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Greves de fome

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Canibais

O te rm o canibais foi in tro d u zid o n a E uropa por C ristóvão C olom bo, m as já n a A ntiguidade, H eró- doto, E strabão, Plínio, o Velho, P tolom eu falam de p o p u laçõ es q u e se a lim e n ta m de c a rn e h u m a n a . Na m ito lo g ia grega, C ro n o s d ev o ra se u s filhos e D ioniso é devorado pelos Titãs; T ântalo, p ara com ­ provar se o s d e u se s são re a lm e n te o n is c ie n te s e conseguem d istin g u ir e n tre a carne h u m a n a e a an i­ mal, m a ta seu filho Pélope, o co rta em pedaços e dá-lhes p ara com er; M edeia, em vingança pela tra i­ ção de Jasão, serve-lhe à m e sa seus dois filhinhos. Tereu, esposo d e Progne, v iolenta Filom ela, irm ã de Progne, e corta-lhe a língua. Em vingança, Progne e Filomela m atam o p e q u e n o Iti, filho de Tereu, cor­ tam seus m em b ro s em pedaços, põem p a rte deles para ferver e p a rte p a ra assar e os servem ao pai. Na narrativa de H om ero, os C iclopes, os gigantes que têm apenas u m olho, n ão tem em os d eu ses e vivem sem leis, golpeiam co n tra o solo o corpo dos

co m p a n h eiro s de U lisses, e sp a rram am seu cérebro e san g u e e os com em . A pós a fuga de U lisses e de seu s co m p a n h e iro s - n a rra O vídio n as Metamorfo­ ses (XIV, 192-196) - , Polifem o e sp e ra q u e alg u n s d eles p o ssam re to rn a r p ara esq u artejá-lo s vivos com as m ão s, co m e r suas vísceras, b eb er seu sangue e ouvir o ru íd o d e seu s m em b ro s tritu ra d o s com os d e n te s. Fazem p a rte da m e m ó ria coletiva do O ci­ d e n te o con d e U golino, citado n o Inferno de D an te

(e re tra ta d o em u m a p in tu ra de W illiam Blake); o terrível q u a d ro Saturno devorando seu filho, de F ran­ cisco d e Goya (1819); a b ruxa, p re se n te n o início do século XIX n o co n to dos Irm ãos G rim m , q u e p ren d e o p e q u e n o Jo ã o n a gaiola p ara engordá-lo e depois com ê-lo, m as q u e com u m e m p u rrã o d e M aria (irm ã de João) acaba assad a n o forno (para gran d e satisfa­ ção do leito r).

E m O milhão, M arco Polo fala d o c a n ib alism o p ra tic a d o p o r p o p u la ç õ e s d o Jap ão e d e S u m atra. M as o te m a g a n h a u m a v erd a d e ira ex p lo são com as d e sc o b e rta s das A m éricas. “E n las ín d ia s ”, escreveu o je s u íta Jo sé A co sta n a su a Historia natural y moral de las índias (1 5 9 0 ), “to d o es p o rte n to so , to d o es sor- p re n d e n te , to d o es d is tin to y e n escala m ay o r q u e lo q u e ex iste en el V iejo M u n d o ”.1 T am bém C ris tó ­ vão C o lo m b o , F ern a n d o d e M agalhães e in ú m e ro s o u tro s v iajan tes e n av eg ad o res d o início d a Idade M oderna, ao d e se m b a rc ar n o N ovo M u n d o , viram com se u s p ró p rio s o lh o s coisas n u n c a v istas a n tes. A sim p le s v isã o d a s n o v as te r r a s c o n tr ib u i p a ra

1 “Nas índias tudo é grandioso, tudo é surpreendente, tudo é diferente e numa escala maior do que existe no Velho Mundo." (N. T.)

m in a r a ideia d a su p e rio rid a d e dos an tig o s. Sim ples m arinheiros - afirm a-se em vários lugares - são capa­ zes de ver o co n trá rio do q u e os filósofos gregos e os p adres da Igreja haviam d ito sobre a p o ssib ilid a d e de h a b ita ção n a s zo n as tó rrid a s, so b re a e x istê n ­ cia dos A n típ o d as, so b re a navegação n o s oceanos, sobre a im p o ssib ilid a d e de c ru z a r as c o lu n a s de H ércules. Paracelso, o gran d e m édico do início do século XVI, n ão viu n o s indígenas am ericanos traços h u m an o s. C om o os gigantes, os gnom os, as ninfas, “eles são se m e lh a n te s aos h o m e n s em tu d o , exceto na alm a”. São

como as abelhas, que têm o seu próprio rei, como os patos selvagens, que têm um chefe; e não vivem de acordo com a ordem das leis humanas, mas de acordo com leis inatas da natureza.

M esm o o h u m a n ista Ju a n G inés de Sepúlveda, dentre m u ito s o u tro s escritores e filósofos e viajan­ tes, ap resen to u os indígenas am ericanos com o um a subespécie de h o m en s, capazes de q u alq u er tip o de “perversidade ab o m in áv el”. O e x term ín io era ju s ­ tificado p ela cren ça de q u e os e x te rm in a d o s não pertenciam à espécie h um ana.

T o ta lm en te d iv e rsas são as afirm açõ es c o n ti­ das em u m a fam osa página dos Ensaios (1580), de Michel de M ontaigne, e qu e faz referência a tribos do Brasil: p a ra ju lg a r os povos n ão e u ro p e u s não é possível nem lícito ad o tar o p o n to de vista e u ro ­ peu e cristão. A h u m an id a d e se expressa em u m a variedade infinita de form as e “cada qual d en o m in a barbárie a q u ilo q u e n ão faz p a rte de se u s c o s tu ­ m es”. A defesa paradoxal do canibalism o, p resen te

no s Ensaios, p a rte d este princípio. E sp elh an d o -se na to r tu r a infligida p elo s p o rtu g u e se s aos indígenas, M o ntaigne diz q ue

há m ais barbárie em comer um homem vivo do que em com ê-lo m orto, em dilacerar com su p lícios e tormentos um corpo ainda sensível, assando-o len­ tamente, e jogando-o aos cães e porcos (o que não apenas lemos, mas vim os recentemente, não entre antigos inimigos, mas entre vizinhos e concidadãos e, o que é pior, a pretexto de um a crença religiosa), que em assá-lo e comê-lo depois de morto.2

Esse en saio de M ontaigne n o s lem b ra as pala­ vras de G onzalo em A tempestade, de Shakespeare, n a q u a l o n o m e d o d isfo rm e e selvagem C aliban é u m an ag ram a a p ro x im ad o d e canibal. N as p ág i­ nas ferozes de Modesta proposta (1729) do irlandês Jo n a th a n Swift, a n te a terrível situação das crianças pobres, reaparece a referência à carne h u m a n a com o alim en to . A coisa m ais horrível q u e p o d e ser im a ­ ginada - e é e x ata m en te isso q u e Sw ift q u e r p assar a seu s le ito re s - n ão é m ais horrível q u e a situação atual em que, em m eio à indiferença geralizada, u m a m u ltid ã o de m u lh e re s m ise rá v e is p e d e m e sm o la “a c o m p a n h a d a s de trê s , q u a tr o o u se is cria n ç a s m a ltra p ilh a s” .3

U m a h o rd a prim itiva, d o m in ad a p o r u m p atriarca o n ip o te n te q ue tem o p o d er absoluto e exclusivo e a posse de to d a s as m u lh eres do grupo, e stá n o cen tro do g ran d e relato h istórico de S igm und Freud sobre a

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