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5. ESTUDO DO DESEMPENHO INOVADOR E DAS ESTRATÉGIAS

5.4 Operacionalização da Pesquisa

5.4.2 Classificação das empresas quanto ao status EBT/N-EBT

Para identificar empresas de base tecnológica, segundo a definição de FERNANDES et al. (2000), são necessários indicadores de inovação em produto e de intensidade dos esforços tecnológicos realizados pelas empresas.

Em relação ao esforço tecnológico, foi utilizado o indicador “pessoal com graduação (engenheiros e cientistas) e técnicos de nível médio em P&D em relação ao total de funcionários da empresa”. Tal indicador deveria ser superior a 2,4%, para

classificar uma empresa como sendo de base tecnológica. Seguiu-se aqui o procedimento utilizado por FERNANDES et al (2004) para descriminar as EBTs no universo empresarial paulista.4

Este índice de intensidade tecnológica (IIT = 2,4%) foi definido como a relação entre a quantidade de pessoal de nível superior ocupado em atividades de P&D no ramo “instrumentos e automação” e o total de pessoas ocupadas nas empresas que os empregam, conforme dados coletadas pela PAEP (1994-1996) (QUADROS et al., 1999). Esse segmento de atividade - instrumentos e automação – é aquele, dentre os considerados na classificação setorial de PAVITT (1984) como baseados em ciência5 e analisados pela PAEP, que apresenta menor índice de intensidade tecnológica (IIT), e que por isso foi escolhido como parâmetro de corte na classificação de EBTs. A opção por apenas este indicador de esforço tecnológico é justificada a seguir.

Primeiro, ao analisar o pessoal alocado às atividades internas de P&D, não se faz referência ao fato destas atividades ocorrerem esporadicamente ou de forma contínua, apenas se pressupõe a existência de uma ou outra forma de P&D. Segundo, só se justifica considerar outros procedimentos para adquirir tecnologias, tais como articulações diretas com universidades, centros de pesquisa, e outras empresas e a aquisição de tecnologia de terceiros (compra ou licenciamento), como critério classificatório de EBTs, quando forem acompanhados de esforços ativos de absorção, adaptação e melhorias. Estas atividades, por sua vez, vão se constituir em atividades de P&D esporádicas, ou vão ser realizadas nos departamentos de P&D formalmente estruturados.

Portanto, serão incluídas na categoria “EBT” aquelas empresas envolvidas tanto com o desenvolvimento quanto com a difusão de novas tecnologias. O processo de difusão considerado aqui envolve muito mais do que escolher a tecnologia a ser adotada e adquiri-la juntamente com o know-how necessário para operacionalizá-la. Inclui também mudanças técnicas contínuas e incrementais pelas quais as inovações originais são moldadas para se ajustarem às condições de uso. Ou seja, a inovação continua

4 Com efeito, Fernandes et al, (2004) utilizam como indicador do esforço inovador das empresas apenas o número de pessoal graduado no P&D em relação ao número total de funcionários na empresa, que deve ser superior a 2,4%, para classificar uma empresa como sendo de base tecnológica.

5 De acordo com a classificação de Pavitt (1994), nos setores baseados em ciência concentrar-se-iam as empresas de base tecnológica, uma vez que, estes setores têm com característica o fato das suas principais fontes de acumulação tecnológica serem os departamentos estruturados de P&D dentro das empresas, a pesquisa básica, engenharia de produção e disign (Fernandes & Côrtes, 1998).

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durante o processo de difusão (inovação incremental). É justamente essa indissociação de inovação e difusão que se encaixa muito bem em contextos do tipo encontrados em países em desenvolvimento. Isto porque as inovações realizadas nestes países são, em geral, justamente provenientes da incorporação de desenvolvimentos incrementais através da imitação, adaptação ou engenharia reversa.

Assim, acredita-se que se este único critério é capaz de abranger um conjunto de atributos das EBTs, num país em desenvolvimento como o Brasil, e de distinguí-las das demais empresas, em relação a esforço tecnológico.

Em relação à inovação em produto, foram utilizados os indicadores “número aproximado de inovações de produtos de natureza significativa” e o “número aproximado de inovações de produtos de natureza incremental que a empresa tenha introduzido no mercado nos últimos três anos”.

Seguindo, portanto, o mesmo procedimento realizado para a obtenção do parâmetro de corte do indicador de esforço tecnológico, um índice apropriado seria o número de produtos novos ou aperfeiçoados tecnologicamente que as empresas industriais paulistas pertencentes ao ramo de “instrumentos e automação” lançaram em média no período de 1994-96, de acordo com os dados da PAEP. Contudo, aquela pesquisa não fornece tal informação. É apresentado apenas o número de empresas, por ramo de atividade, que desenvolveram ou introduziram alguma inovação em produto ou processo no referido período.

Entretanto, QUADROS et al. (1999) ao analisarem o desempenho inovador das empresas industriais paulistas, utilizando os resultados da PAEP quanto ao número de empresas inovadoras, concluem que, em nível agregado, essas empresas apresentaram uma performance significativa. Enquanto que 24,8% das empresas paulistas introduziram pelo menos um produto ou processo tecnologicamente novo ou aperfeiçoado no período de 1994-1996, por exemplo, 26% das empresas australianas inovaram entre 1994-1997, e 38,8% das empresas industriais francesas (pesquisa SESSI francesa), com mais de 20 empregados, introduziram pelo menos uma inovação de produto ou processo entre 1991 e 1992.

Esta performance inovadora das empresas industriais do Estado de São Paulo considerada significativa pelos autores, levando em conta na análise inclusive aquelas empresas que introduziram pelo menos uma inovação de produto ou processo no

período analisado, dá indícios de que, nas condições específicas de um país em desenvolvimento como o Brasil, as empresas que lançaram no mercado ao menos um produto novo ou aperfeiçoado tecnologicamente a cada ano, já apresentariam um resultado de inovação que permitiria classificá-las como empresas inovadoras, e portanto, como EBTs em potencial – para serem EBTs devem também passar pelo outro parâmetro de corte: o indicador de esforço tecnológico.

Assim, para serem consideradas EBTs, as empresas devem também ter lançado no mercado, nos últimos três anos, pelo menos três produtos novos ou aperfeiçoados tecnologicamente. Além disso, essas empresas devem ter projetos em andamento de novos produtos ou de aperfeiçoamento em produtos existentes, indicando, assim, uma continuidade do seu processo de inovação.

Em síntese, os critérios utilizados para classificar uma empresa como sendo de base tecnológica são: (1) o número de engenheiros, cientistas e técnicos de nível médio alocados em em relação ao número total de funcionários da empresa deve ser igual ou superior a 2,4%; (2) o número de produtos novos ou aperfeiçoados tecnologicamente que a empresa tem introduzido no mercado, nos últimos três anos, deve ser igual ou superior a três; e (3) a empresa deve ter pelo menos um projeto em andamento de novos produtos ou de aperfeiçoamento tecnológico em produtos existentes, indicando, assim, uma continuidade do seu processo de inovação.

5.4.3 Identificação das estratégias tecnológicas adotadas pelas empresas