos o suficiente para atrair mais capital disposto a reproduzir o modelo de negócio vigente; maturidade – os processos e serviços são convertidos em rotina, mantendo o status quo da localidade, atraindo capital disposto a replicar o modelo convertendo custos em vantagem competitiva; declínio – os produtos e serviços passam a ser substituídos por outros mais eficientes e de baixo custo, ou sua necessidade desaparece por meio da inovação tecnológica. Na Inglaterra, o Departamento de Comercio e Industria já classifica o estágio do ciclo de vida em que se encontram o arranjo produtivo local, utilizando terminologias como embrionário, em crescimento, maduro e em declive (OLIVEIRA JR, 2014).

Logo, a tendência de transformação pode ser determinada pelo estabelecimento de iniciativas de sucesso que agregam dinâmica econômica e social, definindo sua identidade, porém sua duração é limitada pelo ciclo de vida descrito, sendo necessário a implementação de um projeto de desenvolvimento local para mitigar os efeitos negativos da exaustão deste arranjo no tecido urbano.

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Tabela 1: Projetos de Desenvolvimento Urbanos realizadas com o Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional

País Localidade Vocação da Localidade Arranjo Produtivo Implementado

Alemanha Völklingen Siderurgia Centro comercial e tecnológico para sediar pequenas e médias empresas

Alemanha Bremerhaven Naval Pólo multifuncional de serviços e um centro cultural e comunitário

Alemanha Friedichshain Industrial Projeto de qualificação para formar operários especializados na construção civil

França Mulhouse Mineração Incubadora para novos negócios e atividades industriais

Inglaterra Wolverhampton Siderurgia Bairro Cultural com atração de empresas de mídia e produção cultural

Inglaterra Stoke-on-Trent Cerâmica Centro de Design

Fonte: Pelo autor adaptado de Somekh e Campos (2005).

Em um primeiro momento, através de uma análise comparativa sobre os resultados entre o modelo anterior e o implementado pode-se concluir que a o modelo anterior tinha uma robustez e um vigor maior, principalmente se compararmos atividades industriais com atividades terciárias ou pequenas iniciativas, frustrando algumas expectativas iniciais. Essa expectativa de desempenho superior sobre o modelo em declínio muitas vezes ocorre em função do discurso comparativo, como “o efeito Barcelona” ressaltando as transformações que este megaprojeto imprimiu no espaço urbano e na dinâmica desta cidade. A sensação de progresso diante da

intelligentsia e recursos envolvidos no projeto de desenvolvimento local também potencializam essas expectativas, comparado a um ciclo de vida de um arranjo produtivo desprovido deste planejamento, que tem um início despretensioso e de baixo custo, e que evolui de acordo com a dinâmica do mercado.

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de diversificação local, de encontro com as afirmações de Daniel (1999) sobre modismos ou apostas em megaprojetos (MATTIODA, 2008).

Outros programas apostam em reforçar a importância das regiões industrializadas, através de ações de diversificação e dinamização do tecido econômicos, utilizando a estrutura e base instalada como alavanca para alçar a localidade a vanguarda do desenvolvimento e inovação. São projetos que não tem grande apelo urbanístico e de valorização imobiliária, mas talvez possa ser uma solução para as localidades que tem grande dependência de atividades intermediarias ao setor primário, utilizando-se de soluções inovadoras e programas participativos voltados a iniciativas de recuperação a dinâmica da região.

Esses programas, em países em desenvolvimento, acabam por ser financiados pelas agências de desenvolvimento multilaterais, desde que os projetos se enquadrem dentro dos valores que direcionam suas ações comunitárias. Contudo, raramente esse enquadramento considera as regiões atingidas pela desindustrialização e suas consequências, pois seus recursos são majoritariamente direcionados para áreas e projetos não identificados com as áreas industrializadas e desenvolvidas.

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Figure 1:Projetos de Urbanismo - Eixo Tamanduateí – 2001 Fonte: http://www.candidomaltacamposfilho.com.br (2015)

As agências seriam uma maneira de atenuar a deficiência de projetos que abranjam além da municipalidade em que está inserida, sua continuidade político-administrativa, garantindo o esforço a longo prazo, e não reduzidas a mandatos, além de regular os interesses pontuais da iniciativa privada, na em Paris por exemplo o que garante a continuidade destes projetos é uma entidade administrativa quem se ocupa em transformar aquele pedaço da cidade (DANIEL & SOMEKH, 1999). Os projetos de desenvolvimento local devem se pautar em ações que mitiguem os efeitos da restruturação produtiva, decorrente das crises econômicas através de estratégias de enfrentamento de problemas urbanos que ampliem a inclusão social.

De qualquer modo, a ausência de ações voltadas a fomentar a economia local tende, nas condições dadas hoje, a condenar a região à estagnação, à decadência ou, no mínimo, ao subaproveitamento de seu potencial de geração de investimento, trabalho e renda.

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de inclusão social serão mais bem-sucedidas se considerarem essas várias dimensões. A integração exigida para isso só pode ser alcançada localmente.

Portanto, neste capitulo 1, analisamos os conceitos que definem os Projetos Urbanos e suas características, e a maneira como este se relaciona com a cidade contemporânea. A importância das transformações urbanas que as grandes operações urbanas e o interesse privado exercem quando eleitos principais protagonistas na revitalização do tecido urbano degradado.

Verificamos quais as principais premissas que compõem uma Grande Operação Urbana, e a argumentação teórica sobre a validade estratégica no desenvolvimento de espaços públicos de qualidade, integrando diferentes camadas do estrato social e sua inter-relação com os modais de transporte e acessibilidade, como instrumento de inclusão social-econômica em contrapartida ao modelo de Desenvolvimento Local promovido pelo Fundo Europeu de Desenvolvimento.

Algumas pequenas iniciativas (tabela 1) foram descritas, analisando seus resultados sobre a dinâmica econômica local, frente ao modelo em declínio.

No capítulo 2, descrevemos como a abertura econômica, globalização e a guerra fiscal afetaram a partir da década de 1990, a região do grande ABC paulista, e o seu impacto sobre a indústria têxtil e principalmente sobre a tradicional indústria automobilística instalada nesta mesma região.

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CAPITULO II

NOVAS ESTRATÉGIAS DE AÇÃO REGIONAL NO

GRANDE ABC

Neste capitulo iremos debater o comportamento da indústria do ABC diante da globalização a partir da década de 1990. Não limitando-se apenas ao viés empresarial, mas também a articulação dos diversos atores envolvidos como sindicatos, prefeituras e trabalhadores. Neste período a indústria têxtil local, já debilitada pela abertura dos mercados de 1988 e pela obsolescência de seu parque industrial, praticamente desaparece da região.

Também tratamos em tópico especifico, o polêmico custo ABC, frequentemente apontado como causa da “desindustrialização” do Grande ABC a luz dos pesquisadores que corroboram com a tese dos altos custos da região, mas também os opositores desta corrente, como Arbix (2000) e Daniel (1999).

Tão polêmico quanto o custo ABC, o tópico sobre a reestruturação produtiva do ABC, avalia as transformações do mercado de trabalho da região, que salta aos olhos quando comparados os números absolutos do emprego industrial, mesmo quando considerado a absorção pelo setor terciário10. Contudo, o mesmo autor

argumenta que o vigor econômico da região permanece, quando o percentual VA (Valor Adicionado) do estado de São Paulo permanece em torno de 15% desde a década de 1960.

Assim ao final deste capitulo no tópico: Para onde caminha o ABC? Analisamos a experiência com a Agência de Desenvolvimento Econômico do ABC analisando os Planejamentos Regionais Estratégicos referente aos períodos de 1999-2010 e o ultimo referente ao período de 2011-2020.

2.1 –Efeitos da Globalização na região do grande ABC em São Paulo. O acentuamento do processo de globalização a partir da década de 1990 causou enormes transformações na região do Grande ABC, composta pelos municípios de Santo André, São Bernardo do Campo, São Caetano do Sul, Diadema, Mauá, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra. Com o propósito de compreender estas transformações, é necessário resgatar a motivação que induziram a região sua

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vocação manufatureira e de maneira mais detalhada a concentração industrial nesta região. A questão de sua vocação manufatureira nos remete ao final do século XIX, enquanto a concentração para as décadas de 1950 e 1960, quando se inicia o processo de industrialização do Brasil. (CONCEIÇÃO, 2004)

De certa maneira podemos afirmar que a vocação manufatureira do Grande ABC, principalmente São Bernardo do Campo, remota ao final do século XIX, quando da instalação dos núcleos coloniais. O núcleo de São Bernardo, o mais antigo, inaugurado em 03 de setembro de 1877 (CARVALHO JR, 1895), com a finalidade de ser um cinturão agrícola estruturado para atender o abastecimento de gêneros alimentícios da cidade de São Paulo, centro político-financeiro da elite cafeeira. Contudo, diante da má qualidade do solo11, os colonos de vocação agrícola

abandonaram o núcleo, permanecendo somente aqueles com alguma aptidão e habilidades ligadas a produção de dormentes para a ferrovia Santos – Jundiaí, fabricação de moveis e principalmente na produção de carvão, fonte de energia na maior parte dos lares de São Paulo. (ALVES A. , 2001)

Dentro do contexto histórico, este autor considera o ciclo de concentração industrial de São Bernardo do Campo ocorrido na década de 1950 como a terceira onda de industrialização do município, precedida pelas instalações de serrarias e fabricas de moveis na região entre 1884 a 1920 como a primeira onda e principal atividade econômica do município (MEDICI, 2012). A segunda onda acontece após 1920 até o final da década de 1940 com a instalação de grandes indústrias têxteis no município como a Industria Reunidas Francisco Matarazzo S/A, Tecelagem e Fiação Tognato S/A, Soc. Elni de Prod. Manufaturados S/A. (JESUS, 2009)

Tanto a primeira como a segunda onda se valeram dos abundantes recursos naturais da região – madeira, no caso das serrarias e água para as tecelagens - para se estabelecer no município de São Bernardo do Campo. Já a terceira onda – estabelecimento das indústrias automobilísticas – beneficia-se da mão-de-obra semiqualificada, sob clara orientação industrial, e da localização estratégica da cidade entre o porto de Santos e a cidade de São Paulo - maior mercado consumidor do país

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- incrementada pela construção do primeiro trecho da Via Anchieta em 1947 (SOUZA, 2002).

A base para o desenvolvimento industrial da região a partir da década de 1950 articula-se principalmente nos setores metalúrgicos, químico e construção civil. Esta concentração industrial, traduz-se ainda na atualidade em um PIB regional de R$ 80 bilhões, assegurando a região o segundo maior PIB do estado e o quarto do Brasil, atrás de São Paulo, Rio de Janeiro e Distrito Federal12.

Do ponto de vista das transformações urbanas, as ondas de migração ocorridas entre as décadas de 1950 e 1980 oriundos principalmente das regiões Norte, Nordeste e outros estados da região Sudeste, causaram imensos impactos na região decorrentes da explosão demográfica, superando o crescimento da capital paulista13,

refletindo na ocupação desordenada do solo em prejuízo ao planejamento urbano-ambiental contrastando com alto valor do PIB produzido pela região. Mesmo nessa época, já havia o problema de invasão de áreas de mananciais decorrente da incapacidade administrativa dos municípios da região em gerir essas áreas, através de políticas de desenvolvimento e ocupação do solo (ITIKAWA & ALVIM, 2008). De acordo com a prefeitura de São Bernardo do Campo, estima-se uma população de 222.693 residindo em áreas de proteção aos mananciais14, a grande maioria em

ocupações irregulares. Toda a dinâmica deste ciclo migratório somado a omissão dos agentes públicos local, resultaram na escassez de oferta de terras, e elevação dos preços dos aluguéis pressionando o custo de vida da região, um dos mais caros do estado de São Paulo (CONCEIÇÃO, 2004).

Durante a década de 1990 a globalização atingiu duramente a região com a intensificação da globalização, por isso, entendemos ser necessário conceituar rapidamente o significado do processo de globalização sem a pretensão de efetuar uma avaliação detalhada desse processo que não cabe nos limites deste texto, antes de prosseguirmos em nossa análise de seus impactos na região do grande ABC.

12 Cf. Dados do IBGE, 2010.

13 Cf. tabela 5.

14A Represa Billings, no que se refere ao seu espelho d’água, ocupa uma área de 75,8 km² (18,6% da área total do Município). Após a Represa Billings, em direção ao Sul do Município até o divisor de águas sul da Represa, tem-se uma área onde está localizado o Riacho Grande: um distrito com característica Urbana já existente anteriormente à década de 1970. A partir do divisor de águas sul da Bacia da Represa Billings até o limite sul do Município tem-se uma área caracterizada como sendo de preservação da Mata Atlântica, onde se situa o Parque Estadual da Serra do Mar, com aproximadamente 110 km2. Ainda e dentro desse perímetro, tem-se uma área de 6,0 km²

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Conceição (2004) define a globalização como a expansão das relações comerciais, industriais, financeiras e econômicas entre as nações, por intermédio de um conjunto de processos que torna possível a criação, desenvolvimento, produção e distribuição de produtos e serviços em escala mundial de consumo, pressionado por uma lógica de ferina concorrência internacional. Para Santos (2000) a globalização é o ápice do processo de internacionalização do mundo capitalista, e uma das práticas mais perversas deste modelo, é a descentralização produtiva, ou a fragmentação da produção com unidade econômica de comando do capital, enfraquecendo a ação dos Estados e das instituições, promovendo seu caráter perverso atual, em sua lógica da emergência do dinheiro em estado puro como motor da vida econômica e social (SANTOS M. , 2000). Neste sentido Vargas (1999) afirma que a característica principal da globalização seria a gradual e sistemática perda da capacidade de decisão dos governos nacionais, substituídos pelos centros decisórios de alguns poucos países ricos, dirigidos majoritariamente pelos interesses de poucas e grandes empresas transnacionais (VARGAS, 1999). Daniel (1999), de forma mais ampla afirma que a globalização tem sido um produto da combinação de fatores econômicos, políticos e socioculturais, inspirada em especial na ideologia neoliberal, apresentando como resultados uma redução generalizada da inflação, taxas de crescimento econômico bastante modestas, recorrente instabilidade financeira internacional, expressivo crescimento das taxas de desemprego e uma preocupante expansão da exclusão social, afetando os países desenvolvidos e se aprofundando de maneira significativa esses efeitos nos não-desenvolvidos (DANIEL, 1999). Sobre o enfraquecimento do papel do Estado, Bauman (1999) expressa sua opinião de maneira não convencional. “No cabaré da globalização, o Estado passa por um strip-tease e no final do espetáculo é deixado apenas com as necessidades básicas: seu poder de repressão. Com sua base material destruída, sua soberania e independência anuladas, sua classe política apagada, a nação-estado torna-se um mero serviço de segurança para as

megaempresas...” (BAUMAN, Globalização - As Conseqüências Humanas, 1999, p. p. 74)

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(ANFAVEA, 2014). Esse aspecto é muito importante para análise dos impactos na região do ABC, o efeito imediato desta abertura de mercado, foi o fechamento de diversas empresas, em 1990 a taxa de desemprego que era de 11,7% saltou para 15,1 em 1996 e dois anos depois, em 1998 já atingia 20,3% da População Ativamente Econômica (PEA)15, agravando sobremaneira a região em consequência da

concentração industrial, principalmente no segmento automotivo.

Do ponto de vista da região do ABC, as perspectivas tornam-se sombrias: desemprego, perda do dinamismo econômico e desgaste do tecido social. Com base na experiência de alguns países europeus, e diante da emergência do fechamento da fábricas automotivas na região, é estabelecido a câmara setorial automotiva para formular em acordo assinado em Brasília, no dia 26 de março de 1992, entre governo, empresários do setor automotivo e os sindicatos de Metalúrgicos de São Bernardo e Diadema, Santo André e de Betim em Minas Gerais, todos da Central Única dos trabalhadores (CUT), reduzindo em média 22% e o preço dos automóveis e aumentado a alíquota de importação dos automóveis importados nos anos subsequentes em até 35%. (SMABC, 1992)

Contudo, a alíquota para matérias primas básicas e autopeças era inferior a 5%, resultando em fechamento de diversas indústrias de autopeças, não somente na região do ABC, mas em todo país, uma vez que somente a indústria automotiva permanecia sob a proteção das políticas formuladas pela câmara setorial. Este aspecto é de grande importância, pois através desta logica justifica-se o aumento do número de fabricantes de automóveis no Brasil (Figura 3). A fim de obter menores tarifas de importação de veículos acabados pelo programa INOVAR-AUTO, podem importar conjuntos e autopeças por tarifa menores e obter crédito adicional de até 30% do Impostos sobre Produtos Industrializados (IPI).

15 Cf. Pesquisa Emprego/Desemprego SEADE/DIEESE, disponível no sitio:

http://www.saobernardo.sp.gov.br/secretarias/sp/geoportal/COMPENDIO/P20.pdf (acesso: ano

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Figura 3: Mapa das fábricas de automóveis no Brasil Fonte: http://carros.ig.com.br (acesso: 2015)

Entretanto, grande parte das plantas das fabricas de veículos recentemente instaladas no Brasil ou em projeto apresentam-se com arranjos industriais diferentes do utilizado pelas fábricas instaladas na região do Grande ABC. Estes arranjos não envolvem somente a fabricante de veículos, mas também alguns de seus fornecedores diretos. Conhecidos como condomínios industriais, possuem características bastante particulares, diferente de distritos e parques industriais. Proveniente da necessidade de maior integração logística e de algumas condições particulares do setor automotivo, como o fornecimento de subconjuntos, a estrutura “piramidal” da cadeia de suprimentos e a concentração do poder de barganha nos níveis superiores da cadeia. A nova fábrica da General Motors em Gravataí, dentro desta concepção piramidal produz cerca de 47,5 carros por trabalhador ao ano, ao passo que a Volkswagen de São Bernardo do Campo e a General Motors de São Caetano produz em torno de 10,3 carros por trabalhador ao ano. (ANFAVEA, 2014)

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– modelo piramidal, condomínio industrial ou no jargão utilizado no ambiente de negócios outsourcing ou terceirização. Devemos acrescentar também a diferença entre as jornadas de trabalhos, os trabalhadores das novas instalações cumprem jornadas de 44 horas semanais contra 40 horas dos trabalhadores do ABC. Contudo, a diferença de produtividade pode ser entendida perfeitamente quando debatida dentro da dialética montar um veículo versus produzir um veículo.

Autores mais alinhados com estas práticas, como Lins (2000), admitem que a terceirização possibilita a redução de custos devido a privação ou transferência da necessidade de investimentos em equipamentos, máquinas e em mão-de-obra. Ao mesmo tempo permite a obtenção de especializações que complementem sua atividade fim. Porém, essa pratica também vincula-se à conveniência de não precisar investir para dispor dessas atividades ou serviços. (LINS, 2000)

O impacto na região do ABC da abertura abrupta da economia atingiu linearmente todas os setores produtivos, diferenciando-se somente a capacidade de mobilização e organização destes setores. No entanto, os fabricantes de veículos e os sindicatos representante dos empregados metalúrgicos do ABC são entidades extremamente organizadas e com alto poder de mobilização, minimizando estes impactos. Porém a indústria têxtil e as organizações ligadas a este segmento na região, já estava debilitada pela abertura comercial iniciada na segunda metade da década de 1980 e acelerada a partir da década de 1990 e a mudança do eixo produtivo Sudeste para a região Nordeste (tabela 2).

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