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3.4 Classificação da Informação de desempenho

3.4.2 Classificação facetada

As classificações facetadas, de acordo com (Denton 2003), e como já referido anteriormente, consistem num conjunto de categorias mutuamente exclusivas, cada uma

construída através do isolamento de uma perspectiva dos itens (faceta), que podem ser combinados para descrever completamente todos os objectos do domínio, e que os utilizadores podem usar para a recuperação da informação.

Assim, num esquema de classificação facetada, as facetas podem ser consideradas dimensões num espaço de classificação cartesiano, sendo o valor de uma faceta a posição do artefacto naquela dimensão (Tristão, Fachin et al. 2004). A forma como os termos são descritos dentro de cada faceta é variável, podendo ser usadas classificações taxonómicas, thesaurus ou outras (Garshol 2004).

Na classificação facetada a ideia é categorizar os recursos através de um termo de cada faceta de forma a descrever esse recurso ao longo dos diferentes eixos, ou seja, de várias perspectivas diferentes (Garshol 2004).

(Kvasnic 1999) citado em (Denton 2003) refere as seguintes vantagens da classificação facetada: (1) Não requer um conhecimento aprofundado das entidades ou das suas relações; (2) Podem acomodar facilmente novas entidades (são hospitaleiras); (3) São flexíveis; (4) Permitem variadas perspectivas e abordagens dos elementos a classificar.

O autor expressa também os problemas mais relevantes da classificação facetada: (1) a dificuldade na escolha das facetas correctas; (2) a falta de expressões de relacionamento entre as facetas, presumindo-se que os itens são bem conhecidos dos utilizadores, podendo estes inferir os relacionamentos a partir do seu próprio conhecimento; (3) a necessidade de um bom conhecimento dos elementos a classificar e dos utilizadores da classificação.

A teoria da análise facetada deve o seu desenvolvimento a duas fontes: Shiyali

Ramamrita Ranganathan, década de trinta, e mais tarde, ao Classification Reasearch Group (CRG).

O desenvolvimento da teoria facetada por parte de Ranganathan deveu-se à sua insatisfação com a inabilidade dos sistemas tradicionais de classificação bibliográfica enumerativa expressarem objectos compostos, desenvolvendo a classificação de Colon (Ranganathan 1962, 1967) citado em (Spiteri 1998). Esta classificação é um exemplo de classificação facetada aplicada ao mundo físico, especialmente com o propósito de organizar o material bibliotecário. No sistema de classificação de Colon é atribuído ao elemento a classificar um conjunto de valores de facetas independentes. Este processo difere dos esquemas de classificações tradicionais, nos quais cada elemento tem uma atribuição única no sistema de classificação. A ideia de Ranganathan era que as

hierarquias de classes podiam ser construídas e combinadas para diferentes propósitos (facetas).

O CRG, por seu turno, reconhecendo o mesmo problema nos sistemas tradicionais de classificação,desenvolveu a teoria modificando alguns aspectos do modelo de Ranganathan que consideravam muito restritivos (Spiteri 1998).

Mais tarde, Louise Spiteri (Spiteri 1998), depois de analisar o modelo bastante complexo de classificação universal de Ranganathan, estabeleceu um outro, mais simplificado, que incorpora os princípios da análise facetada propostos por Ranganathan e pelo grupo CRG. Tal como a proposta de Ranganathan, a de Spiteri assenta em três planos: (1) o plano da ideia – que envolve o processo de análise do domínio nas suas partes constituintes, (2) o plano verbal – que envolve o processo de escolha da terminologia adequada para expressar as partes constituintes (3) e o plano notacional – que corresponde ao nível da fixação dos conceitos em formas abstractas.

No plano da ideia, (Spiteri 1998) considera os seguintes princípios para a escolha das facetas: 1) O princípio da diferenciação, baseado no cânone de diferenciação de Ranganathan, refere que na divisão de uma entidade nas suas partes constituintes, é importante usar características da divisão (facetas) que distingam claramente entre estas partes. Por exemplo, divisão de humanos por sexo; 2) O princípio da relevância, baseado no cânone da relevância de Ranganathan e no princípio da relevância do grupo CRG, refere que na escolha de facetas para a divisão de entidades, é importante ter a certeza que as facetas reflectem o propósito, objecto e âmbito do sistema de classificação; 3) O

princípio do apuramento, baseado no cânone do apuramento de Ranganathan e no

princípio do apuramento do grupo CRG, afirma que é importante escolher facetas definitivas e que possam ser verificadas; 4) O princípio da permanência, baseado no cânone da permanência de Ranganathan e no princípio da permanência do grupo CRG, refere que as facetas devem representar qualidades permanentes dos itens a dividir.

Ranganathan argumenta, para explicar este princípio, que, por exemplo, a faceta “cor”

não deverá ser usada para a divisão dos camaleões, devido ao facto de estes animais poderem mudar esta característica em função do ambiente. Ou seja, esta não é uma qualidade permanente do item a classificar e por isso não deverá ser usada (Spiteri 1998); 5) O princípio da homogeneidade menciona que as facetas devem ser homogéneas, isto é, o conteúdo de duas quaisquer facetas não se deve sobrepor; 6) O princípio da exclusão

mútua refere que as facetas devem ser mutuamente exclusivas. Uma faceta deve

representar apenas uma característica da divisão. Por exemplo, na divisão da classe “cães” não deverá ser possível aos termos da faceta “tamanho” aparecerem também na faceta

“cor”. Por outro lado, se as facetas “idade” e “ano de nascimento” forem usadas para a divisão dos seres humanos, elas provavelmente produzirão as mesmas divisões. O conceito de exclusão mútua assegura que cada item no sistema de classificação tem o seu lugar próprio (Spiteri 1998). De acordo com este princípio a escolha de um item da faceta exclui a escolha de outro na mesma faceta e para o mesmo recurso. Este facto distingue este tipo de classificação de uma classificação de tagging, em que é assumida uma ortogonalidade entre todas as tags, isto é, a classificação de um recurso com uma determinada tag não limita a sua classificação com qualquer outra. Noutra perspectiva podemos afirmar que se dois itens forem independentes então eles devem fazer parte de facetas diferentes (Wilson 2006); 7) O princípio das categorias fundamentais refere que não existem categorias que sejam fundamentais para todos os objectos. As categorias deverão ser derivadas com base na natureza do objecto a ser classificado.

Ainda no plano da ideia são considerados os seguintes princípios para a ordenação das facetas (ordem de citação): (1) sucessão relevante: estabelece que a ordenação das facetas e itens deverão ser relevantes para o sistema de classificação. Exemplos de ordem de citação podem ser, por exemplo, a ordem cronológica, ordem alfabética, ordem espacial/geométrica, ordem do simples para o complexo e vice-versa, ordem canónica, ordem de aumento ou diminuição de quantidade; (2) sucessão

consistente: estabelece que uma vez definida a ordenação, esta não deve ser alterada a não

ser que haja modificação no propósito, objecto ou âmbito do sistema. A ordem de citação das facetas e itens devem ser mantidas de forma consistente.

Em sistemas informatizados a ordenação das facetas é irrelevante na medida em que a informação pode ser visualizada em qualquer sequência de acordo com as preferências do utilizador (Vickery 2007). Tal como a ordenação, o plano de notação, referido acima, é igualmente irrelevante na medida em que a questão da localização física do recurso não se coloca em ambiente web, contrariamente ao que acontece no meio bibliotecário físico (Hong 2006).

No plano verbal o modelo simplificado de (Spiteri 1998) enuncia os seguintes princípios: (1) contexto: o significado de um termo individual é dado pelo contexto, baseado na sua posição no sistema de classificação; (2) actualidade: A terminologia usada no sistema de classificação deve reflectir o uso corrente no campo em estudo. Isto implica que o sistema de ser revisto periodicamente.

Para a elaboração de uma classificação facetada (Denton 2003) propõe um procedimento que inclui os seguintes passos: 1/ recolher uma amostra representativa das

entidades a classificar; 2/ listar as entidades, separar as descrições em segmentos e rearranjar as palavras; 3/ criar as facetas através da análise dos termos resultantes e da verificação das categorias de nível mais elevado que aparecem através de todas as entidades. Com base nos termos obtidos, construir um conjunto de facetas mutuamente exclusivas, onde encaixem todos os termos do ponto anterior, usando como guia os princípios para a escolha das facetas, apresentados atrás. (Denton 2003) refere ainda que deve ser tido em conta o propósito da classificação e os utilizadores, o seu comportamento de procura da informação (navegação e/ou pesquisa), assim como o seu conhecimento do tema.