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4 ANÁLISE DE DADOS

4.3 A coordenação em gramáticas brasileiras contemporâneas do

4.3.3 Classificação das conjunções coordenativas e das orações coordenadas em

Em quarenta e sete páginas dedicadas ao estudo das conjunções coordenativas (739- 785), a GN aborda três tipos de construções coordenativas: (i) aditivas com e e nem; (ii) adversativas com mas; e (iii) alternativas com ou. Sobre as demais conjunções constantes nas listas tradicionais, a autora os trata como advérbios juntivos. Vejamos:

[..] Advérbios que operam conjunção de orações: são advérbios juntivos, de valor anafórico, que ocorrem numa oração, ou num sintagma, referindo- se a alguma porção da oração ou do sintagma anterior [...].

# A gramática tradicional coloca esses advérbios como conjunções coordenativas (adversativas e conclusivas, respectivamente), admitindo, assim, orações coordenadas sindéticas conclusivas. Na verdade, são elementos em processo de gramaticalização. Nesse processo, está em estágio mais avançado o elemento logo, que tem o comportamento próximo ao de uma conjunção coordenativa. (p. 241)

Como podemos ver na citação acima, a autora reduz para quatro o número de conjunções coordenativas, o que reduz, consequentemente, a classificação das orações coordenadas.

A GP, por sua vez, reconhece como pertencentes à classe dos conectivos três tipos de palavras: preposições, conjunções e coordenadores. Nesse sentido, esse linguista (p. 311) diferencia coordenadores de conjunções “(na gramática tradicional, respectivamente, ‘conjunções coordenativas’ e ‘conjunções subordinativas’).” Assim, são coordenadores as palavras e, mas, ou, logo, além de outras, afirma o linguista. Vejamos o que diz o autor a respeito dos coordenadores.

[...] Eles têm uma função radicalmente diferente da das conjunções, pois não “criam” uma categoria a partir de outra. Em vez disso, os coordenadores ligam dois constituintes da mesma classe, formando um constituinte maior, igualmente da mesma classe. Por exemplo, podemos juntar dois SNs formando um SN maior [...]. O mesmo pode ser feito com orações [...] e também com outras classes [...] (p. 315).

Embora tenha incluído o elemento logo entre os coordenadores (diferentemente da GN), mais adiante, o autor (p. 316, grifo do autor) conclui que “Os coordenadores são um grupo bastante heterogêneo, ainda à espera de estudos detalhados. A lista dos coordenadores correntes no PB inclui os itens e, ou e mas.” O autor (p. 316, nota de rodapé) explica também que não incluiu nessa obra os demais coordenadores (a exemplo de “porque, que em vamos sair daqui que vai chover, não só...mas também [...]” constantes nas listas tradicionais das conjunções coordenativas pelo fato de essas conjunções apresentarem um comportamento muito variado.

Já a GBA, assim como a GN, reconhece as seguintes conjunções coordenativas: (i) aditiva – e, nem, sendo a conjunção nem “a ‘forma negativa’ da aditiva e, uma vez que é empregada quase sempre depois de uma primeira negação [...]” (p. 889); (ii) adversativa – mas; e (iii) alternativa – ou.

Com relação a várias outras conjunções ditas adversativas, o autor as inclui na classe dos advérbios e justifica do seguinte modo:

[...] advérbios, conjunções e preposições vivem migrando de uma classe para outra, juntando-se uns aos outros para formar locuções, etc. Talvez por isso nossa tradição gramatical costuma elencar no capítulo das conjunções diversas palavras e locuções que não merecem estar ali. (p.899)

Ele acrescenta, ainda, que “Uma demonstração simples de que tais palavras não são conjunções é o fato de poderem vir associadas às verdadeiras conjunções”

[...] (p. 899). Vale registrar aqui que o autor (p. 886, grifo do autor) reconhece também o processo de correlação e explica que “As conjunções correlativas ocorrem sempre em dupla, precisamente porque introduzem sentenças que estão em interdependência, a meio caminho entre a coordenação e a subordinação.” No processo de correlação, o autor inclui, dentre outros, os pares nem...nem, quer...quer, já...já, ora...ora e seja...seja (que a GT inclui entre as conjunções coordenativas alternativas, como já vimos).

Pelo exposto nesta subseção, podemos dizer que, de modo geral, duas das três GBCP em análise (a GN e a GBA) reduzem o quadro das conjunções coordenativas para três ou quatro elementos: e, nem, mas e ou, classificando-as, respectivamente, em aditivas (e, nem), adversativa (mas) e alternativa (ou). Como o elemento nem funciona como uma forma negativa da conjunção e, além disso, às vezes ele funciona também como advérbio, talvez possamos dizer que na perspectiva dessas duas gramáticas temos apenas três conjunções coordenativas prototípicas.

Assim, esses autores transportam para o quadro dos advérbios as demais palavras que a GT define como conjunções coordenativas, o que revela uma descrição atualizada, ou seja, em conformidade com estudos linguísticos contemporâneos.

A GP, que diferencia conjunção de coordenadores, preferiu aguardar pesquisas que esclareçam o papel de alguns itens (como porque, que, não só...mas também) na gramática. Desse modo, no tocante aos elementos em análise, essa obra inova em alguns aspectos, mas se mantém presa à NGB em outros, uma vez que não se posiciona em relação a alguns elementos, entre os quais – que e porque. Como sabemos, de acordo com a nossa nomenclatura oficial, esses dois elementos “ora têm valor coordenativo, ora subordinativo” (BRASIL, 1959, p. 5). Mas vários estudos contemporâneos, como já mostramos, não os inclui entre as conjunções coordenativas prototípicas.

Diante de tudo que foi exposto, será que ainda precisamos aguardar o resultado de novas pesquisas para rompermos com o ensino da clássica lista de conjunções coordenativas? Ensino esse que pouco ou quase nada contribui para o desenvolvimento da competência comunicativa do nosso aluno da educação básica.

No que tange à classificação das orações coordenadas, como sabemos, tradicionalmente, elas são classificadas de acordo com as conjunções que as

iniciam, como já mostramos neste trabalho. As três gramáticas em análise, no entanto, fogem desse padrão classificatório de orações coordenadas. Assim, se olharmos o ÍNDICE GERAL (p. 997-1005) da GN, não encontraremos nenhuma referência à classificação das orações coordenadas, (exceto ao fazer referência à GT).

A GP, por sua vez, inicia sua abordagem com um exemplo de um período composto por coordenação, em que aparecem duas orações ligadas pela conjunção

e. O autor (p. 158, grifo do autor) explica que no exemplo dado, “as duas orações

são chamadas coordenadas, e a palavra e se chama coordenador [...] A estrutura coordenada se caracteriza por ter as duas (ou mais) orações uma ao lado da outra, sem que uma faça parte da outra.”

Nessa gramática, também não encontramos menção à classificação das orações coordenadas em função dos coordenadores.

Na GBA, como vimos acima, há menção à coordenação como sinônimo de parataxe, mas não há menção à classificação das orações coordenadas, o que condiz com o fato de, nessa obra, o autor se posicionar contra o ensino de gramática pautado em classificações desatualizadas e incoerentes (que não contribuem para o letramento escolar do aluno), como, por exemplo, a classificação de orações. Nesse sentido, vejamos o que escreve o autor.

Ler, escrever e refletir sobre a língua. Essas três tarefas – que no fundo são uma só: desenvolver o letramento – constituem toda a missão da escola no que diz respeito à educação em língua materna. Não há tempo a perder com outras práticas que já se comprovaram absolutamente irrelevantes e inúteis para se cumprir essa missão [...] (p. 29, grifos do autor).

Como se vê pela citação acima, os exercícios de classificação - que são frequentes no ensino tradicional do processo de coordenação - não contribuem para o desenvolvimento da competência comunicativa do aluno, pois não o leva a refletir sobre os possíveis efeitos de sentido que podem ser gerados pelo uso das estruturas coordenadas. Sendo assim, esses exercícios classificatórios devem ser evitados no ensino fundamental, pois representam desperdício de tempo na sala de aula.