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Classificação Fiscal dos Produtos

3.3 PRINCIPAIS ETAPAS E SEUS ENTRAVES BUROCRÁTICOS

3.3.1 Classificação Fiscal dos Produtos

O procedimento de classificação fiscal das mercadorias é uma etapa essencial para todos que desejam realizar operações envolvendo comércio exterior, não só no Brasil como no mundo inteiro. O motivo disso é que grande parte da rede internacional utiliza-se de um sistema que fornece uma nomenclatura aduaneira comum à praticamente todos os países do mundo, o chamado Sistema Harmonizado de Designação e Codificação de Mercadorias (SH). Este sistema foi criado com a intenção de padronizar globalmente a classificação das mercadorias para facilitar o entendimento entre as partes envolvidas nas transações, simplificando os trâmites do comércio internacional. No Brasil, adota-se a Nomenclatura Comum do Mercosul (NCM), criada com base no SH e utilizada especificamente pelos países integrantes do bloco. A NCM nada mais é do que uma extensão do SH. Apesar de ser extremamente benéfico por ter, de fato, facilitado muito as transações depois que foi introduzido, o sistema precisa ser aplicado de forma coerente, para que não se torne problemático. Isso porque a classificação é o que determina os tributos que incidem sobre os produtos, da mesma forma que identifica a utilização de certas regras aduaneiras e de benefícios fiscais. (DIAS; RODRIGUES, 2010)

Sendo assim, é fundamental que a classificação fiscal das mercadorias seja executada com cautela para não haver prejuízos, pois de acordo com o Artigo 711 do Decreto nº 6.759/2009, “aplica-se a multa de um por cento sobre o valor aduaneiro da mercadoria classificada incorretamente na Nomenclatura Comum do Mercosul, nas nomenclaturas complementares ou em outros detalhamentos instituídos para a identificação da mercadoria” (BRASIL, 2009).

A classificação das mercadorias em si é um procedimento complexo, pois exige estudo e leva tempo, porém fundamental. Sendo assim, é uma tarefa que praticamente todos os importadores e exportadores ao redor do mundo precisam executar. Ou seja, pode-se dizer que é um procedimento na maioria das vezes difícil, principalmente quando se trata de produtos com composições mais detalhadas e especificações técnicas, mas que não é uma dificuldade encontrada exclusivamente no Brasil. Portanto:

A ausência de um mecanismo com esse objetivo certamente contribuiria para tornar os governos incapazes de estabelecer mecanismos de controle ideais sobre essa atividade, inabilitando-os a promover o comércio internacional a contento, além de limitar sua capacidade para o desenvolvimento de políticas de apoio ao setor, de acordo com seus próprios interesses (FARO; FARO, 2010, p. 28).

Mesmo assim, em alguns aspectos que envolvem esta parte do processo de importação, o modo como o governo brasileiro atua sobre o sistema faz com que a etapa de classificação seja ainda mais árdua, tornando-a burocrática e prejudicial em diversos casos. Como visto, é extremamente importante para o importador ter a certeza de que a classificação de seu produto está correta, para que não seja penalizado e evite problemas no futuro. Desse modo, o importador que possui dúvidas sobre a classificação fiscal ou que deseja confirmar se esta foi feita de maneira adequada, pode realizar uma consulta junto à RFB (FARO; FARO, 2010).

Porém, para realizar esta consulta, o órgão determina que seja apresentada obrigatoriamente uma série de informações e documentos sobre o produto, de acordo com a relação abaixo, estabelecida pela Instrução Normativa RFB nº 740/2007:

I - nome vulgar, comercial, científico e técnico; II - marca registrada, modelo, tipo e fabricante; III - função principal e secundária;

IV - princípio e descrição resumida do funcionamento;

V - aplicação, uso ou emprego (incluindo a configuração de uso ou montagem e instalação, se for o caso);

VI - forma de acoplamento de motor a máquinas ou aparelhos, quando for o caso; VII - dimensões e peso líquido;

VIII - peso molecular, ponto de fusão e densidade, para produtos do Capítulo 39 da Nomenclatura Comum do MERCOSUL - NCM;

IX - forma (líquido, pó, escamas, etc.) e apresentação (tambores, caixas, etc., com respectivas capacidades em peso ou em volume); ou a configuração de fornecimento (componentes) no caso de máquinas, instrumentos ou aparelhos, se montado ou desmontado.

X - matéria ou materiais de que é constituída a mercadoria e suas percentagens em peso ou em volume;

XI - processo industrial detalhado de obtenção;

XII - classificação adotada e pretendida, com os correspondentes critérios utilizados (BRASIL, 2007).

Dependendo do tipo de produto, ou então se julgar-se necessário, o órgão pode ainda fazer outras exigências para complementar a análise da classificação como, por exemplo, solicitar a apresentação de amostras do produto ou também de seu registro (BRASIL, 2007).

Considerando que é muito difícil, mesmo para as empresas e profissionais mais experientes, conhecer profundamente as normas e classificar os produtos com total segurança, o auxílio dos órgãos governamentais é fundamental, especialmente para os que estão iniciando suas atividades e não possuem conhecimento suficiente para a realização desta tarefa tão delicada.

O ponto problemático, nesta etapa da importação, é que com tais exigências e formalidades para se respeitar, a consulta acaba se tornando um processo trabalhoso, até mesmo mais complexo e demorado do que o próprio estudo das normas de classificação e da análise do enquadramento do produto na NCM. As exigências, colocadas anteriormente, muitas vezes requerem documentos ou informações que fogem do conhecimento do importador, o que o impede de fornecer os dados precisos sobre determinadas características do produto e faz com que ocorra demora para resolver todas as questões, gerando um procedimento burocrático. Por isso, precisam contar com especialistas técnicos em muitos casos, que consigam analisar os elementos presentes nos produtos, para identificar todos os seus componentes e suas funções com precisão. Além disso, muitas vezes os importadores optam por contratar profissionais especializados com o objetivo de agilizar a classificação dos produtos, principalmente por meio de empresas que prestam assessoria em comércio exterior ou até mesmo empresas de contabilidade, já que não possuem domínio aprofundado para resolverem por conta própria ou então se sentem frustrados com a burocracia encontrada para a realização das consultas, sendo que isso certamente agrega maiores custos ao processo. Por este motivo, Dias e Rodrigues (2010) sugerem ao importador a adoção de um procedimento sistemático e uniforme no trabalho de classificação.

Tais exigências para a realização de consultas fazem o importador perder ainda mais tempo pelo fato de que a documentação exigida deve ser formulada por escrito e entregue presencialmente na RFB pelo responsável legal. Conforme o site da RFB, “o processo de Consulta deve ser formulado na Unidade da Receita Federal (Centro de Atendimento ao Contribuinte, Agência da Receita Federal e Inspetorias, classes "A", "B" e "C"), do domicílio fiscal do consulente” (BRASIL, 2012).

Portanto, revela-se outro ponto burocrático deste procedimento que é a falta de métodos modernizados, que possibilitem a realização da consulta por meio eletrônico, por meio de um sistema informatizado que substitua a papelada obrigatória para a realização de tal tarefa, garantindo a prestação dos serviços de um jeito mais prático por parte da RFB e seus setores. Ademais, há de se considerar também o prazo estipulado para a realização do serviço, que é de até 360 depois de protocolado na unidade da RFB, o que revela a grande possibilidade de demora para as conclusões de solução das consultas por parte do órgão (BRASIL, 2010).

Além disso, por mais cauteloso que seja o importador brasileiro, são aplicadas algumas alterações na NCM com certa frequência. Dessa forma, novas classificações são estabelecidas, algumas têm seu conteúdo modificado e outras ainda são abolidas. Por este motivo, as empresas devem estar sempre atentas às mudanças, buscando as informações recentes e mantendo-se atualizadas para que não venham a se surpreender mais tarde com uma eventual modificação na classificação de seus produtos, sob pena de serem multadas severamente caso algum detalhe esteja em discordância. A mais recente mudança foi determinada pela Resolução CAMEX n° 94/2011, que alterou o quadro da NCM para adaptar- se às modificações do SH (BRASIL, 2011).

Vista a morosidade encontrada no processo de classificação fiscal das mercadorias, fica claro que as autoridades reguladoras do setor devem trabalhar para otimizar a prestação dos serviços, começando pela implementação de procedimentos informatizados, que auxiliem de forma mais prática as pessoas e empresas atuantes no comércio exterior. A importância da modernização, por mais simples que possa parecer qualquer que seja a etapa de importação, é fundamental para a minimização da burocracia. Como diversos procedimentos não são claros e muito menos padronizados, a classificação certamente é uma atividade que gera persistentes dúvidas, já que alguns itens podem encontrar diferentes interpretações, o que acaba abrindo brechas para conflitos e isso pode lesar profundamente os negócios de uma empresa (DIAS; RODRIGUES, 2010).

Nesta etapa do processo de importação, portanto, observa-se que a burocracia está impregnada principalmente devido aos entraves relacionados às normas da legislação brasileira, que impõe diversas exigências ao invés de fornecer facilidade nos procedimentos. Além disso, os entraves se devem pela falta de modernização do sistema de prestação de serviços do setor público, como também pela instabilidade fiscal causada pelas constantes mudanças no quadro da NCM.

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