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Tendo por base estudos epidemiológicos [20], a COC surge com prevalências de consumo superiores às de HERO, nomeadamente ao nível da população escolar. Em termos de consequências de consumo no domínio da saúde, a COC aparece como a segunda droga mais problemática, adquirindo maior relevância quando associada a outras drogas,

3.4.6 - Farmacocinética

Administração, metabolismo e eliminação

A farmacocinética da COC está dependente da via de administração [304, 356]..

Na tabela 3.20 evidenciam-se as possíveis formas de consumo em função do tipo de substâncias.

Tabela 3.20 - Formas de consumo em função do tipo de substância (adaptado de [40, 113]).

Tipo de substância Concentração de COC Forma de consumo

Folhas de Coca 0,5 – 1% Mascadas, infusão oral Pasta de Coca 40 – 85% (sulfato de COC) Fumada

Tópica: ocular, genital, intranasal

COC.HCl 12 - 75% Parenteral: endovenosa, subcutânea, intramuscular. Free base

COC base

crack 30 – 80% (alcalóide COC)

Inalada Fumada

Em caso de consumo por via oral (mascar as folhas) as taxas plasmáticas são inferiores comparativamente às outras formas de consumo [304]. A concentração plasmática máxima ocorre aos 60 min, durando os efeitos cerca de 30 - 60 min [113].

A absorção através da mucosa nasal (consumo intranasal) é regulada pelas propriedades vasoconstritoras da COC, pelo que a dose condiciona a biodisponibilidade do produto [304]. A concentração plasmática máxima é medida entre 5–10 min, durando os efeitos 30– 60 min [113]. A BE, metabolito principal, surge no sangue cerca de 30 min após o consumo da droga mãe [304]. A sua concentração aumenta lentamente registando-se o pico plasmático entre 3–4 h. A concentração de EME é muito baixa comparativamente à de BE [304].

Os efeitos obtidos através do consumo intravenoso de COC.HCl ou COC base são dependentes da dose. A meia-vida da COC varia entre 88-96 min [304]. O pico plasmático, medido 5 min após a injecção, é proporcional à dose e mais elevado do que o obtido por consumo da mesma dose via intranasal ou oral [304]. Os efeitos têm uma duração de 10–20 min [113]. A BE surge no plasma 15–30 min após a administração da COC, em concentrações proporcionais à dose [304]. O pico plasmático ocorre entre 1–4 h e a detecção do metabolito no plasma é possível durante mais de 24 h. A concentração plasmática do EME é geralmente baixa.

A meia-vida da COC, fumada, varia entre 88-96 min (o mesmo que por via intravenosa) os efeitos duram 10-15 min [113, 304]. A BE surge no plasma 15-30 min após o consumo, apresentando o pico plasmático entre 1,30 a 3 h. A BE possui uma meia-vida de 6,8 h, desaparecendo entre 35-42 h. Em caso de intoxicação crónica a eliminação é mais prolongada. O EME encontra-se nos líquidos biológicos na mesma proporção de um consumo intravenoso.

A absorção cutânea ocorre particularmente com a COC base por ser a mais lipofílica [304]. É possível obterem-se testes urinários positivos, para metabolitos da COC, de indivíduos que apenas a manipulam [304]. A absorção gastrointestinal é reduzida ou nula. A administração por via oral é geralmente acidental (ex. traficantes que ingerem pacotes da droga como forma de transporte da mercadoria) [304].

Apesar das diversas formas de consumo possíveis, nos países ocidentais a COC é utilizada essencialmente por duas vias a parenteral e a pulmonar [304, 356].

O metabolismo da COC é independente da via de administração da droga [304]. A COC é rapidamente metabolizada [304] no organismo (Figura 3.10). Os principais metabolitos (90%) [113] são a BE (30–50% da dose), após hidrólise química (ocorre espontaneamente em solução, particularmente a pH ≥7), e o EME (20–40% da dose), após hidrólise enzimática (ocorre por acção das esterases hepáticas e colinesterases plasmáticas) [304]. Estes metabolitos não possuem propriedades farmacológicas [20, 58, 304], não obstante a BE possuir actividade citotóxica [40]. Por hidrólise, ambos originam a ecgonina (ECG)[61]

Uma via metabólica considerada acessória, é a que conduz à formação de NORCOC, o que ocorre por desmetilação [113, 304, 356]. No entanto, a NORCOC é um metabolito activo [158] percursor de moléculas potencialmente mais hepatotóxicas do que a COC [20].

O consumo simultâneo de COC e etanol origina a formação de COCE por transesterificação da COC a nível hepático [20, 61], como já se referiu. Este metabolito possui elevada actividade farmacológica sendo considerado, em algumas circunstâncias, equipotente à COC [73, 158, 256] ou até mais letal [41]. O COCE é metabolizado, por hidrólise enzimática em éster etílico da ecgonina (EEE), por hidrólise não enzimática em BE e, por desmetilação oxidativa em norcocaetileno (NORCE).

No caso particular de consumo de crack forma-se éster metílico de anidroecgonina (AEME) [61]. Este composto detectado nos fluidos biológicos é considerado um marcador do consumo de COC fumada [158], uma vez que se forma devido à degradação térmica da COC.

Apesar de se formarem outros metabolitos, decorrentes do consumo de COC, são os mesmos considerados menores [304, 356].

Figura 3.10 - Principais vias metabólicas da COC no Homem (adaptado de [20, 25, 61]).

A eliminação urinária (Tabela 3.21) reflecte as concentrações sanguíneas. Dado que a COC apresenta uma meia-vida relativamente baixa, são comuns os casos em que a intoxicação é evidenciada apenas pela presença dos produtos de biotransformação [40]. Por ser excretada mais lentamente do que o EME, a BE apresenta, regra geral, concentrações sanguíneas que excedem esse produto e a droga mãe [14, 40, 61, 109, 301]. Além disso, há referências de que

P450 N-desmetilação

Hidrólise não enzimática e carboxilesterase EtOH Carboxilesterase Transesterificação Hidrólise por colinesterase do plasma e do fígado NORCOC NORCE COCE

atravessar a barreira hemato-encefálica sofre biotransformação a BE ficando armazenada, dada a sua polaridade [40]. Em estudos realizados com animais verifica-se que excreção urinária de BE é afectada pelo volume e pH da urina [14].

O EME é o segundo metabolito mais abundante na urina enquanto que a NORCOC é excretada em quantidades vestigiais [61, 158].

Tabela 3.21 - Eliminação urinária da COC (adaptado de [40, 158]).

Eliminação urinária Percentagem da excreção urinária da COC COC 1-9% (dependendo do pH da urina)

BE 29-54% EME 32-49% C O C NORCOC 2-6%

Apesar da eliminação ser principalmente via urinária, no que concerne à excreção noutras matrizes verifica-se que a COC apresenta uma concentração superior à BE e ao EME, não só no cabelo mas também na saliva e no suor [301]. A BE, regra geral, ocupa o segundo lugar em termos de abundância no cabelo. O EME e a NORCOC estão presentes em concentrações reduzidas [117, 158].

Na tabela 3.22 referem-se alguns analitos passíveis de pesquisa no sangue, urina e cabelo após o consumo de COC e de álcool.

Tabela 3.22 - Exemplos de analitos passíveis de pesquisa no sangue, urina e cabelo, após consumo simultâneo de COC e EtOH. Janelas de detecção para alguns compostos (adaptado de [158, 194, 215, 216, 263, 301, 304, 359]).

Matriz Droga e metabolitos detectáveis Janela de detecção Plasma, sangue total COC

BE EME COCE NORCOC

Rapidamente transformada em BE, ao fim de 8 h não é detectável 12 h COC 24 h BE 48 h EME 72 h COCE NORCOC Urina AEMEa) Cabelo COC BE EME COCE NORCOC AEME a) EEE NORCE Benzoilnorecgonina

Meses a anos dependendo do comprimento do cabelo