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Tv, cinema e o mercado cosmético No século XVIII as revistas e os meios impressos em geral já desempenhavam um

SINAIS DA MODERNIZAÇÃO ECOLÓGICA NA EUROPA E NOS ESTADOS UNIDOS

2. Modernização e Ecologização Este capítulo tem como objetivo analisar o dinamismo do setor da indústria de

2.4 Tv, cinema e o mercado cosmético No século XVIII as revistas e os meios impressos em geral já desempenhavam um

papel importante na formação de uma sociedade de consumo. Mas o consumo de bens em geral ainda que numa virtual “grande transformação” – parafraseando a Karl Polanyi - tem muitas faces, acampa em diferentes lojas e se serve dos mais variados representantes comerciais e dos mais extravagantes consumidores. A cosmética como fenômeno de massa, difusão do estilo de vida tocante ao cuidado e enfeite da pessoa nasceu propriamente com o século XIX:

“Por volta do século XIX a revolução de consumo havia se instalado como um fato social permanente. A vigorosa dialética que ligava mudança no consumo e mudança social era agora uma realidade estrutural. Esta revolução, com efeito, tinha até mesmo encontrado um locus institucional, um espaço próprio: a loja de departamento. Esta nova instituição ajudou a mudar a natureza estética pela qual os bens eram negociados, introduzindo técnicas poderosamente persuasivas no cinema e na decoração que ainda continuam a ser refinadas. A loja de departamento também mudou a natureza mesma do lugar no qual as pessoas consumiam, o que elas consumiam, a informação de que precisavam para consumir e os estilos de vida aos quais este novo consumo era devotado (...) Finalmente, as lojas de departamento foram agentes de difusão, funcionando como vastas salas de aula nas quais os cidadãos do século XIX podiam aprender as artes e as habilidades de seu novo e vital papel como consumidores”(McCRACKEN: 2003, 51).

Na passagem acima o autor focaliza a loja de departamento que consistia numa imitação das grandes ferias internacionais da segunda metade do século XIX. No tópico precedente já me referi ao salão de beleza que pode ser visto como parte dessa nova engenharia comercial. Mas o que chama a atenção na sua descrição é o fato da loja estar inserida em uma complexa rede comercial que se estende além do ponto de venda. McCracken, ao mencionar “poderosas técnicas de persuasão”, refere-se obviamente ao marketing que então começa a aparecer como um domínio de técnicas abrangentes relacionadas com o desenho da produção e o estímulo de compra. Nestes termos, o marketing cosmético em seus primeiros passos, a finais do XIX e nas primeiras três décadas do XX, definiu os mecanismos centrais do que mais tarde se consolidaria como paradigma do marketing cosmético.

Este paradigma consiste na criação de modelos cosméticos, especificamente ao padrão de mulher branca ocidental esbelta e sua ampla difusão através dos meios comunicativos e artísticos. A fotografia e sua inserção em revistas e anúncios espetaculares junto com o cinema tiveram a função de difundir em uma escala sem precedentes estilos e padrões estéticos também reforçados na propaganda. Artistas e figuras públicas de notável beleza eram contratadas, como continuam a sê-lo atualmente, para identificar qualidades e projetar características novas dos produtos. Na década de 50 esta estratégia tornou-se predominante e definitiva. As modelos e atrizes circularam livremente entre o mundo profissional e o propagandístico contribuindo para a consolidação da marca, e em muitos casos cedendo seu nome para a criação de linhas inteiras de cosméticos.

No período de pós-guerra, na década de 50, este processo se acelera com a entrada da televisão. Nos países de industrialização rápida, a televisão se incorpora às técnicas-território (rede elétrica, estradas, aeroportos, etc) que tendem a afirmar os processos de integração nacional, cuja dinâmica traz inerentemente a transformação dos estilos de vida.9 A televisão é o meio mais imediato, dinâmico e ágil e, portanto, mais impactante na criação de novos hábitos. Nos Estados Unidos, por exemplo, a televisão se expandiu e entrou mais precocemente nos lares, levando junto a cultura consumista e a cosmética também.

Nos países de industrialização tardia como o Brasil, o processo é semelhante, ainda que os ritmos e a capacidade de expansão dessas técnicas sejam menos abrangentes, o que explicaria uma difusão mais lenta da sociedade de consumo10.

9 Sobre o conceito de técnicas-território me apoio no trabalho de Milton Santos e Maria Laura Silveira, no qual a

territorialidade é o espaço sobre uma dimensão histórica, apropriado em suas diferentes fases, evoluindo com as formas de uso. As técnicas, pela sua parte, autorizam a cada período uma distribuição do trabalho, criando e reformulando as divisões territoriais e através da hierarquia de lugares que promovem; elas redefinem a cada momento a capacidade de agir das pessoas, as instituições e as firmas. Finalmente, as técnicas que se tornaram território como ferrovias, hidrelétricas, emissoras de rádio, etc., põem ao descoberto os mecanismos de estruturação do território no projeto nacional (Cfr. SANTOS e SILVEIRA, 2000, 21).

10 No Brasil, após a Segunda Guerra Mundial, consolida-se a ideologia do crescimento e do Estado Nacional que

Quaisquer que sejam estas diferenças, de nenhuma forma irrelevantes, o que me interessa salientar, é o processo inacabado na alta modernidade de criação de um mercado consumidor de cosméticos, de um público que se pode espelhar nas estrelas do cinema e da tv e se sente compelido a imitar a qualquer custo. Em seu trabalho sobre a formação de consumidores no Brasil a través das telenovelas, Heloisa Buarque de Almeida (2003) aporta novos elementos sobre a relação entre consumo e meios de comunicação, indispensáveis para minha análise. A partir de seu trabalho é possível fazer uma interpretação da cosmética como fenômeno da cultura de massas

A televisão não substitui os meios impressos e o cinema, mas intensifica e mais tarde se converte no locus operandi privilegiado para a disseminação do consumo cosmético. Seu papel não se esgota nos espaços dedicados à propaganda strito sensu, mas nas técnicas de merchandising11 isto é, a inserção da propaganda dentro dos roteiros de telenovelas e filmes. “Ao enfatizar a vida das camadas médias e altas dos grandes centros urbanos, a novela permite a exposição constante de vários estilos de vida e produtos que podem ser consumidos para a construção destes estilos” (ALMEIDA, 2003, 31).

A introdução do aparato televisor, sinal propriamente da modernização e da capacidade de consumo, desata uma série de transformações nas relações familiares e nas relações entre homens e mulheres. Segundo análise de Almeida, cujos materiais empíricos foram obtidos numa pequena cidade do interior de São Paulo, a telenovela abre um fosso diacrítico no contexto de audiência e recepção na medida que são confrontadas as desigualdades entre o que está sendo exibido e mostrado (valores culturais) e a realidade do

em meados dos 70 com dois pólos industriais; entre 1969 e 1973 é implantado o sistema de telecomunicações por rede hertziana; entre 1974 e 1984 o sistema por satélite TELSAT e entre 1985 e 1988 implantados os sistemas Brasil Sat I e II. (SANTOS e SILVEIRA, 2000, 52).

11 Blakwell (2001, 194) entende merchandising de outra forma. Segundo este autor, merchandising é marketing

local onde acontece tal exibição. Homens e mulheres, sugere a autora, entram num “processo de reflexão e revisão dessas representações” (ALMEIDA, 2003, 41).

A reflexão sugere explicitamente bem o hábito de consumo como causa e efeito ao mesmo tempo da des-estruturação de vida tradicional (pré-moderna), assim como a preocupação com a auto-imagem, do desejo de estar perto do padrão de beleza veiculado pela mídia. A telenovela em seu papel de formadora de uma estrutura de sentimentos é consistente com a expansão do processo civilizador, como o entende Elias, e a partir dessa função ela reforça hábitos e costumes que pairam no mundo urbano das impressões e do autocontrole para resultar beneficiado nos contextos profissionais e do mundo do trabalho. Toda menina aprende nas telenovelas que para ter sucesso na sociedade a cosmética é fundamental para garantir a aparência desejada e a aceitação social que se pressupõe conseqüência.

2.5 Marco normativo da cosmética: risco, segurança e ecologização

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