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Existem vários critérios para classificar as drogas. O criador da psicofarmacologia moderna Louis Lewin [181] classificou-as, em 1924, em cinco tipos: eufórica (ópio e seus derivados e COC), fantástica (mescalina, marijuana...), inebriante (álcool, éter, clorofórmio, benzina...), hipnótica (barbitúricos e outros soporíferos) e excitante (café, cafeína, tabaco, cola...).

A característica comum e mais importante das drogas psicoactivas é a sua acção sobre o sistema nervoso central (SNC) [298]. Deste modo, é vulgar encontrar-se uma classificação simples baseada na acção predominante sobre o SNC surgindo, assim, o agrupamento das drogas em três categorias [255, 270, 298]:

- Depressoras - Substâncias com efeito depressor do SNC (substâncias psicolépticas), como por exemplo os opiáceos (ex. HERO, MOR, COD, ópio), medicamentos ansiolíticos (ex. BZD, buspirona), solventes, e outros tranquilizantes e hipnóticos (ex. barbitúricos, BZD). Moral & Fernández [223] incluem também nesta categoria o álcool. Estas drogas enfraquecem a actividade nervosa e diminuem o ritmo das funções corporais.

- Estimulantes - Substâncias com efeito estimulante do SNC (substâncias psicoanalépticas), como por exemplo a coca e os seus derivados, anfetaminas, cafeína, nicotina e as chamadas drogas de desenho. Estas drogas excitam a actividade nervosa e incrementam o ritmo das funções corporais.

- Alucinogénias - Substâncias com efeito perturbador do SNC (substâncias psicodislépticas), como a Cannabis (erva, resina, óleo), os alucinogénios (ácido lisérgico (LSD)) e determinados medicamentos que secundariamente podem ter efeitos perturbadores. As drogas Cannabis e LSD são consideradas as representantes mais características da classe psicodisléptica que se caracteriza pela inclusão de drogas causadoras de deformação da percepção. Alguns autores incluem, nesta categoria, o etanol.

Na literatura são apresentadas outras classificações de base única. Atendem a aspectos químicos, farmacológicos ou bioquímicos, ao uso clínico ou à origem. Relativamente a este último critério são estabelecidas três classes:

- Substâncias naturais - Substâncias de origem natural onde também se incluem os seus produtos psicoactivos desde que não exijam um tratamento complexo. Pertencem a esta classe a maior parte das drogas de uso mais frequente tais como os produtos da planta Cannabis, bebidas alcoólicas e ópio.

- Substâncias semi-sintéticas - Substâncias produzidas com base noutras naturalmente psicoactivas que ocorrem naturalmente (ex. HERO a partir de MOR).

- Substâncias sintéticas - Substâncias que não existem na natureza e que são sintetizadas a partir de outras, como por exemplo o ecstasy, anfetaminas, BZD, barbitúricos.

Em 1975, a OMS sugeriu uma classificação em oito grupos, que continua actual, e à qual Moral & Fernández [223] adicionaram um grupo: as drogas de desenho (Tabela 2.1).

Tabela 2.1 - Classificação das drogas segundo a OMS (1975) completada com a de Moral & Fernández (adaptado de [223]).

Grupo Nome Exemplos

1º Opiáceos Ópio e derivados naturais, semi-sintéticos ou sintéticos.

2º Psicodepressores Barbitúricos, benzodiazepinas e análogos.

3º Álcool etílico

4º Psicoestimulantes major Cocaína e derivados (crack), anfetaminas e derivados.

5º Alucinogénios LSD, mescalina, psilocibina.

6º Cannabis Marijuana, haxixe, óleo

7º Substâncias voláteis Solventes voláteis como o tolueno, acetona, gasolinas, éter, óxido nitroso. 8º Psicoestimulantes minor Tabaco, infusões com cafeína, colas.

9º Drogas de desenho

(Estimulantes de síntese)

Ecstasy (MDMA), “Eva” (MDEA), Pílula do amor (MDA).

MDMA- 3,4-metilenadioximetanfetamina; MDEA- metilenadioxietilanfetamina; MDA- 3,4-metilenadioxianfetamina

Esta classificação difere pouco da da própria OMS, englobada no sistema de Classificação Internacional de Doenças (ICD-10) de 1992, a qual é defendida actualmente. Na ICD-10 aplica-se o critério de substâncias que podem produzir dependência: álcool, opiáceos, canabinóides, sedativos e hipnóticos, COC e outros estimulantes (incluindo a cafeína), alucinógenos, tabaco e solventes voláteis (Tabela 2.1). A OMS deixa margem para que nesta lista se possam incorporar outras substâncias psicotrópicas.

A Associação Americana de Psiquiatria, na quarta edição do manual de diagnóstico e estatística, (DSM-IV), estabelece como substâncias que podem produzir dependência: álcool; opiáceos; sedativos, hipnóticos ou ansiolíticos; COC; Cannabis; AP; alucinogénios; substâncias voláteis; fenciclidina (PCP) e nicotina. Também deixa margem para incorporação, na lista definida, de outras substâncias psicotrópicas.

Adoptando uma perspectiva legal, surge-nos outra classificação onde as drogas se agrupam em quatro categorias [223]:

- Drogas institucionalizadas - a produção e o tráfico são legais;

- Drogas que são medicamentos - substâncias com indicações médicas;

- Drogas de utilização industrial - a sua comercialização é legal mas não são aptas para consumo humano (lacas, solventes, colas);

- Drogas clandestinas - a produção e o tráfico são ilegais.

Como nenhuma base isolada para classificação de drogas é satisfatória, a tendência é para que seja efectuada com base em esquemas híbridos.

O legislador português [70] adopta, relativamente às drogas ilícitas categorias semelhantes às usadas pelas convenções das Nações Unidas (Tabela 2.2). Os critérios são a

utilidade medicinal e a capacidade toxicomanogénica das substâncias no que respeita: ao potencial tóxico (o risco de provocar a morte), à intensidade dos sintomas de abuso, aos riscos de abstinência e ao grau de dependência.

Tabela 2.2 - Classificação simplificada - Convenções das Nações Unidas (adaptado de [350, 351]).

I HERO, alucinogénios, produtos psicoactivos da Cannabis. Elevada capacidade toxicomanogénica; baixa utilidade.

II COD, barbitúricos, anfetaminas

III Aspirina com COD

IV BZD Baixa capacidade toxicomanogénica;

elevada utilidade.

As tabelas das plantas, substâncias e preparações sujeitas a controlo, constantes na Lei nº 45/96 (regime jurídico aplicável ao tráfico e consumo de estupefacientes, de substâncias psicotrópicas e de precursores) [70] estão, de modo geral, organizadas como se apresenta na tabela 2.3.

Tabela 2.3 - Organização das plantas, substâncias e preparações sujeitas a controlo na legislação portuguesa (adaptado de [70]).

Tabelas Substâncias

I- A Ópio, os seus derivados e outros compostos dos quais se possa obter opiáceos naturais I- B Folhas de coca, e os seus derivados com efeito estimulante no SNC

I- C Cannabis e seus derivados com efeitos psicoactivos, assim como as substâncias sintéticas que se lhe assemelhem

II- A Substâncias naturais ou sintéticas que possam provocar alucinações ou profundas distorções sensoriais

II- B Substâncias do tipo anfetamínico que tenham efeitos estimulantes no SNC. Estão incluídos isómeros do ∆9-THC

II- C Substâncias do tipo barbitúrico de absorção rápida e de acção curta, e outras substâncias do tipo hipnótico não barbitúrico

III Preparações que contenham substâncias inseridas na tabela I-A, quando pela sua composição qualitativa e quantitativa apresentem riscos de abuso

IV Medicamentos epilépticos comprovados, e substâncias ansiolíticas que pela composição qualitativa e quantitativa apresentem riscos de abuso

Das inúmeras classificações possíveis, algumas mais adaptadas à investigação, outras mais conformes com o aspecto farmacológico, apresentamos uma classificação, a que se julga ser útil para no nosso trabalho de análise de drogas e metabolitos em cabelo (Tabela 2.4).

Tabela 2.4 - Classificação das drogas (adaptado de [70, 255, 270, 298, 299, 338]).

Tipo de Droga Definição/Principais

efeitos Sinónimos Exemplos Sedativos ansiolíticos,

Sedativos hipnóticos

Causam sono e reduzem a ansiedade Hipnóticos, sedativos, tranquilizantes minor Barbitúricos, BZD, etanol, metaqualona1 Antipsicóticos

Eficazes no alívio dos sintomas de doença esquizofrénica Neurolépticas, antiesquizofrénicas, tranquilizantes major Fenotiazinas e butirofenonas Antidepressivos P si co fá rm ac os Aliviam os sintomas de

doença depressiva Timolépticos

Antidepressivos tricíclicos, tetracíclicos e outros.

Estupefacientes Analgésicos e outros

Euforia; redução da tensão e ansiedade; indiferença à dor física e psíquica; redução da acuidade visual; diminuição da concentração; possível psicose

e depressão respiratória

Analgésicos opiáceos; Opióides e derivados

da morfina

COD, HERO4, metadona, meperidina, levorfanol, nalbufina, pentazocina, MOR, ópio, hidromorfona,

oximorfona, oxicodona, butorfanol, buprenorfina Estimulantes

psicomotores Causam euforia Psicoestimulantes

AP2, COC, cafeína, nicotina, MA2, metilfenidato2 Drogas psicodislépticas, agentes psicotomiméticos Dietilamida do LSD 4, mescalina4 , PCP e análogos, psilocibina Cannabis3

Resina, erva e óleo da

Cannabis4, ∆9-THC (em doses muito elevadas) Anfetamina

alucinogénia DOB4, DOM4, Alucinogénios e outros Causam distúrbio da percepção (particularmente alucinações visuais) e do comportamento

Grupo ecstasy MDA4, MDMA4, MDE4

1 Retirado do mercado farmacêutico, em vários países, como sedativo hipnótico devido aos problemas causados pelo abuso [270]. 2 Não se encontra licenciada em Portugal [123].

3 Geralmente com efeitos depressivos mas, como os estimulantes, aumenta a frequência cardíaca. 4 Sem uso médico aprovado [255, 270].

A negrito indicam-se as drogas de abuso mais comuns [255].

A sublinhado indicam-se os compostos alvo na parte experimental desta dissertação.

CAPÍTULO 3

Grupos de drogas terapêuticas e

não terapêuticas que constam do