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2. ESTRATÉGIA TECNOLÓGICA: ESTRUTURA CONCEITUAL

2.3 Framework para Analisar Estratégia Tecnológica na Prática

A partir da definição apresentada no final da seção anterior pode-se estabelecer um framework para análise de estratégia tecnológica. A Figura 2.2 aduz a proposta do

framework que abarca as principais dimensões de uma estratégia tecnológica consideradas neste trabalho.

Como podem ser observadas no framework, as setas que se encontram entre os diferentes mecanismos de aquisição de capacidades e as próprias capacidades se direcionam nos dois sentidos, ou seja, dos mecanismos para as capacidades e destas para os diferentes mecanismos.

Estas ligações além de refletirem o exposto por ALVES FILHO (1991) sobre o conceito de trajetória (ou path dependence), refletem também o que foi colocado por BELL (1984) quanto à dependência da realização dos métodos em relação às capacidades existentes na empresa. As seguintes afirmações, já expostas aqui e agora recuperadas, aclaram essa perspectiva (BELL, 1984):

. ... A taxa de aprendizagem pela busca exige da empresa um acúmulo de conhecimento a priori que torne possível o processo de busca da tecnologia (identificação e negociação) e a sua efetiva transferência. Ou seja, a transferência não se completa se a empresa receptora não dominar conhecimentos suficientes para identificar, absorver, adaptar, aperfeiçoar, e se possível, inovar a partir da tecnologia adquirida.

... A extensão de participação dos indivíduos quanto ao valor de aprendizagem derivado do “fazer” depende da existência anterior de capacidades tecnológicas para empreender e capturar algum conhecimento novo no processo.

FIGURA 2.2 - Framework para análise de estratégias tecnológicas.

... A taxa de aprendizagem através do mecanismo “aprender pela análise de desempenho” depende da disponibilidade a priori de habilidades e conhecimentos dos

(1) Aprender por busca Aprender ao gerar recursos humanos Aprender ao analisar Aprender ao pesquisar Capacidade de operação e adaptação Capacidade de exploração Capacidade de aquisição Capacidade de inovação Estratégia Tecnológica Estratégia Competitiva da empresa Mecanismos de Aprendizagem Capacidades Technology

push Market pull

Seguidor ou líder Produtos e processos novos e melhorados tecnologicamente

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indivíduos (e da organização) necessários para analisar e interpretar as informações geradas a partir do processo de monitoração corretamente.

... Essa capacidade tecnológica “pronta” (aprender ao contratar) não produz mudanças eficientes instantaneamente na firma contratante... É necessário que os novos contratados adquiram experiências na empresa e/ou passem por treinamentos específicos.

Portanto, há uma estreita relação entre os mecanismos e as capacidades: cada um é importante para a geração do outro.

Cabe observar, também, que as próprias capacidades vêm interligadas (linha 2). Esta interligação das capacidades reflete a contribuição que uma dada capacidade pode dar à geração, ampliação ou ainda manutenção de outra capacidade (mesmo porque uma capacidade pode ser necessária para o empreendimento de um determinado mecanismo de aprendizagem que vá gerar outra capacidade). Por exemplo, a capacidade de operação e adaptação de uma empresa certamente interfere na sua capacidade de desenvolver novos produtos (capacidade de inovação). Ou ainda, a capacidade de aquisição de uma empresa pode interferir no processo aprender pela busca a ser realizado por ela para ampliar a sua capacidade de operação e adaptação.

Por fim, considerando a estratégia tecnológica como um sistema constituído dos elementos tratados acima e tendo a postura tecnológica e as inovações em produto e processo como sua saída, falta apontar o que seriam as suas principais entradas.

Estes seriam conhecimentos, know how, know why, informações sobre a estratégia competitiva da empresa, o progresso científico e tecnológico relacionado à empresa e sobre as necessidades implícitas ou explícitas do mercado no qual ela atua.

É essa a perspectiva sobre estratégia tecnológica que se depreendeu da análise dos trabalhos dos autores que aqui foram mencionados. Desta forma, sugere-se que a Figura 2.2 (Framework de análise de estratégias tecnológicas) seja um referencial para se pensar e planejar estratégias para a empresa e para se analisar ETs já implementadas.

Pode-se utilizar o framework apenas como referência para os elementos constituintes de uma estratégia tecnológica que devem ser analisados na prática. Quais são os componentes a serem levados em conta ao analisar ET nas empresas? Neste caso os diversos componentes de uma ET são preferencialmente analisados de forma simultânea – analisar todos os elementos de ET concomitantemente, não dando ênfase

às complexas relações existentes entre eles. É esta, inclusive, a utilização do framework que será empregada neste trabalho.

Com efeito, reconhece-se, a dificuldade de avaliar conjuntamente todos os elementos de uma ET ali apresentados e suas relações ao mesmo tempo. O framework mostra essa complexidade ao indicar as dependências mútuas entre os diversos elementos. Como por exemplo, a dependência das capacidades em relação aos mecanismos de aquisição e manutenção e ao mesmo tempo a dependência destes em relação às capacidades.

Frente a isso, outra idéia de usar o framework como um referencial é no sentido de se avaliar na prática apenas parte do framework. Isto é, avaliar conjuntamente alguns desses elementos na forma seqüencial (mantendo as relações existentes entre eles) como sugerido no framework. Pode-se avaliar, por exemplo, os componentes aprender ao analisar e as capacidades de operação e adaptação e aquisição, e suas relações na forma seqüencial apresentada no framework.

Finalizando o presente capítulo, cabe ressaltar que os elementos de ET a serem analisados na prática, conforme sugerido aqui, dizem respeito (são capazes de captar) tanto à estratégia deliberada quanto à emergente.

A estratégia deliberada é aquela que foi previamente planejada pela organização, delineada para um determinado objetivo pré-estabelecido (WHITTINGTON, 1993). Enquanto que a estratégia emergente pode ser vista como sendo ações, tomadas uma por uma, que convergem, ao longo do tempo, em um mesmo modelo no qual a organização trabalha e resolve seus problemas (MINTZBERG, 1994). Como expõe WHITTINGTON (1993), independentemente dos membros de uma organização estarem conscientes ou não, existem padrões de atuação da organização que a levam em uma direção estratégica ao invés de outra que são as estratégias emergentes. Mas, as organizações não agem randomicamente sem propósitos, isto é, o processo de ir a uma direção estratégica em vês de outra, está embasado nos padrões de atuação da empresa e, portanto, diretamente ligados aos hábitos, história e cultura da organização. Esta observação se torna muito importante, haja vista que a maioria das empresas a serem analisadas neste trabalho é micro ou empresas de pequeno porte, nas quais provavelmente predomina a ocorrência de estratégias emergentes em relação às deliberadas.

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Frente a esta análise sobre estratégias tecnológicas emergentes, o presente trabalho busca também captar aquelas estratégias já realizadas pela empresa, ou seja, a seqüência de ações efetivamente já realizadas pelas empresas ao longo de um período de tempo, e não captar seus planos e intenções de futuras decisões em relação à acumulação, desenvolvimento e uso de recursos e capacitações tecnológicas disponíveis para a empresa.

Por fim, os indicadores que serão utilizados para captar o conteúdo de cada um dos elementos que constituem as quatro dimensões de ET apresentadas no framework da Figura 2.2 serão expostos no Capítulo 5, no qual se descrevem os procedimentos da pesquisa.