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4 ANÁLISE DE DADOS

4.1 A coordenação em gramáticas tradicionais do português (GTP)

4.1.3 Classificação das conjunções coordenativas e das orações coordenadas na

4.1.3.2 Orações coordenadas na GC&C e na GBE

A GC&C trata das orações coordenadas no capítulo 18, mais precisamente no tópico denominado COORDENAÇÃO (p. 610-612), em que é mostrado que

As ORAÇÕES COORDENDADAS podem estar:

a) simplesmente justapostas, isto é, colocadas uma ao lada da outra, sem qualquer conectivo que as enlace [...]

b) ligadas por uma CONJUNÇÃO COORDENATIVA [...]

No primeiro caso, dizemos que a ORAÇÃO COORDENADA é ASSINDÉTICA, ou seja, desprovida de conectivo. No segundo, dizemos que ela é SINDÉTICA, e a esta denominação acrescentamos a da espécie da CONJUNÇÃO COORDENATIVA que a inicia. (p. 610, grifo do autor)

Na mesma página, concluindo na seguinte, a GC&C continua a explicação de que as orações coordenadas sindéticas são classificadas em coordenada sindética aditiva, coordenada sindética adversativa, coordenada sindética alternativa, coordenada sindética conclusiva e coordenada sindética explicativa, dependendo essa classificação das conjunções que iniciam tais orações.

Como podemos ver, essa classificação das orações coordenadas se mantém fiel à classificação sugerida pela NGB, o que mostra que o decurso de 29 anos entre a publicação desse documento e a publicação da obra em análise não foi suficiente para que os autores da mesma adotassem um novo posicionamento, isto é, uma classificação mais atualizada.

A GBE trata das orações coordenadas em um subtópico denominado “Os tipos de orações coordenadas e seus conectores” (p. 495, grifo do autor), explicando que “As orações coordenadas estão ligadas por conectores chamados conjunções coordenativas [...], que apenas marcam o tipo de relação semântica que o falante manifesta entre os conteúdos de pensamento designado em cada uma das orações sintaticamente independentes.” Na mesma página, continua explicando que “São três as relações semânticas marcadas pelas conjunções coordenativas ou conectores [...]”: aditiva, adversativa, alternativa, o que coincide com a classificação das conjunções coordenativas realizada por esta gramática, como já visto acima.

Além desses três tipos de orações, encontramos na GBE a descrição do que o autor chama “Enlaces adverbiais em grupos de orações” (p. 496, grifo do autor). Segundo o autor,

Certas unidades de natureza adverbial e que manifestam valores de concessão, conclusão, continuação, explicação, causa, que fazem referência anafórica ao que anteriormente se expressou, podem aparecer como aparentes conectores de orações em grupos oracionais: logo, pois, portanto, por conseguinte, entretanto, contudo, todavia, por isso, por isto, também, daí, então, pelo contrário, etc.: [...]

“O amor, como eu sonho e espero, há de ser a minha vida inteira; portanto parece-me que tenho o direito e até o dever de conhecê-lo antes (...)” [JÁ. 3, 379].

Na mesma página (grifo do autor), o autor continua explicando que, partindo dos valores semânticos descritos acima, a gramática tradicional estabelecera, “entre os conectores coordenativos, as conjunções conclusivas e causais-explicativas.”

Nesses casos “se trata de unidades que manifestam esses valores de dependência interna, semelhantes às orações subordinadas, mas no nível do sentido do texto. São unidades transfrásticas, já que ultrapassam os limites de fronteira das orações.” (p. 496) Isso talvez explique o fato de essa gramática não considerar as explicativas e as conclusivas como orações coordenadas.

A GBE se refere ao que a GC&C denomina oração coordenada assindética como sendo “Justaposição ou assíndeto” (p. 497, grifo do autor). O autor comenta que

[...] as orações podem encadear-se, como ocorre com os termos sintáticos dentro da oração, sem que venham entrelaçadas por unidades especiais; basta-lhes apenas a sequência, em geral proferidas com contorno melódico descendente e com pausa demarcadora, assinalada quase sempre na escrita por vírgulas, ponto e vírgula e ainda por dois-pontos:

“O moço que dizia ‘Smiles’ costumava zombar de mim com barulho. Qualquer dito nem o excitava: mordia os beiços, avermelhava-se como um peru, lacrimejava, enfim não se continha, caía num riso convulso, rolava sobre o balcão, meio sufocado” [GrR. 1, 197].

Este procedimento de enlace chama-se justaposição.

Ainda na mesma página, o gramático explica que “tais justaposições se aproximam, pela independência sintática e estreito relacionamento semântico, da parataxe ou coordenação.” Vale lembrar aqui que a justaposição acontece também na subordinação (GARCIA, 2010). Um outro tipo de oração que o gramático inclui entre as justapostas é a “coordenação distributiva”. Segundo esse autor,

Podem-se incluir nas orações justapostas aquelas que a gramática tradicional arrola sob o título de coordenadas distributivas, caracterizadas por virem enlaçadas pelas unidades que manifestam uma reiteração anafórica do tipo de ora ...ora, já...já, quer...quer, um ...outro, este...aquele, parte...parte, seja...seja, e que assumem valores distributivos alternativos, e subsidiariamente concessivos, temporais, condicionais. (p. 497, grifo do autor)

A explicação desse gramático para se incluir essas orações entre as justapostas é que, constitucionalmente, “essas unidades são integradas por várias classes de palavras: substantivo, pronome, advérbio e verbo, e do ponto de vista funcional não se incluem entre os conectores que congregam as orações coordenadas [...]” (p. 497)

Entretanto, o que esse gramático denomina coordenação distributiva parece ser um caso de correlação, processo que se distingue tanto da coordenação como da subordinação, como vimos no capítulo anterior deste trabalho (Coordenação: abordagens linguísticas). Lá, mostramos que esse processo não foi recepcionado pela NGB, embora durante a elaboração desse documento vários autores já o defendessem como um processo sintático distinto dos demais.

Um outro tipo de oração que a GBE (p. 498) inclui nos grupos oracionais são as orações intercaladas, cuja divisão é a seguinte: citação, advertência, opinião, desejo, escusa, permissão e ressalva. Na escrita, essas orações “aparecem marcadas por vírgula, travessão ou parêntese.” São exemplos, citados pelo autor, de orações intercaladas:

[...] opinião: em que o falante aproveita a ocasião para opinar:

D. Benta (malvada é que era) dizia que a sua doença impedia a brincadeira da garotada.

“Comíamos, é verdade, mas era um comer virgulado de palavrinhas doces” [MA. 1, 198]. (p. 498, grifo do autor)

Em resumo, a GC&C apresenta a classificação tradicional das orações coordenadas, a mesma classificação que se encontra na NGB. Já a GBE rompe com essa classificação, ao mesmo tempo que apresenta outras terminologias no tratamento dado a tais orações. No entanto, entendemos que não faz sentido perdermos muito tempo das nossas aulas tentando ensinar aos nossos alunos as classificações de orações, seja a classificação tradicional apontada pela GC&C, seja a classificação mais atual apontada pela GBE, pois o domínio de uma classificação ou de outra pouco ou quase nada contribui para o desenvolvimento da competência comunicativa do aluno.

Além disso, atividades que tenham por finalidade simplesmente trabalhar essas classificações – que não fazem qualquer sentido para o aluno da educação básica – podem tornar o ensino de gramática na sala de aula simplesmente um caminho cheio de pedras de tropeços, como já dissera Said Ali (1964 [1923]), citado na Introdução deste trabalho. Diante disso, como professores do ensino fundamental, precisamos substituir esse tipo de atividade improdutiva por outras que levem o aluno a refletir sobre os fenômenos linguísticos com os quais estejamos trabalhando em sala de aula.

4.1.4 Posição dos conectivos/conectores coordenativos na oração na GC&C e na