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Cipola, Contro un nemico invisibile Epidemie e strutture sanitarie

O jejum e a santidade

8 Cipola, Contro un nemico invisibile Epidemie e strutture sanitarie

neWltalia dei Rinasámento, p.34-6.

9 w w w .veganitalia.com /m odules/new s/article.phpP storyid = 1241.

dizendo:

M uitos m orreram sem serem vistos, e m uitos m orreram de fome, dado que quando alguém se acamava, os de casa, assustados, diziam -lhe: “Vou chamar o médico” e, após fecharem a porta, nunca mais voltavam.10

E m Storia economica delVEuropa pre-industriale, C ipolla descreve os efeitos d a ch am ad a “p e q u e n a era glacial”, q u e vai d e m ead o s do século XVI a té o final do século XVIII. In v ern o s rig o ro so s e verões frescos, a u m e n to da q u ed a de neve e das chuvas, avanço das geleiras alpinas. O a u m e n to das chuvas dificu lta a m atu ração e n ão p e rm ite o e n ra iz a m en to das p la n ­ tas. N a d écad a d e 1590, h o u v e u m a d e rro cad a da a g ricu ltu ra em to d a a E u ro p a O cidental.

A nossa p enínsula também viu suas colheitas serem atingidas, inclusive a Sicília, o celeiro da Itália, que, em 1592, deixou de exportar trigo e se viu tam ­ bém em situação de fome. A situação tornou-se tão grave que, segundo os testemunhos da época, a popu­ lação de toda a Itália passou a comer cães, gatos e até mesmo serpentes.11

C o m o e s tá claro p a ra to d o s, o d ra m á tic o p r o ­ b lem a d a fom e ain d a é u m a ferida ab erta. S egundo a O rganização das N ações U nidas p a ra a A lim entação

10 www.7doc.it/storia/35-la-peste.htm l.

11 Cipolla, Storia economica delVEuropa pre-industriale, p.256; ver também Cipolla, Saggi di storia economica e sociale.

e a A gricultura, “e n tre 1999 e 2005, 850 m ilh õ es de pessoas em to d o o m u n d o eram d e sn u trid a s”. M as havia p o u co c o n h ecim en to sobre a fom e até 1950, qu an d o foram p ublicadas as m ais de m il páginas dos dois v o lu m es in titu la d o s Biology ofH um an Starvation (com o relato da d e n o m in a d a “E xperiência de M in­ n e so ta ” so b re os efeitos de u m je ju m p ro lo n g ad o e de u m a q u ase in anição envolvendo trin ta e seis voluntários) a re sp eito d a fom e com o u m a doença que leva à m o rte, em b o ra m u ito s casos de falta de alim en to te n h a m sid o le m b ra d o s, d e sc rito s e a té m e sm o e s tu d a d o s co m m u ito afin co . E n tre eles destaca-se o q u e aco n teceu em Varsóvia, em 1940, qu an d o os ju d e u s q u e ali viviam foram e n c la u su ­ rados n u m a área de catorze q u ilô m etro s qu ad rad o s. A h istó ria d o q u e ali aco nteceu é n arra d a no livro de Charles R oland in titu la d o Courage Under Siege [C ora­ gem sob o cerco] e n o diário (disponível em italiano) escrito p o r A b rah am Lew in in titu la d o Una coppa di lacrime: diario delghetto di Varsavia. N o tex to de 13 de setem bro de 1941, lem os:

Fomos rebaixados ao nível de animais errantes. Quando vemos os corpos inchados e sem inus de judeus que jazem nas ruas, sentimos como se estivés­ semos num estágio subum ano... Para todos aqueles que morrem de fome, uma morte rápida e violenta constituiria certam ente um alívio diante do sofri­ mento terrível e prolongado de sua agonia mortal.

M as os m é d ic o s ju d e u s c o n fin a d o s n o g u e to estudaram e descreveram , com precisão e riq u ez a de detalhes, os efeitos da fom e so b re o o rganism o. Em 6 de ju lh o de 1942, o dr. Jo sep h S tein proferiu u m a

co n fe rê n cia , e m u m a re u n iã o s e c re ta de m éd ico s (n a v erd ad e , u m im p o rta n te co n g resso científico), so b re a d o en ç a d a fom e em su a fo rm a extrem a. Em abril de 1943, dep o is da revolta a rm ad a de h o m e n s e m u lh e re s ju d e u s q u e d ecid iram resistir, o g u eto de V arsóvia foi q u e im a d o e to ta lm e n te d e stru íd o .

H oje a fom e e n q u a n to p ro b le m a coletivo afeta u m a p a rte d o m u n d o , q u e n ão é aq u ela em q u e fom os esc o lh id o s p a ra viver. M as b a s ta v o lta r u m p o u co n o te m p o ... E m 2009, foi p u b licad a n a Nature a se­ q ü ê n c ia d o g e n o m a d a ch am a d a “p rag a d a b a ta ta ”, o ag en te p a tó g e n o (d en o m in ad o Phytophtorainfestans), q u e a tu a lm e n te c u s ta a cada an o aos a g ric u lto re s m ais de q u a tro b ilhões e m eio de eu ro s. Ele possui u m a g ran d e capacidade d e adaptação, se rep ro d u z p o r m eio de m ilh õ es de e sp o ro s q u e p e n e tra m no so lo e a ta c a m o tu b é rc u lo . A s p la n ta s , u m a vez infectadas, m o rre m n o p ra zo d e u m a sem an a. O Phy- tophtora infestans, a n te s c o n sid erad o u m fungo, agora é reco n h ec id o co m o u m “m o fo a q u á tic o ” e, com o tal, “se a p ro x im a m ais d o p a ra sita da m alária d o q ue do s co g u m e lo s”.12 E m 1845, n a Irla n d a ,'e s ta praga in fe sto u u m te rç o das b a ta ta s, q u e tin h a m se to rn a d o o e le m e n to básico da alim e n tação d o s cam poneses. N o an o seg u in te, to d a a p ro d u ç ão foi p erd id a. A pós a safra n o rm al d e 1847, a p rag a a tin g iu as co lh eitas de 1848, 1849 e 1850. O q u a d ro d a falta de alim en to , a m iséria, o so frim e n to atro z de h o m e n s, m u lh e re s e crianças, to rn a ra m -se con h ecid o s em to d o o m u n d o . C o m o escreveu S h arm an A p t R ussell, a Grande Fome n ão foi inevitável:

12 h ttp://cord is.europa.eu /fetch ?caller=new slin k it_c&rcn= 31230& action=d.

M uitas pessoas teriam sido salvas se o governo britânico e a elite irlandesa tivessem intervindo de forma eficaz. De 1845 a 1850, o M inistério do Tesouro inglês aplicou pouco mais de 7 milhões de libras em ajudas, em comparação com os 20 m ilhões que ele havia dado àqueles que, nas índias Ocidentais, pos­ suíam escravos, para que pudessem emancipá-los, ou com os 70 m ilhões de libras que em breve gastariam na guerra da C rim eia.13

Sobre a Grande Fome n a Irlanda, sobre as re sp o n ­ sabilidades, as irre g u la rid a d es e as falhas, m u ita s discussões o correram e co n tin u am a ocorrer. A escas­ sez de a lim e n to q u e a tin g iu a U crânia em 1932 e

1933, d e n o m in a d a Holodomor ou fome em massa, foi definida - em u m a lei a esse re sp eito ap ro v ad a em 2006 pelo P arlam en to U cran ian o - com o u m g e n o ­ cídio o u com o u m a c o n te cim en to in te n c io n a lm e n te p ro v o cad o e, d e p o is, a d m in is tra d o co m b a se em escolhas b em precisas. A m aio ria d o s h isto ria d o res defende, com o v erd ad e ev id en te, q u e e ssa gran d e fome foi ocasionada p elas decisões p olíticas do sta- linism o. E ssa tra g éd ia foi apagada d a h istó ria pelo regim e de S tálin e reco rd ad a apenas p elo s e m ig ran ­ tes. N o en ta n to , p o u co s são os h isto ria d o res fora da U crânia q u e a d erira m à te se de q ue a gran d e fom e deva ser d efinida com o genocídio ou q u e te n h a sido provocada deliberadamente e q u e as escolhas políticas desastrosas d e S tálin sobre a coletivização forçada, sobre a exploração excessiva das colheitas e do gado

13 Russell, Fame. Una storia innaturale, p. 196; vèr W oodham- -Smith, The Great Hunger: lreland 1845-49; Gray, The Irish

tiv e sse m co m o fin alid ad e c o n sc ie n te e d ese ja d a o e x te rm ín io d o po v o u c ra n ia n o . A s c o n c lu sõ e s de vários e n c o n tro s m u n d ia is so b re e sta q u e stã o ta m ­ b ém foram in flu en ciad as p o r razões ou c o n ju n tu ra s políticas. M esm o o n ú m e ro d e v ítim a s é m u ito d is­ cu tid o , v arian d o de m e io m ilh ão a dez m ilh õ es de m o rto s.

E m m aio de 2000, D ick G. V anderpyl reevocou o p e río d o de n o v em b ro d e 1944 a m aio d e 1945, e qu e p e rm a n e c era n a su a m e m ó ria e n a dos h o lan d eses co m o “o in v ern o d a fo m e” . O s aliados m archavam p a ra Berlim , m as a p a rte o cid en tal d a H o lan d a ainda estav a o cu p a d a p o r tro p a s alem ãs. M ilhões de h o la n ­ d e s e s e n f r e n ta r a m u m p e río d o te rrív e l. D u ra n te aq u ele in v ern o n ã o havia n e m a q u e c im e n to n e m ele­ tricidade, as rações in clu íam u m ped aço d e p ão e u m qu ilo de b a ta ta s p o r sem ana. B atatas e strag ad as pela geada, b u lb o s d e tu lip a e b e te rra b as to rn a ra m -se o ú n ic o a lim e n to d isp o n ív e l.14 M óveis e casas foram d e s m o n ta d a s p a ra g a ra n tir o a q u e c im e n to . T rin ta m il p e sso a s m o rre ra m de fom e. O exam e das fichas d o s h o sp ita is a re sp e ito d as crianças concebidas e n ascid as d u ra n te aq u ele in v ern o e, p o ste rio rm e n te , o ex am e d o s te s te s exigidos p elo exército h o lan d ês de to d o s os rap azes com 18 anos, p e rm itira m levan­ ta r e to rn a r pú b licas im p o rta n te s c o n clu sõ es sobre o s efeito s a longo p raz o de u m a n u triç ã o deficiente d u ra n te a in fân cia.15

14 w w w .rcnzonline.com /fhf/al22.htm . 15 Russell, Fame. Una storia innaturale, p. 149.

E m 1996, J a s p e r B e ck e r16 p u b lic o u u m liv ro sobre a fom e n a C h in a d e M ao, re latan d o u m dos piores p e río d o s de fom e d a h istó ria. Ela com eçou com a c o le tiv iz a ç ã o n o c a m p o , co m o e s tím u lo dado a u m a in d u strialização forçada, com as decla­ rações fo rjad as a re s p e ito d a s co lh e ita s p o r p a rte dos p r o d u to r e s , co m u m in ju s tific a d o a u m e n to das expo rtaçõ es de alim en to s, com u m a cam p an h a contra os q u e se aproveitavam d essa situ ação p ara enriquecer. Fala-se d e n ú m e ro s q u e v ariam e n tre ca to rz e e t r i n t a m ilh õ e s d e m o rto s . C in c o a n o s antes, em 1991, foi p u blicado n a In g laterra o livro Cisnes selvagens, de se isc e n ta s p ág in as, e sc rito p o r Jung C hang, nascid a em 1952 e q ue tin h a feito p a rte da G u a rd a V erm elha, tra b a lh a n d o co m o “m é d ic a descalça” a n te s de d eix ar a C hina, em 1978, e tra n s- • ferir-se p ara a Inglaterra. T raduzida p ara 26 línguas, com m ilh õ es de cópias vendidas, a o b ra re c o n stró i a vida de trê s gerações de m u lh eres. D edica u m capí­ tulo aos an o s da fom e, o n d e lem os:

Em Chengdu a ração mensal de alimentos para cada adulto foi reduzida para oito quilos e meio de arroz, cem gramas de óleo e cem gramas de carne, quando possível. Não havia quase nada, nem mesmo repolhos. Muitos sofriam de edemas, um estado no qual os líquidos acumulam-se sob a pele devido à des­ nutrição; esses doentes assumem uma cor amarelada e ficam inchados... Eu tinha de ir muitas vezes ao hos­ pital para tratar os dentes. Todas as vezes que ia, sofria de náuseas diante do horrível espetáculo de dezenas

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