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PARTE II – O “DESCORTINAR” DOS SUJEITOS

Capítulo 3 NARRATIVAS DE PROFESSORAS: RECONSTRUINDO PROCESSOS

3.2 As narrativas de Marli, Márcia, Clarice e Eva

3.2.3 Clarice: “Ser professor é a gente ser espelho para outra pessoa”

Clarice nasceu em Porto Firme (MG) e possui 54 anos. Ela deu aula no ensino fundamental I e II, trabalhou como supervisora em uma escola particular atuando do 1º ano do ensino fundamental até ensino médio. Também já trabalhou dando aulas de português e educação artística. Atualmente é diretora de uma escola pública em que trabalha há 31 anos.

Ao se referir às professoras que foram referência em sua trajetória, lembra-se da professora da época de estudante das séries iniciais. Essa professora acompanhou a turma durante os quatro primeiros anos na escola o que foi muito significante para Clarice.

Foi estudante do Colégio Universitário32 (COLUNI/ Escola de Ensino Médio Federal) e se formou em 1974. Concomitantemente, cursou o magistério que concluiria em 1973, mas, na época foi promulgada uma resolução autorizando o 4º ano, como complementação do curso normal. Assim prosseguiu os estudos no curso complementar e formou-se também em 1974. Esse curso era específico de educação infantil, conforme já explicado em momentos anteriores. Ao terminar tal curso adicional, prestou vestibular para biologia e foi aprovada. Iniciou o curso devido à sua paixão por biologia vegetal, porém, quando o foco se voltou para a biologia animal ela não conseguiu se adaptar. Relata que as aulas de laboratório estimularam sua desistência. Nos três anos

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COLUNI (Colégio de Aplicação) é uma escola federal de ensino médio, de renome no cenário mineiro e brasileiro. A seleção para ingresso dos estudantes é concorrida e possui um alto nível de exigência que atrai hoje em dia estudantes de todo o país. Em 2011, foi a escola pública brasileira com melhor nota no ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio) (Fonte: http://g1.globo.com/minas-gerais/noticia/2011/09/escola-publica-com-melhor-media-no-enem- e-de-universidade-de-mg.html).

que foi estudante de biologia, ministrou aulas para o ensino fundamental II (atual 6º ao 9º ano) como professora de ciências e ainda continuou por mais 4 anos após largar o curso.

Inseriu-se na escola estadual em que trilhou toda a sua trajetória, no ano de 1980, como professora contratada, e trabalhou nas séries iniciais. Em 1988, foi aprovada no concurso do estado para se tornar efetiva e sua nomeação saiu em 1990 e desde então sua carreira tem sido se dedicar a tal escola.

Após desistir de Biologia, Clarice iniciou o curso de Pedagogia em 1989, depois de ter sido aprovada no concurso do estado de Minas Gerais. Enquanto aguardava a homologação do concurso, trabalhou como supervisora do ensino fundamental e médio em uma escola particular.

Clarice graduou-se pela Universidade Federal de Viçosa onde relata que conheceu excelentes professores e que o fato de já ser uma profissional da educação em exercício, auxiliou-a a enxergar o curso com outros olhos, com mais maturidade. O curso foi uma oportunidade de lapidar seus conhecimentos sobre a educação e contribuiu muito para a construção de seus saberes profissionais.

Ao ingressar na universidade como estudante de Pedagogia, ela já tinha três filhos e não foi fácil conciliar trabalho, estudo e casa, mas afirma: “Fui à luta!” Como se considera uma estudante aplicada e dedicada não poderia ficar sem um diploma superior com uma Universidade deste porte em Viçosa.

Com relação à sua socialização na profissão, Clarice, em sua narrativa se refere às várias influências positivas no seu processo de formação. Relata sobre uma professora que era efetiva no estado, enquanto ela própria ainda era contratada, e que a ensinou a lidar melhor com os alunos do 1º ano, da alfabetização. Diz ter recebido influências dessa colega de profissão até para o jeito de escrever nas matrizes. Depois que começou a dar aulas em escolas diferentes ela sempre se lembrava do apoio da colega, com saudades das conversas, dos ensinamentos etc.

Lembra-se das suas primeiras experiências na escola e admite que adaptar-se ao novo emprego é sempre difícil. “Como é difícil começar” – confessa Clarice. Recorda- se que no primeiro ano na escola como professora de alfabetização, ela ficou ansiosa para terminar o material e no meio do ano precisou de ajuda da coordenação para conseguir novas atividades e reelaborar o planejamento, pois os alunos já haviam aprendido a ler. Apesar desse fato, diz não se arrepender, pois ainda hoje encontra com ex-alunos que foram bem sucedidos em várias áreas.

Clarice relata que em 1998 foi eleita vice-diretora da escola estadual e, em 2000 se tornou diretora, cargo este que ocupa até a data da entrevista, sem previsões para sua aposentadoria. Relata que para ocupar estes cargos, o apoio que recebeu de programas de desenvolvimento profissional do estado de Minas para formar gestores foi essencial para seu processo de aprendizagem da profissão.

Para o seu desenvolvimento profissional, Clarice sempre buscou fazer cursos, participar de congressos, palestras, como forma de aprimorar seus conhecimentos. Clarice possui uma pós-graduação Lato Sensu em Supervisão escolar e outra em Psicopedagogia que muito contribuiu para seu crescimento profissional.

Além disso, lembra-se de Programas oferecidos pelo estado de Minas para formação de gestores escolares, como: PROCAD (Programa de Capacitação de Dirigentes das Escolas Públicas de Minas Gerais), PROCAP (Programa de Capacitação de Professores das Escolas Públicas de Minas Gerais) e o ProGestão (Programa que substituiu o PROCAD anos mais tarde) serviu como guia em vários momentos cruciais exercendo a função de gestora.

Com relação à sua experiência na sala de aula, a professora diz que agradece aos seus alunos afirmando que aprendeu muito com eles no cotidiano. Quando exercia a função de professora, foi percebendo que é essencial ter apoio da direção, ser assessorado pela coordenação, ter segurança e respaldo do seu trabalho. Clarice entende que é importante o professor ter alguém para colocar suas angústias e dialogar.