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5. ESTUDO DO DESEMPENHO INOVADOR E DAS ESTRATÉGIAS

5.1 O Setor de equipamentos médico-hospitalares

De acordo com a Classificação Nacional das Atividades Econômicas (CNAE, 1997), a indústria de equipamentos médico-hospitalares é formada pelas empresas produtoras de aparelhos e instrumentos para usos médico-hospitalares, odontológicos e de laboratórios e aparelhos ortopédicos (CNAE 33.1). Os fornecedores de componentes exclusivos para esses equipamentos também entram nessa classificação.

Já a classificação utilizada pela ABIMO - Associação Brasileira da Indústria de Artigos e Equipamentos Médicos, Odontológicos, Hospitalares e de Laboratórios – inclui no setor de equipamentos médico-hospitalares, além das empresas descritas acima, as empresas produtoras de materiais de consumo, tais como as que produzem agulhas e seringas, algodão e gazes, sondas e cateteres, luvas cirúrgicas, reagentes, etc (www.abimo.org.br).

Com efeito, existem várias formas de se determinar as categorias em que se dividem e subdividem o setor de equipamentos médico-hospitalares. Segundo FURTADO & SOUZA (2000), a forma mais utilizada de classificação é justamente a utilizada pela ABIMO, que segue a classe terapêutica: (1) médico-hospitalar; (2) radiologia; odontologia; (4) laboratório; (5) implantes; e (6) material de consumo.

No presente trabalho, entretanto, é adotada a classificação nacional das atividades econômicas. Isto porque, apesar da classe terapêutica ser a mais utilizada, a CNAE é a classificação oficialmente adotada pelo Sistema Estatístico Nacional e pelos órgãos federais gestores de registros administrativos. Além disso, os segmentos das empresas produtoras de instrumentos e equipamentos para usos médico-hospitalares, odontológicos e de laboratórios e aparelhos ortopédicos são mais intensos e dinâmicos tecnologicamente do que os de materiais de consumo (FURTADO & SOUZA, 2000) e a presente pesquisa propõe análises para segmentos com tais características.

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Como já colocado ao final do capítulo anterior, são poucos os trabalhos acadêmicos disponíveis sobre a indústria de equipamentos médico-hospitalares (FURTADO (1999), ALBUQUERQUE & CASSIOLATO (2000), FURTADO & SOUZA (2000), NEPP (2004), GADELHA (2002), OLIVEIRA (2002), TELLES (2002), entre outros). Além disso, esses poucos trabalhos não utilizam todos a mesma classificação do setor.

Portanto, mesmo para uma breve descrição do setor de equipamentos médico- hospitalares brasileiro, que é o que se pretende fazer nos parágrafos seguintes, faz-se necessário utilizar fontes que empregam diferentes classificações. Assim, acredita-se que essas informações tragam parâmetros suficientes para uma breve caracterização do setor no Brasil.

Mais especificamente, a caracterização do setor de equipamentos médico- hospitalares brasileiro que se pretende realizar aqui está relacionada ao seu desenvolvimento tecnológico, uma vez que as análises realizadas na presente pesquisa possuem esse viés. Neste sentido, utilizando fontes que empregam diferentes classificações do setor de equipamentos médico-hospitalares brasileiro, são apresentadas a seguir características relacionadas ao seu desenvolvimento tecnológico.

FURTADO1 (1999) apresenta uma caracterização da dimensão internacional

da indústria de equipamentos médico-hospitalares. Segundo o autor, essa indústria representa um mercado global de 105 bilhões de dólares, com um ritmo de crescimento anual de 2,5% nos últimos anos. No Brasil, as empresas do referido setor apresentaram um faturamento de 3,5 bilhões de reais em 2000 (TELLES, 2002)2.

Em relação ao desenvolvimento tecnológico, a indústria de equipamentos médico-hospitalares apresenta um ritmo bastante acelerado, baseado em múltiplas fontes de insumos. Os avanços científicos e tecnológicos e as inovações de setores tais como mecânica de precisão, eletrônica digital, informática e química dão suporte ao dinamismo tecnológico do setor de equipamentos médico-hospitalares, que, por sua vez,

1 Furtado (1999) adota em seu trabalho a definição de indústria de equipamentos médico-hospitalares dada pelo “The Institutional of Electrical Engineers” do Reino Unido. Este considera como constituintes dessa indústria as empresas produtoras de componentes e equipamentos completos para usos médico- hospitalares, odontológicos, de laboratórios. O grupo de empresas produtoras de material de consumo não entra nesta classificação.

2 Telles (2002) segue a classe terapêutica adotada pela ABIMO: (1) médico-hospitalar; (2) radiologia; odontologia; (4) laboratório; (5) implantes; e (6) material de consumo.

fortalece a oferta da indústria de equipamentos médico-hospitalares (FURTADO & SOUZA, 2000).

Além do dinamismo tecnológico, outro fator que amplia a oferta na indústria de equipamentos médico-hospitalares é a baixa elasticidade de substituição dos produtos. Frente a isso, as empresas procuram desenvolver soluções diferenciadas e hiper-especializadas (FURTADO, 1999).

Este oligopólio baseado na diferenciação e especialização de produtos, segundo GADELHA (2002:60) “... comporta empresas de portes distintos, havendo um conjunto de grandes empresas inovadoras e uma miríade de empresas de pequeno e médio porte com potencial de entrada em nichos particulares de mercado, muitos dos quais com elevado dinamismo tecnológico”.

No Brasil, de acordo com dados publicados pela ABIMO, 68% das empresas do setor de equipamentos médico-hospitalares são de pequeno porte, 28% são de médio porte; e apenas 3,3% das empresas são de grande porte (GUIA DE FORNECEDORES HOSPITALARES, 2001). Segundo NEPP (2004), muito provavelmente essas empresas de pequeno porte são também especializadas em apenas um produto, ou em um grupo estreito de produtos, os quais são fornecidos para outras de grande porte. E é isto que permitiria a sobrevivência dessas pequenas empresas no setor.

Outros dados também obtidos pela ABIMO referem-se à origem de capital e à natureza dos compradores. Os dados revelam que as empresas localizadas no território brasileiro são predominantemente de capital nacional, correspondendo a 79,64% das empresas. Apenas 20,36% são de capital estrangeiro.

Em relação à produção dos equipamentos, a maioria visa atender a demanda do setor privado (48%) e do governo (43,3%). Uma parcela muito pequena da produção é destinada às exportações.

Segundo TELLES (2002), 80% das empresas brasileiras do setor de equipamentos médico-hospitalares estão instaladas no estado de São Paulo.

FURTADO & SOUZA (2000), ao analisarem o censo das empresas paulistas - PAEP (1996), de responsabilidade da Fundação Seade, expõem que o setor de instrumentação (CNAE 33), do qual faz parte o setor de equipamentos e instrumentos médicos (CNAE 33.1), é o segundo setor industrial com maior índice de inovação. Cerca de 43% das empresas do setor de instrumentação no Estado de São Paulo

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afirmaram ter introduzido algum tipo de inovação tecnológica de produto ou processo entre 1994 e 1996.

Como meios de aquisição e geração de conhecimentos tecnológicos para o caso das empresas brasileiras, o mais importante, segundo FURTADO & SOUZA (2000), é a engenharia reversa realizada na própria empresa, e a segunda fonte mais importante são as feiras e eventos pelos quais as empresas tomam conhecimento das tecnologias disponíveis no mercado. Ainda segundo os autores, isto dá indícios de que o custo de reprodução da tecnologia é relativamente baixo na indústria brasileira de equipamentos médico-hospitalares e praticamente independe da colaboração dos concorrentes nacionais e estrangeiros para o desenvolvimento de novas tecnologias a serem introduzidas nos seus produtos.

Em relação ao pessoal ocupado no setor de equipamentos médico-hospitalares brasileiro, de acordo com a ABIMO, em 2001, o setor empregou cerca de 33.300 funcionários diretos (www.abimo.org.br). Já de acordo com a RAIS, o setor (CNAE 3310-3) empregou 14.185 funcionários naquele ano – aqui, portanto, não considerando o setor de materiais de consumo (www.mte.gov.br).

Destes trabalhadores, 74% estão localizados na região Sudeste do país, sendo que o Estado de São Paulo concentra 53,1% dos trabalhadores empregados no setor de equipamentos médico-hospitalares na região sudeste (7.536 empregados no Estado de São Paulo em 2001) (www.mte.gov.br).

NEPP (2004), ao reportar esses mesmos dados, acrescenta que 30,6% dos postos de trabalho no setor de equipamentos médico-hospitalares brasileiro são

ocupados por profissionais com apenas 2o grau completo; 3,7% por profissionais com

superior incompleto; e 6,7% por profissionais com superior completo. Salienta ainda que os profissionais especializados como químicos, físicos e engenheiros, e os profissionais técnicos representam respectivamente apenas 0,9% e 7% do total de empregados no setor. Como expõe NEEP (2004:39), “... este é um dado preocupante para um setor que se propõe a ser de base tecnológica e que necessita de mão-de-obra qualificada para promover o processo de inovação interno”.

Por fim, cabe ressaltar que, apesar desta conjuntura, as indústrias nacionais estão ampliando cada vez mais o leque de produtos oferecidos ao setor de equipamentos médico-hospitalares, substituindo artigos que antes eram importados. Atualmente, o

parque industrial brasileiro é capaz de suprir entre 80% e 85 % das necessidades de um hospital de grande porte (CATÁLOGO OFICIAL HOSPITALAR, 2000).

Nesse cenário, as importações somaram US$ 938.081.173 em 2002 (contra US$ 171.838.660 das exportações naquele mesmo ano) (NEEP, 2004). Segundo NEPP (2004), uma grande variedade de produtos contribuiu para o alto valor das importações, tais como aparelhos de ultra-sonografia, de ressonância magnética nuclear e de tomografia computadorizada, ainda não fabricados no país. Também aparelhos de raios X, reagentes e próteses eletro-eletrônicas têm influenciado a expansão das importações de produtos médico-hospitalares nos últimos anos. Por outro lado, os principais produtos do setor de equipamentos médico-hospitalares exportados pelo país são instrumentos e aparelhos para odontologia, cadeiras de dentistas, reagentes e instrumentos e aparelhos ortopédicos e de fratura, inclusive partes e acessórios.

Após esta breve caracterização do setor de equipamentos médico-hospitalares brasileiro, nas seções seguintes são apresentadas a estrutura institucional e a indústria nos municípios de São Carlos e Ribeirão Preto, nos quais a presente pesquisa foi realizada.