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O PODER LEGISLATIVO E A DISPUTA PELA HEGEMONIA DO SETOR AUDIOVISUAL

2.1 O “povo do cinema” vai ao Senado Federal

No dia 5 de maio de 1999, Francelino Pereira (PFL), senador pelo estado de Minas Gerais, tomou a tribuna do Plenário para proferir um discurso a respeito do momento de crise vivido pelo cinema nacional. Ele sugeriu a criação de uma comissão especial, de caráter temporário, com o objetivo de estudar as dificuldades enfrentadas

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pelo setor e propor um conjunto de leis que reorientasse sua estruturação. Para o senador, a crise do setor se configurava por duas razões: a queda dos recursos destinados à atividade e o surgimento de questionamentos sobre os critérios adotados pela política de investimentos.

A iniciativa do senador Francelino Pereira de convocar um ciclo de audiências públicas, denominado Povo do Cinema, para debater questões relativas à atividade cinematográfica, no âmbito da CE, parece ter sido pioneira. O que havia até então era uma longa história de relacionamento entre a atividade e o Poder Executivo. Nas palavras de Francelino, a classe cinematográfica

[...] bate sempre às portas do Ministério da Cultura. Mas convém salientar que um Ministério de Estado nem sempre tem a liberdade de falar abertamente, de contrariar interesses dentro da própria estrutura governamental. Já o Congresso Nacional, que é uma Casa de debate por natureza, pode dialogar abertamente, com todas as opiniões contrárias, até encontrar convergências.

O objetivo deste capítulo é verificar se a associação com a televisão estava na mira do “povo do cinema” e, e em caso afirmativo, identificar de que modo se configurava seu discurso.

A Subcomissão do Cinema foi instalada em 29 de junho de 1999, no âmbito da CE. O senador José Fogaça (PMDB/RS) foi escolhido presidente e entregou a relatoria da subcomissão ao seu idealizador, senador Francelino Pereira, que descreveu as circunstâncias vivenciadas pelo setor cinematográfico:

Agora, exatamente quando se instala a Comissão de forma efetiva, os problemas do nosso cinema voltam à baila não apenas como notícia, mas também pela crítica aos seus métodos e processos. A revista Veja desta semana publica, na seção de Cultura, dura matéria crítica dos filmes nacionais sob o título “Caros, ruins, e você paga”. O problema fundamental ali exposto é que poucos são os filmes brasileiros que se pagam, donde se conclui que esse quadro precisa ser revertido se quisermos ter, de fato, uma indústria cinematográfica à altura do potencial nacional. (BRASIL, 1999)

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Para o senador, o momento marca o encontro entre a instituição parlamentar e o “povo do cinema”:

O povo do cinema – os exibidores, os investidores, os cineastas, os roteiristas – geralmente não procura o Congresso; procura o Poder Executivo e, particularmente, o Ministério da Cultura. Eles têm as associações e vêm desenvolvendo um esforço muito grande. O cinema passa, ora por momentos de ápice, ora por momentos de profunda depressão. (Brasil, 1999)

O ciclo de audiências públicas Povo do Cinema se estendeu de junho de 1999 até dezembro de 2000, quando foi apresentado o relatório final. Foram realizadas 07 audiências, com a presença de 24 convidados, entre produtores, diretores, professores e autoridades governamentais. Durante os debates, vários temas relativos ao desenvolvimento da indústria cinematográfica foram abordados. Aqui, serão ressaltados aqueles que tratam da associação entre cinema e televisão.

Na abertura dos trabalhos, o presidente, senador José Fogaça (PMDB/RS), explicou que a função da subcomissão seria “[...] estudar o fenômeno do cinema brasileiro, estudar as dificuldades, os obstáculos à produção cultural no País; estudar e analisar os problemas que prevalecem em nosso País quanto à possibilidade de distribuição, comercialização e exibição de filmes brasileiros”. Além de analisar a situação em que se encontrava o cinema nacional, a Subcomissão poderia sugerir novos caminhos legais:

[...] encontrar uma forma pela qual se possa, através de uma nova legislação, se possível, abrir possibilidades que venham a estimular a criação, a produção, enfim, transformar o cinema brasileiro numa indústria cultural sólida, que possa, a partir de certo tempo, sobreviver a partir de si mesma.

O senador Francelino Pereira observou que até aquele momento não havia uma relação entre a categoria cinematográfica e o Congresso Nacional. Para o senador, a indicação do filme Central do Brasil ao Oscar de melhor filme estrangeiro que suscitou o interesse pelo cinema nacional. A partir daí, teria sido possível perceber que, “efetivamente, não existe uma definição de uma política pública no Brasil sobre o cinema nacional”

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Para o cineasta Nelson Pereira dos Santos, o cinema brasileiro poderia viver somente de seu mercado interno, desde que esse mercado fosse compreendido como um conjunto que incluísse salas de exibição, regras de acesso à distribuição e home video, bem como o acesso ao espaço na televisão: “Há também a possibilidade de esse mercado crescer, na medida em que milhões de brasileiros começarem a ser incorporados ao mercado de consumo existente”. Nelson Pereira sugeriu a interação com a televisão, mas não descreveu nem exemplificou como esse processo ocorreria.

Já o cineasta Gustavo Dahl considerou importante definir o papel que o Estado deveria assumir em relação às cinematografias nacionais: “Qual a necessidade de intervenção do Estado, dos governos nacionais, em defesa dos seus próprios cinemas nacionais?”. Dahl citou a falta de articulação do cinema brasileiro com a televisão aberta como um dos problemas estruturais do setor: “Todos sabemos, inclusive os senhores, que são políticos, sabem da importância que a televisão aberta tem no panorama da cultura e da civilização brasileira”. Conforme o cineasta, a presença de filmes brasileiros na televisão aberta é pequena, “[...] porque existe a novela, que é um produto nacional, falado em português e ocupa esse espaço. Mas, mesmo assim, a presença do filme brasileiro poderia ser muito maior”.

Para Dahl, a divulgação do filme nacional seria um dos principais papéis a ser exercido pela televisão:

Neste último ano, os filmes que tiveram apoio da televisão ou foram coproduzidos por ela [...] tiveram resultado da ordem de 900 mil a um milhão de espectadores. [...] Os filmes que não tiveram propaganda na televisão caíram de 55 mil espectadores para baixo, ou seja, há uma redução de praticamente vinte vezes nesse resultado.

Sobre a televisão a cabo, Dahl afirmou que, por conta da legislação, o filme brasileiro ficou restrito a um canal de televisão “[...] no qual ainda é confinado a uma programação especial. Além da mensalidade da televisão a cabo, tem que pagar um plus para poder receber o cinema brasileiro”. Ele acredita que o modelo econômico que sustenta a produção cinematográfica deve ser revisto e que “devem ser levadas em conta outras modalidades de consumo de imagem, como a televisão aberta e fechada e o vídeo”. O cineasta sugeriu a criação de um mecanismo de fomento baseado no consumo do produto audiovisual, que não onere o orçamento da União.

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A regulação do mercado foi outra das propostas apresentadas por Dahl: “É preciso que haja uma justa regulação do mercado, pública, mas não estatizante, e que identifique a meta de ter uma fatia de mercado que viabilize a indústria nacional como qualquer outra indústria nacional”. Para justificar a proposta, ele lembrou que o mercado de televisão a cabo está dominado por grandes grupos multinacionais e que a produção nacional está ausente:

É impressionante! A esperança de que a televisão a cabo democratizasse o mercado e permitisse-me ver filmes turco, chinês, africano não existiu. Este é um sinal que deve ser percebido com grande sensibilidade, ou seja, é preciso que haja uma complementação de aporte de recursos e de regulação dentro da Constituição, dentro do que for possível. Não é possível um país soberano aceitar que não há nada o que fazer.

Dahl citou a existência de um artigo no anteprojeto de Lei de Comunicações de Massa30 que previa o estabelecimento de uma cota para exibição de produção nacional independente na televisão, a ser regulamentada por decreto. Com sua experiência de gestor na Embrafilme, o cineasta acredita que tais mecanismos deveriam ser estipulados a partir de uma base legal forte, caso contrário, ficariam sujeitos ao risco de serem alvo de uma “guerrilha jurídica”.

A regulação do mercado foi defendida com entusiasmo por Gustavo Dahl. Para ele, a nova fase de desenvolvimento da indústria audiovisual passava pelo aporte de recursos e pela regulação, que deveriam ser constitucionalizados, provavelmente para que se tornassem política de Estado, de longo prazo, sem estarem sujeitos ao governo da ocasião.

Adriana Rattes, do Grupo Exibidor Estação Botafogo, avaliou que não havia dificuldade de comunicação entre o cinema nacional e o público; havia, sim, dificuldade de encontro entre o filme e seu público, porque os filmes não chegavam às telas. Para ela, a solução estaria na disposição política do governo de construir um conjunto de medidas abrangentes com o objetivo de “desenvolver a indústria audiovisual brasileira que não é mais a do cinema”. Para ela, “o cinema não existe mais como uma indústria

30O cineasta se refere a um suposto projeto em elaboração no Ministério das Comunicações para a

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separada. Estamos falando da indústria do audiovisual, da comunicação, que passa pela TV, pela internet, pelo satélite, pelo cabo”

Rattes chamou a atenção para a urgente necessidade de regulamentação do mercado audiovisual, em face do seu grande desenvolvimento:

Eu sei que falar de regulamentação e de proteção sempre assusta muita gente. No entanto, é isto mesmo que estou querendo dizer: um mercado só é livre e competitivo, se houver regras fortes o bastante para garantir essa competição. E é isso que não existe hoje no mercado audiovisual brasileiro.

Além de apontar a necessidade de regular o mercado, Rattes trouxe uma novidade para o debate – a troca do conceito de indústria cinematográfica pelo de indústria audiovisual, que amplia aquela noção. Segundo ela, era urgente e fundamental enfrentar o debate sobre a participação dos canais de televisão aberta e paga na indústria audiovisual:

A televisão é fundamental para financiar a produção audiovisual brasileira e, em particular, os filmes de ficção. Parece-me um absurdo continuarmos a discutir impostos e taxas na área de exibição e da distribuição cinematográfica, que, na verdade representa hoje uma parte diminuta do mercado, e não termos forças suficientes para encararmos isso em relação às receitas de televisão, que são gigantescas, ou mesmo que briguemos por cota de tela no cinema, nas salas exibidoras e não tenhamos nenhuma política que garanta a inserção dos filmes nacionais e da produção independente brasileira nos canais de televisão.

A exibidora defendeu a destinação de uma parcela das receitas da atividade televisiva para fomentar a produção audiovisual: “Todos os países que desenvolvem uma política séria em relação ao audiovisual estão contando com a participação da televisão. Se não alterarmos isso, não iremos muito longe, ficaremos no meio do caminho”.

Marcos Marins, da Lista Cinemabrasil sugeriu a adoção de algumas medidas para alavancar indústria nacional: a) implantação e fiscalização de cota de tela; b) criação de um fundo de desenvolvimento de cinema para a produção, divulgação e distribuição, gerido pelo Estado ou pela própria atividade; c) instituição de um fundo de financiamento baseado na cobrança por hora de exibição de filme, tantos nas salas de

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cinema, quanto na televisão; d) ampliação do número de salas de cinema. Na avaliação de Marins, o mercado de filmes no Brasil estaria dominado, uma condição que o diferenciaria do mercado de televisão:

O mercado de televisão não tem dominação. Mais de 50% da nossa programação é brasileira, é feita pela Globo, pelas emissoras, mas isso já é outra questão. São brasileiros, é cultura brasileira, é feito por profissionais brasileiros. [A dominação] é um problema específico do mercado de filmes: produção, exibição e distribuição, tanto na televisão quanto no vídeo e nas salas de cinema é dominado 95%. Não é um problema do mercado audiovisual como um todo, é um problema do mercado cinematográfico que estamos tratando, porque nos outros não há dominação, não tem o que resolver, já está completamente resolvido.

Marins desenvolveu de maneira frágil o tema cinema versus televisão. Sugeriu a criação de uma taxa a ser cobrada pela exibição de filme na televisão, mas não especificou se a incidência deveria ser sobre os filmes nacionais e estrangeiros, ou apenas sobre um deles. Marins não questionou a falta de espaço na televisão para a produção cinematográfica, nem o fato de a programação ser produzida internamente pelas emissoras, exilando a produção independente da grade. Na avaliação dele, a televisão brasileira é uma atividade de sucesso que já realiza a função de ser espelho da sociedade e produtora de cultura nacional.

Roberto Farias, ex-diretor da Embrafilme, partiu da indagação “o que acontece com o cinema brasileiro que faz com que, com tantas iniciativas, com tanto esforço desde o princípio do século, não se impõe no mercado brasileiro?” para afirmar que as respostas estão no domínio da economia e não nos aspectos artísticos ou técnicos das obras. Para ele, o público brasileiro teria preferência pelo filme brasileiro, “pelo que é brasileiro”, e isso seria demonstrado pela audiência da televisão, que

[...] exibe no horário nobre, o mais caro para os anunciantes, não o filme americano, nem o filme de procedência alguma, mas a novela brasileira, a dramaturgia brasileira. Podemos dizer que é um trabalho industrial; não é tão artístico. Mas isso não interessa. O que interessa é que lá se fala português e se fala português para quem entende português.

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Para Farias, a televisão brasileira teria atingido um alto nível de profissionalismo porque sua equação econômica, sustentada no modelo de financiamento pela publicidade, foi bem resolvida, enquanto o cinema não possuiria uma fonte de financiamento:

Historicamente, o cinema brasileiro tem mais público do que o cinema americano, do que qualquer cinema do mundo. É o que acontece com a novela. É por isso que o cinema estrangeiro não é transmitido às 8h da noite, porque o que é brasileiro tem mais púbico do que o que é estrangeiro. É por isso que a televisão sobrevive, porque vive de publicidade, vive pela venda per capita da publicidade. Portanto, se tivermos condições de competir, temos mercado interno crescente.

Assim, Farias tocou no tema televisão apenas para sustentar sua hipótese de que o público brasileiro tem preferência pelo que é nacional, por isso a televisão veicula bastante programação nacional no horário de maior audiência. Segundo o cineasta, a TV desenvolveu um modelo de negócios de sucesso, focada na produção de conteúdo nacional. Farias não sugeriu qualquer tipo de integração entre o cinema nacional e a televisão. Apenas apontou que a televisão tem uma fonte permanente de receitas, enquanto o cinema não conta com o mesmo benefício. Tal comparação serviu para afirmar que o que o cinema necessita é de uma competição justa, com acesso às salas de exibição.

Nessa primeira audiência pública, o único senador a comentar a associação entre cinema e televisão foi Saturnino Braga (PT/RJ). Para o senador, a televisão poderia desempenhar um papel fundamental de convocar o público a frequentar salas de cinema: “Precisávamos inventar uma fórmula de associá-la a um sistema de marketing para o cinema”.

A segunda audiência recebeu o subtítulo Políticas Públicas para o Cinema Brasileiro e teve como convidado o secretário para o Desenvolvimento Audiovisual do Ministério da Cultura, José Álvaro Moisés. Na ocasião, o senador José Fogaça (PMDB/RS), presidente da subcomissão, formulou algumas questões que, em sua opinião, necessitavam ser enfrentadas a fim de promover uma nova legislação que abarcasse toda a complexidade e as necessidades do setor:

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É possível implantar-se no Brasil uma sólida indústria do cinema? É possível no Brasil conviver-se com a idéia de mercado nos termos em que esta é plasmada hoje? É possível formar mão-de-obra neste País a partir da existência de um mercado de trabalho consistente, permanente? É possível ter um sistema de produção de distribuição e exibição como uma cadeia produtiva interligada, cujos pontos sejam, todos eles, rigorosamente, apoiados por políticas públicas sempre favoráveis ao cinema nacional, à indústria nacional, à criação nacional, à produção cultural no País, sem interferir nas regras mínimas de mercado?

Para esta investigação, a problemática da integração do setor cinematográfico com o setor televisivo está contemplada na última questão. Da forma como foi posto pelo senador, o problema consiste em estabelecer regras para o setor, sem prejudicar aqueles que já estão em pleno funcionamento.

Para José Álvaro Moisés, o debate sobre o setor cinematográfico proposto e executado pelo Senado Federal representava uma

[...] mudança em relação ao período anterior que vivíamos na área de cinema. É extremamente importante que se esteja definindo uma política de Estado, algo que, portanto, não diz respeito apenas ao governo A ou B – os governos passam, como sabemos, mas o Estado permanece e a relação entre a sociedade e o Estado é o que realmente importa.

Outro aspecto apontado por Moisés foi o estado de maturidade em que se encontrava a comunidade cinematográfica para debater uma nova política setorial:

Existe bastante massa crítica para que nós, agora, nesse momento, depois do terremoto do início dos anos 90, depois a retomada do que ocorreu de 95 pra cá, possamos desenhar um modelo, um destino, uma orientação [...] para a adoção de políticas permanentes para o cinema.

O secretário informou que o Ministério da Cultura, em conjunto com a Comissão de Cinema, estava trabalhando num anteprojeto com o objetivo de reformular a legislação para o setor. Os pontos principais do anteprojeto seriam:

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a) dar nova definição à atividade audiovisual brasileira, “de modo que [...] abranja todos os setores que hoje são decorrentes das inovações tecnológicas”;

b) estender por mais 20 anos o mecanismo de incentivo da Lei do Audiovisual, que estava previsto para terminar em 2003;

c) restabelecer a Contribuição para o Desenvolvimento da Atividade Audiovisual (Condecine), prevista no Decreto nº 1.900, legislação de 1992;

e) introduzir um mecanismo que permitisse o efetivo controle e fiscalização da cota de tela. Haveria uma punição para quem não cumprisse a regra, mas também um prêmio para aqueles que extrapolassem o número mínimo de dias obrigatórios;

f) tornar obrigatório o fornecimento das informações relativas à importação e à exibição. Esse mecanismo atingiria tanto as empresas brasileiras quanto as estrangeiras.

O secretário apontou o desequilíbrio entre o faturamento da indústria estrangeira e a nacional:

O Brasil importa na atualidade cerca de 350 títulos por ano para a exibição em cinemas, em TV aberta e a cabo, para a distribuição em home vídeo, produzimos, nos últimos quatro anos, uma média anual de menos de trinta filmes. Importamos em valores mais de USS 695 milhões em produtos audiovisuais/ano, exportamos menos de 38 milhões.

A ocupação do mercado de salas de exibição por filmes norte-americanos, segundo Moisés, ultrapassava 92%: “Com isso, o modelo cultural norte-americano, inclusive a enorme carga de estímulo à violência ensejada pelos filmes, passou a ser senão a maior, uma das mais importantes referências culturais da nossa população, particularmente dos mais jovens”.

Moisés lembrou que a televisão é um setor que resiste e sobrevive à invasão, por ser “de longe o ramo mais industrializado da economia audiovisual”, especialmente a telenovela, que cumpriria, como se viu acima, um papel de espelho para a identidade do brasileiro. Por outro lado, o secretário apontou também a enorme presença do conteúdo estrangeiro na televisão por assinatura.

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Ao avaliar o setor, desde a Retomada, Moisés ressaltou o “enorme abismo entre a produção cinematográfica e a produção para a televisão”. Para ele, a digitalização das imagens e a evolução tecnológica levariam “necessariamente para a integração entre cinema e televisão”. No entendimento do secretário, o desenvolvimento do cinema nacional descolado da televisão teria explicações econômicas:

Produzir telenovelas e a incorporação do cinema estrangeiro a baixo custo levaram a uma situação em que cinema e televisão muitas vezes se estranham. Por consequência, o cinema brasileiro produz de partida, excluindo de seu horizonte, o mercado de exibição na TV aberta e a cabo, algo que, como ocorreu em outros países, poderia representar não apenas o melhor meio de divulgação dos filmes exibidos em salas e comercializados em home vídeo, mas a uma melhor renda.

Moisés não via a integração com a televisão apenas do ponto de vista da promoção das obras nacionais, mas como geradora de emprego e renda e também como um processo de democratização cultural. O secretário conclamou os senadores a tratarem do tema:

[...] Gostaria de grifar, de enfatizar, a necessidade Srs. e Sras. Senadores, de encontrar uma solução para essa integração entre cinema e televisão. Há dificuldades, há problemas que têm a ver com a história do desenvolvimento de cada um dos setores, mas esta é a hora de encontrarmos mecanismos de integração para superarmos esses impasses.

Vale chamar a atenção para o tom de súplica que revestiu o discurso do secretário, o que indica o nível de dificuldade enfrentado pelo próprio Poder Executivo,